sexta-feira, 18 de agosto de 2023

OFFICIAL VISIT OF MASTER JULIO CAMACHO

 

Nas tardes de sábado de 1992 e 1993, costumava encontrar meu avô nas obras que ele fazia, já no final da tarde. Era uma época diferente; uma criança de oito anos podia pegar sua bicicleta e explorar Rocha Miranda. Pacientemente, esperava que ele concluísse suas tarefas, e após o merecido banho, partíamos juntos até a locadora para alugar uma fita de videogame. Esses momentos eram verdadeiramente especiais, pedalando lado a lado com nossas "Monaretas" de segunda mão pela Rua dos Rubis. Mais tarde, o acompanhava até o supermercado, e então retornávamos para casa. Às vezes, ele me pedia para não seguir muito à frente; às vezes, para ficar na calçada em vez de descer para a rua; outras vezes, ele mesmo descia e insistia para que eu não o acompanhasse. E ao retornar, quando a rua estava movimentada, ele solicitava minha ajuda para empurrar as bicicletas enquanto caminhávamos juntos. De alguma maneira, sempre seguíamos juntos.

On Saturday afternoons in 1992 and 1993, I used to find my grandfather at the construction sites he worked on, typically in the late afternoon. It was a different time; an eight-year-old child could grab his bicycle and explore Rocha Miranda wild neighborhood. Patiently, I would wait for him to finish his tasks, and after a well-deserved shower, we would head together to the video rental store to get a nintendo game for me. These moments were truly special, cycling side by side on our second-hand "Monaretas"[A kind of bike used by poor people in Brazil] along Rua dos Rubis. Later, I would accompany him to the supermarket, and then we would return home. Sometimes, he would ask me not to go too far ahead; other times, to stay on the sidewalk instead of going down to the street; occasionally, he would go down himself and insist that I not follow him. And upon our return, when the street was bustling, he would ask for my help to push the bicycles as we walked together. Somehow we were always following together.


Refletindo sobre o início da minha trajetória como Si Fu, percebo que escolhi a versão que mais admirava do meu próprio Si Fu, aquela que mantinha no coração, e passei a emulá-la inconscientemente. No entanto, foi também meu Mestre Julio Camacho que compartilhou comigo anos antes que, dentro da inexperiência do legatário, é comum se apoiar no modelo mais forte que reside internamente. Com o passar dos anos, o dinamismo da vida nos obriga a repensar nossos passos, querendo ou não. Mesmo com os esforços de ambas as partes, acabei por compreender algo que meu Si Fu mencionava no passado: "...O cenário é soberano..."
A próxima visita do meu Mestre Julio Camacho será significativamente distinta das anteriores, pois, pela primeira vez, sua vinda se dará inteiramente por iniciativa da minha Família Kung Fu. Pela primeira vez também, não fazemos parte da mesma instituição. Portanto, embora esse seja um dos processos mais leves que venho promovendo em minha carreira, meu nível de atenção não deixa de estar condizente com o desafio.
Por outras vias, tenho realizado muitas das coisas que meu Si Fu sempre me aconselhou e às quais eu resistia. Um exemplo é valorizar a "sintonia" em relação ao "check-list". No primeiro "Pré-evento" para esta Visita Oficial, que contou com membros de todo o Clã Moy Jo Lei Ou, senti-me mais preparado para conduzi-lo usando o que tenho estudado  no Instituto Moy Yat. E quando percebi, estava exatamente trabalhando na "sintonia" que meu Si Fu sugeriu por anos, sem ao menos notar. Quanto a quem vai levar cadeiras, filmar ou tirar fotografias, não sou capaz de dizer... Mas sobre "Vida Kung Fu", sobre como tratar a programação da Visita como um Sistema e sobre relações familiares... Isso, sim, foi muito bem discutido.

Reflecting upon the outset of my journey as Si Fu, I realize that I chose the version I most admired of my own Si Fu, the one I held close to my heart, and unconsciously began to emulate. However, it was also my Master Julio Camacho who shared with me years ago that, within the inexperience of a successor, it is common to lean on the stronger internal model. As the years pass, life's dynamism compels us to reconsider our steps, whether we want to or not. Despite the efforts of both sides, I ultimately grasped something my Si Fu used to mention in the past: "...The scenario is sovereign..."
The upcoming visit from my Master Julio Camacho will significantly differ from the previous ones, as, for the first time, his visit will occur solely by the initiative of my Kung Fu Family. Also, for the first time, we are not part of the same institution. Thus, although this is one of the lighter processes I've been fostering in my career, my level of attention remains in line with the challenge.
In other avenues, I have been undertaking many of the things my Si Fu always advised me, to which I previously resisted. An example is valuing the "correspondent tune" in relation to the "check-list." During the initial "Pre-event" for this Official Visit, which included members from the entire Moy Jo Lei Ou Clan, I felt better prepared to guide it, utilizing what I have been studying at the Moy Yat Institute. And when I realized, I was precisely working on the "tune" that my Si Fu suggested for years, without even noticing. As for who will carry chairs, film, or take photographs, I'm not capable of saying... But concerning the "Kung Fu Life," about how to treat the Visit's schedule as a System, and about familial relationships... That, indeed, was well-discussed.


Um dia descobrimos que meu avô tinha câncer terminal. Já não pedalávamos juntos até a locadora há 13 anos, e desta vez, de carro, tinha chegado a minha vez de fazer algo parecido. Uma vez por mês, passava o dia com ele, fazendo as coisas que ele gostava. Por alguma razão misteriosa, ele só comprava arroz em uma determinada loja de Madureira e só gostava do caldo de cana e pastel de uma determinada loja no mesmo bairro. A vida do meu avô se esvaía, e os bons momentos só acumulavam...
Acreditando que é possível "seguir junto" mesmo por estradas diferentes, e que podemos estar sintonizados mesmo que não seja em tudo o que fazemos, estamos promovendo esta Visita de todo o coração. Aonde vou, meu avô está comigo. Não precisamos mais estar em bicicletas ou comprando arroz para estarmos juntos. Da mesma forma, cada expressão do meu Kung Fu vem do meu Si Fu. Pois parece-me que existe sim, algo imutável, que é o fato das folhas precisarem se separar da árvore, mas que sempre vão cair próximas à raiz. 

One day we discovered that my grandfather had terminal cancer. We hadn't cycled to the video rental store together for 13 years, and this time, in a car, it was my turn to do something similar for him. Once a month, I spent the day with him, doing things he enjoyed. For some mysterious reason, he only bought rice from a particular shop in Madureira neighborhood[North Zone of Rio] and only liked the sugarcane juice and pastries from a specific shop in the same neighbourhood. My grandfather's life was ebbing away, and the good moments were accumulating...
Believing that it's possible to "stay together" even on different paths, and that we can be attuned even if not in everything we do, we are promoting this Visit of my Master with all our hearts. Wherever I go, my grandfather is with me. We no longer need to be on bicycles or buying rice to be together. Similarly, every expression of my Kung Fu comes from my Si Fu. For it seems to me that there is indeed something unchanging, which is the fact that leaves need to separate from the tree, yet they always fall close to the root.


The Disciple of Master Julio Camacho
Thiago Pereira "Moy Fat Lei"
moyfatlei.myvt@Gmail.com