sábado, 26 de agosto de 2023

GM LEO IMAMURA: The relentless pursuit of excellence

 

Café com Si Gung as 1am de hoje.
[1 a.m. at Starbucks with Si Gung]

Em 1985, um senhor chamado Yu Suzuki foi incumbido por uma das minhas empresas favoritas, chamada SEGA, a produzir um jogo de corrida que pudesse se destacar no efervescente mercado de Arcades. Yu Suzuki então disse que, para fazer isso, precisaria ir até a Europa para conhecer a cultura dos carros exclusivos de alta performance. Quando retornou ao Japão, ele disse que o jogo não deveria ser sobre carros, mas sim sobre a sensação de dirigir esses carros. Ao ser perguntado como fazê-lo, ele explicou que ao lado do motorista deveria ter a namorada dele. - "...Vamos colocar o personagem do jogador com uma garota ao lado... Essa garota no banco do carona vai reagir à performance do jogador..." - Curiosos, os executivos não questionaram, mas perguntaram como seria possível enxergar ambos dentro do carrinho na tela. - "...Vamos usar uma Ferrari Testarossa conversível..." - Os executivos da SEGA riram e imediatamente disseram que seria impossível conseguir a licença da Ferrari. Yu Suzuki então teria dito - "...Vamos usar o carro mesmo assim no jogo. Até que eles entrem com um processo, o jogo já terá sido um sucesso tão grande que vamos pagar tranquilamente..." - Finalmente, Yu Suzuki explicou que sua confiança no sucesso do jogo era seu conceito: "...Não é um jogo sobre Grand Prix ou campeonatos mundiais... É sobre ter o melhor carro, a menina mais bonita e, principalmente, será a respeito de se sobressair em relação aos seus adversários..." - O jogo "OUTRUN", lançado em 1986, tornou-se um dos maiores sucessos da indústria e um clássico.

In 1985, a man named Yu Suzuki was tasked by one of my favorite companies, SEGA, to develop an arcade racing game that could stand out in the thriving arcade market. Yu Suzuki then stated that, to achieve this, he would need to travel to Europe to familiarize himself with the culture of high-performance exclusive cars. Upon returning to Japan, he mentioned that the game shouldn't focus on cars but rather on the sensation of driving these vehicles. When asked how to achieve this, he explained that there should be a girlfriend next to the driver. - "...Let's put the player's character alongside a girl... This girl in the passenger seat will react to the player's performance..." - The executives were intrigued, not raising objections, but inquired how it would be possible to see both of them inside the car on the screen. - "...We'll use a convertible Ferrari Testarossa..." - The SEGA executives laughed and immediately remarked that obtaining the Ferrari license would be impossible. Yu Suzuki reportedly responded - "...Let's use the car in the game regardless. By the time they file a lawsuit, the game will have already been such a massive success that we can pay easily..." - Finally, Yu Suzuki explained that his confidence in the game's success lay in its concept: "...It's not a game about Grand Prix or world championships... It's about having the best car, the most beautiful girl, and, above all, it's about excelling in comparison to your opponents..." - The game "OUTRUN," released in 1986, became one of the industry's greatest successes and a classic.

[Com Si Baak e Si Gung - Vida Kung Fu]
[With Si Baak and Si Gung - Kung Fu Life]

Tenho passado os últimos dias com meu Si Gung, o Grão Mestre de Ving Tsun da Linhagem Moy Yat, o Sr. Leo Imamura. Nestes momentos, ele está sempre acompanhado de outros membros de sua Família Kung Fu, como o Mestre Natan [foto acima], meu Si Baak.
Acompanhar o Si Gung tem sido uma lição de vida silenciosa. Parece que ele não cansa... Seu desejo de oferecer o melhor em um nível de excelência alcançável para poucos é tão impressionante que o praticante que aparece no Mo Gun às 21h de um dia que começou às 8h não sente diferença alguma.
Sua inesgotável energia não é apenas física, pois ele sempre parece abordar com muita assertividade os assuntos mais apropriados para cada momento. Não importa a hora do dia; a energia em sua voz e em seus gestos é a mesma.
Eu tenho tido reflexões profundas sobre como ser capaz de estar fazendo o mesmo daqui a vinte anos, que é a nossa diferença de idade. Si Gung parece sempre saber tocar você com as palavras, mas sem nunca dizer nada que não esteja completamente relacionado à sua capacidade de preservar o Sistema Ving Tsun. Ele consegue entrar rapidamente em um nível de profundidade muito grande sobre as responsabilidades e deveres de um profissional ou legatário sério. É possível ver como todos ficam imersos enquanto ele fala ou demonstra algo...

I have been spending the last few days with my Si Gung, the Grand Master of Ving Tsun from the Moy Yat lineage, Mr. Leo Imamura. During these moments, he is always accompanied by other members of his Kung Fu Family, such as Master Natan [picture above], my Si Baak.
Being in the company of Si Gung has been a lesson in silent living. It's as if he never tires... His desire to provide the best at a level of excellence attainable by a few is so impressive that the practitioner who shows up at Mo Gun at 9 PM after a day that began at 8 AM feels no difference.
His boundless energy isn't merely physical; he always seems to address the most suitable matters for each moment assertively. Regardless of the time of day, the energy in his voice and gestures remains consistent.
I have had deep reflections on how I could be capable of doing the same twenty years from now, considering the age difference between us. Si Gung always appears to know how to resonate with you through his words, without ever saying anything that isn't entirely related to the ability to preserve the Ving Tsun System. He can quickly delve into a profound level of understanding about the responsibilities and duties of a serious professional or successor. It's possible to observe how everyone becomes engrossed as he speaks or demonstrates something...

Tive a oportunidade de tomar café da manhã com ele ontem [FOTO ACIMA]. Junto de nós estava meu Si Suk Vede e dois discípulos. Naquele café, ele disse algo que me emocionou muito: "Eu gosto de estudar. E gosto de estudar de madrugada. Gosto de pensar que enquanto estou estudando todos estão dormindo. Claro que em nosso meio não existe essa proposta competitiva, mas eu gosto... sabe... Dessa sensação..." - Abri um sorriso e quando dei por mim, estava balançando a cabeça positivamente, como se estivesse concordando.
A busca pela excelência em tudo o que fazemos, a partir de um estudo e dedicação incansáveis em relação a outros da mesma área, alguns chamam de "OUTWORK". Quando ouvi Si Gung dizer essas palavras, lembrei-me de Yu Suzuki e sua viagem à Europa para conhecer a cultura das corridas com carros exclusivos de alta performance. A SEGA pediu um jogo de corrida que vendesse bem; ele entregou o melhor jogo de sua geração de arcades, que por acaso se chamava "OUTRUN".
No dia de ontem, tomei café da manhã às 8h na casa do Si Gung, e à 1h do dia de hoje, estávamos no aeroporto em um STARBUCKS, conversando assuntos muito sérios, como se a energia fosse inesgotável.
A coragem para fazermos o que acreditamos parece passar pelo desejo de ser excelente a todo momento, e eu quero chegar lá.

I had the opportunity to have breakfast with my Si Gung yesterday [PHOTO ABOVE]. With us were my Si Suk Vede and two disciples. During that breakfast, he said something that greatly moved me: "I enjoy studying. And I enjoy studying in the early hours of the morning. I like to think that while I am studying, everyone else is asleep. Of course, in our circle, there isn't such a competitive proposition, but I like... you know... That sensation..." - I smiled and found myself nodding in agreement.
The pursuit of excellence in everything we do, through tireless study and dedication compared to others in the same field, some refer to as "OUTWORK." When I heard Si Gung utter these words, I was reminded of Yu Suzuki and his journey to Europe to explore the culture of exclusive high-performance car racing. SEGA asked for a racing game that would sell well; he delivered the finest game of his arcade generation, coincidentally named "OUTRUN."
Yesterday, I had breakfast at 8 a.m. at Si Gung's house, and at 1 a.m. today, we were at the airport in a STARBUCKS, discussing very serious matters as if our energy were boundless.
The courage to pursue what we believe seems to hinge on the desire for continuous excellence, and I want to get there too.

