quinta-feira, 27 de abril de 2023

I think Ving Tsun doesn't work for me... - An essay

 

Em algum momento, talvez você já tenha dito a si mesmo - “Ei!Acho que o Ving Tsun não funciona para mim... ” -  Essa dúvida chega, porque aquela razão inicial que nos motivou a fazer contato e depois fazer a matrícula, acaba nos tomando de assalto em um fim de tarde qualquer - “Se eu precisasse, eu conseguiria me defender?” - Nesse momento você não encontra uma resposta muito clara. Se você for mais curioso, você pergunta a um Si Hing , se você for mais pessimista, você se convence de que não conseguiria. E eu? O que eu fazia nessas horas?
Poucas pessoas lutaram tanto quanto eu...Poucas pessoas passaram por tantas lutas de vida ou morte quanto eu... Todas elas ocorriam quando eu estava voltando da faculdade, com a cabeça encostada no vidro do ônibus que levava de 45 minutos a uma hora para chegar ao meu destino. Eu imaginava as lutas mais incríveis acontecendo, sempre ao som da música que estava ouvindo em meu Discman. Claro! Sempre ganhei todas! 
Na época, eu já havia tido acesso a todo o Domínio Mui Fa Jong, que é quando se trabalha com o “boneco de madeira”... Eu tinha vinte e um anos de idade, e estava fazendo um processo apenas de “Maai Sang Jong”. Porém, alguns anos antes, minhas dúvidas eram muitas e eu quase desisti...

At some point, maybe you've already said to yourself - "Hey! I think Ving Tsun doesn't work for me..." - This doubt arrives, because that initial reason that motivated us to make contact and then enroll, ends up taking us by storm on a random afternoon - “If I needed to, would I be able to defend myself?” - At this moment you don't find a very clear answer. If you are more curious, you ask a Si Hing, if you are more pessimistic, you convince yourself that you couldn't. And me? What did I do in those hours?
Few people fought as much as I did... Few people went through as many life and death fights as I did... They all occurred when I was returning from college, with my head against the window of the bus that took from 45 minutes to an hour to reach my destination. I imagined the most incredible fights happening, always to the sound of the music I was listening to on my Discman. Of course! I always won them all!
At the time, I had already had access to the entire Mui Fa Jong Domain, which is when you work with the “wooden dummy”... I was twenty-one years old, and I was only practicing weekly  “Maai Sang Jong”. However, a few years before, my doubts were many and I almost gave up...


Essa era a visão que eu tinha quando abria a porta do Mo Gun aos dezesseis anos de idade[FOTO ACIMA], tentando passar com minha bicicleta, minha mochila, com meus fones de ouvido caindo... Eu deixava minha bicicleta presa no descanso da escada... Sempre me perguntava porque estava ali. Eu não entendia para que servia o “Chi Sau”, não achava que estava ficando “bom de briga”, tinha sérias dúvidas sobre o que estava de fato aprendendo, e geralmente quando chegava, estavam todos fazendo alguma atividade que quase sempre não tinha muito a ver com prática. 
Eu trocava de roupa, e sentava próximo ao boneco de madeira sozinho para ler algum mangá enquanto minha aula não começava. A Si Suk Ursula aparecia e perguntava - “Thiago...A gente tá conversando lá atrás, você não quer ficar com a gente lá?” - Ela sempre me convidava mas eu nunca aceitava, apesar disso ela continuava convidando - “Eu vou ficar aqui mesmo.” - Respondia. E logo depois aparecia alguém para me dar aula.

This was the vision I had when I used to arrive at the door of the Mo Gun at the age of sixteen [PHOTO ABOVE], trying to pass with my bike, my backpack, with my headphones falling... stairs... I always wondered why I was there. I didn't understand what the "Chi Sau" was for, I didn't think I was getting "good at fighting", I had serious doubts about what I was actually learning, and usually when it arrived, everyone was doing some activity that almost always didn't have much to do. to do with practice.
I would change clothes, and sit next to the wooden doll by myself to read some manga while my class didn't start. Si Suk Ursula would appear and ask - "Thiago... We're talking back there, don't you want to stay with us there?" - She always invited me but I never accepted, despite that she kept inviting - "I'm staying right here." -I would answer And soon after someone showed up to teach me.
[Sentei-me com minha mãe nessas cadeiras quando fiz minha matrícula]
[I sat with my mother in these chairs when I enrolled]

