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[詠春武林中外]

segunda-feira, 30 de dezembro de 2024

Traveling with Grandmaster Leo Imamura and Kung Fu Life


 Enquanto esperava meu voo atrasado em Congonhas, rumo a Brasília para encontrar o Grão-Mestre Leo Imamura, meu Si Gung, sentia minhas pernas doerem por estar de pé há mais de duas horas e meia, usando sapatos. Talvez eu pudesse me sentar no chão, como muita gente estava fazendo, ou até me escorar em alguma barra de ferro que divide as filas. Ou quem sabe, usar um tênis mais confortável ou até chinelos. Acontece que, ao longo deste ano de 2024, tive oportunidades únicas de entender melhor que representamos o Sistema Ving Tsun onde quer que estejamos. Não se trata de se vestir bem, mas de dimensionar o potencial de cada momento, embora, muitas vezes, a gente acabe esquecendo disso.
Lembro-me de quando, no início do segundo semestre, encontrei o Mestre Fabio Gomes em um shopping da Zona Oeste. Na ocasião, estava vestindo um sapato, uma calça do meu terno preferido e uma camisa regata. Esse sempre foi um conjunto com o qual me sentia bem. No entanto, alguns dias depois, o Mestre Fabio me alertou sobre a minha falta de condições de ser apresentado à chefia do local devido à minha vestimenta. Isso porque talvez eu não seria apenas apresentado como Thiago Pereira, mas como representante do Safeguardo Group. Então, fiquei de pé exatamente como estava e feliz com a roupa que havia escolhido.
Dentro do avião, cochilei algumas vezes. Havia saído do Rio, peguei um ônibus até São Paulo e, de lá, outro até Brasília, sem parar. Muita gente me pergunta como consigo viajar tanto, mas isso está relacionado ao que o Grão-Mestre Leo Imamura sempre fala sobre prioridades. Esse era o traslado mais em conta e eu não pensei duas vezes, a missão era chegar em Brasília. Devido ao atraso do meu voo, o Grão-Mestre Leo já havia aterrissado e estava me esperando. Eu precisei despachar a bagagem devido a um equipamento que estava levando, o que atrasou ainda mais minha saída. Quando finalmente o encontrei, ele me cumprimentou e eu o segui em silêncio. Foi então que me dei conta de que, pela primeira vez, estaria sozinho com ele em Brasília. Em todas as outras oportunidades, estava com meus discípulos ou com um Si Suk, quando sabia que a atenção seria dividida. Mas ali, ao perceber isso, fiquei um pouco travado… Afinal, seriam quatro dias.

While waiting for my delayed flight at Congonhas airport, bound for Brasília to meet Grandmaster Leo Imamura, my Si Gung, I could feel my legs aching from standing for over two and a half hours in shoes. Perhaps I could sit on the floor, as many others were doing, or even lean on one of the metal bars dividing the queues. Or maybe I should have worn more comfortable trainers or even flip-flops. The thing is, throughout 2024, I’ve had unique opportunities to better understand that we represent the Ving Tsun system wherever we are. It’s not about dressing well; it’s about understanding the potential of each moment, although, at times, we tend to forget that.
I remember when, at the beginning of the second semester, I met Master Fabio Gomes at a shopping mall in the West Zone. On that occasion, I was wearing shoes, my favourite suit trousers, and a tank top. This was always an outfit I felt comfortable in. However, a few days later, Master Fabio pointed out that I wasn’t properly dressed to be introduced to the management at that location. This was because I might not only be introduced as Thiago Pereira, but as a representative of the Safeguardo Group. So, I remained standing exactly as I was, happy with the outfit I had chosen.
Once aboard the plane, I dozed off several times. I had left Rio, taken a bus to São Paulo, and then another to Brasília, all without stopping. Many people ask me how I manage to travel so often, but this is related to what Grandmaster Leo Imamura always says about priorities. This was the most economical route, and I didn’t hesitate—my mission was to get to Brasília. Due to the delay of my flight, Grandmaster Leo had already landed and was waiting for me. I had to check in my luggage because of some equipment I was carrying, which further delayed my departure. When I finally met him, he greeted me, and I followed him in silence. It was then that I realised that, for the first time, I would be alone with him in Brasília. On all previous occasions, I had been with my disciples or with a Si Suk, when the attention would be divided. But there, realising this, I became a little nervous… After all, it would be four days.

Ao me ver sozinho com o Si Gung e sua esposa, em um local que não era São Paulo, hospedado na casa dele, percebi o quão desafiador aquilo poderia ser para mim. Si Gung tem uma abordagem muito especial, que é simplesmente ficar em silêncio. Ele não fala absolutamente nada que não seja relevante para um melhor entendimento do nosso trabalho, da Dimensão Kung Fu, ou de como a falta de entendimento sobre como estudar o Sistema prejudica nossos alunos e a nós mesmos no dia a dia. Si Gung não se envolve em assuntos aleatórios, e eu também não sou nem um pouco bom nisso, então ficava em silêncio grande parte do tempo. Por outro lado, sabia que Si Gung estava completamente disponível, desde que o tema não fosse algo trivial. — "O que falar?" — pensava. Lembrei-me de um OVA que assisti quando tinha exatos 15 anos de idade, nele dois personagens históricos conversavam. Um deles, inspirado em Saito Hajime, um importante samurai e policial durante a transição do período Edo para a Era Meiji e um dos oficiais mais notáveis do Shinsengumi, diz ao personagem inspirado em Okita Souji, após este falar algo indevido: "Antes de falar, reúna seus pensamentos antes detransformá-los em palavras."-  Essa frase reflete a personalidade e a filosofia de Saito, que é conhecido por sua frieza e precisão, tanto nas palavras quanto nas ações, na obra em questão. Fazia tempo que essa cena não me ocorria, mas me ajudou a lidar com o silêncio e minha incapacidade de mudar o cenário.

When I found myself alone with Si Gung and his wife, in a place that was not São Paulo, staying at his house, I realised how challenging that could be for me. Si Gung has a very special approach, which is simply to remain silent. He doesn’t say anything unless it’s relevant to a better understanding of our work, the Kung Fu Dimension, or how a lack of understanding of how to study the System harms our students and ourselves in daily life. Si Gung does not engage in random topics, and I am not good at that either, so I remained silent for most of the time. On the other hand, I knew Si Gung was completely available, as long as the subject wasn’t trivial. — "What should I say?" — I thought. I remembered an OVA I watched when I was exactly 15 years old, where two historical characters conversed. One of them, inspired by Saito Hajime, an important samurai and policeman during the transition from the Edo period to the Meiji Era and one of the most notable officers of the Shinsengumi, says to the character inspired by Okita Souji, after he says something inappropriate: "Before you speak, gather your thoughts before turning them into words." - This phrase reflects Saito’s personality and philosophy, known for his coldness and precision, both in words and actions, in the work in question. It had been a long time since that scene came to mind, but it helped me deal with the silence and my inability to change the situation.