The Disciple of Master Julio Camacho
Thiago Pereira "Moy Fat Lei"
moyfatlei.myvt@Gmail.com



segunda-feira, 21 de agosto de 2023

Two days of seminars with GM LEO IMAMURA

 

Quando tinha cerca de sete anos de idade, estava  com meu avô paterno que se chamava Joaquim, assistindo à novela em um dos nossos raros momentos juntos. Ele tinha me pedido para pegar algo no quintal, mas como era noite e estava escuro, fiquei com medo e minha avó foi no meu lugar. Meu avô perguntou do que eu tinha medo. Não lembro o que respondi, mas lembro parte do que ele disse - "...Thiago, quando está escuro, podemos ouvir milhares de pequenos barulhos e nos assustarmos, mas isso não significa que seja um fantasma... Pode ser apenas um gato..." - Foram palavras simples, mas ele as disse olhando para mim com muita seriedade.

When I was around seven years old, I was with my paternal grandfather named Joaquim, watching a soap opera during one of our rare moments together. He had asked me to fetch something from the backyard, but as it was nighttime and dark, I became afraid, and my grandmother went in my place. My grandfather asked me what I was afraid of. I don't remember what I replied, but I remember part of what he said - "...Thiago, when it's dark, we can hear thousands of little sounds and get frightened, but that doesn't mean it's a ghost... It could just be a cat..." - These were simple words, but he spoke them to me with great seriousness.

Ontem foi um daqueles domingos inesquecíveis... Acho que quando abri os olhos, já sabia disso! O dia estava chuvoso, com um céu acinzentado, e eu estava indo encontrar os meus discípulos para um café da manhã ouvindo a trilha sonora do filme “Blade Runner”[1982] enquanto dirigia . Os cafés da manhã são, sem dúvida, as atividades que mais marcaram positivamente a minha jornada. Além disso, passaríamos várias horas compreendendo detalhes muito impressionantes que seriam apresentados pelo Grão-Mestre Leo Imamura, na Qualificação dos Tutores do Nível 2 do Programa Ving Tsun Experience.
Começamos conversando sobre amenidades, mas na primeira oportunidade, direcionei o nosso momento por outro caminho, tentando promover algo que meu Si Gung chama de - “…Promover o impacto da complexidade do simples...” - Acontece que o bairro do Méier hoje é muito previsível para os discípulos mais antigos. Até mesmo os proprietários dos estabelecimentos nos conhecem e sabem o que vamos pedir, o que pode facilmente confundir um momento de “Vida Kung Fu” com uma reunião comum, se não estivermos atentos. Devemos ser capazes de analisar o cenário.


Yesterday was one of those unforgettable Sundays... I think I already knew it when I opened my eyes! The day was rainy, with a grey sky, and I was heading to meet my disciples for a morning coffee listening to “Blade Runner”[1982] original soundtrack. Breakfasts are undoubtedly the activities that have positively marked my journey the most. Furthermore, we would spend several hours understanding the very impressive details that would be presented by Grandmaster Leo Imamura at the Qualification of Level 2 Tutors of the Ving Tsun Experience Program.
We started by discussing trivial matters, but at the first opportunity, I steered our moment in a different direction, attempting to promote something that my Si Gung refers to as - "...Promoting the impact of complexity within simplicity..." - The thing is, the Méier district today has become very predictable for the more experienced disciples. Even the business owners know us and know what we will order, which can easily blur a moment of "Kung Fu Life" with an ordinary meeting, if we're not attentive. We must be able to analyze the scenario.


Olha, eu não vou mentir, tem sido uma experiência desafiadora e desconcertante participar desses estudos com o Si Gung. São detalhes tão impressionantes e que fazem a diferença, que me fazem refletir não apenas sobre o Programa Ving Tsun Experience, mas também sobre o Sistema Ving Tsun em si. Cada movimento que o Si Gung faz, você pode observar a sua excelência gerar o efeito ao simplesmente identificar e respeitar cada etapa daquele movimento que você já fez a vida toda e ainda assim tinha uma maneira mais inteligente de ser feito e de se transmitir ao outro... E tudo isso baseado num ponto muito caro para mim hoje: só fazer o que o outro me oferecer. Afinal, como Si Fu, isso é algo que sempre mantenho em mente ao interagir ou demandar de um discípulo.

Look, I won't lie, it's been a challenging and bewildering experience to participate in these studies with Si Gung. The details are so impressive and make such a difference that they lead me to reflect not only on the Ving Tsun Experience Programme but also on the Ving Tsun System itself. Every movement Si Gung performs, you can observe his excellence creating an effect by simply identifying and respecting each stage of that movement which you've been doing your whole life, and yet there was a smarter way of doing it and passing it down to others... And all of this is based on a point that's very dear to me today: only doing what the other person offers me. After all, as a Si Fu, this is something I always keep in mind when interacting with or demanding from a disciple.
Eu sabia que ao me aprofundar mais intensamente no estudo dos instrumentos da Moy Yat Ving Tsun Martial Intelligence diretamente com Si Gung, dúvidas muito básicas iriam surgir. A pergunta que persistia em minha mente era como fazer isso envolvendo a participação dos meus discípulos. Será que isso poderia enfraquecer a minha liderança? E foi uma pessoa que aprendi a admirar muito que me deu a seguinte resposta - "...Com tudo o que vivi com o meu Si Fu, não consigo entender como uma pergunta básica feita por ele poderia mudar a minha perspectiva em relação a ele..." - Às vezes, o óbvio precisa ser expresso em voz alta para que tomemos consciência. E foi com palavras mais ou menos nesse sentido, ditas com a intensidade que lhe é característica, que o Mestre Gabriel, discípulo do Mestre Nataniel, me ajudou bastante a ressignificar a minha jornada.
Com isso, hoje me atrevo a ser um praticante curioso, questionador e entusiástico ao lado dos meus discípulos. Às vezes, peço a palavra apenas para expressar o quanto estou impactado! E é com um coração livre de reservas que venho aprendendo muito nos estudos destes instrumentos! Para mim, é como redescobrir o Sistema que tenho praticado ininterruptamente desde 1999... Nunca é tarde.

I knew that by delving more deeply into the study of the Moy Yat Ving Tsun Martial Intelligence instruments directly with Si Gung, very basic doubts would arise. The question that remained for me was how to do this involving the participation of my disciples. Could this weaken my leadership? And it was someone I've come to admire greatly who provided me with the following response - '...With everything I've experienced with my Si Fu, I can't comprehend how a basic question asked by him could alter my perspective towards him...' - Sometimes, the obvious needs to be voiced out loud for us to become aware. And it was with more or less these words, spoken with the intensity that is characteristic of him, that Master Gabriel, a disciple of Master Nataniel, greatly helped me redefine my journey.
With that, today I dare to be a curious, inquisitive, and enthusiastic practitioner alongside my disciples. Sometimes, I seek the floor solely to convey how impacted I am! And it's with a heart free of reservations that I've been learning a lot in the study of these instruments! To me, it's like rediscovering the System I've been practising continuously since 1999... It's never too late.


