sexta-feira, 27 de março de 2020

THE SECOND BRAIN OF THE VING TSUN PRACTITIONER.

(Com Si Fu em 2015 num shopping do Rio. Sua decoração parece a do filme TRON de 1982)
(With Si Fu in 2015 in a shopping mall in Rio. Its decoration looks like that of the 1982 film TRON)


Existe um conceito na relação Si Fu- To Dai (Si-To), o qual usamos o ideograma (守) para nos referirmos à ele. A transliteração que usamos para pronunciá-lo é "Sau"(守).
Procurando em bons dicionários, você pode encontrar diferentes traduções, mas a que chegou até mim foi num primeiro momento foi "Aceitar".
Segundo meu Si Gung Leo Imamura, toda a relação começa com ""Sau"(守). Afinal, nos tempos que estamos vivendo, algumas pessoas(principalmente através das redes sociais) parecem ter desenvolvido um vício em discordar. "Aceitar" o que é proposto pelo outro, é de uma dificuldade muito grande nos dias atuais, pois nos colocamos em oposição e não num processo que François Jullien chamou de "Transindividualidade".

There is a concept in the "Si Fu- To Dai (Si-To) relationship", which we use the ideogram (守) to refer to it. The transliteration we use to pronounce it is "Sao" (守).
Looking in good dictionaries, you can find different translations, but the one that came to me at first was "To accept".
According to my Si Gung Leo Imamura, the whole relationship starts with " Sao "(守). After all, in the times we are living in, some people (mainly through social media) seem to have developed an addiction to disagree." To accept "what it is proposed by the other, it is very difficult nowadays, because we are in opposition and not in a process that François Jullien called "Transindividuality".
(Si Fu apenas poucos dias depois de ser titulado Mestre, em um dos Núcleos que dirigiu)
(Si Fu just a few days after being titled Master, in one of the schools he directed)


Ao longo de sua carreira de mais de vinte e cinco anos, Si Fu lidou com muitas situações nas quais desde irmãos Kung Fu mais novos até seus próprios discípulos. Levavam temas pessoais e particulares até ele, em busca de sua visão estratégica e assertiva sobre o tema. Então muito anos depois, Si Fu me disse: "...Às vezes eu ouvia o problema da pessoa, e minha vida estava de cabeça pra baixo...E eu ali, bem na frente da pessoa ouvindo o problema dela, e ela sem saber de nada..." - Si Fu contava isso com um sorriso maroto e com os braços cruzados, como se simulasse sua escuta nessas oportunidades. Nessas ocasiões Si Fu aperta os olhos, cruza os braços, espreme a boca e fica fazendo sinal de positivo com a cabeça enquanto sorri(risos).
"Às vezes eu ficava com inveja do problema da pessoa, sabe?" - Disse ele mais sério- "Quem dera se eu tivesse esse problema". - Finalizou dando a entender que ouvira problemas de pessoas que buscavam uma solução quando ele próprio vivia problemas muito maiores.

Throughout his career of more than twenty-five years, Si Fu has dealt with many situations in which from younger Kung Fu brothers to his own disciples. They brought personal and private themes to him, in search of his strategic and assertive vision on the subject. So many years later, Si Fu said to me: "... Sometimes I heard the person's problem, and my life was upside down ... And I was there, right in front of the person hearing his problem, and he or she without knowing anything ... "- Si Fu told this with a mischievous smile and with his arms crossed, as if simulating his listening in these opportunities. On those occasions Si Fu narrows his eyes, cross his arms, squeezes his mouth and keeps nodding while smiling (laughs).
"Sometimes I was jealous of the person's problem, you know?" - He said more seriously- "I wish I had this problem". - He ended by implying that he had heard problems from people who were looking for a solution when he himself was experiencing much bigger problems.
A relação "Si Fu-To Dai" não é linear, ela é cíclica. Por isso, que de formas diferentes, a importância de se trabalhar o conceito de "Sau"(守) [Aceitar], é fundamental ao longo dos anos. Pois em mais de vinte anos de relação, nem sempre me entendi com Si Fu, e às vezes usar esse conceito que a partir de 2016 Si Fu passou a chamar de "Aderir" (Sau 守), foi muito difícil. - "Um discípulo se afastar e de alguma forma não colocar na conta do Si Fu ou sair magoado falando coisas, muitas vezes injustas, não é novidade. Isso é o que mais acontece..." - Teria dito ele à mim em certa ocasião.