No segundo dia, acordamos cedo para ir até a fazenda de sua família. Sua esposa foi para o banco traseiro e dormiu um pouco mais, o que nos permitiu conversar sobre alguns temas nos bancos dianteiros. A estrada de Brasília até Alto Paraíso estava maravilhosa: um céu com nuvens carregadas, com vegetação característica ou plantações em fazendas dos dois lados. Às vezes chovia, às vezes parava de chover, e me lembrei do livro Deuses Americanos, de Neil Gaiman. Embora tenha lido quando tinha 18 anos, a paisagem me fez lembrar imediatamente do livro. Foi então que, em meio às nossas conversas, peguei o celular para filmar um pouco. Si Gung comentou que, por mais que eu filmasse, não conseguiria capturar o que de fato estávamos vendo e vivendo naquele momento. Dentre tantos tópicos, um que foi muito presente durante todo o final de semana foi a importância de se manter no presente e saber apreciar o momento.
— "Quer provar esse bolo?" — convidou Si Gung durante uma parada no Restaurante Vó Belmira. Eu devorava meu lanche, mas o bolo estava tão bom que me fez parar por alguns segundos.
— "Bom, né?" — perguntou ele, sorrindo.

On the second day, we woke up early to go to his family’s farm. His wife went to the back seat and slept a little longer, which allowed us to have a conversation in the front seats about various topics. The road from Brasília to Alto Paraíso was stunning: a sky full of heavy clouds, with characteristic vegetation or farmland on both sides. Sometimes it rained, sometimes it stopped, and I immediately thought of the book American Gods by Neil Gaiman. Although I had read it when I was 18, the landscape reminded me of the book straight away. It was then that, in the middle of our conversation, I took out my phone to film a little. Si Gung commented that, no matter how much I filmed, I wouldn't be able to capture what we were truly seeing and experiencing in that moment. Among the many topics discussed, one that was present throughout the whole weekend was the importance of staying in the present and learning to appreciate the moment.
— "Would you like to try this cake?" — Si Gung asked during a stop at the Vó Belmira Restaurant. I was devouring my snack, but the cake was so good it made me stop for a few seconds.
— "Good, isn't it?" — he asked, smiling.

Fiquei muito tocado também pela animação da esposa do Si Gung em gentilmente apresentar a região para mim e o namorado de sua filha, já que estávamos visitando o local pela primeira vez. Andamos tanto que, em determinado momento, acabei perguntando ao Si Gung: "Sempre que vem alguém novo aqui, o senhor faz esse percurso todo?" Ele sorriu e teria dito, rindo: "Às vezes eu espero no carro." No terceiro dia, fomos a um local privado no qual Si Gung me ofereceu seu equipamento para que eu pudesse nadar. Estava preocupado em usar o equipamento dele ou com o horário de ir embora. — "Vai nadando... Vai até lá... Pode ir que esse colete é muito bom..." — disse ele enquanto sua esposa gentilmente me filmava a meu pedido para registrar o momento. — "Se mistura com a água..." — orientou ele. Finalmente, eu relaxei, e por alguns minutos não senti a necessidade de pensar muitos passos à frente ou de estar muito alerta. Depois de um tempo, voltei à margem. Si Gung parecia animado ao constatar que eu havia aproveitado o momento.
Acontece que, por mais que tentemos, ou nos alinhamos por completo, ou nossos pontos a melhorar sempre acabam vazando. Por isso, na última noite, na companhia de Si Gung, fiz uma série de perguntas a ele sobre temas relacionados ao Programa de Salvaguarda. Mais tarde, ainda naquela noite, ele comentou: — "A maneira como você faz as perguntas não tem sutileza... Você força muito... Sempre forçando..." — Eu havia passado três dias para chegar a um tema relevante, mas aqui, Si Gung apontou a maneira pela qual eu fazia perguntas sem criar as condições necessárias para tal.

I was also deeply touched by the enthusiasm of Si Gung’s wife in kindly showing us the region, as it was the first time for me and her daughter’s boyfriend visiting the area. We walked so much that, at one point, I ended up asking Si Gung: "Do you always make this whole trip when someone new comes here?" He smiled and, laughing, would have said: "Sometimes I wait in the car." On the third day, we went to a private location where Si Gung offered me his equipment so I could swim. I was concerned about using his gear or the time to leave. — "Just swim... Go all the way over there... You can go, this vest is really good..." — he said, while his wife kindly filmed me at my request to capture the moment. — "Blend with the water..." — he said. Finally, I relaxed, and for a few minutes, I didn’t feel the need to think many steps ahead or be overly alert. After a while, I returned to the shore. Si Gung seemed pleased to see that I had truly enjoyed the moment.
The thing is, no matter how much we try, either we align ourselves completely, or our areas for improvement always end up leaking through. That’s why, on the last night, in the company of Si Gung, I asked him a series of questions on topics related to the Safeguard Programme. Later, still that evening, he commented: — "The way you ask questions lacks subtlety... You push too much... Always pushing..." — I had spent three days getting to a relevant topic, but here, Si Gung pointed out the way I asked questions without creating the necessary conditions for that.

Por isso, ao receber o convite do Rafael Carvalheira para tomar um café e caminhar no Aterro, vesti a camisa que o Si Gung me presenteou (foto) assim que cheguei à fazenda. Enquanto usava a camisa, tentava lembrar de estar presente no momento, mas confesso que foi difícil. A hospitalidade do Rafael é sempre incrível, mas ainda tenho muito a melhorar.
Sobre os dias com o Si Gung, me pergunto o quão cansativo foi para ele. — "Eu vejo que você quer aprender, mas precisa melhorar a sua maneira de perguntar" — essa foi uma frase que me trouxe uma grande tomada de consciência, porque, muitas vezes, por mais que uma pergunta seja simples e honesta, a maneira como ela é feita pode ter um efeito negativo.
No último dia, sentado com ele em sua residência, poucas horas antes do meu voo de volta para São Paulo, comentei com ele, entre tantas reflexões, que, na minha concepção, havia deixado minha natureza sobrepor o que a situação pedia em vários momentos, ao ponto de não saber o que fazer. Por ser tímido e introvertido, se não tiver um propósito muito claro, é fácil ficar calado. Comentei que isso me fez refletir sobre o quanto até hoje havia me submetido à natureza do Sistema ou me sobreposto a ela. — "São 25 anos lidando com as coisas do mesmo jeito, isso é bem frustrante" — disse ao final. Si Gung  então comentou: — "Você pode desistir se quiser..."

Therefore, when I received the invitation from Rafael Carvalheira to have a coffee and walk at the Aterro in Rio, I wore the shirt that Si Gung had gifted me (photo) as soon as I arrived at the farm. While wearing the shirt, I tried to remind myself to be present in the moment, but I confess it was difficult. Rafael's hospitality is always incredible, but I still have a lot to improve.
Reflecting on the days with Si Gung, I wonder how tiring it was for him. — "I see that you want to learn, but you need to improve the way you ask" — this was a phrase that brought a significant awareness to me, because, often, even if a question is simple and honest, the way it’s asked can have a negative effect.
On the last day, sitting with him in his home, just a few hours before my flight back to São Paulo, I shared with him, among many reflections, that, in my view, I had allowed my nature to override what the situation required at several points, to the point where I didn’t know what to do. Being shy and introverted, if I don’t have a very clear purpose, it’s easy for me to remain silent. I mentioned that this made me reflect on how, until today, I had either submitted to or overridden the nature of the System. — "It’s been 25 years handling things the same way, and it’s quite frustrating" — I said in the end. Si Gung then commented: — "You can give up if you want..."


