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[詠春武林中外]

terça-feira, 29 de outubro de 2024

A DISPOSABLE SI FU (師父) - A birthday story

 

Para o meu aniversário deste ano, me sentia mais preparado e determinado. Até então, havia uma falta de compreensão da minha parte sobre como organizar os meus aniversários de forma que o foco era sempre sobre meus discípulos me surpreenderem, me emocionarem e compartilharem depoimentos e aplausos. Contudo, as duas experiências recentes nos aniversários do Grão-Mestre Leo Imamura em Brasília me ajudaram a entender melhor o que esses momentos representam. Em especial, no último, em que atuei como assistente.
Estou ali exercendo uma função social dentro do círculo marcial, e isso pode ser cuidado por mim na preparação, não apenas para honrarmos da melhor forma possível a posição que um Si Fu ocupa como Líder de uma Família, mas também para aproveitarmos ao máximo o potencial desse evento para "Vida Kung Fu". Em alguns momentos, minhas intervenções são diretas; em outros, indiretas. Graças a uma nova cultura presente hoje em minha Família, os membros percebem a necessidade de realizar vários pré-eventos, mesmo sem que eu peça. Para mim, isso parece mágica, mas é o resultado de uma cultura que busca a excelência, na qual nos dedicamos nos últimos dois anos. Pois, mesmo que as coisas não aconteçam como desejamos, saberemos que fizemos o melhor que pudemos. E dentro da "Dimensão Kung Fu".
Quanto ao sentimento de ser homenageado, isso foi algo que pude discutir com Si Gung em um momento com ele em São Paulo, enquanto fechávamos o Instituto no último horário. Dentro do meu entendimento, é como se eu já tivesse pessoas ao meu redor, como parentes e amigos, que trazem isso para mim na data do meu aniversário. Isso me permite dedicar meu tempo e a data do meu nascimento novamente à vocação que escolhi seguir: a de Si Fu, que por acaso é o Thiago Pereira. E não vivenciar o momento apenas como Thiago Pereira que por acaso é um Si Fu. Isso implica em você não contar com a homenagem, mas estar atento como sempre, ao desenvolvimento de cada discípulo em cada etapa da celebração.

For my birthday this year, I felt more prepared and determined. Until then, I lacked understanding of how to organise my birthdays, focusing mainly on my disciples surprising me, moving me, and sharing tributes and applause. However, the two recent experiences at the birthdays of Grand Master Leo Imamura in Brasília helped me to better understand what these moments represent, especially the last one, where I acted as an assistant.
I am fulfilling a social role within the martial circle, and this can be managed by me in the preparation, not only to honour, as best as we can, the position that a Si Fu occupies as the leader of a family, but also to maximise the potential of this event for "Kung Fu Life". At times, my interventions are direct; at others, indirect. Thanks to a new culture present in my family today, members recognise the need to hold various pre-events, even without me asking. To me, this feels like magic, but it is the result of a culture striving for excellence that we have committed to over the past two years. For even if things do not unfold as we wish, we will know that we did our best. And within the "Kung Fu Dimension".
As for the feeling of being honoured, this was something I discussed with Si Gung during a moment with him in São Paulo while we were closing the Institute at the last hour. In my understanding, it is as if I already have people around me, like relatives and friends, who bring this to me on my birthday. This allows me to dedicate my time and the date of my birth once again to the vocation I chose to follow: that of Si Fu, who happens to be Thiago Pereira. And not to experience the moment merely as Thiago Pereira, who happens to be a Si Fu. This implies not relying on the honouring, but always being attentive to the development of each disciple at every stage of the celebration.


Segundo o Professor Byung-Chul Han, cuja obra me foi apresentada pela minha Si Taai, a Professora Vanise Almeida, muitas pessoas buscam a autenticidade como alternativa às tradições, pois a formalidade que algumas tradições consagradas exigem nos obriga a olhar "para fora", o que carrega em si um potencial de transformação. No entanto, por serem muito conectadas consigo mesmas, algumas pessoas, na indisponibilidade de se conectar com o externo, chamam de "autenticidade" essa aversão a formalidades existentes.
Me chamam de "bobo", mas eu me considero um apreciador das formalidades. Acredito que, nesta celebração em particular, eu não estava nem feliz, nem triste e nem tenso. Isso porque não gosto de celebrar aniversários dessa magnitude, mas, segundo o próprio Si Gung, ele teria dito: "... Devemos permitir que nossos discípulos celebrem a nossa vida..." Sendo assim, ao me apoiar na minha função de Si Fu e na responsabilidade que ela exige, consigo ir além das minhas próprias limitações. Esse é o poder que acredito que a formalidade possui, desde que estejamos disponíveis para nos conectarmos com algo que vá além de nós mesmos. 

According to Professor Byung-Chul Han, whose work was introduced to me by my Si Taai, Professor Vanise Almeida, many people seek authenticity as an alternative to traditions, as the formality that some established traditions require compels us to look "outwards," which carries a potential for transformation. However, because they are very connected to themselves, some people, in their inability to connect with the external, label this aversion to existing formalities as "authenticity."
I may be called "foolish," but I consider myself an admirer of formalities. I believe that, in this particular celebration, I was neither happy, nor sad, nor tense. This is because I do not enjoy celebrating birthdays of such magnitude. However, according to Si Gung, he would have said: "... We must allow our disciples to celebrate our lives..." Therefore, by leaning into my role as Si Fu and the responsibility it entails, I can transcend my own limitations. This is the power that I believe formality possesses, provided we are open to connecting with something beyond ourselves.

Nessa celebração, contei com a presença de pessoas muito queridas, dentre elas Si Suk e irmãos Kung Fu mais novos que posso dizer que amo de verdade. Por não sermos apenas um simples "grupo de amigos" que gosta um do outro, eu chamo todos os meus Si Suk de "Si Suk", e meus irmãos Kung Fu mais novos me chamam de "Si Hing", por mais óbvio que isso possa parecer. Esse arranjo permite uma harmonia que, às vezes, é fácil de esquecer.
Talvez a única exceção seja o Vladimir (à minha direita na foto), que sempre me chamou de "Thiago", e isso nunca foi um problema entre nós. Devido ao carinho e respeito mútuo sempre presentes, isso me permitiu também ter uma das conversas mais emocionantes e difíceis da minha jornada. Foi quando, ao ser convidado pessoalmente pelo Vlad para uma cerimônia na qual ele receberia um "Jiu Paai", disse que precisava recusar. Vlad imediatamente entendeu minha posição sem que a sua fosse afetada, a ponto de se fazer presente no meu aniversário e oferecer os mesmos conselhos carinhosos que me dá nos últimos dezesseis anos, a respeito da minha vida pessoal, por me conhecer tão bem.
Acho que nossa conversa tão especial ali no meio do salão, ao final da celebração, foi um momento que guardarei no coração, sem dúvidas. - "...Você pode ser o melhor Si Fu que você pode ser, o melhor praticante que você poder ser, mas o problema no futuro é parecer que faltou alguma coisa..." - disse ele, como se lesse meus pensamentos. Foi realmente especial.

At this celebration, I was joined by many dear people, including Si Suk and younger Kung Fu brothers whom I can truly say I love. Since we are not just a simple "group of friends" who care for one another, I refer to all my Si Suk as "Si Suk", and my younger Kung Fu brothers call me "Si Hing", as obvious as that may seem. This arrangement creates a harmony that, at times, is easy to forget.
Perhaps the only exception is Vladimir (to my right in the photo), who has always called me "Thiago", and that has never been a problem between us. Thanks to the mutual affection and respect we have, I was also able to have one of the most emotional and difficult conversations of my journey. It was when, upon being personally invited by Vlad to a ceremony where he would receive a "Jiu Paai", I said that I needed to decline. Vlad immediately understood my position without his being affected, to the extent that he attended my birthday and offered the same caring advice he has given me over the past sixteen years about my personal life, knowing me so well.
I believe that our very special conversation in the middle of the hall at the end of the celebration was a moment I will undoubtedly hold in my heart. - "...You can be the best Si Fu you can be, the best practitioner you can be, but the problem in the future is that it may seem like something was missing..." - he said, as if he could read my thoughts. It was truly special.