Os dias têm passado com os artigos dos meus irmãos Kung Fu chegando a todo o momento nos grupos da nossa Família Kung Fu. Eles estão com o nosso Si Fu em sua casa na Flórida, vivendo muitas aventuras. Leio todos os artigos! Os artigos do Alex Rangel eu já abro rindo, sabendo que ele estará vibrando positivamente até com a pior situação [Risos]. Em algum momento, lendo esses artigos, lembrei-me dessa passagem com meu avô paterno. Não só minha atenção, como também meu coração, estão voltados para uma estrada completamente diferente dos meus irmãos Kung Fu. Talvez esses artigos tenham acentuado essa percepção. Seguir essa estrada talvez seja como ir sozinho ao quintal dos fundos no escuro com sete anos de idade; às vezes dá medo. Porém, depois de um final de semana tão impressionante com meu “avo-Kung Fu” [Si Gung], ouvi muito sobre a importância de saber avaliar cenários. Então lembrei-me também de que os mil barulhinhos que ouvimos no escuro não necessariamente são um fantasma; pode ser que seja só um gato... - Conforme disse meu avô Joaquim. Tudo se resume a avaliar o cenário e ter coragem de seguir. Afinal, “…A vida segue para onde o coração aponta...”.


The days have been passing with the articles from my Kung Fu brothers arriving all the time in our Kung Fu Family groups. They are with our Si Fu at his home in Florida, experiencing many adventures. I read all the articles! Alex Rangel's articles I already open with a laugh, knowing he will be positively enthusiastic even in the worst situation [Laughs]. At some point while reading these articles, I recalled this passage with my paternal grandfather. Not only is my attention focused, but also my heart, on a completely different path from my Kung Fu brothers. Perhaps these articles have accentuated this perception. Following this path might be like going alone to the backyard in the dark at seven years old; it can be scary sometimes. However, after such an impressive weekend with my 'Kung Fu grandpa' [Si Gung], I heard a lot about the importance of assessing scenarios. I also remembered that the thousand little noises we hear in the dark aren't necessarily a ghost; it might just be a cat... - As my grandfather Joaquim said. It all comes down to assessing the scenario and having the courage to follow it. After all, '…Life goes where the heart points…'.



The Disciple of Master Julio Camacho
Thiago Pereira "Moy Fat Lei"
moyfatlei.myvt@Gmail.com







sexta-feira, 18 de agosto de 2023

OFFICIAL VISIT OF MASTER JULIO CAMACHO

 

Nas tardes de sábado de 1992 e 1993, costumava encontrar meu avô nas obras que ele fazia, já no final da tarde. Era uma época diferente; uma criança de oito anos podia pegar sua bicicleta e explorar Rocha Miranda. Pacientemente, esperava que ele concluísse suas tarefas, e após o merecido banho, partíamos juntos até a locadora para alugar uma fita de videogame. Esses momentos eram verdadeiramente especiais, pedalando lado a lado com nossas "Monaretas" de segunda mão pela Rua dos Rubis. Mais tarde, o acompanhava até o supermercado, e então retornávamos para casa. Às vezes, ele me pedia para não seguir muito à frente; às vezes, para ficar na calçada em vez de descer para a rua; outras vezes, ele mesmo descia e insistia para que eu não o acompanhasse. E ao retornar, quando a rua estava movimentada, ele solicitava minha ajuda para empurrar as bicicletas enquanto caminhávamos juntos. De alguma maneira, sempre seguíamos juntos.

On Saturday afternoons in 1992 and 1993, I used to find my grandfather at the construction sites he worked on, typically in the late afternoon. It was a different time; an eight-year-old child could grab his bicycle and explore Rocha Miranda wild neighborhood. Patiently, I would wait for him to finish his tasks, and after a well-deserved shower, we would head together to the video rental store to get a nintendo game for me. These moments were truly special, cycling side by side on our second-hand "Monaretas"[A kind of bike used by poor people in Brazil] along Rua dos Rubis. Later, I would accompany him to the supermarket, and then we would return home. Sometimes, he would ask me not to go too far ahead; other times, to stay on the sidewalk instead of going down to the street; occasionally, he would go down himself and insist that I not follow him. And upon our return, when the street was bustling, he would ask for my help to push the bicycles as we walked together. Somehow we were always following together.


Refletindo sobre o início da minha trajetória como Si Fu, percebo que escolhi a versão que mais admirava do meu próprio Si Fu, aquela que mantinha no coração, e passei a emulá-la inconscientemente. No entanto, foi também meu Mestre Julio Camacho que compartilhou comigo anos antes que, dentro da inexperiência do legatário, é comum se apoiar no modelo mais forte que reside internamente. Com o passar dos anos, o dinamismo da vida nos obriga a repensar nossos passos, querendo ou não. Mesmo com os esforços de ambas as partes, acabei por compreender algo que meu Si Fu mencionava no passado: "...O cenário é soberano..."
A próxima visita do meu Mestre Julio Camacho será significativamente distinta das anteriores, pois, pela primeira vez, sua vinda se dará inteiramente por iniciativa da minha Família Kung Fu. Pela primeira vez também, não fazemos parte da mesma instituição. Portanto, embora esse seja um dos processos mais leves que venho promovendo em minha carreira, meu nível de atenção não deixa de estar condizente com o desafio.
Por outras vias, tenho realizado muitas das coisas que meu Si Fu sempre me aconselhou e às quais eu resistia. Um exemplo é valorizar a "sintonia" em relação ao "check-list". No primeiro "Pré-evento" para esta Visita Oficial, que contou com membros de todo o Clã Moy Jo Lei Ou, senti-me mais preparado para conduzi-lo usando o que tenho estudado  no Instituto Moy Yat. E quando percebi, estava exatamente trabalhando na "sintonia" que meu Si Fu sugeriu por anos, sem ao menos notar. Quanto a quem vai levar cadeiras, filmar ou tirar fotografias, não sou capaz de dizer... Mas sobre "Vida Kung Fu", sobre como tratar a programação da Visita como um Sistema e sobre relações familiares... Isso, sim, foi muito bem discutido.

Reflecting upon the outset of my journey as Si Fu, I realize that I chose the version I most admired of my own Si Fu, the one I held close to my heart, and unconsciously began to emulate. However, it was also my Master Julio Camacho who shared with me years ago that, within the inexperience of a successor, it is common to lean on the stronger internal model. As the years pass, life's dynamism compels us to reconsider our steps, whether we want to or not. Despite the efforts of both sides, I ultimately grasped something my Si Fu used to mention in the past: "...The scenario is sovereign..."
The upcoming visit from my Master Julio Camacho will significantly differ from the previous ones, as, for the first time, his visit will occur solely by the initiative of my Kung Fu Family. Also, for the first time, we are not part of the same institution. Thus, although this is one of the lighter processes I've been fostering in my career, my level of attention remains in line with the challenge.
In other avenues, I have been undertaking many of the things my Si Fu always advised me, to which I previously resisted. An example is valuing the "correspondent tune" in relation to the "check-list." During the initial "Pre-event" for this Official Visit, which included members from the entire Moy Jo Lei Ou Clan, I felt better prepared to guide it, utilizing what I have been studying at the Moy Yat Institute. And when I realized, I was precisely working on the "tune" that my Si Fu suggested for years, without even noticing. As for who will carry chairs, film, or take photographs, I'm not capable of saying... But concerning the "Kung Fu Life," about how to treat the Visit's schedule as a System, and about familial relationships... That, indeed, was well-discussed.