A DISCIPLE OF MASTER JULIO CAMACHO
Master Thiago Pereira
Leader of  Moy Fat Lei Family
moyfatlei.myvt@gmail.com
@thiago_moy 

terça-feira, 24 de dezembro de 2024

Mestre Pereira vai transmitir Ving Tsun em São Paulo. (Master Pereira will transmit Ving Tsun in São Paulo.)

 

Talvez seja o fato de eu poder abrir meu notebook pela manhã no Café 89 no bairro da Liberdade, talvez sejam os deliciosos pratos do restaurante coreano MOAH, ou quem sabe, o ventinho que bate quando você desce da Padaria Manhattan até o Instituto Moy Yat, caminhando pelas aprazíveis ruas do bairro do Brooklyn. Mas uma coisa é certa: depois de dois anos indo a São Paulo uma vez por mês, aprendi a amar a cidade, a rotina e as relações que desenvolvi lá.
Por outro lado, tenho forte em meu coração que, quando escolhemos ser um  "Si Fu" (師父) , trata-se principalmente de uma questão de vocação. Essa vocação nos ajuda a tomar decisões quando necessário, pois podemos sempre nos apoiar nas obrigações dessa função social que decidimos ocupar. Então existe também um grande compromisso com a responsabilidade que essa função implica — "Um Si Fu não pode fazer tudo o que quer".
Tendo isso em mente, acredito que, por mais que tenha me encantado com um lugar ou com um estilo de vida, ao receber pessoas na minha Família Kung Fu que realmente queiram estar comigo para terem acesso ao Sistema Ving Tsun e que se disponibilizem para a "Vida Kung Fu", não posso simplesmente me mudar e deixar essas pessoas para trás.
Com isso, me recordo de uma fala do Grão-Mestre Leo Imamura para mim, ainda em outubro de 2010: "A sua vida não é mais só sua. Se você desistir, pense em como se sentiriam as pessoas que contam e acreditam em você. Sua vida não é mais só sua. Você não pode desistir".
Por isso, o meu trabalho seguirá no Rio de Janeiro, mas agora se expandirá também para São Paulo.

Perhaps it’s the fact that I can open my laptop in the morning at Café 89 in the Liberdade district, perhaps it’s the delicious dishes at the Korean restaurant MOAH, or maybe it’s the breeze that blows as you walk from Manhattan bakery to the Moy Yat Institute, strolling through the pleasant streets of the Brooklyn neighbourhood. But one thing is certain: after two years of going to São Paulo once a month, I have come to love the city, the routine, and the relationships I have developed there.
On the other hand, I strongly believe that when we choose to be a "Si Fu" (師父), it is primarily a matter of vocation. This vocation helps us make decisions when necessary, as we can always rely on the duties that come with this social role we have chosen to occupy. There is also a great commitment to the responsibility that this role entails — "A Si Fu cannot do everything he wants."
With this in mind, I believe that, no matter how enchanted I may be with a place or lifestyle, when I welcome people into my Kung Fu Family who genuinely wish to be with me to access the Ving Tsun System and who are committed to the "Kung Fu Life", I cannot simply move away and leave these people behind.
With this in mind, I remember a statement from Grandmaster Leo Imamura to me, back in October 2010: "Your life is no longer just your own. If you give up, think about how the people who count on you and believe in you would feel. Your life is no longer just yours. You cannot give up."
Therefore, my work will continue in Rio de Janeiro, but now it will also expand to São Paulo.
Dois dias atrás, estava com o Grão-Mestre Leo Imamura no interior do estado de Goiás, conversando em um banco de madeira. O clima estava nublado, e não me recordo exatamente como, mas decidi falar sobre o quanto fiquei encantado com a cidade de Bangkok, que achei tão mágica e segura. "Segurança é uma percepção"- disse ele. Sabe, nessas horas você pode pensar em uma série de argumentos, mas eu preferi permanecer em silêncio e ouvi-lo. - "...Agora, me soa estranho um artista marcial querer se mudar por conta de segurança, por exemplo..."-  Teria dito ele, fazendo uma pausa, e prosseguiu: "...É como dizer: 'Olha, eu cansei de lutar, viu? Não quero mais lutar...'"-  Aquela analogia me pegou de surpresa. Permaneci calado, e ambos olhamos adiante, sem dizer nada. Porém, sabia que precisaria refletir sobre minhas recentes convicções.
De fato, esse projeto em São Paulo para 2025 só está sendo possível por conta de ter observado de perto a ética de trabalho do Grão-Mestre Leo. Pois, mesmo tendo se mudado para Brasília, ele viaja regularmente para São Paulo, onde passa em média 15 dias ininterruptos, dedicando talvez 95% de seu tempo aos membros do Grande Clã que desejam estar com ele, fazer aulas ou ter seus MPA's. Geralmente, ele já chega recebido no aeroporto e emenda com momentos de "Vida Kung Fu". O mesmo tende a acontecer em Brasília quando retorna. Além disso, seu traslado mensal entre as duas cidades, que ficam a pouco mais de uma hora de distância de avião, não honera em nada os membros do Grande Clã. Então, é como se ele se responsabilizasse integralmente pela sua decisão de se mudar.
Por isso, se, por um lado, "um Si Fu não pode fazer tudo o que quer", por outro, cabe a ele criar as condições para fazer aquilo que lhe é importante, desde que garanta o tempo necessário para cada discípulo individualmente. Essa dedicação sem precedentes me inspirou a dar esse passo, ainda que ele nunca tenha tocado nesse assunto comigo.

Two days ago, I was with Grandmaster Leo Imamura in the interior of the state of Goiás, sitting on a wooden bench. The weather was cloudy, and I don’t exactly remember how, but I decided to speak about how enchanted I was by the city of Bangkok, which I found so magical and safe. "Safety is a perception,"-  he said. You know, in moments like these, you can think of a variety of arguments, but I chose to remain silent and listen to him.- "...Now, it sounds strange to me that a martial artist would want to move because of safety, for example..." - he would have said, pausing, and continued: "...It’s like saying: 'Look, I’m tired of fighting, you know? I don’t want to fight anymore...'"- That analogy took me by surprise. I stayed quiet, and we both looked ahead, not saying anything. However, I knew I would need to reflect on my recent convictions.
In fact, this project in São Paulo for 2025 is only possible because I have closely observed the work ethic of Grandmaster Leo. Even though he moved to Brasília, he regularly travels to São Paulo, where he spends an average of 15 uninterrupted days, dedicating perhaps 95% of his time to members of the Grand Clan who wish to be with him, take lessons, or have their MPAs. He is usually greeted at the airport and immediately transitions into moments of "Kung Fu Life". The same tends to happen in Brasília when he returns. Furthermore, his monthly commute between the two cities, which are just over an hour apart by plane, does not burden the members of the Grand Clan in any way. So, it’s as if he takes full responsibility for his decision to move.
Therefore, if, on the one hand, "a Si Fu cannot do everything he wants", on the other hand, it is up to him to create the conditions to do what is important to him, as long as he ensures the necessary time for each disciple individually. This unprecedented dedication inspired me to take this step, even though he never brought this matter up with me.
Então, em uma noite qualquer, eu, o Sensei de Aikido Ricardo Leite e o Grão-Mestre Leo Imamura estávamos na cozinha do Instituto Moy Yat. O Grão-Mestre Leo procurava fotos para montar uma apresentação que faria no dia seguinte para alunos do Grão-Mestre William Moy, sobre como se tornou esse reconhecido profissional. Depois de meses observando e perguntando sobre a rotina do Instituto, resolvi sugerir ao Si Gung se ele achava uma boa ideia eu iniciar um trabalho com minha Família em São Paulo, fazendo uso do Instituto. - "Isso você tem que falar com o Presidente, já falou com ele?" — indagou ele, achando graça.-  "Aqui eu não decido nada, você tem que falar com o Presidente"- continuou sorrindo, enquanto procurava as fotos. Então, questionei se ele achava que haveria algum problema em fazer esse movimento.-  "Por que problema?" — teria perguntado ele, me olhando. - "Não estou entendendo"- prosseguiu. Conversamos então e chegamos à conclusão de que não haveria problema nenhum.