Contei com a presença da Professora Vanise Almeida, minha Si Taai, que disponibilizou sua noite de sábado para entrar ao vivo via Zoom e me presentear de maneira única. Realmente foi uma grande honra. Além dela, o Grão-Mestre Leo Imamura, meu Si Gung, dedicou quase dez minutos de sua atribulada agenda para falar sobre o que significa o aniversário de um Si Fu e o termo "Salvaguarda", que, surpreendentemente, ainda é tão mal compreendido. Outros dignitários da Linhagem Moy Yat também enviaram mensagens, e membros do círculo marcial estiveram presentes.
Entretanto, um momento em particular me tocou muito: foi quando o filho da minha já falecida Professora de chinês, o Sr. Jaime Ma (foto), um homem de poucas palavras, ao começar a falar, me fez sentir o coração preenchido pela presença da Professora Lily naquele instante. Talvez eu estivesse um pouco emotivo ao lembrar dela, mas pude, por alguns segundos, sentir o conceito de "trazer à memória alguém que já faleceu". Fiquei feliz em contar com a presença do Jaime e do Mestre Serpio, duas das pessoas com quem a Professora tanto quis que eu me aproximasse em vida. Essa é a força do trabalho dela, que foi e ainda irá muito além de sua própria vida. Realmente foi um grande momento.

I was honoured to have the presence of Professor Vanise Almeida, my Si Taai, who dedicated her Saturday evening to join me live via Zoom and present me in a unique way. It truly was a great honour. In addition to her, Grand Master Leo Imamura, my Si Gung, took almost ten minutes from his busy schedule to speak about what a Si Fu's birthday means and the term "Safeguard," which, surprisingly, is still so poorly understood. Other dignitaries from the Moy Yat lineage also sent messages, and members of the martial circle were present.
However, one moment in particular touched me deeply: when the son of my late Chinese teacher, Mr. Jaime Ma (photo), a man of few words, began to speak, it made me feel the presence of Professor Lily in that instant. Perhaps I was feeling a bit emotional as I remembered her, but for a few seconds, I was able to grasp the concept of "bringing to memory someone who has passed away." I was happy to have the presence of Jaime and Master Serpio, two of the people the Professor wished for me to connect with in her lifetime. This is the strength of her work, which went and will continue to go far beyond her own life. It truly was a significant moment.


Acredito que o verdadeiro presente veio através das falas dos meus discípulos. Não somente pelo conteúdo do que foi dito, mas pela forma como as palavras estavam afiadas. Não pensava em me sentir homenageado nem nada parecido; estava mais preocupado em perceber como o raciocínio de cada um havia sido estruturado para aquele momento. E foi, de verdade, muito especial constatar o resultado de estar imerso nesta cultura nos últimos dois anos. Nossa proposta era fazer uma celebração dentro da "Dimensão Kung Fu", e acredito que conseguimos dar um belo primeiro passo.
A assertividade com que cada um falou, sem espaço para discursos emocionados, mas com relatos verdadeiros de uma "Vida Kung Fu" promovida pela rede de apoio, me tocou tanto que, dois dias depois, enviei uma mensagem de agradecimento ao Si Gung. Isso porque não consigo entender como o Vitor, que não esteve tão presente nas intensas vivências com o Si Gung como o Lucas, pode ter o mesmo discurso afiado. Essa é a prova de que, no final das contas, o bom trabalho de um Si Fu é ser totalmente dispensável. Eu não sabia onde eles tinham aprendido a falar assim. E acho que, por isso, pouco a pouco, vou conseguir chegar lá. Eu nunca desisti.

I believe that the true gift came through the words of my disciples. Not only because of the content of what was said, but also due to the sharpness of their words. I wasn’t thinking about feeling honoured or anything like that; I was more concerned with how each person's reasoning had been structured for that moment. And it truly was very special to witness the results of being immersed in this culture for the past two years. Our aim was to hold a celebration within the "Kung Fu Dimension", and I believe we took a beautiful first step.
The assertiveness with which each spoke, without space for emotional speeches, but rather true accounts of a "Kung Fu Life" fostered by the support network, moved me so much that, two days later, I sent a message of thanks to Si Gung. This is because I can’t understand how Vitor, who hasn’t been as involved in the intense experiences with Si Gung as Lucas has, can have the same sharp discourse. This is proof that, in the end, the good work of a Si Fu is to be completely dispensable. I didn’t know where they had learned to speak like that. And I think that’s why, little by little, I will be able to get there. I have never given up.




A DISCIPLE OF MASTER JULIO CAMACHO
Master Thiago Pereira
Leader of  Moy Fat Lei Family
moyfatlei.myvt@gmail.com
@thiago_moy 



segunda-feira, 7 de outubro de 2024

JIN CHOEI (戰捶) and BAAI YAP SI MUN (拜入師門)

 

Sem sombra de dúvidas, uma das frases mais importantes que ouvi na última década é: "...Vamos recomeçar do zero quantas vezes forem necessárias..." - Essa frase teria sido dita pelo Grão-Mestre Leo Imamura em 2007, durante um traslado de carro, mas ele só disse a mim ano passado. Devido ao contexto em que foi proferida, ela me tocou bastante. Si Gung havia percebido, após duas décadas, que não estava fazendo um bom trabalho. Ele reconheceu que precisaria reestudar todo o sistema e tudo o que envolvesse esse estudo desde o início ("quantas vezes forem necessárias").
Essa história me inspirou muito. Lembro (e já contei aqui) de quando peguei o Grão-Mestre Leo Imamura no bairro da Barra e o levei de carro para uma visita ao Centro do Rio. No trajeto, comentei com ele que havia percebido que ele estava diferente, mesmo com o pouco que o conhecia. Dei como exemplo o fato de ele dizer "por gentileza" ou "por favor" ao final das frases. "E por que eu não diria?" teria indagado ele.
Por isso, sinto-me como possuído por espíritos e não consigo parar de estudar o detalhe de um componente associado ou uma listagem neste ano, não só pela inspiração do Grão-Mestre Leo Imamura, mas também por saber que existe um grupo de pessoas fazendo o mesmo a cada momento. "Só pela maneira como a pessoa aborda um assunto, já dá para saber de cara o quanto ela tem praticado ou não..." - teria dito Si Gung recentemente em São Paulo. - "...Tem que praticar! Não adianta só ficar falando, tem que estudar!" - Comenta ele.
Mas recomeçar do zero é, de fato, tão fácil assim? No último final de semana, descobri que não.

Without a shadow of a doubt, one of the most important phrases I have heard in the last decade is: "...Let us start from scratch as many times as necessary..."-  This phrase was said by Grand Master Leo Imamura in 2007, during a car journey, although he only conveyed it to me last year. Given the context in which it was uttered, it resonated with me deeply. Si Gung had realised, after two decades, that he was not performing his role effectively. He acknowledged that he needed to re-study the entire system and everything associated with that study from the beginning ("as many times as necessary").
This story has greatly inspired me. I remember (and have mentioned here before) the occasion when I picked up Grand Master Leo Imamura in the Barra neighbourhood and drove him to a visit in the Centre of Rio. During the journey, I remarked to him that I had noticed he seemed different, even with the limited acquaintance I had with him. I cited as an example his use of expressions such as "please" or "kindly" at the end of his sentences. "And why wouldn’t I say that?" he would have questioned.
For this reason, I feel as though I am possessed by spirits, unable to cease my study of the details of a particular component or listing this year, not only due to the inspiration from Grand Master Leo Imamura but also because I am aware that there is a group of individuals engaged in the same pursuit at every moment. "Just by the way a person approaches a subject, one can immediately gauge how much they have practiced or not..." - Si Gung is reported to have said recently in São Paulo. "...One must practise! It is not sufficient merely to speak; one must study!" - he comments.
But is starting from scratch truly that easy? Last weekend, I discovered that it is not.