Um dia descobrimos que meu avô tinha câncer terminal. Já não pedalávamos juntos até a locadora há 13 anos, e desta vez, de carro, tinha chegado a minha vez de fazer algo parecido. Uma vez por mês, passava o dia com ele, fazendo as coisas que ele gostava. Por alguma razão misteriosa, ele só comprava arroz em uma determinada loja de Madureira e só gostava do caldo de cana e pastel de uma determinada loja no mesmo bairro. A vida do meu avô se esvaía, e os bons momentos só acumulavam...
Acreditando que é possível "seguir junto" mesmo por estradas diferentes, e que podemos estar sintonizados mesmo que não seja em tudo o que fazemos, estamos promovendo esta Visita de todo o coração. Aonde vou, meu avô está comigo. Não precisamos mais estar em bicicletas ou comprando arroz para estarmos juntos. Da mesma forma, cada expressão do meu Kung Fu vem do meu Si Fu. Pois parece-me que existe sim, algo imutável, que é o fato das folhas precisarem se separar da árvore, mas que sempre vão cair próximas à raiz. 

One day we discovered that my grandfather had terminal cancer. We hadn't cycled to the video rental store together for 13 years, and this time, in a car, it was my turn to do something similar for him. Once a month, I spent the day with him, doing things he enjoyed. For some mysterious reason, he only bought rice from a particular shop in Madureira neighborhood[North Zone of Rio] and only liked the sugarcane juice and pastries from a specific shop in the same neighbourhood. My grandfather's life was ebbing away, and the good moments were accumulating...
Believing that it's possible to "stay together" even on different paths, and that we can be attuned even if not in everything we do, we are promoting this Visit of my Master with all our hearts. Wherever I go, my grandfather is with me. We no longer need to be on bicycles or buying rice to be together. Similarly, every expression of my Kung Fu comes from my Si Fu. For it seems to me that there is indeed something unchanging, which is the fact that leaves need to separate from the tree, yet they always fall close to the root.


The Disciple of Master Julio Camacho
Thiago Pereira "Moy Fat Lei"
moyfatlei.myvt@Gmail.com



quarta-feira, 16 de agosto de 2023

AN INSPIRATION CALLED LOREN AVEDON

by
Thiago Pereira
Writer and Ving Tsun Kung Fu Professional

Nós sabemos que a vida passa num sopro. Pessoas que amamos partem e deixam apenas lembranças. Algumas coisas desafiadoras nos acontecem, mas anos depois vemos que foi melhor assim. Afinal, não sabíamos que uma grande felicidade nos aguardava mais adiante nessa estrada. E apesar de sabermos que a vida está sempre em constante mudança, talvez algumas memórias sejam importantes de guardarmos. E uma das memórias que guardo com mais carinho é das primeiras vezes que assisti a qualquer filme de um dos meus grandes heróis, o ator e artista marcial chamado Loren Avedon.
Meu avô tinha uma TV antiga com uma tela de 14 polegadas. Como eu estudava à tarde, enquanto almoçava para ir para a escola, meu avô passava em casa no intervalo do trabalho, para almoçar também. Minha avó preparava sempre uma refeição feita na hora, e eu e meu avô assistíamos à TV enquanto comíamos. Lembro-me bem quando a propaganda do filme “O Rei dos Kickboxers” foi exibida. O famoso locutor de cinema, Jorgeh Ramos, falava um breve resumo da história do filme, enquanto cenas com Loren Avedon eram exibidas. Eu não conseguia acreditar como alguém poderia se mover tão rápido. Eu tinha 7 anos de idade, e a censura da época não me possibilitava ir ao cinema.

We know that life passes in the blink of an eye. People we love depart, leaving only memories. Some challenging things happen to us, but years later we see that it was for the best. After all, we didn't know that great happiness awaited us further down this road. And even though we understand that life is always undergoing constant change, perhaps some memories are important for us to hold onto. And one of the memories I cherish most is from the first times I watched any movie of one of my heroes, the actor and martial artist named Loren Avedon.
My grandfather had an old TV with a 14-inch screen. Since I studied in the afternoon, while I had lunch to go to school, my grandfather would also drop by home for lunch. My grandmother always prepared a freshly made meal, and my grandfather and I would watch TV while we ate. I remember well when the advertisement for the movie "The King of Kickboxers" was shown. The famous movie announcer, Jorgeh Ramos, gave a brief summary of the movie's story while scenes with Loren Avedon were displayed. I couldn't believe how someone could move so quickly. I was 7 years old, and the censorship of the time didn't allow me to go to the cinema.

Apenas muito tempo depois, uma versão dublada do filme foi lançada em VHS! E eu fiquei simplesmente fascinado pelo filme! Loren Avedon tinha uma incrível presença na tela. E você imediatamente queria ser como ele... Desde o jeito de andar, as roupas que ele usava e a determinação dele para vingar a morte de seu irmão. Você se apaixonava junto com ele pela lindíssima atriz Sherie Rose, que interpretava seu interesse romântico no filme [FOTO].
A fotografia do filme era algo tão especial, que mesmo para uma criança como era o meu caso, trazia um sentimento estranho de nostalgia... A trilha sonora de fundo era simples, mas muito bem composta, e fazia você ficar imerso naquela viagem em busca de vingança, a cada pista que ele encontrava sobre o paradeiro do personagem de Billy Blanks, seu antagonista no filme

Only much later, a dubbed version of the movie was released on VHS! And I was simply fascinated by the film! Loren Avedon had an incredible screen presence. And you immediately wanted to be like him... From the way he walked, the clothes he wore, and his determination to avenge his brother's death. You fell in love with the gorgeous actress Sherie Rose, who portrayed his romantic interest in the film [PHOTO].
The film's cinematography was something so special that even for a child like myself, it brought a strange feeling of nostalgia... The background soundtrack was simple but very well composed, and it made you immersed in that journey for revenge, with each clue he found about the whereabouts of Billy Blanks' character, his antagonist in the movie

Sabe, é difícil dizer o quanto o trabalho desse ator me influenciou, não só para perseguir o meu sonho de me tornar um profissional de artes marciais, mas também para poder viver e proteger esse sonho! Os desafios de trabalhar com artes marciais no Brasil são muito grandes e, mesmo com toda a responsabilidade que tenho com o legado que recebi do meu Mestre e com a confiança que meus discípulos têm em mim, há momentos em que você sente como se o desafio fosse grande demais. Em momentos assim, lembro-me de quando era criança e adolescente, e do quão encantado eu ficava ao sonhar acordado com a ideia de viver uma vida como a dos personagens dos filmes de Loren Avedon. O quanto eu busquei uma relação de Mestre e Discípulo como a dele com Keith Cooke [FOTO]... São as lembranças de memórias como essas que nos ajudam a seguir adiante com o que nos é mais valioso..

You know, it's hard to express just how much this actor's work influenced me, not only to pursue my dream of becoming a professional martial artist, but also to be able to live and safeguard that dream! The challenges of working with martial arts in Brazil are quite significant, and even with all the responsibility I carry from the legacy I received from my Master and the trust my disciples place in me, there are moments when you feel like the challenge is too immense. In times like these, I recall my childhood and teenage years, and how enchanted I would become daydreaming about living a life like the characters in Loren Avedon's movies. How much I sought a Master and Disciple relationship like his with Keith Cooke [PHOTO ABOVE]... It's memories of moments like these that help us move forward with what's most valuable to us

Meu avô não está mais entre nós, e de fato a vida passa na velocidade de um sopro... Mas também é na velocidade de um sopro que podemos viajar até onde nossos sonhos começaram a tomar forma... E quando descobri que muito mais difícil do que realizar um sonho é a capacidade de mantê-lo vivo. Sempre que necessário, volto àquela mesa de almoço junto com meu avô no dia em que assisti ao trailer de “O Rei dos Kickboxers” pela primeira vez e Loren Avedon saltou da tela! Sonhos se realizam, mas o que seria de nós sem os nossos heróis que nos inspiraram a persegui-los. Este é um artigo sobre um dos meus heróis, Loren Avedon.