Then, on an ordinary evening, I, Sensei Ricardo Leite of Aikido, and Grandmaster Leo Imamura were in the kitchen of the Moy Yat Institute. Grandmaster Leo was searching for photos to put together a presentation he would give the following day to students of Grandmaster William Moy, about how he became this recognised professional. After months of observing and asking about the Institute’s routine, I decided to suggest to Si Gung whether he thought it would be a good idea for me to start a project with my Family in São Paulo, using the Institute. - "You need to speak to the President about that, have you spoken to him?"-  he asked, amused. - "I don’t make any decisions here, you need to speak to the President," - he continued, smiling, while searching for the photos. Then, I asked him if he thought there would be any problem with making this move. "What problem?" he would have asked, looking at me. "I don’t understand," he continued. We then discussed it and concluded that there would be no problem at all.

Graças à convivência com o Grão-Mestre Leo Imamura em diferentes cenários nos últimos dois anos, pude compreender melhor minha função como "Si Fu" (師父). Comentei com a Professora Vanise Almeida, em uma conversa recente por telefone, que fico muito feliz, por exemplo, com o fato de o Lucas estar em contato constante com alguém tão entendido do Programa Ving Tsun Experience como o Mestre Giarola, e com um dos maiores médicos de São Paulo e Si Fu, o Mestre Paulo Camiz. Disse a ela que essas pessoas podem promover situações ao Lucas, naturalmente, que eu não poderia. E isso só pode enriquecer seu processo.
Pude compreender que existe uma diferença entre "Família consanguínea", onde os pais precisam resolver tudo sozinhos (o que nem sempre acontece), e o "Pseudo-parentesco" [拟亲属], que é a referência em que a Família Kung Fu se apoia. Nela, cabe a mim favorecer o acesso dos discípulos ao Sistema da melhor maneira possível e prover a "Vida Kung Fu", mesmo que de forma indireta. Como sempre, não tenho o intuito de deixar minha marca. Como teria dito o Grão-Mestre Leo Imamura em um passeio de carro ontem: "Tudo o que você fizer, faça pensando na salvaguarda".
Porém, mesmo podendo contar com uma rede de apoio sólida, e no Rio de Janeiro com tutores já qualificados como o Mestrando Keith Markus, o Tutor Daniel Eustáquio e o Tutor José Carlos e Líderes de Família do Moy Yat Ving Tsun Safeguard Group, o exemplo que percebi do Grão-Mestre Leo Imamura é que um "Si Fu" (師父) não pode se cansar. E para isso, o Sistema Ving Tsun não deve ser um hobby, algo que se faz quando não há mais nada a fazer, ou um processo acessório ao título ou ao nome de alguém. O "Si Fu" (師父) tem responsabilidade com cada discípulo de garantir o acesso ao Sistema Ving Tsun.


Thanks to my time spent with Grandmaster Leo Imamura in various settings over the past two years, I have gained a better understanding of my role as "Si Fu" (師父). I mentioned to Professor Vanise Almeida in a recent phone conversation that I am very happy, for example, that Lucas is in constant contact with someone so knowledgeable about the Ving Tsun Experience Programme, like Master Giarola, and with one of the top doctors in São Paulo and Si Fu, Master Paulo Camiz. I told her that these people can provide Lucas with opportunities that I naturally could not. And this can only enrich his journey.
I came to realise that there is a difference between "biological family", where parents must handle everything on their own (which doesn’t always happen), and "pseudo-kinship" [拟亲属], which is the reference on which the Kung Fu Family relies. In this, it is my role to facilitate access for the disciples to the System in the best possible way and to provide the "Kung Fu Life", even if indirectly. As always, I do not intend to leave my personal mark. As Grandmaster Leo Imamura said during a car ride yesterday: "Everything you do, do it thinking of safeguarding."
However, even with a solid support network, and in Rio de Janeiro with tutors already qualified, such as Tutor Keith Markus, Tutor Daniel Eustáquio, Tutor José Carlos, and Family Leaders from the Moy Yat Ving Tsun Safeguard Group, the example I have learned from Grandmaster Leo Imamura is that a "Si Fu" (師父) must never tire. And for that reason, the Ving Tsun System must not be a hobby, something done when there is nothing else to do, or a process that is secondary to someone’s title or name. The "Si Fu" (師父) has the responsibility to ensure each disciple has access to the Ving Tsun System.

Com a anuência do Grão-Mestre Leo Imamura, meu Si Gung, e com a do Presidente do Instituto Moy Yat, o Mestre Sênior Paulo Camiz, a Família Moy Fat Lei expandirá seu trabalho para São Paulo através do Instituto Moy Yat a partir de janeiro de 2025. Sem deixar nenhum discípulo ou praticante para trás, me farei presente nas duas cidades, sabendo que tudo isso é possível porque preparamos as condições necessárias para tal, seja com a preparação dos membros da minha Família a partir do Programa de Salvaguarda ou da rede de apoio promovida pelo Moy Yat Ving Tsun Safeguard Group. Porém, mais importante ainda, com o monitoramento constante do Grão-Mestre Leo e da Professora Vanise. Um trabalho que faz toda a diferença para que possamos dar passos precisos que contemplem as responsabilidades que assumi quando descobri ser um "Si Fu" (師父) nove anos atrás.

With the approval of Grandmaster Leo Imamura, my Si Gung, and that of the President of the Moy Yat Institute, Senior Master Paulo Camiz, the Moy Fat Lei Family will expand its work to São Paulo through the Moy Yat Institute starting in January 2025. Without leaving any disciple or practitioner behind, I will be present in both cities, knowing that all of this is possible because we have prepared the necessary conditions for it, whether through the preparation of members of my Family via the Safeguard Programme or through the support network promoted by the Moy Yat Ving Tsun Safeguard Group. However, more importantly, with the ongoing monitoring of Grandmaster Leo and Professor Vanise. This work makes all the difference, allowing us to take precise steps that align with the responsibilities I took on when I discovered what it means to be a "Si Fu" (師父) nine years ago.