(MYVT Méier School, 2012)

Eu estava praticando o "Jin Choei (戰捶)" sem conseguir entender por que os socos ainda não tinham energia. Durante o processo, minha mente era um mar de pensamentos negativos. Lembrava que havia acessado este componente em 2007, e ali estava eu, ainda sem compreendê-lo. Também me lembrei de quando estive em São Paulo com Si Gung, após um estudo aprofundado do "Luk Dim Bun Gwan", e quando ele me perguntou se tinha "algo bom para mostrar", eu disse que ainda não.
Minha sorte, nessas horas, continua sendo a existência dos meus alunos. Devido à minha responsabilidade com eles, esses pensamentos desanimadores não tomam o controle, porque eu preciso conseguir. Foi então que, em uma das muitas tentativas, senti o soco vindo. Imediatamente abri um sorriso e me desconcentrei. Voltei à configuração inicial e rezei para que não tivesse sido apenas sorte. E não foi. Consegui entender, à minha maneira, como fazer o Jin Choei (戰捶) com energia do chão, e não da minha vontade.

I was practising "Jin Choei (戰捶)" without understanding why the punches still lacked energy. Throughout the process, my mind was a sea of negative thoughts. I recalled that I had accessed this component in 2007, and there I was, still failing to grasp it. I also remembered when I was in São Paulo with Si Gung, after an in-depth study of "Luk Dim Bun Gwan," and when he asked me if I had "anything good to show," I replied that I did not.
My fortune in these moments continues to be the presence of my students. Due to my responsibility towards them, these discouraging thoughts do not take control, because I need to succeed. It was then that, during one of many attempts, I felt the punch coming. I immediately smiled and lost my focus. I returned to the initial position and hoped it hadn’t been merely luck. And it wasn’t. I managed to understand, in my own way, how to perform Jin Choei (戰捶) using energy from the ground, rather than from my will.

O problema foi que, ao conseguir fazer isso, todo o meu entendimento de estrutura que havia desenvolvido com muito esforço desde julho foi por água abaixo. Lembrei do Si Gung quando disse: "O que está acontecendo é que o Sistema está demandando uma coisa de você e você não tem como entregar..." - Ali, parecia ser novamente o caso. Lá estava eu, subindo na base, entortando a coluna, etc. "Ah, não, cara... Sério?" - Lembro de ter pensado. Quando ia me desanimar, colocando as mãos na cintura, imediatamente lembrei, sem esforço: "...Vamos recomeçar do zero quantas vezes forem necessárias..."
Minha mente ainda lutava para aceitar essa realidade. Eu precisaria abrir mão de todo o estudo dos últimos meses, ou poderia entender que tudo havia sido necessário para me levar até aquela tomada de consciência. Então, de volta à configuração inicial, era hora de entender melhor a estrutura. Porém, voltei para casa animado para estudar o "Siu Nim Tau" e "Cham Kiu" e, a partir deles, posteriormente o "Biu Ji", a fim de desenvolver a condição de dar suporte ao "Jin Choei (戰捶)" quando ele pedisse. Como não tenho todo esse tempo, precisarei fazer todos os estudos simultaneamente, mas ainda não descobri como. Resolvi, então, terminar o dia tomando um açaí.

The problem was that, upon managing to do this, all my understanding of structure that I had developed with great effort since July went down the drain. I remembered Si Gung saying: "What is happening is that the System is demanding something from you and you cannot deliver..." It seemed that this was once again the case. There I was, rising on the base, bending my spine, etc. "Oh, no, come on... Seriously?"-  I remember thinking. Just as I was about to become disheartened, hands on my hips, I immediately recalled, effortlessly: "...Let us start from scratch as many times as necessary..."
My mind was still struggling to accept this reality. I would need to let go of all the study from the last few months, or I could understand that everything had been necessary to lead me to that moment of awareness. So, back to the initial position, it was time to understand the structure better. However, I returned home excited to study "Siu Nim Tau" and "Cham Kiu" and, subsequently, "Biu Ji", in order to develop the capability to support "Jin Choei (戰捶)" when it asked for it. As I do not have all that time, I will need to study everything simultaneously, but I have not yet figured out how. I decided to end the day by having an açaí bowl.

(MYVT Méier school, 2024)

Porém, esse parecia ser de fato um final de semana para fortes emoções... Estou sempre enchendo o Si Gung de perguntas e dúvidas, e desta última vez, na organização da "Visita Oficial" dele à minha família nos dias 08, 09 e 10 de novembro, ele me convidou para uma reunião na noite de sábado: "Quero ajudar você a entender como escolher um hotel." - Então, na noite de sábado, lá estávamos nós dois online, vendo fotos de hotéis. Com toda a paciência do mundo, ele me pedia para dizer o que conseguia ver em cada foto. Ele então perguntou sobre meus discípulos, e foi quando aquela reunião, que talvez não passasse de 45 minutos, se tornaria uma conversa de 2h30min.
"Não quero incomodar," comentei, referindo-me ao horário. "Por que você acha que é incômodo? Não estou entendendo..." - repreendeu Si Gung, fazendo uma pausa. "Uma conversa importante que pode definir o futuro dos seus discípulos, por que seria incômodo? Eu não consigo entender," comentou ele com veemência. "É porque a reunião era sobre o hotel, e não quero tomar o seu tempo..." - respondi. "Isso não é importante; isso aqui sim, é o nosso trabalho," disse ele enquanto nos aprofundávamos noite adentro.
Em determinado momento, a esposa de Si Gung trouxe algo para ele comer. Ele agradeceu, e seguimos na conversa. O nível de importância que Si Gung dá a cada um é realmente tocante. E isso não tem nada a ver comigo, mas com o compromisso dele de salvaguardar o Sistema, que passa por mim e por muitos outros. Essa impessoalidade faz com que tudo flua muito melhor.


However, it certainly seemed to be a weekend full of strong emotions... I am always bombarding Si Gung with questions and doubts, and this time, while organising his "Official Visit" to my family on the 8th, 9th, and 10th of November, he invited me to a meeting on Saturday night: "I want to help you understand how to choose a hotel." So, on Saturday night, there we were, both online, looking at photos of hotels. With all the patience in the world, he asked me to describe what I could see in each photo. He then asked about my disciples, and that was when what might have been a 45-minute meeting turned into a 2.5-hour conversation.
"I don't want to be a bother," I commented, referring to the time. "Why do you think it’s a bother? I don’t understand..." Si Gung admonished, taking a pause. "A conversation that could define the future of your disciples—why would it be a bother? I truly don’t understand," he remarked emphatically. "It’s just that the meeting was about the hotel, and I don't want to take up your time..." I replied. "That’s not important; this is indeed our work," he said as we delved deeper into the conversation late into the night.
At one point, Si Gung's wife brought him something to eat. He thanked her, and we continued our discussion. The level of importance that Si Gung places on each individual is truly touching. This has nothing to do with me but rather with his commitment to safeguarding the System, which flows through me and many others. This impersonal approach allows everything to flow much better.

Conforme conversávamos, Si Gung parecia variar seu humor: às vezes, ele parecia consternado com alguma inconsistência no que eu apresentava; em outros momentos, chegava a rir ao ouvir o nível de falta de entendimento da Dimensão Kung Fu sobre determinado caso e o resultado gerado a partir disso. Porém, o que não faltou foi paciência e respeito de sua parte. "Vamos lá! Quem é o próximo?" perguntava ele. Tratamos de cada discípulo: seu momento, sua história, suas dificuldades e como se deu seu processo de "Baai Si" (拜師). Com muita leveza e consciência, Si Gung conduzia a conversa e me ajudava a enxergar a fragilidade com a qual os processos haviam sido conduzidos em minha família. A cada constatação, eu sentia o estômago revirar. Para mim, é realmente importante entregar algo de qualidade para as pessoas que me seguem, e constatar que a falta de entendimento dos procedimentos relacionados ao "Baai Si" (拜師) havia gerado dificuldades era bastante difícil. Às vezes, eu parava e ficava em silêncio; em outros momentos, coçava a cabeça...
Talvez vendo que eu estava com o espírito enfraquecido para a dinâmica, Si Gung gentilmente ofereceu uma possibilidade e deixou em aberto para que, posteriormente, eu pudesse oferecer outras. Enquanto fechava o Mo Gun por volta das 23:45h daquele sábado (tinha permanecido mais tempo por lá), ainda sentia o impacto da reunião -  "Isso porque a reunião seria sobre hotéis," pensei enquanto caminhava e ri sozinho. Quando ri, talvez por ter relaxado ou não, lembrei novamente: "...Vamos recomeçar do zero quantas vezes forem necessárias..."
Ainda não sei como, mas nós vamos.

