sexta-feira, 8 de maio de 2020

3 TIMES I ALMOST GIVE UP THE VING TSUN PRACTICE

Durante a trajetória de um praticante de Ving Tsun, podem não ser poucas as oportunidades em que ele pensa em interromper sua jornada. De fato, um dos grandes pontos para seguir firme em determinado processo sem desistir, diz respeito ao meu ver, a ter claros os seus valores pessoais. Sobre valores pessoais, na primeira palestra que participei de Si Gung, perguntei a ele porque a Moy Yat Ving Tsun não promovia trabalhos com pessoas carentes. Ele me perguntou meu nome e depois perguntou o que eu entendia por "carência". Dei o exemplo de estar andando na rua com um casaco de moletom e ao ver um morador de rua sentindo frio dar meu casaco. Si Gung sorriu e perguntou--me: "Então você está me dizendo, que se um morador de rua estivesse com frio você daria seu casaco?" - Respondi que "sim" e ele complementou com outra pergunta - "Mas e se ele dissesse que só sente frio nas pernas? Você daria suas calças?"
Este foi o primeiro contato mais próximo com Si Gung fora de uma Cerimônia e percebi, mesmo aos quinze anos de idade, que com uma simples mudança de cenário, meus valores pessoais não se sustentavam. Ou seja: Eu não era capaz de defender o que era importante para mim.

During the journey of a Ving Tsun practitioner, there may be many opportunities when he thinks about interrupting his journey. In fact, one of the great points for staying firm in a given process without giving up, is in my view, having your personal values ​​clear. On personal values, in the first lecture I attended Si Gung, I asked him why Moy Yat Ving Tsun did not promote work with people in need. He asked me my name and then asked what I meant by "neediness". I gave the example of walking on the street in a coat and seeing a homeless man feeling cold and I would give him my coat. Si Gung smiled and asked me: "So you are telling me, that if a homeless person were cold you would give him your coat?" - I answered "yes" and he added with another question - "But what if he says that he only feels cold in his legs? Would you give your pants?"
This was the first closest contact with Si Gung outside of a Ceremony and I realized, even at the age of fifteen years old, that with a simple change of scenery, my personal values ​​could not be sustained. In other words: I was not able to defend what was important to me.
(Com meu Si Hing Cledimilson)
(With my Si Hing Cledimilson)

Foi em 2001 a primeira vez que eu quase parei de praticar o Ving Tsun. Já estava na metade do Domínio Cham Kiu, e não conseguia me perceber me tornando o "lutador" que almejava ser. A prática de "Chi Sau" não me dizia nada e foram muitas as vezes que eu chegava com minha bicicleta preta na porta do Mo Gun da Avenida Nelson Cardoso na Taquara, parava na porta, desistia e voltava para casa. Repeti esse processo por dois meses, até que minha mãe disse que não pagaria para eu não ir. Si Fu nos chamou no Mo Gun, conversou com minha mãe, e a pergunta final cabia a mim responder. Disse ele: "Você ainda quer praticar?" - Respondi que sim.
A partir dali, minhas sessões passaram a ser com meu Si Hing Cledimilson(foto). Lembro-me dele pedindo que eu o golpeasse com força: "Só isso, rapaz? Pode soltar". - As práticas passaram a ser divertidas, e eu comecei a ver, a minha própria maneira, a relevância do Chi Sau.

It was the first time in 2001 that I almost stopped practicing Ving Tsun. I was already in the middle of the Cham Kiu Domain, and I could not see myself becoming the "fighter" I wanted to be. The practice of "Chi Sau" said nothing to me and many times I arrived with my black bicycle at the door of the Mo Gun on  Nelson Cardoso Avenue in Taquara neighborhood(West Zone of Rio),I would stop at the front door of the Mo Gun, gave up and returned home. I repeated this process for two months, until my mother said she would not pay the fees for me not to go. Si Fu called us at Mo Gun, talked to my mother, and the final question was up to me to answer. He said, "Do you still want to practice?" - I said "yes".
From then on, my private sessions started to be with my Si Hing Cledimilson (photo). I remember him asking me to hit him harder: "Is that all, boy? You can let go. Punch harder!". - The practices became fun, and I started to see, in my own way, the relevance of Chi Sau.
(Com os Si Suk Andre e Ursula)
(With the Si Suk Andre and Ursula)

Mais tarde no Domínio "Biu Ji", passei a ter sessões com o Si Suk André e Si Suk Ursula. Ao longo dos meses e dos anos, estas duas pessoas de diferentes maneiras. Foram muito importantes para minha trajetória e para que eu pudesse me sentir parte do grupo.

Later in the Domain "Biu Ji", I started to have sessions with Si Suk André and Si Suk Ursula. Over the months and years, these two people in different ways. They were very important for my journey and for me to feel part of the group.