A DISCIPLE OF MASTER JULIO CAMACHO
Master Thiago Pereira
Leader of  Moy Fat Lei Family
moyfatlei.myvt@gmail.com
@thiago_moy 

domingo, 22 de dezembro de 2024

Moy Fat Lei Family Ceremony at the Moy Yat Institute

Com muita alegria e esperança, descia apressado pelas ruas que ligam o apartamento do meu discípulo Lucas Eustáquio ao Instituto Moy Yat. Segurava em uma das mãos um cabide com a vestimenta que usaria no Ato Cerimonial da minha Família Kung Fu, que ocorreria em alguns minutos no Instituto. Lucas e Daniel já estavam no recinto, e eu, que estava praticando durante todo o dia sob a orientação do Grão-Mestre Leo Imamura, havia ido até o apartamento do Lucas tomar um banho.
Enquanto percorria o caminho até o Instituto, muitas coisas passavam pela minha cabeça... Sempre tive para mim o Ato Cerimonial como um dos instrumentos mais significativos dentre os demais presentes no Programa de Salvaguarda. Sempre acreditei nesse instrumento como um potencializador de tomada de consciência dentro da jornada de um praticante, mas intuia que não estava conseguindo chegar nos resultados que sabia serem possíveis. Em alguns momentos, percebi que os Atos Cerimoniais haviam sido grandes demais, fazendo com que não pudessem ser personalizados, pois, devido à quantidade de pessoas participando, a experiência se diluía. Em outros casos, me incomodava a falta de entendimento de cada etapa presente em um ato cerimonial, o que favorecia, muitas vezes, que os discursos fossem direcionados ao público ou realizados de maneira inapropriada. Naquela noite, ocorreria uma Cerimônia Tradicional de Acesso ao Domínio "Mui Fa Jong". A definição de "Cerimônias Tradicionais" neste contexto, diz respeito aos atos cerimoniais do Moy Yat Ving Tsun Safeguard Group, cujos procedimentos cerimoniais foram recebidos do Patriarca Moy Yat pelo Grão-Mestre Leo Imamura.
Chegando ao portão do Instituto, avistei Dona Andréia e Fábio, pais do Daniel, que acessaria o Domínio "Mui Fa Jong" naquela noite. Daniel os recebeu e eu adentrei o Instituto Moy Yat para checar os últimos ajustes.

With great joy and hope, I hurried down the streets connecting my disciple Lucas Eustáquio’s apartment to the Moy Yat Institute. In one hand, I held a hanger with the attire I would wear for the Ceremonial Act of my Kung Fu Family, which was to take place in a few minutes at the Institute. Lucas and Daniel were already there, and I, having been practising all day under the guidance of Grandmaster Leo Imamura, had gone to Lucas's apartment to take a shower.
As I walked towards the Institute, many thoughts ran through my mind... I have always considered the Ceremonial Act to be one of the most significant instruments among those in the Safeguard Program. I have always believed in this instrument as a catalyst for consciousness-raising in the journey of a practitioner, but I sensed I wasn't achieving the results I knew were possible. At times, I realised that the Ceremonial Acts had become too large, preventing them from being personalised, as the experience would dilute due to the number of people participating. At other times, I was bothered by the lack of understanding of each stage in a ceremonial act, which often led to speeches being directed at the audience or being performed inappropriately. That night, there was to be a Traditional Ceremony for Access to the "Mui Fa Jong" Domain. The definition of "Traditional Ceremonies" in this context refers to the ceremonial acts of the Moy Yat Ving Tsun Safeguard Group, whose ceremonial procedures were received from Patriarch Moy Yat by Grandmaster Leo Imamura.
Arriving at the gate of the Institute, I spotted Mrs. Andréia and Fábio, Daniel’s parents, who would be accessing the "Mui Fa Jong" Domain that night. Daniel greeted them, and I entered the Moy Yat Institute to check the final adjustments.

 

Quando entrei, muitos dos convidados já haviam chegado. Cumprimentei a todos e me reuni com Daniel e Lucas para repassar o roteiro cerimonial. Lucas (à dir.) naquela noite fazia às vezes de orientador de Daniel(à esq.), mas, de fato, havia muito a ser feito em relação àquela Cerimônia. Percebi um equívoco na impressão do roteiro e decidi chamar a atenção dos dois sobre aquele "furo". Cada um teve uma reação diferente a esse apontamento, que fiz com mais veemência, mas o que tinham em comum foi uma capacidade muito interessante de lidar com o abalo que causei. Para mim, é difícil chamar a atenção em casos assim, pois sabia da dedicação de ambos, mas é parte da minha função como Si Fu. Afinal, os procedimentos cerimoniais de cada ato cerimonial do Moy Yat Ving Tsun Safeguard Group atuam em todas as fases de uma cerimônia, ativando um desenvolvimento orgânico da tomada de consciência do momento da jornada de cada descendente do Patriarca Moy Yat. Por isso, não é apenas o decorrer da Cerimônia em si que tem esse potencial, mas cada etapa pode promover isso no praticante. Satisfeito com a reação deles, mudei de assunto e fomos para a próxima etapa.

When I entered, many of the guests had already arrived. I greeted everyone and gathered with Daniel and Lucas to go over the ceremonial script. Lucas (on the right) was acting as Daniel's (on the left) guide that night, but, in reality, there was much to be done regarding that Ceremony. I noticed an error in the printed script and decided to point it out to both of them. Each of them reacted differently to this remark, which I made with more energy, but what they had in common was an interesting ability to handle the disruption I caused. For me, it’s difficult to draw attention to such matters, as I knew of their dedication, but it is part of my role as Si Fu. After all, the ceremonial procedures of each ceremonial act of the Moy Yat Ving Tsun Safeguard Group function at all stages of a ceremony, triggering an organic development of awareness of the moment in the journey of each descendant of Patriarch Moy Yat. Therefore, it is not just the course of the Ceremony itself that holds this potential, but each stage can promote this in the practitioner. Satisfied with their reaction, I changed the subject, and we moved on to the next stage.

(Grão-Mestre Leo Imamura me orienta com relação aos procedimentos iniciais)
(Grandmaster Leo Imamura advises me regarding the initial procedures)


A cerimônia começou apenas um minuto depois do horário marcado. Eu estava realmente muito atento a isso e pude perceber a importância do pré-evento com todos os participantes, pois ninguém envolvido na cerimônia se atrasou ou estava desatento. Tudo isso de maneira orgânica. Lembrei-me, por um momento, de como, em outros tempos, ao conduzir uma cerimônia, costumava bater duas ou três palmas e dizer: "Pessoal, vamos lá, pessoal!"-  Essa atitude está tão fora da Dimensão Kung Fu que, ao ter essa memória reavivada, me vi mexendo a cabeça em um gesto negativo. Porém, enquanto me dirigia ao Sam Toi, sabia que tudo isso estava ficando para trás. E, para garantir isso, pedi ao meu Si Gung, Grão-Mestre Leo Imamura, que conduzisse toda a cerimônia. Eu fiquei em silêncio durante 98% dela, restando a mim apenas tecer algumas palavras finais de conscientização, quando ele requisitou. Para mim, esse era o plano desde o início: queria ter mais uma chance de aprender com ele sobre como conduzir uma cerimônia apropriadamente. À honra de sua presença somou-se a da Professora Vanise Almeida, minha Si Taai. Ela estava ao vivo pela TV, preparada antecipadamente por Lucas, sob a orientação do Mestre Rodrigo Giarola.
Através do material exclusivo do Moy Yat Ving Tsun Safeguard Group, é possível ler que o Patriarca Moy Yat também escreveu: “Em uma nação, existem leis nacionais; em uma família, existem normas familiares (gwok yau gwok faat, ga yau ga kwai 國有國法﹐家有家規)”. O mo gun, segundo ele, é a casa do artista marcial (mo yan ji ga 武人之家), logo não pode abrir mão de “normas de gun (gun kwai 館規)”. Ainda segundo o Patriarca Moy Yat (9GVT), em "nossa casa há regras" (ngoh ga yau faat 我家有法). E, no meu caso, me interesso em me diluir no todo, sem me importar que as cerimônias de minha família tenham qualquer toque pessoal ou assinatura minha.