As we talked, Si Gung seemed to vary his mood: at times, he appeared concerned about some inconsistency in what I presented; at other moments, he would laugh upon hearing the level of misunderstanding within the Kung Fu Dimension regarding a particular case and the outcome resulting from it. However, what was never lacking was his patience and respect. "Come on! Who's next?" he would ask. We discussed each disciple: their moment, their story, their difficulties, and how their process of "Baai Si" (拜師) had unfolded. With great ease and awareness, Si Gung guided the conversation and helped me see the fragility with which the processes had been handled in my family. With each realisation, I felt my stomach churn. For me, it is truly important to deliver something of quality to the people who follow me, and acknowledging that the lack of understanding of the procedures related to "Baai Si" (拜師) had generated difficulties was quite hard. At times, I would stop and remain silent; at other moments, I would scratch my head...
Perhaps seeing that my spirit was weakened for the dynamics, Si Gung kindly offered a possibility and left it open for me to propose others later. While closing the Mo Gun around 11:45 p.m. that Saturday (I had stayed longer than planned), I still felt the impact of the meeting—"This because the meeting was supposed to be about hotels," I thought as I walked, laughing to myself. When I laughed, perhaps due to having relaxed or not, I remembered again: "...Let us start from scratch as many times as necessary..."
I still don’t know how, but we will.


A DISCIPLE OF MASTER JULIO CAMACHO
Master Thiago Pereira
Leader of  Moy Fat Lei Family
moyfatlei.myvt@gmail.com
@thiago_moy 


domingo, 29 de setembro de 2024

"Am I too Nice for 'Baat Jaam Do' "?

Você podia me ver ali de pé, tentando fazer a energia chegar no local apropriado para o corte... - "Essas facas são uma bo..."-  Antes que eu pudesse completar a palavra mentalmente, era como se pudesse ouvir novamente o que Si Gung disse certa vez: "Não coloca a culpa nas facas!" - O próprio ato de estar ali de pé praticando foi algo que reconquistei recentemente, a partir do contato com o Si Gung. Ele parece levar ao extremo um conceito que prezo muito, que é o da "transmissão silenciosa". Ele fica sentado ali com seu notebook trabalhando, enquanto praticamos. Às vezes, ele para e olha; outras vezes, sai da sala, vai a um compromisso e volta depois. Também há momentos em que ele levanta para fazer uma provocação sobre o que consegui... Seja lá o que ele esteja fazendo, eu me sinto conectado a ele a todo momento.
Foi então que percebi que, mesmo retornando para o Rio, a conexão continuava. Eu me pegava pedindo um Uber e indo até o Mo Gun ou subindo no meu terraço para continuar praticando, mas não tinha noção do quanto ainda praticava de forma desleixada e pouco assertiva. "Thiago, você tem noção de que essa é sua última chance?"-  Bom, depois de dois anos com as mais variadas abordagens, essa me pegou de jeito. Por quê? Não sei dizer. Quando percebi, estava sentado no chão, refletindo.-  "O que você está fazendo aí? Não temos tempo para isso!"-  Bradou Si Gung.
Algumas semanas se passaram e lá estava eu em meu novo momento como praticante: uma espécie de lugar nenhum entre o que não quero mais e onde ainda não consigo chegar. Afinal, quando você começa a trabalhar em cima das condicionantes, não importa muito sua força, cara feia, determinação ou mesmo intenção... Uma etapa sequer que não for considerada e nada sai.

 You could see me standing there, trying to make the energy reach the right place for the cut... "These knives are two piece of shi..." - Before I could complete the word in my mind, it was as if I could hear once again what Si Gung had said one day: "Don’t blame the knives!" - The very act of standing there practising was something I had recently regained through my contact with Si Gung. He seems to take to the extreme a concept I value greatly, which is that of "silent transmission." He sits there with his laptop, working while we practise. Sometimes he stops and watches; other times he leaves the room, goes to an appointment, and returns later. There are also moments when he stands up to make a provocation about what I’ve managed to do... Whatever he is doing, I feel connected to him at all times.
It was then that I realised that, even after returning to Rio, the connection continued. I found myself ordering an Uber and heading to the Mo Gun or going up to my rooftop to keep practising, but I had no idea how much I was still practising in a careless and unassertive manner. "Thiago, do you realise this is your last chance?"-  Well, after two years with various approaches, this one hit me hard. Why? I can’t say. When I noticed, I was sitting on the floor, reflecting. "What are you doing there? We don’t have time for this!" - Si Gung shouted.
Weeks went by, and there I was in my new moment as a practitioner: a sort of nowhere land between what I no longer want and where I still can’t reach. After all, when you start to work on the conditions, it doesn’t matter much your strength, grim face, determination, or even intention... One single strategic step not taken into account, and nothing comes of it.


Eu me lembrei de conversas recentes com os Mestres Quintela e Felipe, das intervenções do Si Gung durante os estudos do Programa e das sempre inteligentes palavras do Mestre Gabriel sobre as interconexões no Sistema Ving Tsun. Percebi que estava praticando de uma forma pouco inteligente. Resolvi guardar as facas e praticar o "Jing Choei". Na minha mente, se o problema era o movimento conter a energia adequada, poderia testar isso no "Biu Gwan", mas antes faria o mesmo estudo no "Jing Choei".
A primeira sensação foi de muita felicidade ao constatar que meu corpo parecia finalmente ter entendido o "Jin Ma" de forma não tão exótica, dezessete anos depois. Estava satisfeito, mas percebi que meus socos saíam fracos, não importava o que eu fizesse... Pareciam socos de uma criança, de tão fracos. Foi um sentimento estranho: por um lado, o bom posicionamento não me permitia mais usar força bruta; por outro, eu não sabia como aproveitá-lo.
Certa vez, conversando com Si Gung alguns anos atrás, ele falou sobre como começamos a desenvolver a nossa humanidade e as camadas vão se desfazendo. Talvez surja alguém que desconhecemos e que não seja quem esperamos. "Será que sou muito bonzinho para o Jin Choei e o Baat Jaam Do?" - Pensei.
Levantei-me mais uma vez e peguei o bastão, meio inseguro. Iria tentar o "Biu Gwan". No fundo, eu já sabia o resultado; ainda assim, estava ali, pagando para ver... Obviamente, a energia não chegava à ponta; eu ainda não conseguia lançar o bastão e ir atrás dele...

I remembered recent conversations with Masters Quintela and Felipe, the interventions from Si Gung during the Programme studies, and the always insightful words of Master Gabriel about the interconnections within the Ving Tsun system. I realised that I was practising in a rather unwise way. I decided to put away the knives and practise "Jing Choei". In my mind, if the problem was that the movement needed to contain the appropriate energy, I could test this with "Biu Gwan", but first I would do the same study with "Jing Choei".
The first feeling was one of great happiness when I realised that my body seemed to have finally understood a little bit more "Jin Ma", seventeen years later. I was satisfied, but I noticed that my punches were weak, no matter what I did... They felt like punches from a child, they were so weak. It was a strange feeling: on one hand, the good positioning no longer allowed me to use brute force; on the other, I didn't know how to make the most of it.
Some years ago, during a conversation with Si Gung, he mentioned how we begin to develop our humanity and how the layers start to peel away. Perhaps someone emerges that we do not recognise and who is not who we expect. "Am I too nice for Jin Choei and Baat Jaam Do?"-  I thought.
I stood up once more and picked up the staff, feeling a bit unsure. I was going to try "Biu Gwan". Deep down, I already knew the outcome; still, I was there, willing to see... Obviously, the energy did not reach the tip; I still couldn’t throw the staff and go after it...