]Naquela época teve uma atividade no curso de ingles em que você precisava falar o seu Hobby, e eu disse que praticava Kung Fu. Uma menina me perguntou a quanto tempo eu praticava e eu respondi que já estava praticando por dois anos. A turma toda se espantou... Acho que era estranho alguém fazer a mesma coisa por dois anos sem parar. Por dentro, eu tinha um sentimento estranho, de que minha habilidade não condizia ao tempo que estava praticando. Mesmo indo duas vezes na semana. O que era mais estranho, é que mesmo não sendo tão ligado a Si Suk Ursula quanto sou hoje, naquela época eu já tinha uma profunda admiração pelo Si Suk André Cardoso e claro, pelo Si Fu. 
Em vários momentos eu não entrava no Mo Gun, passava direto com minha bicicleta e preferia ir jogar bola, pois não via progresso e seguia com a mesma pergunta no coração - “Se eu precisasse, eu conseguiria me defender?” - E seguia pedalando pelo bairro do Tanque. Porém, enquanto me afastava, me sentia por alguma razão misteriosa, falhando com aquele cara legal que viria a ser meu Si Fu um dia. Além disso, o Si Fu era muito habilidoso e não fazia sentido a habilidade dele vir do “Chi Sau”.

At that time, there was an activity in the English language course in which you needed to speak your Hobby, and I said that I was practicing Kung Fu. A girl asked me how long I had been practicing and I replied that I had been practicing for two years. The whole class was amazed... I think it was strange for someone to do the same thing for two years without stopping. Inside, I had a strange feeling that my skill didn't match the time I was practicing. Even going twice a week. What was weirder, is that even though I wasn't as linked to Si Suk Ursula as I am today at that time, I already had a deep admiration for Si Suk André Cardoso and of course, for Si Fu.
At various times I did not enter the Mo Gun, I passed by with my bicycle and preferred to go play soccer, as I did not see progress and continued with the same question in my heart - “If I needed to, would I be able to defend myself?” - And I kept pedaling through the Tanque neighborhood. However, as I walked away, I felt, for some mysterious reason, failing with that nice guy who would one day become my Si Fu. In addition, Si Fu was very skilled and it made no sense for his skill to come from "Chi Sau"

Dois anos depois, eu seguia sem saber do que era realmente capaz. Porém, a prática constante do “Maai Sang Jong”, me fez chegar a uma conclusão - “Eu acho que não evolui nada, mas eu vou partir pra cima mesmo assim.”- Já estava praticando Ving Tsun por cinco anos ininterruptos, e em um belo dia o Si Suk Felipe Soares entrou com uma palma tão perfeita na minha testa durante um “Maai Sang Jong”, que antes dele retirar a mão eu já estava chorando. Eu estava de capacete, e foi um super golpe. Eu joguei o capacete no chão e sai chorando até o banheiro. Em parte, não conseguia entender como o Si Suk Felipe tinha ficado tão bom e eu não tinha percebido. Ele vinha ajudando nas atividades do Mo Gun e participando de coisas que para mim eram distrações do que importava de fato que era a prática. 
Quando sai do banheiro, o pessoal seguiu praticando e havia uma cadeira com um copo de água em cima ao lado do Si Fu. Sentei ao lado dele, cruzei os tornozelos, encolhi os ombros e fiquei bebendo água como uma criança. Uma coisa então passou pela minha cabeça - “Talvez o Ving Tsun não funcione para mim...

Two years later, I still didn't know what I was really capable of. However, the constant practice of "Maai Sang Jong", made me come to a conclusion - "I think nothing evolves, but I'm going to go for it anyway."- I had already been practicing Ving Tsun for five uninterrupted years, and on any given beautiful day, Si Suk Felipe Soares entered with such a perfect palm on my forehead during a "Maai Sang Jong", that before he removed his hand I was already crying. I was wearing a helmet, and it was a super hit. I threw the helmet on the floor and went crying to the bathroom. Partly, I couldn't understand how Si Suk Felipe had gotten so good and I hadn't noticed. He had been helping with Mo Gun activities and participating in things that for me were distractions from what really mattered, which was practice.
When I left the bathroom, the other people continued practicing and there was a chair with a glass of water on top next to Si Fu. I sat beside him, crossed my ankles, shrugged my shoulders and drank water like a child. One thing then crossed my mind - "Maybe Ving Tsun doesn't work for me..."
[Depois de deixar minha bicicleta na escada, passava por debaixo desse quadro.
Quase vinte anos depois, ele iria ornamentar o Mo Gun da minha própria Família Kung Fu]