The ceremony began just one minute after the scheduled start time. I was really paying close attention to this and noticed the importance of the pre-event preparation with all the participants, as no one involved in the ceremony was late or inattentive. All of this happened organically. For a moment, I recalled how, in earlier times, when I conducted a ceremony, I would usually clap two or three times and say, "Come on, everyone!" This behaviour is so far removed from the Kung Fu Dimension that, upon having this memory revived, I found myself shaking my head in a negative gesture. However, as I made my way to the Sam Toi, I knew all of that was being left behind. To ensure this, I asked my Si Gung, Grandmaster Leo Imamura, to lead the entire ceremony. I remained silent for 98% of it, with only a few final words of awareness when he requested them. This was my plan from the beginning: I wanted to have one more opportunity to learn from him about how to properly conduct a ceremony. Along with the honour of his presence, that of Professor Vanise Almeida, my Si Taai, was also added. She was live via TV, which had been prepared in advance by Lucas, under the guidance of Master Rodrigo Giarola.
Through exclusive material from the Moy Yat Ving Tsun Safeguard Group, it is possible to read that Patriarch Moy Yat also wrote: "In a nation, there are national laws; in a family, there are family rules (gwok yau gwok faat, ga yau ga kwai 國有國法﹐家有家規)". The mo gun, according to him, is the home of the martial artist (mo yan ji ga 武人之家), so it cannot disregard the "rules of the gun (gun kwai 館規)". Also, according to Patriarch Moy Yat (9GVT), in "our house, there are rules" (ngoh ga yau faat 我家有法). As for me, I am interested in blending into the whole, not minding whether the ceremonies of my family have any personal touch or signature of mine.

Me tocou muito o empenho dos convidados de honra em se fazerem presentes. Começando pelo presidente do Instituto Moy Yat (foto), o Mestre Sênior Paulo Camiz, que ajustou sua disputada agenda para comparecer como Testemunha Honorável, assim como os demais que compunham esse conjunto: Mestre Sênior Herbert Moraes, Mestre Francisco Ferrero e Mestre Geraldo Monnerat. Além deles, também estiveram presentes na audiência a Mestra Cristina de Azevedo e o Sensei de Aikido Ricardo Leite.
Cada uma das contribuições foi de extrema importância para engrandecer a cerimônia. O Grão-Mestre Leo Imamura teria falado, segundo o que compreendi, em outras ocasiões, sobre a importância de as testemunhas honoráveis serem pessoas com condições de atestar o ato cerimonial de maneira isenta. Cada uma das falas foi, mais do que assertiva, dentro da Dimensão Kung Fu.

I was deeply touched by the effort of the honoured guests to be present. Starting with the President of the Moy Yat Institute (photo), Senior Master Paulo Camiz, who adjusted his busy schedule to attend as an Honourable Witness, as well as the others who made up this group: Senior Master Herbert Moraes, Master Francisco Ferrero, and Master Geraldo Monnerat. In addition to them, Master Cristina de Azevedo and Aikido Sensei Ricardo Leite were also present at the audience.
Each of their contributions was of utmost importance in elevating the ceremony. As I understood it, Grandmaster Leo Imamura has spoken on other occasions about the importance of the Honourable Witnesses being individuals capable of attesting to the Ceremonial Act in an impartial manner. Each of the speeches was, more than assertive, within the Kung Fu Dimension.

Em determinado momento, decidi não promover mais cerimônias na minha Família, até que percebesse o momento adequado para realizá-las em alto nível. Percebi que estava sequestrando as cerimônias da minha própria Família, com o meu entendimento ainda raso. Por isso, Daniel (FOTO), que estava acessando o domínio "Mui Fa Jong", nunca havia realizado nenhum ato cerimonial. Conversando com o Grão-Mestre Leo Imamura sobre a situação inusitada, ele sugeriu alguns ajustes para que esses atos pudessem ser contemplados de forma adequada. Ao final, a Professora Vanise (foto ao fundo na tela da TV) comentou que era possível perceber o turbilhão de energia, quase em nível atômico, daquele ato cerimonial. Acredito que esse sentimento foi compartilhado por todos, e eu mal falei nada. Isso provou para mim que, mesmo me dedicando ao máximo nos primeiros anos da minha Família, ao estar promovendo esses acessos fora da Dimensão Kung Fu, muito esforço era empreendido e pouco resultado obtido.
Segundo o Professor Pei Min Ni, enquanto "Humanidade" (yan 仁) é a qualidade interna ou disposição que faz uma pessoa um autêntico ser humano, ela também necessita da orientação do "Rito" ou "Cerimônia" (lai 禮) como forma externa de conduta. A palavra lai 禮 era usada por Confúcio para significar o padrão comportamental estabelecido e aceito como apropriado por uma comunidade, incluindo os modos, etiqueta, cerimônia, costume, entre outros. Por isso, bastou a disposição correta, com trabalho dedicado no pré-evento, para que tudo ocorresse sem necessidade de intervenções minhas ou do Si Gung.

At a certain point, I decided no longer to organise ceremonies within my Family until I recognised the appropriate moment to carry them out at a high level. I realised that I was taking over the ceremonies of my own Family, with my understanding still superficial. For this reason, Daniel (PHOTO), who was engaging with the "Mui Fa Jong" domain, had never performed any ceremonial act. After discussing the unusual situation with Grand Master Leo Imamura, he suggested some adjustments to ensure these acts could be properly recognised. At the end, Professor Vanise (pictured in the background on the TV screen) remarked that it was possible to perceive the whirlwind of energy, almost at an atomic level, in that ceremonial act. I believe this feeling was shared by everyone, and I hardly said a word. This proved to me that, even though I had dedicated myself fully during the early years of my Family, by promoting these engagements outside the Kung Fu Dimension, a great deal of effort was expended, yet little result was achieved.
According to Professor Pei Min Ni, while "Humanity" (yan 仁) is the internal quality or disposition that makes a person a true human being, it also requires the guidance of "Rite" or "Ceremony" (lai 禮) as an external form of conduct. The word lai 禮 was used by Confucius to denote the behavioural standard established and accepted as appropriate by a community, including manners, etiquette, ceremony, customs, and so on. Therefore, all that was needed was the correct disposition, coupled with dedicated work in the pre-event, for everything to unfold without the need for intervention from either myself or the Si Gung.
Grão-Mestre Leo Imamura (foto à direita) escreveu sobre o tema: "...Levaram muitos anos para eu começar a compreender a importância desses temas. Durante o processo de elaboração do que hoje chamamos de Programa de Salvaguarda Moy Yat Ving Tsun, decidi então resgatar em meus arquivos todo o material elaborado pelo Patriarca Moy Yat, em minha posse, bem como pesquisar com maior profundidade o tema..."
Eu realmente estava feliz com o resultado da cerimônia ao final. Todos pareciam ter vivenciado um momento muito significativo, que, mesmo com as palavras das testemunhas, as do Grão-Mestre Leo, da Professora Vanise, do Lucas ou mesmo as minhas, parecia, acima de qualquer coisa, uma experiência silenciosa para cada um. Pude receber feedbacks muito preciosos ao longo da noite, e realmente fui dormir agradecido. Afinal, graças à qualidade humana dos membros da minha Família, minha intuição me disse que era possível melhorar e muito. Com isso, a rede de apoio do Moy Yat Ving Tsun Safeguard Group, liderada pelo Grão-Mestre Leo Imamura, passou a fornecer o suporte que eu precisava. Talvez seja apenas a minha sorte imbatível, mas graças a ela ou a outros fatores, senti que estava fazendo uma entrega digna no que tange ao Ato Cerimonial.