Depois de tentar algumas vezes, parei e fiquei pensando em como a necessidade de controlar o cenário estava me limitando. Refleti que isso ainda estava acontecendo em minha vida. Toda mudança é desafiadora... Bom, essa tomada de consciência não me ajudou muito naquele momento. Mesmo percebendo onde estava o problema, não conseguia agir de forma diferente. Abri um sorriso porque fazia tempo que não me dava conta do quanto me sobreponho às situações. Meu desrespeito pela natureza do "Luk Din Bun Gwan" estava sendo tão grande que, inconscientemente, me recusava a me submeter ao bastão e continuava querendo fazer do meu jeito. Na minha fantasia, não imaginava que ainda agia assim como praticante; provavelmente, como ser humano, também sou assim.
Fiquei refletindo sobre ser de uma única maneira a todo momento. "Por isso, você e o Si Hing estão em um bom momento para ousar",- Teria dito Si Gung ao Paternostro no carro em Brasília. Esses são os momentos mágicos da Vida Kung Fu.

After trying a few times, I stopped and thought about how the need to control the situation was limiting me. I reflected that this was still happening in my life. Every change is challenging... Well, this realisation didn’t help me much at that moment. Even recognising where the problem lay, I couldn’t act differently. I smiled because it had been a while since I realised how often I override situations. My disrespect for the nature of "Luk Din Bun Gwan" was so great that, unconsciously, I refused to submit to the Gwan and continued wanting to do things my way. In my fantasy, I hadn’t realised that I still acted like this as a practitioner; probably, as a human being, I am like this too.
I reflected on being the same way all the time. "That’s why you and Si Hing are in a good position to be bold," - Si Gung would have said to Paternostro in the car in Brasília. These are the magical moments of Kung Fu life.

Foi então que algo muito especial começou a se configurar nos dias que se seguiram... Em um dos meus momentos profissionais e de vida mais desafiadores, uma oportunidade incrível apareceu, e eu nem podia acreditar. Sabe uma coisa que voce sempre quis? Meu primeiro pensamento foi não aproveitar a oportunidade, mas decidi arriscar, e as coisas foram se desdobrando com tanta facilidade que cheguei a me perguntar: "Cara, isso está mesmo acontecendo?".  Foi então que recebi um convite do Mestre Fabio Gomes para participar, junto com o querido COMANDOS Marcelo Alves, de um workshop na Universidade Estácio de Sá para o curso de Psicologia.
Em determinado momento, Mestre Fabio me perguntou se eu queria contribuir com algo, e respondi que sim. Quando percebi, já estava caminhando para o centro... Queria mostrar que não se deve resistir a alguém com o braço tão forte quanto o do Marcelo(FOTO ACIMA). Acontece que, quando ele tocou em mim, meus braços reagiram de maneira espontânea, e as alunas vibraram. Queria rir na hora, mas me segurei. Nunca tinha sentido algo assim porque eu nem queria ter me movido daquele jeito. Fiquei parado no canto, muito emocionado. Já não prestava mais atenção no que o Mestre Fabio dizia... Porque me dei conta que a ousadia de fazer o que a situação pedia havia me permitido aproveitar aquela oportunidade tão especia dias antes, e também ali ao ter feito aquele movimento tão natural naquele momento... Nos dias que se seguiram, ainda não consegui levar a energia até o soco, nem à ponta do bastão, mas a vida, a vida pode ser boa.

It was then that something very special began to take shape in the days that followed... In one of my most challenging professional and personal moments, an incredible opportunity appeared, and I could hardly believe it. You know that thing you’ve always wanted? My first thought was to not seize the opportunity, but I decided to take a risk, and things unfolded so easily that I found myself asking, "Mate, is this really happening?"
It was then that I received an invitation from Master Fabio Gomes to participate, alongside the dear COMANDOS Marcelo Alves, in a workshop at the Estácio de Sá University for the Psychology course. At one point, Master Fabio asked me if I wanted to contribute something, and I replied that I did. Before I knew it, I was walking towards the centre... I wanted to show that one shouldn’t resist someone with a strong arm like Marcelo's (PHOTO ABOVE). However, when he touched me, my arms reacted spontaneously, and the students cheered. I wanted to laugh at that moment, but I held back. I had never felt anything like it, and I didn’t even want to move that way. I stood in the corner, very emotional. I was no longer paying attention to what Master Fabio was saying...
I realised that the audacity to do what the situation required had allowed me to seize that special opportunity, and also to perform that movement so naturally at that moment... In the days that followed, I still couldn’t channel the energy into my punch, nor to the tip of the Gwan, but life, life can be good.




A DISCIPLE OF MASTER JULIO CAMACHO
Master Thiago Pereira
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segunda-feira, 23 de setembro de 2024

Dinner with Grandmaster of Hung Ga, Marcos Hourneaux

 

Tem sido uma experiência muito rica a vivência do "Vida Kung Fu" com Si Gung em São Paulo. Na última vez, parecia que não conseguiria comparecer em todos os dias que havia me comprometido devido a outros compromissos, mas foi muito importante contar com sua ajuda para perceber que, com pequenos ajustes, tudo seria possível.
Talvez por isso, Si Gung sentou-se comigo naquela manhã de quinta-feira, junto do discípulo Daniel Eustáquio. Eu havia cumprido duas obrigações da minha empresa quase de madrugada e, do outro lado da cidade, fiz o possível para estar ali. O ponto não era exatamente outro senão entender que, se temos algo como prioridade, isso será feito. - “...E você não iria vir...” – teria dito Si Gung, sentado de frente para nós em uma cafeteria do aeroporto. Tínhamos um compromisso com os queridos Mestres Fábio Gomes e o COMANDOS, veterano do Exército Brasileiro, Sr. Marcelo Alves, em um evento de uma empresa de administração e segurança, onde Si Gung palestraria. No entanto, ele não parecia preocupado com isso naquele momento.
Si Gung preferiu discorrer sobre como percebia minha postura mudando nos últimos tempos, principalmente durante os encontros online. Lembro-me de uma ocasião em que ele chamou minha atenção com mais veemência, mas não recordo exatamente o motivo. Alguns minutos depois, ele me ligou para saber se eu havia compreendido o ponto. Pude então explicar que estava com o coração aberto para a experiência da "Vida Kung Fu" e que ele não precisava se preocupar.
Por isso, fosse sentado ali com Daniel ou em São Paulo com Lucas, para mim é muito tranquilo ser chamado a atenção na frente deles. Acredito que é importante permitir que eles, ou qualquer outro discípulo que desejar, vivam a experiência por completo. Além disso, confio muito no trabalho do Si Gung, pois enquanto me chamava a atenção,  com uma seriedade didática na voz, ele também ressaltava para Daniel a importância de apreciar a oportunidade de estar ali. Minutos depois, Si Gung estava rindo de alguma coisa. “...E você ia perder todo esse momento...” – ponderou ele e prosseguiu: “...Estou aqui por causa de vocês... Por causa de vocês e do Fábio também... E vocês querem perder a oportunidade... Não dá para entender...” – teria concluido. 