My grandfather is no longer with us, and indeed, life passes by in the blink of an eye... But it's in a blink of an eye that we can travel back to where our dreams began to take shape... And when I discovered that much harder than achieving a dream is the ability to keep it alive. Whenever needed, I return to that lunch table with my grandfather on the day I watched the trailer for 'The King of Kickboxers' for the first time and Loren Avedon jumped off the screen! Dreams come true, but what would we be without our heroes who inspired us to chase them. This is an article about one of my heroes, Loren Avedon.



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A story about Geuk Jong (腳樁) with my Si Hing

No palco da nossa existência, muitas vezes nos escapam os fios invisíveis que costuram os momentos, as pessoas e as histórias, formando uma trama tão intrincada quanto as fitas emboladas de uma antiga fita K7. Assim como os hits dos anos 80 que continuam ecoando, nossas vidas entrelaçam-se de maneiras misteriosas e belas. Reconhecer a importância de honrar aqueles que trilharam o caminho antes de nós é como apreciar os clássicos daquela era - suas notas transcendentais continuam a nos inspirar. Da mesma forma, a solidão, como o lado B da vida, nos convida a refletir sem perder o ritmo, lembrando-nos de que estar só não equivale a estar isolado.  Essa é uma história sobre Geuk Jong (腳樁) com meu Si Hing.

On the stage of our existence, the invisible threads that weave together moments, people, and stories often elude us, forming a tapestry as intricate as the tangled tapes of an old cassette. Just as the hits of the 80s continue to resonate, our lives intertwine in mysterious and beautiful ways. Recognising the importance of honouring those who walked the path before us is akin to appreciating the classics of that era - their transcendent notes continue to inspire us. Similarly, solitude, like the B-side of life, invites us to reflect without losing rhythm, reminding us that being alone does not equate to being isolated. This is a story about Geuk Jong (腳樁) with my Si Hing.



Muitos anos atrás, Si Gung chegou ao Rio em um final de semana de maio de 2012... Aqueles eram os dias de grandes aventuras, quando o Núcleo Méier estava prestes a ser inaugurado. Si Gung estava no Rio para esse evento. Junto com ele, a Mestra Cristina também esteve presente em nossa cidade. Para que isso fosse possível, Si Fu gentilmente marcou o evento que chamamos de "Visita Oficial da Liderança da Moy Yat Ving Tsun" para o mesmo final de semana. Com isso, os custos seriam neutralizados. Assim, eu só precisava me preocupar com os elementos práticos da Cerimônia de Inauguração. Eu estava bastante nervoso, pois tudo havia começado de forma inocente ao ajudar Si Suk Ursula, e agora ganhava uma dimensão institucional. Será que eu daria conta? Meu estômago estava revirado, e essa foto foi tirada na véspera. Optei por não jantar nessa ocasião, com receio de passar mal no dia seguinte [Risos].
Na foto, você pode ver meu Si Hing Leonardo Reis, que detém o título de Mestre pela Moy Yat Ving Tsun Martial Intelligence, assim como eu. Ele estava lá, como sempre, depois de muita insistência minha, já que Si Gung me oferecera a oportunidade de escolher um assunto para estudar naquela noite, e eu optei por focar no Domínio Mui Fa Jong. Pedi a ele que não deixasse de trabalhar conosco o Geuk Jong (腳樁), não importando o quão tarde fosse. Esse jantar começou às 21h e ainda nem tínhamos começado o estudo...


Many years ago, Si Gung arrived in Rio during a May weekend in 2012... Those were days of high adventures, as the Moy Yat Ving Tsun Meier  was on the verge of its inauguration. Si Gung graced Rio with his presence for this very occasion. Accompanying him was the esteemed Master Cristina, also gracing our city with her presence. For this union to transpire, Si Fu kindly ordained the gathering known as the "Official Visit of Moy Yat Ving Tsun Leadership," aligning it with the very same weekend. By this stratagem, financial concerns were harmoniously balanced. Therefore, my attention was exclusively required for the practical components of the Inauguration Ceremony. I found myself ensnared by trepidation, for what had once innocently commenced through aiding Si Suk Ursula had now expanded into an institutional panorama. Would I be equal to the challenge? My stomach churned in protest, and this photograph was captured on the eve thereof. I chose to abstain from partaking in the evening's fest, wary of potential malaise on the morrow [laughs].
Within the image, one can discern my Si Hing Leonardo Reis, who holds the title of Master bestowed by Moy Yat Ving Tsun Martial Intelligence, as do I. He stood there, a constant presence, enticed by my insistent urgings, as Si Gung had graciously permitted me the privilege of selecting a subject for nocturnal study, in which I directed my focus towards the Mui Fa Jong Domination. I implored of him not to disregard the Geuk Jong (腳樁), regardless of the passage of time trough the night. This convivial supper commenced at 9 p.m., and yet our practice pursuits had not yet commenced...


Finalmente! Eram quase 2 horas da manhã, mas você poderia me ver ali e pensar: "Ei, cara! Como alguém pode estar tão sério, chutando postes de madeira no meio da madrugada?"-  Naquele ano, completavam-se 9 anos desde que tivera acesso ao conteúdo do Geuk Jong (腳樁), por meio de meu Si Fu. Em outras oportunidades, discutimos o assunto ou praticamos, mas eu sabia que naquela noite, com aquelas pessoas reunidas, incluindo meu Si Fu e Si Gung, havia uma ótima oportunidade de aprender mais sobre isso.
Eu vivia um mar de emoções internas, pois me preparei intensamente [dentro do possível na época] para que Si Gung falasse o máximo possível sobre o tópico. Movido por uma forte vontade de não cometer erros ou demonstrar dificuldades com o que ele propusesse, eu me enrolava ainda mais. Além disso, quando alguém pedia a palavra e começava a fazer considerações muito longas, eu me preocupava com o horário e se Si Gung encerraria a atividade... 

At last! It was nearly 2 in the morning, but you could see me there and think: "Hey, dude! How can someone be so serious, kicking wooden posts in the middle of the night?"-  In that year, it marked 9 years since I had gained access to the content of Geuk Jong (腳樁), through my Si Fu. On other occasions, we discussed the matter and practiced, but I knew that on that night, with those people gathered, including my Si Fu and Si Gung, there was a great opportunity to learn more about this.
I lived in a sea of emotions within, for I had prepared extensively [within the possibilities of that time] so that Si Gung could speak as much as possible on the topic. Fueled by a strong desire not to make mistakes or show difficulties in relation to what he proposed, I only found myself becoming even more tangled. Moreover, when someone requested to speak and started to make excessively lengthy considerations, I worried about the time and whether Si Gung would conclude the activity...


Os anos passaram em uma velocidade cruel... Você lembra do que aconteceu dez anos atrás como se fosse ontem... E então me vi sentado ali em uma cadeira do Centro do Instituto Julio Camacho conduzido pelo meu irmão Kung Fu Claudio. Ele gentilmente cedeu as chaves para que eu pudesse usar o seu Geuk Jong (腳樁) com dois dos meus discípulos[FOTO ACIMA]. Era uma manhã de sábado e ambos estavam bem animados, como eu estivera dez anos antes naquela noite de sexta de 2012... Lembrei com emoção enquanto eles prendiam os postes, do meu nervosismo naquele jantar na véspera da inauguração do Núcleo Méier... Se eu tivesse desistido, eles não estariam ali... Parecia que tinha valido a pena investir tempo de vida nesse projeto desde então. E diferente de dez anos antes, aprendi um pouco mais através de muitos erros que poderiam ter sido evitados, que não podemos por um segundo sequer esquecer do nosso papel ao não desperdiçarmos o tempo de ninguém que venha até nós, com nada que não seja para aprimorar ainda mais o seu Kung Fu.
Sentado ali, eu sabia que havia estudado nos últimos anos para conduzir o trabalho. Se foi muito ou pouco, isso ninguém jamais saberá, nem mesmo eu. Para aquele dia, pareceu-me suficiente. Assim, resta a esperança de que o discípulo continue a jornada e lhe proporcione novas oportunidades.