Agradeço, em especial, ao Si Gung, à Si Taai e a todos os envolvidos nesta noite especial.

Grandmaster Leo Imamura (photo on the right) wrote about the subject: "...It took many years for me to begin to understand the importance of these topics. During the process of developing what we now call the Moy Yat Ving Tsun Safeguard Programme, I decided to retrieve all the material created by Patriarch Moy Yat in my possession, as well as to research the subject in greater depth..."
I was truly happy with the outcome of the ceremony in the end. Everyone seemed to have experienced a very significant moment, which, even with the words of the witnesses, those of Grandmaster Leo, Professor Vanise, Lucas, or even mine, seemed, above all, a silent experience for each individual. I received very valuable feedback throughout the night, and I truly went to bed feeling grateful. After all, thanks to the human quality of the members of my Family, my intuition told me that it was possible to improve, and greatly so. With that, the support network of the Moy Yat Ving Tsun Safeguard Group, led by Grandmaster Leo Imamura, began to provide the support I needed. Perhaps it is just my unbeatable luck, but thanks to it or other factors, I felt that I was making a worthy contribution regarding the Ceremonial Act.

I am especially grateful to Si Gung, Si Taai, and everyone involved in this special evening.


A DISCIPLE OF MASTER JULIO CAMACHO
Master Thiago Pereira
Leader of  Moy Fat Lei Family
moyfatlei.myvt@gmail.com
@thiago_moy 




domingo, 8 de dezembro de 2024

TRADITION AS INNOVATION IN THE USA: The Ving Tsun System for International Law Enforcement Instructors

 

Em março de 2025, estarei mais uma vez com o Mestre Fabio Gomes em uma viagem internacional para promover o Sistema Ving Tsun. Desta vez, atuaremos como instrutores convidados para a International Law Enforcement Educators and Trainers Association (ILEETA), traduzida como "Associação Internacional de Educadores e Treinadores de Policiais", uma organização internacional com sede nos Estados Unidos. Ela é dedicada ao aprimoramento de educadores e instrutores na área de segurança pública, com foco em oferecer treinamentos de alta qualidade para profissionais que atuam na aplicação da lei. O objetivo é elevar a eficácia desses profissionais, aumentar a segurança dos agentes e garantir a proteção da população.
De modo a deixar mais clara a importância deste projeto conjunto, pedi ao Mestre Fabio que respondesse algumas perguntas que considero essenciais:

In March 2025, I will once again be travelling internationally with Master Fabio Gomes to promote the Ving Tsun System. This time, we will be acting as guest instructors for the International Law Enforcement Educators and Trainers Association (ILEETA), an organisation based in the United States. It is dedicated to the development of educators and trainers in the field of public safety, with a focus on providing high-quality training for professionals involved in law enforcement. The aim is to enhance the effectiveness of these professionals, increase the safety of officers, and ensure the protection of the public.
In order to clarify the importance of this joint project, I asked Master Fabio to answer a few questions that I consider essential:

(Mestre Fabio e seu mentor, Grão-Mestre Leo Imamura)
(Master Fabio and his Master, Grandmaster Leo Imamura)

Blog:  Qual é o objetivo da conferência da ILEETA?

Mestre Fabio Gomes: A conferência anual da ILEETA é uma plataforma única que reúne educadores e instrutores de diferentes áreas da segurança pública, abrangendo tanto unidades convencionais quanto equipes especializadas, como as de Operações Especiais (SWAT). Este ambiente diversificado favorece a troca de experiências, a disseminação de novas técnicas e o acesso a tecnologias inovadoras, consolidando-se como um espaço essencial para o avanço da formação e da capacitação na aplicação da lei em nível global.

Blog: What is the goal of the ILEETA conference?

Master Fabio Gomes: The annual ILEETA conference is a unique platform that brings together educators and instructors from different areas of public safety, covering both conventional units and specialised teams such as Special Operations (SWAT). This diverse environment promotes the exchange of experiences, the dissemination of new techniques, and access to innovative technologies, establishing itself as an essential space for advancing law enforcement training and development on a global level.


Blog:  Quem estará presente na conferência?

Mestre Fabio Gomes: Com base na programação da conferência ILEETA 2025, os participantes provavelmente incluirão uma ampla gama de profissionais da área de segurança pública, como:
Educadores e instrutores: especialistas responsáveis pelo treinamento em academias de polícia, agências governamentais e outras instituições de segurança.
Agentes de unidades convencionais: policiais e outros profissionais que trabalham em patrulhas, investigações ou serviços gerais de aplicação da lei.
Operadores de unidades especializadas: profissionais de grupos táticos e de operações especiais, como SWAT e outras equipes especializadas em resposta a crises.
Líderes e gestores de segurança pública: chefes de polícia, diretores de treinamento e comandantes interessados em melhorar as práticas e a eficácia de suas equipes.
Instrutores de táticas defensivas (defesa pessoal) e armamento: especialistas em treinamento com armas de fogo, táticas de defesa e técnicas de controle a curta distância.
Especialistas em áreas complementares: psicólogos, advogados, educadores em saúde mental e instrutores de resiliência emocional, oferecendo perspectivas interdisciplinares para melhorar o treinamento e o bem-estar dos agentes.
Desenvolvedores de tecnologia e métodos inovadores: profissionais que utilizam inteligência artificial, simulações realistas e outras inovações para melhorar os métodos de treinamento.
A diversidade de tópicos a serem abordados na conferência reflete a amplitude de profissionais que o evento atrai, promovendo a troca de experiências e o desenvolvimento de novas competências.

Blog:  Who will be present at the conference?

Master Fabio Gomes: Based on the ILEETA 2025 conference schedule, participants will likely include a broad range of public safety professionals, such as:
Educators and instructors: specialists responsible for training at police academies, government agencies, and other security institutions.
Officers from conventional units: police officers and other professionals working in patrols, investigations, or general law enforcement services.
Operators from specialised units: tactical group professionals and special operations teams, such as SWAT and other crisis-response teams.
Leaders and managers of public safety: police chiefs, training directors, and commanders interested in improving their teams' practices and effectiveness.
Defensive tactics (self-defence) and weapons instructors: experts in firearms training, defence tactics, and close-quarters control techniques.
Experts in complementary areas: psychologists, lawyers, mental health educators, and emotional resilience instructors, providing interdisciplinary perspectives to improve agent training and well-being.
Developers of technology and innovative methods: professionals using artificial intelligence, realistic simulations, and other innovations to enhance training methods.
The diversity of topics to be addressed at the conference reflects the broad range of professionals the event attracts, promoting the exchange of experiences and the development of new skills.