It has been a very enriching experience of having "Kung Fu Life" with Si Gung in São Paulo. The last time, it seemed that I would not be able to attend all the days I had committed to due to other obligations, but it was incredibly important to count on his help to realise that, with small adjustments, everything would be possible.
Perhaps that is why Si Gung sat with me on that Thursday morning, along with my disciple Daniel Eustáquio. I had fulfilled two responsibilities for my company almost at dawn and, having travelled across the city, did my utmost to be there. The key point was simply to understand that if we prioritise something, it will be done. “...And you weren’t going to come...” – Si Gung said, sitting opposite us in a café at the airport. We had a commitment with the esteemed Masters Fábio Gomes and the COMMANDOS, veteran of the Brazilian Army, Mr Marcelo Alves, at an event for a company in administration and security, where Si Gung was to give a talk. However, he did not seem worried about that at the moment.
Si Gung preferred to discuss how he perceived my posture changing in recent times, especially during the online meetings. I recall an occasion when he called my attention with more intensity, but I cannot remember exactly why. A few minutes later, he called me to check if I had understood the point. I was then able to explain that I was open-hearted to the "Kung Fu Life" experience and that he need not worry.
Therefore, whether sitting there with Daniel or in São Paulo with Lucas, I find it very comfortable to be stromgly addressed in front of them. I believe it is important to allow them, or any other disciple who wishes to, to fully experience the moment. Furthermore, I have great trust in Si Gung’s work, as while he was addressing me with a didactic seriousness in his voice, he was also emphasising to Daniel the importance of appreciating the opportunity to be there.
Minutes later, Si Gung was laughing about something. “...And you would have missed this entire moment...” – he remarked and continued: “...I am here because of you... Because of you and Fábio as well... And you want to miss the opportunity... I can’t understand...” – he would have concluded.


No dia seguinte, cheguei com Guilherme Serrão (aluno do Mestre Felipe) na rodoviária por volta das 3 da manhã. Havíamos cumprido um dia inteiro de atividades com Si Gung no dia anterior, e ali estávamos nós. Mais à frente, estava meu discípulo Lucas, que foi nos receber na rodoviária. Resolvemos, então, esperar amanhecer na loja de conveniência do posto de gasolina da Rua Nebraska. Compartilhamos vivências da Jornada Kung Fu até que finalmente fomos para a nossa querida Padaria Manhattan, onde encontramos Si Gung para mais um dia inteiro de Vida Kung Fu.

The next day, I arrived with Guilherme Serrão (a student of Master Felipe) at the bus station around 3 a.m. We had completed a full day of activities with Si Gung the day before, and there we were. A little further ahead was my disciple Lucas, who came to greet us at the bus station. We then decided to wait for dawn at the convenience store of the petrol station on Nebraska Street. We shared experiences from the Kung Fu Journey until we finally headed to our beloved Padaria Manhattan, where we met Si Gung for another full day of Vida Kung Fu.


Quando anoiteceu, eu estava bastante animado, pois teria a oportunidade de acompanhar a entrevista do lendário Grão-Mestre de Hung Ga, Marcos Hourneaux. A entrevista ocorreu no Mo Gun do Mestre Washington Fonseca, também no Brooklyn. Ele nos recebeu, e ao adentrar o local, fiquei muito impressionado com a estrutura que ele criou junto com o Si Suk Edson. Estava tudo muito claro e colorido, mas quando você vê a entrevista, a iluminação é assustadoramente diferente: assertiva e precisa.
Foi então que, após algum tempo, o praticante do Programa Ving Tsun Experience, Gino, chegou e logo depois o Grão-Mestre Marcos e seu filho Ulisses desceram e nos cumprimentaram. Para minha boa surpresa e honra, ele se lembrava do meu nome.
É difícil descrever como é acompanhar uma entrevista dessas ao vivo. Si Gung consegue se divertir sem perder o foco, e o GM Marcos fala com muita propriedade sobre tudo. Ele mal para para pensar, e você pode perceber, na certeza que ele coloca em cada palavra, décadas de estudo e dedicação às artes marciais chinesas, mas, acima de tudo, muito amor pela prática. Você poderia ficar sentado ali vendo os dois conversarem por muito mais horas... Cada lembrança de outros tempos deixava claro que as décadas não foram capazes de diminuir nem um pouco o entusiasmo dos dois dignitários.

When night fell, I was quite excited, as I would have the opportunity to watch the interview with the legendary Grandmaster of Hung Ga, Marcos Hourneaux. The interview took place at the Mo Gun of Master Washington Fonseca, also in Brooklyn. He welcomed us, and upon entering the venue, I was greatly impressed by the structure he had created alongside Si Suk Edson. Everything was very bright and colourful, but when you watch the interview, the lighting is strikingly different: assertive and precise.
It was then that, after a while, Gino, a practitioner of the Ving Tsun Experience Programme, arrived, and soon after, Grandmaster Marcos and his son Ulisses came down to greet us. To my pleasant surprise and honour, he remembered my name.
It’s difficult to describe what it’s like to witness such an interview live. Si Gung manages to have fun without losing focus, and GM Marcos speaks with great authority about everything. He barely pauses to think, and you can see in the certainty he places in each word, decades of study and dedication to Chinese martial arts, but above all, a great love for the practice. You could sit there watching the two of them converse for many more hours... Each recollection of times past made it clear that the decades had not diminished the enthusiasm of either of these dignitaries in the slightest.

Saindo de lá, fomos jantar todos juntos em um restaurante que costumo frequentar quando o Mestre Paulo Camiz está conosco. Tive um pequeno imbróglio com o Grão-Mestre Marcos, quando afirmei que o primeiro shopping center do Brasil é o Shopping do Méier (risos). Ele pareceu não acreditar na minha audácia, dizendo que esse título pertence ao Shopping Iguatemi em São Paulo(risos).
Foi então que presenciei e ouvi coisas muito especiais naquele singelo jantar que me tocaram profundamente como praticante de artes marciais. Por exemplo, o Grão-Mestre Marcos disse que se lembra de todas as “formas” que aprendeu até hoje. Ao ouvir isso, fiquei refletindo bastante... No Ving Tsun, temos seis listas, do Siu Nim Tau ao Baat Jaam Do... O que tenho feito com elas de bom em termos de aprofundamento?

After leaving, we all went to dinner together at a restaurant I usually visit when Master Paulo Camiz is with us. I had a little disagreement with Grandmaster Marcos when I asserted that the first shopping mall in Brazil is in Méier neighbourhood (laughs). He seemed to disbelieve my audacity, stating that this title belongs to  Iguatemi Mall in São Paulo (laughs).
It was then that I witnessed and heard very special things during that humble dinner that touched me deeply as a martial arts practitioner. For example, Grandmaster Marcos mentioned that he remembers all the “forms” he has learned to this day. Hearing this made me reflect a lot... In Ving Tsun, we have six lists, from Siu Nim Tau to Baat Jaam Do... What have I been doing with them in terms of depth?

Lembrei de quando vi o Professor Flávio fazer um “Poomsae” de Tae Kwon Do ao vivo em 1998 na minha primeira aula desta modalidade coreana, e de quão especial foi aquele momento. Vinte e seis anos depois, como Mestre de Ving Tsun, refleti que precisava me dedicar mais para honrar o espírito de principiante. Afinal, o Grão-Mestre Marcos falou muito sério.
Além disso, foi muito especial quando ele questionou Si Gung sobre como seria a tal “Ponte-longa” que havia mencionado no podcast. O Grão-Mestre Marcos poderia ter ficado ali conosco conversando sobre qualquer assunto, mas mais uma vez me deu um grande exemplo de como não devemos perder oportunidades. Si Gung, com a ajuda de Guilherme Serrão, imediatamente deu uma explicação de quase 10 minutos sobre esse conceito, o que animou o Grão-Mestre Marcos a mostrar um pouco do seu trabalho também(foto acima). O restaurante já estava fechado, mas estávamos tão imersos naquele momento que nem percebemos, e o dono não se atreveu a nos interromper; ele simplesmente ligou a TV e ficou assistindo a futebol.

I remembered when I saw Instructor Flávio perform a “Poomsae” of Tae Kwon Do live in 1998 during my first class in this Korean martial art, and how special that moment was. Twenty-six years later, as a Master of Ving Tsun, I reflected that I needed to dedicate myself more to honour the spirit of a beginner. After all, Grandmaster Marcos spoke very seriously.
Furthermore, it was particularly special when he asked Si Gung about the “Long Bridge” he had mentioned in the podcast. Grandmaster Marcos could have stayed there with us talking about any topic, but once again he set a great example of how we should not miss opportunities. Si Gung, with the help of Guilherme Serrão, immediately provided an explanation of nearly 10 minutes about this concept, which inspired Grandmaster Marcos to share a bit of his work as well (photo above). The restaurant was already closed, but we were so immersed in that moment that we didn’t even notice, and the owner did not dare to interrupt us; he simply turned on the TV and started watching football.