The "Si Fu-To Dai" relationship is not linear, it is cyclical. That is why, in different ways, the importance of working on the concept of "Sau" (守) [To accept], has been fundamental over the years. Because in more than twenty years of relationship, I did not always get along with Si Fu, and sometimes using this concept that since 2016 Si Fu started to call "To adhere" (Sau 守), it was very difficult. - "A disciple going away and somehow not putting it on the Si Fu account or leaving hurt saying things, often unfair, is nothing new. That's what always happens ..." - He would have said to me on one occasion .
(Si Fu caminha pela Vila Gu Lo, onde nasceu e morreu Leung Jaan, Si Gung de Ip Man)
(Si Fu walks through Gu Lo Village, where Leung Jaan was born and died, Si Gung of Ip Man)

Então recentemente pude conversar on line com Si Fu e tinham vários tópicos a serem abordados. Ele pediu que eu começasse falando até que me interrompeu. Ele apontou a maneira padrão pela qual monto meu raciocínio, e falou da importância de "se deixar atravessar pelo pensamento dele". - "...Não é que você vai deixar seu pensamento de lado para assumir minha forma de pensar. Você vai sobrepor nossos pensamentos. E assim, você ganha um jeito a mais de pensar..."
Si Fu então para ilustrar o que dizia, contou-me uma história que me marcaria: "...Uma vez quando eu era adolescente, eu era apaixonado por uma menina. Eu disse pra ela que estava feliz porque gostava dela, mas ela disse que não gostava de mim..." - Si Fu riu e prosseguiu com seu relato- "Eu falei assim: Poxa, que pena. Eu gosto de você e estou feliz, você não gosta de mim e está do mesmo jeito que antes."
Através dessa história simples, Si Fu me mostrou a importância de "se deixar atravessar pelo pensamento do outro", pode nos trazer benefícios em nosso dia a dia. - "...Pelo fato de gostar dela, eu me arrumava, passava perfume...Então foi bom pra mim. Mesmo que ela não gostasse de mim. Mas ela, ficou igual..."

So recently I was able to chat online with Si Fu and there were several topics to be covered. He asked me to start talking until he interrupted me. He pointed out the standard way in which I build my thinking, and spoke of the importance of "letting his way of thinking cross trough mine". - "... It is not that you are going to let go of your way of thinking to assume my way of thinking. You are going to overlap our thoughts. And so, you get one more way of thinking ..."

Si Fu then to illustrate what he was saying, he told me a story that would mark me: "... Once when I was a teenager, I was in love with a girl. I told her I was happy because I liked her, but she said she didn't like me ... "- Si Fu laughed and went on with his story-" I said: Wow, that's too bad. I like you and I'm happy, you don't like me and you are in the same way as before. "
Through this simple story, Si Fu showed me the importance of "letting yourself be crossed by the way of thinking  of the other", it can bring us benefits in our daily lives. - "... Because I liked her, I dressed up better, put some perfum, etc ... So it was good for me. Even if she didn't like me. But she stayed the same ..."
Então, podemos dizer que para viver nosso dia a dia de forma mais estratégica e menos passional, podemos usar nosso "segundo cérebro": O cérebro de nosso Si Fu que nos acompanha onde quer que estejamos. Desta maneira, com um olhar externo à nós mesmos e pensando sobre nosso próprio pensamento, nos tornamos mais inteligentes. E além disso, podemos identificar padrões e pontos a melhorar em nós mesmos. Essa deveria ser uma das vantagens de alguém do Clã Ving Tsun... Mas tudo começa com a habilidade constante de "aderir"(Sau 守).

So, we can say that to live our daily lives in a more strategic and less passionate way, we can use our "second brain": The brain of our Si Fu that accompanies us wherever we are. In this way, by looking outside ourselves and thinking about our own thinking, we become more intelligent. In addition, we can identify patterns and points to improve in ourselves. This should be one of the advantages of someone from the Ving Tsun Clan ... But it all starts with the constant ability to "join" (Sau 守).




The Disciple of Master Julio Camacho
Thiago Pereira "Moy Fat Lei"
moyfatlei.myvt@gmail.com