The years have passed at a cruel pace... You recall what happened ten years ago as if it were yesterday... And then I found myself seated there in a chair at the Center of the Julio Camacho Institute, directed by my Kung Fu brother Claudio. He kindly handed over the keys so that I could use his Geuk Jong (腳樁) with two of my disciples [PICTURE ABOVE]. It was a Saturday morning, and both were quite excited, much like I had been ten years prior on that Friday night of 2012... With emotion, I remembered as they fastened the posts, my nervousness from the dinner on the eve of the Meier School inauguration in 2012... If I had given up, they wouldn't be there... It seemed that investing a lifetime's worth of time into this project had been worthwhile. And unlike ten years before, I've learned a bit more through numerous errors that could have been avoided; we must not, even for a single second, forget our role in not wasting anyone's time who comes to us, with anything less than to further enhance their Kung Fu.
Seated there, I knew I had been studying in the past years to lead the work. Whether it was much or little, that no one will ever know, not even I. For that day, it seemed sufficient. Thus, the hope remains that the disciple continues the journey and provides them with new opportunities.


Uma última aventura com meu Si Hing
One last ride with my Si Hing


Cada desafio enfrentado, cada amizade construída e cada momento vivido são os acordes que compõem a trilha sonora extraordinária da vida. Olhando para o horizonte, somos lembrados de que a determinação e o estudo que cultivamos hoje são os alicerces de um amanhã inspirador.
E assim, chegou a manhã da última sexta-feira [foto acima]. A intenção era praticar "Baat Jaam Do", mas o Si Hing insistiu que começássemos com Chi Sau. Senti que esse seria um bom dia. Terminava em algo indeterminado, ainda que o Chi Sau não envolva vitória ou derrota. Foi então que meu Si Hing resolveu usar as pernas e chutar... Graças à sua sagacidade, não se tratava apenas de chutar; era uma sequência de ações ou manter uma conduta mental para que o chute acontecesse sem que eu percebesse... À medida que os chutes entravam, minha moral diminuía mais e mais...  Entretanto, minha relação com o Si Hing fortaleceu-se nos últimos três anos, com tanto afeto, e por isso, pedi que terminássemos a prática por hora. Não era o meu dia, mas quem sabe na próxima sexta... Foi uma lição de humildade que tive.
Voltei para casa pensando no Geuk Jong (腳樁) e percebi que, por muito tempo, talvez tenha me preocupado mais com as técnicas, suas sequências e desdobramentos, do que com a mentalidade correta para manter a perna pronta para ser usada. Assim, aquela manhã com meu Si Hing mostrou-me que, ao abraçar cada momento como um fragmento da trama complexa da vida, construímos um futuro repleto de possibilidades emocionantes. E não importa quantas vezes você aborde o Geuk Jong (腳樁), sempre haverá uma nova aventura a ser vivida, e um novo tópico a ser estudado sobre esse misterioso conteúdo do Sistema Ving Tsun.

Each challenge faced, every friendship forged, and every moment lived are the chords composing the extraordinary life soundtrack. Gazing towards the horizon, we are reminded that the determination and study we cultivate today form the foundations of an inspiring tomorrow.
And so, the morning of last Friday arrived [photo above]. The intention was to practice "Baat Jaam Do," but Si Hing insisted we begin with Chi Sau. I sensed this would be a significant day. It ended in an undetermined manner, even though Chi Sau doesn't involve victory or defeat. It was then that my Si Hing decided to use his legs and kicks... Thanks to his cleverness, it wasn't merely about kicking; it was a sequence of actions or maintaining a mental posture for the kick to happen without my realization... As the kicks landed, my morale dwindled more and more...
Nonetheless, my relationship with Si Hing has grown stronger over the past three years, filled with much affection, which is why I requested we conclude the practice for the time being. It wasn't my day, but who knows about next Friday... It was a lesson in humility that I received.
I returned home pondering the Geuk Jong (腳樁) and realized that, for a long time, I might have concerned myself more with the techniques, their sequences, and outcomes, rather than the correct mindset to keep the leg ready for use. Thus, that morning with my Si Hing showed me that by embracing each moment as a fragment of life's intricate tapestry, we construct a future brimming with exciting possibilities. No matter how many times you approach the Geuk Jong (腳樁), there will always be a new adventure to live and a new aspect to study regarding this mysterious content of the Ving Tsun System.

The Disciple of Master Julio Camacho
Thiago Pereira "Moy Fat Lei"
moyfatlei.myvt@Gmail.com



 

terça-feira, 8 de agosto de 2023

GM LEO IMAMURA: “Again, Thiago?” - 35 years of the Moy Yat Sang Family

 

[ Grão Mestre Leo Imamura aparece me chamando a atenção, e eu sorrio, 
sem entender a profundidade da bronca que ele me deu]

[Grand Master Leo Imamura appears calling my attention, 
and I smile, not understanding the depth of the scolding he gave me]

No final de 1989, o que era para ser um dia especial para minha mãe, acabou se tornando uma grande dor de cabeça. Era minha formatura no Jardim de Infância, e alguns membros da minha família estavam presentes, dentre eles meu querido Tio Zé Carlos. Tio Zé Carlos era um dos poucos em nossa Família que possuía uma câmera fotográfica, e naquele dia era responsabilidade dele registrar o momento. No final do evento, eu entrei em uma crise de choro porque queria ir brincar na casa do meu melhor amigo Renan Gavioli, e além disso, quando cheguei na casa da minha avó ainda contrariado, me tranquei no banheiro e não consegui abrir o ferrolho por cinco horas com apenas seis anos de idade. Por fim, quando as fotos foram reveladas na semana seguinte, com a exceção de três delas, todas saíram borradas. Foi um dia e tanto para minha mãe...

At the end of 1989, what was supposed to be a special day for my mother turned out to be a huge headache. It was my graduation from Kindergarten, and some members of my family were present, among them my dear Uncle Zé Carlos. Uncle Zé Carlos was one of the few in our Family who owned a photographic camera, and that day it was his responsibility to take some photos of the moment. At the end of the event, I burst into tears because I wanted to go play at my best friend Renan Gavioli's house, and besides, when I got to my grandmother's house, still upset, I locked myself in the bathroom and couldn't open the bolt of the door for five hours at just six years old. Finally, when the photos were ready in the following week, all but three of them came out blurry. It was quite a day for my mother...
Quando conheci o Si Gung as câmeras ainda eram analógicas, aqueles eram os tempos de altas aventuras que poderiam ser registradas no máximo com os chamados “ filmes de 36 poses”.  A maioria das máquinas que pude ter contato na infância eram as dos meus tios. Em 1993 minha mãe me deu minha primeira máquina descartável comprada na AVON, e mais tarde em 2000, meu avo me deu uma imitação de uma YASHICA. Ela funcionou apenas uma vez, e depois parou de funcionar. Porém, a guardo até hoje com muito carinho.
 Conforme os anos foram passando, e eu pude adquirir uma câmera analógica de qualidade e em 2006 minha primeira câmera digital. Passei a registrar os momentos com mais assiduidade. Dentre eles, momentos em que estava com meu Si Gung durante suas visitas, minhas visitas ou em eventos.