Em 2007, formalizei meu ingresso da Família Moy Yat Sang para a Família Moy Jo Lei Ou(FOTO). Devido ao meu convívio com meu Si Fu, para mim fazia mais sentido ser um membro de sua Família. Dois meses depois, realizava o Baai Si. Mas isso tudo só aconteceu, pois em Janeiro daquele ano, ao viajar sozinho com Si Fu para três dias de seminário em São Paulo, mesmo tendo me dedicado técnicamente desde 1999 e a Vida Kung Fu de forma mais intensa nos últimos dois anos. Levei a pior numa prática de Maai San Jong com um praticante de Minas Gerais. Nas duas tentativas de passar da distância longa para a média e golpeá-lo, antes de pisar no chão ele me derrubou com um dos seus pés. Duas vezes seguidas, a mesma coisa.
Levantei os olhos, vi algumas pessoas olhando e pensei: "É isso... Não dá pra mim...". - Na Terça depois que chegamos ao Rio, pedi para conversar com Si Fu e comunicar meu afastamento. Ele lamentou dizendo algumas palavras, nos abraçamos e eu sai pela porta. Dois dias depois estava de volta, algo havia mudado. Eu não conseguia mais ir embora.

In 2007, I formalized my entry from the Moy Yat Sang Family to the Moy Jo Lei Ou Family (PHOTO). Due to my relationship with my Si Fu, it made more sense to me to be a member of his Family. Two months later, I was doing Baai Si. But it all just happened, because in January of that year, when traveling alone with Si Fu for three days of seminar in São Paulo, even though I dedicated myself technically since 1999 and more intensily to Kung Fu Life  in the past two years. I took the worst in a Maai San Jong practice with a practitioner from Minas Gerais State. In both attempts to move from long to medium distance and hit him, before I stepped on the ground he knocked me over with one of his feet. Twice in a row, the same thing.
I looked up, saw some people looking and thought: "That's it ... I can't do it anymore ...". - On the Tuesday after we arrived in Rio, I asked to talk to Si Fu and report my departure : I was leaving the Family. He regretted saying a few words, we hugged and I walked out the door. Two days later I was back, something had changed. I could not walk away.
(Com Si Fu e meus Si Hing Cledimilson e Leonardo)
(With Si Fu and the Si Hing Cledimilson and Leonardo)

Cada um de nós, possui a cada momento da vida, fatores limitantes que nos impedem de seguir adiante. Em nosso íntimo, acreditamos verdadeiramente que aquilo só está acontecendo conosco. É como se fizéssemos uma pessoalização de um problema que atingiu vários praticantes ao longo das gerações e que conseguiram superá-lo. Mas acreditamos que na nossa vez é especial...É diferente... Por isso, vamos embora.
No meu caso, havia apenas uma miopia em relação ao que eu estava fazendo, meu objetivo de virar um lutador e o que de fato eu era capaz de fazer. Quando tudo isso se alinhou dentro de mim, pude descobrir minha vocação. Por isso, a ajuda do Si Fu e dessas pessoas que aqui citei, foram fundamentais para que de "último da fila" se alguém tivesse que apostar em quem se tornaria Mestre.  Eu pudesse chegar nesse ponto.
Mas no final das contas, a pergunta que Si Fu me fez em seu escritório com a presença da minha mãe, tenha sido decisiva para meu processo não só como praticante, mas como Mestre também: "Você ainda quer praticar?" - Se você conseguir responder que "Sim", todo o resto passam a ser desculpas para adiar a dor de desfazer-se de camadas que lhe impedem de se desenvolver como ser humano. Assim, a "Honestidade" é o último nível de um artista marcial. A honestidade consigo mesmo.

Each of us, at each moment of life, has limiting factors that prevent us from moving forward. Inwardly, we truly believe that this is only happening to us. It is as if we made a personalization of a problem that has reached several practitioners over the generations and that have managed to overcome it. But we believe that our turn is special ... It's different ... So, lets go away.
In my case, there was only a short-sightedness about what I was doing, my goal of becoming a fighter and what I was actually able to do. When all this was aligned within me, I was able to discover my vocation. For this reason, the help of Si Fu and these people I mentioned here, were fundamental for the "last in line" if someone had to bet on who would become a Master. I could get to that point I´m in today.
But in the end, the question that Si Fu asked me in his office with the presence of my mother, was decisive for my process not only as a practitioner, but as a Master as well: "Do you still want to practice?" - If you can answer "Yes", everything else becomes an excuse to postpone the pain of getting rid of layers that prevent you from developing yourself as a human being. Thus, "Honesty" is the ultimate level of a martial artist. Honesty with yourself.


The Disciple of Master Julio Camacho
Thiago Pereira "Moy Fat Lei"
moyfatlei.myvt@gmail.com
@thiago_moy