"...E aí? Como foi para você a experiência?..." - Perguntou-me Si Gung pouco antes de chegarmos ao prédio dos seus pais. Eu disse a ele que a responsabilidade que temos com a salvaguarda do Sistema Ving Tsun é a prioridade, mas que noites como aquela eram importantes também, pois era como se estivesse vendo duas fotos de revistas de artes marciais dos anos 90 ganhando vida ali na minha frente. Mais uma vez, ficou claro em pouco mais de 24 horas a importância de fazermos o possível para estarmos presentes naquilo que é importante para nós, pois eu também estava adiando minha ida para São Paulo para o dia seguinte e iria perder um dia como aquele. Esses momentos de altas aventuras nos fazem refletir sobre a necessidade de cultivarmos a força necessária para seguirmos sempre a direção que o coração aponta, enxergando recursos e fazendo ajustes onde antes não parecia possível, o que me faz lembrar a fala do sinólogo, Professor Pei Min Ni: "Nada é tão visível como o que está oculto".

“…So, how was the experience for you?…” - Si Gung asked me just before we arrived at his parents' building. I told him that the responsibility we have for the safeguarding of the Ving Tsun System is the priority, but that nights like that were also important, as it felt like I was seeing two magazine covers from martial arts in the 90s coming to life right in front of me. Once again, it became clear in just over 24 hours the importance of doing what we can to be present for what is important to us, as I was also postponing my trip to São Paulo to the following day and would miss a day like that. These moments of high adventure make us reflect on the need to cultivate the strength required to always follow the direction our hearts point, recognising resources and making adjustments where it previously seemed impossible. This reminds me of the words of the sinologist, Professor Pei Min Ni: "Nothing is as visible as what is hidden."



A DISCIPLE OF MASTER JULIO CAMACHO
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quarta-feira, 18 de setembro de 2024

GM LEO, MASTER QUINTELA’S KUNG FU FAMILY, AND ME.

(GM Leo e o Daai Si Hing da Família KF do Mestre Quintela: Paternostro)
(GM Leo and the Daai Si Hing of Master Quintela´s KF Fam: Paternostro)

Demorei a comprar a passagem para Brasilia, e até sentar em um ônibus que me levaria por 20 horas da cidade do Rio de Janeiro até a capital do Brasil, não estava acreditando que faria realmente isso. Dentro de mim, sabia que deveria ir, a razão, desconheço. É como se eu estivesse seguindo um roteiro de um episódio de uma série, e se fosse uma série, eu estava vestido a caráter: Com uma camisa de flanela quadriculada em preto e vermelho e um boné da Marinha que havia ganhado de um querido irmão Kung Fu e uma mochila a tiracolo, bem que eu podia me passar por algum personagem.  Pouco antes do ônibus sair, um irmão Kung Fu me perguntou porque eu estava fazendo aquilo, afinal seriam 20 horas de viagem, eu não sabia responder.  Porém, se por um lado os filósofos buscam um sentido nas coisas, como diz o Professor Fraçois Jullien, o Pensamento Clássico Chinês que parte de uma lógica diferente da dos filósofos do ocidente, se contrapõe a busca por sentido nas coisas, por uma capacidade de perceber as evidencias da circunstancia. Portanto, quando Si Gung teria dito: “...Acho que vai valer a pena você ir, pois será muito intimista...” – Eu não cogitei se era “verdade” ou não, como também poderia sugerir a filosofia. Mais uma vez citando o Professor François Jullien, estava mais focado na contraparte disso proposta pelo renomado sinólogo: A "congruência". Esta diz respeito a um congruente que convém perfeitamente a uma situação dada. Então, como evidencia, eu tinha toda a dedicação sem limites do Grão Mestre Leo Imamura , meu Si Gung, a cada tarefa que ele se dispõe a preparar e executar. Não houve uma oportunidade desde nossa aproximação mais intensa nos últimos anos que não tenha sido assim. E como elemento congruente, havia o Mestre Quintela...

I took a long time to buy the ticket to Brasília, and until I sat on the bus that would take me for 20 hours from Rio de Janeiro to the capital of Brazil, I couldn't believe I was actually doing this. Deep down, I knew I should go; the reason, I do not know. It was as if I were following a script for an episode of a TV series, and if it were a series, I was dressed for the part: wearing a black and red checked flannel shirt and a navy cap that I had received from a dear Kung Fu brother, along with an old bag. I could easily have passed for some character.
Just before the bus departed, a Kung Fu brother asked me why I was doing this, as it would be a 20-hour journey. I couldn't answer. However, while philosophers seek meaning in things, as Professor François Jullien states, classical Chinese thought, which operates on a different logic from that of Western philosophers, counters the quest for meaning by emphasising the ability to perceive the evidence of circumstances. Therefore, when Si Gung said, “I think it will be worth your while to go, as it will be very intimate...” – I did not consider whether it was “true” or not, as philosophy might suggest. Once again quoting Professor François Jullien, I was more focused on the counterpart proposed by the renowned sinologist: "congruence". This refers to something that perfectly suits a given situation.
So, as evidence, I had the unwavering dedication of Grandmaster Leo Imamura, my Si Gung, in every task he undertakes to prepare and execute. There has not been an opportunity, since our more intense connection in recent years, that has not been like this. And, as a congruent element, there was Master Quintela...
(GM Leo abraça a Sra Gaby Quintela, esposa do Mestre Quintela)
(GM Leo hugs Mrs Gaby Quintela, wife of 
Master Quintela who is by their side)

Fui recebido pelos discípulos do Mestre Quintela na rodoviária. Talvez tenha sido o primeiro caso de "jet lag" no mesmo fuso horário que se tem notícia. Eu caminhava com Nathalia e Paternostro, mas meu cérebro parecia não perceber que eu realmente estava ali. Naquele momento, lembrei do Si Suk André Cardoso. Eu costumava me comprometer com viagens da Família Kung Fu e sempre desmarcava em cima da hora. Numa dessas, deixei o Si Suk André na rodoviária esperando. Eu tinha uns 17 anos e gostava muito dele. Havia desistido de ir, mas, sem coragem de falar com ele, pedi à minha mãe que falasse no meu lugar. Aqueles eram os tempos de altas aventuras em 2001, e 23 anos depois acreditei que tinha pago essa dívida com essa viagem.
Fui recebido na casa do Mestre Quintela com um abraço e o sorriso dele e de sua esposa, a querida Sra. Gaby Quintela. Ambos me receberam com muito carinho, e eu imediatamente soube que toda a ambiência subjetiva criada pelo Mestre Quintela, sua esposa e sua família seria o elemento congruente que validaria as evidências de que, de fato, como o Si Gung teria dito: “Valeria muito a pena eu ter ido”. Que bom que segui para onde o coração apontava.

I was welcomed by the disciples of Master Quintela at the bus station. Perhaps it was the first case of "jet lag" in the same time zone on record. I was walking with Nathalia and Paternostro, but my brain seemed unable to register that I was really there. At that moment, I remembered Si Suk André Cardoso. I used to commit to trips with the Kung Fu Family and would always cancel at the last minute. On one occasion, I left Si Suk André waiting at the bus station. I was about 17 years old and liked him a lot. I had decided not to go, but without the courage to tell him, I asked my mother to speak on my behalf. Those were the high adventures days in 2001, and 23 years later, I believed I had paid that debt with this trip.
I was welcomed at Master Quintela's home with a hug and smiles from him and his wife, the dear Mrs Gaby Quintela. They both received me with great warmth, and I immediately knew that the entire subjective atmosphere created by Master Quintela, his wife, and his family would be the congruent element that validated the evidence that, in fact, as Si Gung would have said, “It would be well worth my while to have come.” How wonderful that I followed where my heart pointed.