When I met Si Gung the cameras were still analog, those were the times of high adventures that could be recorded at most with the so-called "36 pose films". Most of the machines I was able to come into contact with in childhood were those of my uncles. In 1993 my mother gave me my first disposable photo camera purchased from AVON, and later in 2000, my grandfather gave me an imitation of YASHICA camera. It only worked once, and then it stopped working. However, I still keep that to this day, to remember my grandfather.
  As the years went by, I was able to acquire a quality analogue camera and in 2006 my first digital camera. I started recording the moments more assiduously. Among them, moments when I was with my Si Gung during his visits, my visits or at events.


Assim como na foto anterior, nos primeiros anos na Família Kung Fu, a maioria das fotos em que apareço com Si Gung, eram tiradas gentilmente pelo meu Si Fu que possuía uma câmera digital.

As in the previous photo, in the early years in the Kung Fu Family, most of the photos in which I appear with Si Gung were kindly taken by my Si Fu who had a digital camera.

Porém, vinte anos atrás quando o Si Gung completava seus 40 anos de idade[foto]. Eu fui determinado a tirar uma foto com ele em minha máquina analógica nova. Eu precisei reunir coragem para ir até a mesa dele, e pedir para tirar a foto. Nós não tínhamos proximidade alguma, e eu era um completo estranho. Para minha surpresa, ele respondeu positivamente e muito animado e sorridente. Me puxou para perto dele e me deu esse abraço. Como não sou habituado a abraçar ninguém, nesse tipo de foto eu sempre fico meio desconjuntado. 
Depois dessa foto, nos dez anos seguintes eu sempre iria até ele para pedir uma mesma foto ao seu lado. Finalmente, no ano de 2013, quando ele completava 50 anos de idade[foto que abriu o artigo], ele disse uma coisa a mim que nunca havia dito antes: “De novo, Thiago? Quantas fotos iguais a essa comigo você já tem?”  - Na hora eu pensei que fosse brincadeira, mas precisei de cinco anos para que a partir de uma observação de meu Si Fu, descobrisse que talvez não fosse.

However, twenty years ago when Si Gung turned 40 years old [photo above]. I was determined to take a picture with him on my new analog camera. I had to muster up the courage to go up to his table and ask to take the picture. We weren't close, and I was a complete stranger. To my surprise, he responded positively and was very excited and smiling. He pulled me close to him and gave me this hug. As I'm not used to hugging anyone, in this type of photo I always get a little out of joint.
After that photo, for the next ten years I would always go to him to ask for the same photo next to him. Finally, in 2013, when he turned 50 years old [photo that opened the article], he said something to me that he had never said before: “Again, Thiago? How many photos like this one with me do you already have?” - At the time I thought it was a joke, but it took me five years untill trough my Si Fu's words, to discover that maybe it wasn't.

[Registro da visita do Si Gung ao Méier em Julho de 2023- Estes somos nós.]

[Record of Si Gung's latest visit to Méier in July 2023- Thats the two of us]


Meu Si Fu apareceu numa das antigas sedes do Núcleo Méier para uma aula aberta. Ao final, muitos dos meus primeiros “To Dai” pediram para tirar uma foto com ele. Era o ano de 2018, e as fotos eram tiradas com celulares. De repente, uma fila estranha se formou, com meus “To Dai” esperando para tirar fotos com o Si Fu. No caminho de volta, meu Si Fu tocou no assunto e me indagou - “O que foi aquilo, Pereira? ” - Ele fez uma pausa, eu gaguejei e ele concluiu - “Eu estava me sentindo o Mickey ali, com todo o mundo querendo tirar fotos daquele jeito!” - Eu fiquei sem palavras, um silencio de uns 15 segundos ocupou todo o carro, e o Si Fu continuou - “Pereira, é importante lembrar que só pedimos para tirar fotos deste jeito, com quem não temos intimidade...Quando somos da mesma Família, os momentos são registrados naturalmente... Para casos quando não temos intimidade com a pessoa, o indicado seria até mesmo oferecer um 'Hung Baau' pela foto...” - Ele concluiu dizendo - “...Importante seus 'To Dai' saberem, que o Si Gung deles não é o Mickey... Precisa de Kung Fu até para tirar foto...”. 
Si Fu não sabia, mas naquele momento eu compreendi um pouco mais quando Si Gung chamou minha atenção após meu pedido parar tirar uma foto em seu aniversário de 50 anos... Talvez, para meu queridíssimo Tio Zé Carlos em 1989,lhe tenha faltado um pouco mais de preparo para saber se a sua  câmera funcionaria em um auditório escuro na minha formatura. Talvez para mim, tenha faltado Kung Fu por dez anos com Si Gung. E na falta deste, eu nunca mais pedi por fotos com o Si Gung. Preferi deixá-las acontecerem naturalmente, como sugeriu Si Fu.

My Si Fu appeared in one of the former headquarters of the MYVT Méier School for an open class. In the end, many of my first “To Dai” asked to take a picture with him. It was the year 2018, and the photos were taken with cell phones. Suddenly, a strange queue formed, with my "To Dai" waiting to take pictures with Si Fu. On the way back, my Si Fu brought up the subject and asked me - "What was that, Pereira? ” - He paused, I stammered and he concluded - “I was feeling like Mickey there, with everyone wanting to take pictures like that!” - I was speechless, a silence of about 15 seconds occupied the whole car, and Si Fu continued - "Pereira, it is important to remember that we only ask to take pictures this way, with whom we have no intimacy... When we are the same Family, moments are recorded naturally... For cases when we are not intimate with the person, the right thing would be to even offer a 'Hung Baau' for the photo...” - He concluded by saying - “...Its important for your 'To Dai' to know that their Si Gung is not Mickey Mouse... You need Kung Fu even to take a picture...”.
Si Fu didn't know, but at that moment I understood a little more when Si Gung called my attention after my request to take a picture on his 50th birthday... Perhaps, for my dearest Uncle Zé Carlos in 1989, he lacked one little more preparation to know if his camera would work in a darkened auditorium at my graduation from kidergarden. Maybe for me, I missed Kung Fu for ten years with Si Gung. And in the absence of this, I never asked for pictures with Si Gung again. I preferred to let them happen naturally, as Si Fu suggested.


The Disciple of Master Julio Camacho
Thiago Pereira "Moy Fat Lei"
moyfatlei.myvt@Gmail.com



sexta-feira, 4 de agosto de 2023

Loyalty to Si Fu, a photo on the wall. - An essay

Na foto acima, é possível ver meu Si Fu Julio Camacho ainda bem jovem, executando o “Siu Nim Tau” na então chamada sede mundial da Moy Yat Ving Tsun em Nova York. Se observarmos ao fundo, poderemos observar um quadro com um frame preto, fundo vermelho, e algumas figuras em primeiro plano...
Nos últimos meses, venho fazendo uma série de reflexões tendo em vista que a minha Família Kung Fu já está vivenciando seu oitavo ano. Mesmo em tão pouco tempo, carrego alguns muitos pesares no coração, devido ao trabalho que realizei com alguns alunos ao longo desses anos e que tenho certeza de que hoje poderia entregar algo melhor.  É claro, que existe uma parte que é da pessoa e do seu desejo de continuar, mas da parte que posso cuidar que é a minha, não é que não tentasse entregar o meu melhor, eu não sabia como faze-lo. Eu era bem mais ignorante.
Quando você é um Si Fu inexperiente, você acaba aceitando membros em sua Família sem refletir o suficiente, para saber se você tem a disponibilidade suficiente para entregar o que aquela pessoa busca. Essa “busca” pode ser por exemplo um desejo inabalável de entender cada vez mais um determinado aspecto da Jornada Kung Fu, sem dar muito atenção a tantos outros. Sobre casos como esse, fiquei me perguntando o quanto sem perceber no início da minha carreira, direcionava e afunilava a atenção da pessoa para um determinado ponto que era importante para mim e não para ela. Com isso, eu não percebia e não ajudava a desenvolver a vocação da pessoa. 