[After leaving my bike on the stairs, I passed under this painting.
Nearly twenty years later, it would grace my own Kung Fu Family's Mo Gun]

Com o tempo, fui me envolvendo em outras atividades que ocorriam no Mo Gun e na Família Kung Fu. Devido a uma sorte muito grande que me acompanha, acontecimentos foram se sucedendo e eu fui sendo reconhecido pelos meus pares. Por vezes, recebia congratulações por um vídeo que tinha feito, outras vezes, por uma postagem nesse site, mas lá no fundo, depois de todos aqueles anos, uma pergunta permanecia - “Se eu precisasse, eu conseguiria me defender?” - Essa pergunta me acompanhava, porque eu não conseguia associar a habilidade que estava desenvolvendo em outras áreas e as primeiras conquistas que eu tinha, com a habilidade de luta que sempre almejei. - “Se você ficar bom na Vida-Kung Fu, você fica bom na parte técnica. Eu não tenho dúvidas sobre isso. O contrário porém, não acontece” - Teria dito Si Fu. 

Over time, I got involved in other activities that took place in the Mo Gun and in the Kung Fu Family. Due to a very great luck that accompanies me, events followed one another and I was recognized by my peers. Sometimes I received congratulations for a video I had made, other times for a post on this site, but deep down, after all these years, one question remained - "If I needed to, would I be able to defend myself?" - This question followed me, because I couldn't associate the ability I was developing in other areas and the first conquests I had, with the fighting ability I always wanted. - “If you get good at Kung Fu Life, you get good at the technical part. I have no doubts about that. However, the opposite does not happen” - Si Fu would have said.
[O dia do meu Baai Si]
[The day of my Baai Si]

Você deve estar querendo saber se eu ainda me faço a mesma pergunta, certo? Ela sempre está por ali, em algum lugar do coração, tentando fazer eu duvidar do que consigo ou não fazer. E talvez por isso, eu seja tão fã da formalidade. Porque quando o “humano” fica com dúvidas, o “compromisso” sustenta. Nós assumimos um compromisso em nos organizar para receber o que o Si Fu tem para entregar. Não é uma tarefa fácil, todos nós temos demônios internos que surgem para atrapalhar nossa trajetória. Depois de um tempo, eu entendi que seria uma falta de consideração com o que me foi dado, não acreditar em seu potencial. Existe uma diferença entre alguém lhe entregar algo, você ser capaz de receber e, fazer algo com o que tiver recebido. Não posso aceitar a possibilidade de não fazer funcionar o que aprendi nas mais diferentes circunstancias. E apesar do Si Fu sempre me dar uma bronca sobre isso, eu acredito sim que me comparar com alguém com maior excelência, me ajuda a ir além. 
Se eu ainda acho que o Ving Tsun não funciona para mim? Bom, eu faço funcionar e caso não funcione, eu pago o preço.

You must be wondering if I still ask myself the same question, right? This question is always there, somewhere in my heart, trying to make me doubt what I can or can't do. And maybe that's why I'm such a fan of formality. Because when the “human” has doubts, the “commitment” sustains. We make a commitment to organize ourselves to receive what Si Fu has to deliver. It's not an easy task, we all have internal demons that arise to get in the way of our trajectory. After a while, I understood that it would be a lack of consideration for what I was given, not believing in its potential. There is a difference between someone giving you something, you being able to receive it, and doing something with what you have received. I cannot accept the possibility of not making what I learned work in the most different circumstances. And although Si Fu always scolds me about it, I do believe that comparing myself to someone with greater excellence helps me to go further.
If I still think that Ving Tsun doesn't work for me? Well, I make it work and if it doesn't work, I pay the price.

A Disciple of Master Julio Camacho
Thiago Pereira "Moy Fat Lei"
moyfatlei.myvt@gmail.com.