Estaríamos ali reunidos durante todo o final de semana, em função de um instrumento chamado “Visita Oficial”. Ao longo dos anos, eu organizei várias vezes esse instrumento com as melhores intenções, mas acredito que nunca tenha de fato organizado a Visita enquanto instrumento do Programa. E, na busca por compreender melhor do que se trata, participei do mesmo evento quando ocorreu na Família do Mestre Felipe, e agora estava ali na mesma busca de compreensão com a Família do Mestre Quintela.
A “Visita Oficial” não se trata do Mestre da pessoa visitar sua Família Kung Fu. Ela promove uma oportunidade inovadora em que o próprio praticante, vinculado ao Pólo de Acesso, pode proporcionar “Vida Kung Fu” através das atividades propostas, para, como diz o Professor François Jullien em “A Propensão das Coisas”, criar oportunidades que ativem propensões que permitam a esse praticante refletir sobre a importância da Vida Kung Fu. Assim, o Si Gung não espera que sua recepção, bem como as atividades, sejam perfeitas. Ele ajuda os praticantes a entenderem a programação como um sistema de variação e se entrega completamente para viver qualquer situação que surgir da programação, sempre com toda a paciência do mundo. É realmente inspiradora a sua dedicação com seus descendentes.

We would be gathered there throughout the weekend for an initiative called the “Official Visit.” Over the years, I have organised this initiative several times with the best intentions, but I believe I have never truly organised the Visit as an instrument of the Programme. In my quest to better understand what it entails, I participated in the same event when it took place with Master Felipe’s Family, and now I was there in the same pursuit of understanding with Master Quintela’s Family.
The “Official Visit” is not about the Master of a person visiting his Kung Fu Family. It provides an innovative opportunity for the practitioner, linked to the Hub(School), to offer “Kung Fu Life” through the proposed activities. As Professor François Jullien states in “The Propensity of Things,” it creates opportunities to activate tendencies that allow the practitioner to reflect on the importance of Kung Fu Life. Thus, Si Gung does not expect his reception or the activities to be perfect. He helps practitioners understand the schedule as a system of variation and fully commits to experiencing whatever situations arise from the programme, always with boundless patience. His dedication to his descendants is truly inspiring.

Por falar nisso, também pude me beneficiar de um tema proposto pela Família Kung Fu do Mestre Quintela, que promoveu um estudo específico nas listas da Trilogia Fundamental. O que inicialmente parecia uma curiosidade rapidamente se tornou quase um seminário exclusivo para quem estava ali. Claramente, estávamos presenciando a propensão da programação sendo muito bem aproveitada, indo muito além do que havia sido proposto inicialmente. Fiquei realmente tocado por estar vivendo aquele momento.
Para buscar e levar o Si Gung até sua casa, geralmente formávamos uma dupla eu e Paternostro, o Daai Si Hing da Família do Mestre Quintela. Era um trajeto considerável na cidade de Brasília, que aprendi a gostar. A sensação de reconhecer os locais em Brasília é curiosa, pois já perdi a conta de quantas vezes estive lá nos últimos dois anos. Assim, pude ter momentos de proximidade com o Paternostro que foram bem especiais, nos quais falamos sobre episódios de nossas vidas que de alguma maneira se coincidiam. Quando Si Gung entrava no carro, aproveitava para perguntar detalhes sobre a celebração do seu aniversário no ano que vem.
Quando os dias chegavam ao fim, nos reuníamos todos para conversar. O Mestre Quintela tem um grande dom de agregar pessoas ao seu redor. Todos os membros da sua família dormiram lá naquele final de semana. O ambiente é muito harmonioso o tempo todo, e estávamos sempre rindo bastante com as histórias de vida que cada um compartilhava ao redor de uma pizza ou de uma garrafa de Jack Daniel’s. Fiquei feliz por ter essa oportunidade.

Speaking of which, I was also able to benefit from a theme proposed by the Kung Fu Family of Master Quintela, who organised a specific study on the lists of the Fundamental Trilogy. What initially seemed like a curiosity quickly turned into almost an exclusive seminar for those present. Clearly, we were witnessing the potential of the programme being fully realised, going well beyond what had initially been proposed. I was truly moved to be experiencing that moment.
To pick up and take Si Gung home, my usual partner was Paternostro, the Daai Si Hing of Master Quintela’s Family. It was quite a journey across the city of Brasília, which I have come to appreciate. The feeling of recognising the places in Brasília is quite curious, as I have lost count of how many times I have been there in the last two years. This allowed me to have special moments of closeness with Paternostro, during which we talked about episodes in our lives that somehow coincided. When Si Gung got into the car, I took the opportunity to ask him about the details of his birthday celebration next year.
As the days drew to a close, we all gathered to talk. Master Quintela has a remarkable gift for bringing people together around him. All the members of his family stayed there that weekend. The atmosphere was harmonious throughout, and we were always laughing heartily at the life stories each person shared over pizza or a bottle of Jack Daniel’s. I felt grateful to have that opportunity.


O tema que eu havia proposto era sobre a vida do Patriarca Leung Jaan. Escolhi esse tema porque, sendo ele da sexta geração, entendo que tenha sido o primeiro dos ancestrais da Linhagem Moy Yat a ter a missão de tornar o sistema Ving Tsun reconhecido publicamente. Era como se um entusiasta das artes marciais como ele tivesse recebido uma missão à qual não pediu. Como um praticante lida com isso? Como um Si Fu prepara um discípulo para uma missão dessas? Como um Si Fu, no caso Leung Jaan, deve ter lidado com o pioneirismo que sua jornada Kung Fu impôs a ele? Todas essas perguntas, e muitas outras, foram comentadas por Si Gung através de uma apresentação de slides e exibição de vídeos preparados meticulosamente para aquele momento(foto acima). Si Gung havia emendado duas semanas intensas em São Paulo, recebendo membros do Grande Clã de várias partes, incluindo eu mesmo. Ele havia chegado a Brasília, passado poucos minutos com sua esposa e, em seguida, se juntado à Visita Oficial do Mestre Quintela. E ali estava ele: na última atividade de domingo, uma entrega tão incrível quanto aquela.
Lembrei do meu irmão Kung Fu Fabiano Silva e de como ele fala da importância de terminar seus treinamentos para gestores em sua empresa com finais apoteóticos. Pois bem, ali estava um final apoteótico para as incríveis experiências que vivemos. E ao ver o Si Gung e sua apresentação, perguntei a mim mesmo: “Qual é o limite para buscar a excelência na sua entrega?”. 

The topic I proposed was about the life of Patriarch Leung Jaan. I chose this theme because, being from the sixth generation, I believe he was the first of the ancestors of the Moy Yat lineage to have the mission of making the Ving Tsun system publicly recognised. It was as if an enthusiast of martial arts like him had received a mission he did not ask for. How does a practitioner deal with this? How does a Si Fu prepare a disciple for such a mission? How must a Si Fu, in Leung Jaan’s case, have dealt with the pioneering spirit that his Kung Fu journey imposed upon him? All these questions, and many others, were discussed by Si Gung through a meticulously prepared slide presentation and video display for that moment (photo above). Si Gung had just completed two intense weeks in São Paulo, welcoming members of the Clan from various places, including myself. He had arrived in Brasília, spent only a few minutes with his wife, and then joined the Official Visit of Master Quintela's Family. And there he was: at the last activity on Sunday, delivering something as incredible as that.
I recalled my Kung Fu brother Fabiano Silva and how he talks about the importance of finishing his training sessions for managers in his company with spectacular finales. Well, there was a spectacular finale for the incredible experiences we had. As I watched Si Gung and his presentation, I asked myself: “What is the limit to seeking excellence in your delivery?
(Eu e o Mestre Quintela)
(Master Quintela and I)

Como teria sugerido Si Gung: “Valeu a pena ter ido.”
As Si Gung would have suggested: "It was worth going."







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