In the photo above, you can see my Si Fu Julio Camacho still very young, performing the "Siu Nim Tau" in the so-called world headquarters of Moy Yat Ving Tsun in New York. If we look at the background, we can see a  black frame, red background, and some figures in the foreground...
In recent months, I've been making a series of reflections considering that my Kung Fu Family is already experiencing its eighth year. Even in such a short time, I carry a lot of regrets in my heart, due to the poor work I've done with some students over these years and which I'm sure could deliver something better today. Of course, there is a part that belongs to the person and their desire to continue, but the part that I can take care of, which is mine, is not that I didn't try to give my best, I didn't know how to do it. I was more ignorant.
When you are an inexperienced Si Fu, you end up accepting members into your Family without reflecting enough to know if you have enough availability to deliver what that person is looking for. This “search” can be, for example, an unshakable desire to understand more and more a certain aspect of the Kung Fu Journey, without paying much attention to so many others. About cases like this, I was wondering how much, without realizing it at the beginning of my career, I directed and funneled the person's attention to a certain point that was important to me and not to them. With that, I didn't understand and could not develop the person's vocation.

Em meados dos anos 2010, meu Mestre Julio Camacho recebe de presente o mesmo quadro, das mãos do próprio Grão Mestre William Moy[foto]. Sobre essa passagem, Si Fu não soube me dizer a razão de ter recebido esse presente tão especial. Anos depois, perguntei ao próprio Grão Mestre William a razão de ter dado esse presente. A mim, ele disse rindo que lembrava do quadro, mas não o que o fez dá-lo a meu Si Fu. No quadro, podemos ver alguns motivos que representam lealdade. A deidade que é representada no centro, é reconhecida por muitos, como o símbolo máximo de lealdade na cultura chinesa. 
Falando sobre “lealdade”, eu cometi o grande erro de entende-la como um “caminho de mão única” por muitas vezes. Sempre a visualizei “do mais novo para o mais antigo”. Revisitando a minha breve jornada como Si Fu, pensei em vários momentos sobre o quanto estava me permitindo ser seguido como “indivíduo” e não como “o representante de uma Linhagem”. Afinal, quantas vezes já refletimos que um irmão Kung Fu querido, nunca seria nosso amigo caso não fosse a Família Kung Fu? Então, mesmo meu irmão Kung Fu Vladimir nascido em '69 é meu super amigo, mesmo eu tendo nascido em '83. Será que seríamos tão próximos se não fosse a Família Kung Fu?
Pensando assim, nos últimos dois anos resolvi repensar o que entendia por “lealdade”. Resolvi passar a estudar mais e a pensar em como me tornar o mais neutro possível, de maneira que a minha presença na relação não sobreponha a relação do discípulo com o Sistema. Talvez isso para mim, seja uma maneira de ser leal com quem fez o “Baai Si” com o representante do Sistema que por acaso, era o Si fu que a pessoa escolheu.

In the mid-2010s, my Master Julio Camacho received the same frame as a gift, from the hands of Grand Master William Moy[photo above]. About this passage, Si Fu could not tell me the reason for having received such a special gift. Years later, I asked Grand Master William himself why he had given this gift. To me, he said laughing that he remembered the frame, but not what makes him give it to my Si Fu. On the frame, we can see some motives that represent loyalty. The deity that is represented in the center is recognized by many as the ultimate symbol of loyalty in Chinese culture.
Talking about “loyalty”, I made the big mistake of understanding it as a “one-way street” many times. I've always viewed it "from newest person to oldest person". Revisiting my brief journey as Si Fu, I thought at various times about how much I was allowing myself to be followed as an “individual” and not as “the representative of a Lineage”. After all, how many times have we reflected that a dear Kung Fu brother would never be our friend if it weren't for the Kung Fu Family? So, even my Kung Fu brother Vladimir born in '69 is my super friend, even though I was born in '83. Would we be so close if it weren't for the Kung Fu Family?
Thinking like this, in the last two years I decided to rethink what I understood by “loyalty”. I decided to start studying more and thinking about how to become as neutral as possible, so that my presence in the relationship does not overlap the disciple's relationship with the System. Maybe that for me is a way of being loyal to the one who did the “Baai Si” with the representative of the System who, by chance, was the Si fu that the person chose.

Meu Si Fu me educou a não ser um apreciador de “surpresas”, porém, ele mesmo me fez uma surpresa quando me presenteou com o mesmo quadro que um dia esteve na sede mundial, e que mais tarde ele recebeu do Grão Mestre William, meu Si Baak Gung. Hoje o quadro está disposto em local de destaque em meu Mo Gun[foto acima a direita]. E ele foi me dado, por ocasião de uma Cerimonia que ocorria no final dos primeiros seis meses de existência da minha Família. Si Fu teria falado com o quadro em mãos, que a entrega do mesmo reconhecia de certa forma a lealdade que eu sempre tive para com ele.
Por muitos anos, esse quadro ficou na parede e eu pensava em “lealdade” todas as vezes que o via. É como você ter o quadro do Patriarca Moy Yat na parede, mas não ser integrado a Linhagem de fato. Então, é apenas um quadro pendurado na parede.
Existe um tipo de cuidado que é pontual. É aquele que um discípulo mais usa e o que mais usamos em nosso dia a dia. Fazemos uma coisa por alguém, e achamos que não precisamos fazer mais. Em último caso, inclusive lembramos a pessoa o que já fizemos. Existe porém, um outro tipo de “cuidado” que é “constante”, pois ele nunca cessa. Esse é um “cuidado” que aqueles que conseguem realizá-lo, escasseiam. Não é apenas um “cuidado” que acontece no “automático” ,por necessidade ou por inocência. É um “cuidado” que você escolhe promover todos os dias.
Acho que talvez o mesmo aconteça com a “lealdade”. Nos dois sentidos. Todos os dias.
 

My Si Fu educated me not to be a fan of "surprises", however, he himself surprised me when he presented me with the same frame that one day was at the world headquarters, and that he later received from Grand Master William, my Si Baak Gung. Today the frame is displayed in a prominent place in my Mo Gun [photo above right]. And it was given to me, on the occasion of a Ceremony that took place at the end of the first six months of my Family's existence. Si Fu would have said with the frame in hand, that the delivery of it recognized in a way the loyalty that I always had to him.
For many years this frame hung on the wall and I thought of “loyalty” every time I saw it. It's like having Patriarch Moy Yat's photo on the wall, but not actually being an active part of the Lineage. So it's just a picture hanging on the wall.
There is a type of care that is punctual, it is what a disciple uses most and what we use most in our daily lives. We do one thing for someone else, and we think we don't need to do more. As a last resort, we even remind the person what we have already done. There is, however, another type of “care” that is “constant” because it never ceases. This is a “care” that those who manage to carry it out are scarce. It is not just a “care” that happens “automatically”, out of necessity or out of innocence. It is a “care” that you choose to have every day.
I think maybe the same thing happens with “loyalty”. In both directions. Every day.

 

The Disciple of Master Julio Camacho
Thiago Pereira "Moy Fat Lei"
moyfatlei.myvt@Gmail.com