BLOG: Como foi o convite para participar deste evento?

Mestre Fabio Gomes: Sou membro da ILEETA e articulista do ILEETA Journal, publicação oficial trimestral da International Law Enforcement Educators and Trainers Association (ILEETA). Ao tomar conhecimento da conferência anual e da possibilidade de sugerir um tema para ser ministrado, fiquei motivado a propor uma abordagem diferenciada sobre o estudo das artes marciais, com ênfase no sistema Ving Tsun, que transcende a dimensão física do combate. Entendo que limitar o potencial das artes marciais apenas à dimensão física é subaproveitar sua riqueza, pois um combate ou uma guerra envolvem diversas dimensões, que podem ser amplamente exploradas para enriquecer a formação de profissionais de segurança.
Após o envio da sugestão de tema, recebi um contato direto do Vice-Diretor Executivo da ILEETA, Joseph Willis, veterano do Exército dos Estados Unidos e antigo Instructor and Senior Faculty Advisor (Instrutor e Conselheiro Sênior do Corpo Docente) da United States Military Academy (Academia Militar dos Estados Unidos) em West Point. Ele me convidou para ser um dos instrutores na Conferência ILEETA 2025, o que considero uma oportunidade única para compartilhar uma visão ampla e estratégica sobre a utilização das artes marciais no contexto da segurança pública e das operações de alto risco.

BLOG: How was the invitation to participate in this event?

Master Fabio Gomes: I am a member of ILEETA and a contributor to the ILEETA Journal, the official quarterly publication of the International Law Enforcement Educators and Trainers Association (ILEETA). Upon learning about the annual conference and the possibility of suggesting a topic to be presented, I was motivated to propose a unique approach to the study of martial arts, with an emphasis on the Ving Tsun system, which transcends the physical dimension of combat. I believe that limiting the potential of martial arts to just the physical dimension underutilises its richness, as combat or war involve multiple dimensions that can be broadly explored to enrich the training of security professionals.
After submitting my topic suggestion, I received direct contact from the Executive Vice Director of ILEETA, Joseph Willis, a US Army veteran and former Instructor and Senior Faculty Advisor at the United States Military Academy at West Point. He invited me to be one of the instructors at the ILEETA 2025 conference, which I consider a unique opportunity to share a broad and strategic perspective on the use of martial arts in the context of public safety and high-risk operations.


BLOG:  Qual é a razão para se interessar em participar deste evento?

Mestre Fabio Gomes: Tenho grande interesse em participar deste evento por reconhecer a ILEETA Conference como uma das principais plataformas de intercâmbio de conhecimentos na área de segurança pública, reunindo especialistas e instrutores de renome mundial. Vejo na conferência uma oportunidade única para compartilhar minha perspectiva estratégica, baseada no sistema marcial chinês Ving Tsun e alinhada à abordagem da organização internacional de preservação e transmissão deste sistema, o Moy Yat Ving Tsun Safeguard Group, que transcende o combate físico e oferece recursos valiosos para a antecipação, análise e gestão de conflitos em suas diversas dimensões.

Além disso, acredito que a conferência é um espaço essencial para aprender com outros profissionais, explorar abordagens inovadoras e contribuir ativamente para o avanço da formação e capacitação na área de segurança pública. Como membro da ILEETA e articulista do ILEETA Journal, participar como instrutor na Conferência ILEETA 2025 reforça meu compromisso com o desenvolvimento contínuo de soluções estratégicas para os desafios contemporâneos enfrentados por profissionais de segurança.

BLOG:  What is the reason for your interest in participating in this event?

Master Fabio Gomes: I am highly interested in participating in this event because I recognise the ILEETA Conference as one of the leading platforms for knowledge exchange in the field of public safety, bringing together experts and instructors of global renown. I see the conference as a unique opportunity to share my strategic perspective, based on the Chinese martial system Ving Tsun, aligned with the approach of the international organisation for the preservation and transmission of this system, the Moy Yat Ving Tsun Safeguard Group, which transcends physical combat and provides valuable resources for the anticipation, analysis, and management of conflicts in their various dimensions.
Furthermore, I believe the conference is an essential space to learn from other professionals, explore innovative approaches, and actively contribute to the advancement of training and development in public safety. As a member of ILEETA and a contributor to the ILEETA Journal, participating as an instructor at the ILEETA 2025 Conference reinforces my commitment to the continuous development of strategic solutions for the contemporary challenges faced by security professionals.

(Eu e Grão-Mestre Leo Imamura em São Paulo,  2017)
(Grandmaster Leo Imamura and I, Sao paulo 2017)

BLOG: Como a participação neste evento contribui com a salvaguarda do Sistema Ving Tsun?

Mestre Fabio Gomes: Assim como o trabalho desenvolvido há 25 anos no Brasil, de transmitir personalizadamente o sistema Ving Tsun para policiais e militares de Forças de Operações Especiais, a participação na ILEETA Conference reforça a salvaguarda desse sistema ao projetá-lo em um contexto internacional de alta relevância.
Este evento proporciona uma plataforma para demonstrar como o Ving Tsun, alinhado aos princípios do Moy Yat Ving Tsun Safeguard Group, transcende a dimensão física do combate, oferecendo estratégias atemporais para a gestão de conflitos, análise de cenários e adaptação a situações de alto risco.
Para a realização deste projeto, conto com o suporte inestimável de amigos, minha família e do também Mestre em Ving Tsun Thiago Pereira, que irá atuar comigo como instrutor neste evento. Além disso, tenho o privilégio de contar com a orientação e apoio dos meus mentores e líderes do Moy Yat Ving Tsun Safeguard Group, o Grão-Mestre Leo Imamura e a Professora Vanise Almeida, cuja liderança inspira e fortalece o trabalho de salvaguarda do sistema.
Ao apresentar o sistema em um ambiente de especialistas globais, essa participação não só valida sua eficácia, como também contribui para sua preservação e valorização em novos contextos, permitindo que ele continue a ser uma referência tanto na formação de profissionais de segurança quanto na promoção de uma abordagem estratégica integrada entre tradição e inovação. Assim, a conferência tem o potencial de ampliar o alcance do trabalho de salvaguarda, garantindo que o legado do Ving Tsun permaneça relevante às necessidades contemporâneas.

BLOG:  How does participating in this event contribute to the safeguarding of the Ving Tsun system?

Master Fabio Gomes: Just as the work carried out over the past 25 years in Brazil, to personally transmit the Ving Tsun system to police officers and military personnel from Special Operations Forces, the participation in the ILEETA Conference strengthens the safeguarding of this system by projecting it into an internationally relevant context.
This event provides a platform to demonstrate how Ving Tsun, aligned with the principles of the Moy Yat Ving Tsun Safeguard Group, transcends the physical dimension of combat, offering timeless strategies for conflict management, scenario analysis, and adaptation to high-risk situations.
For the success of this project, I rely on the invaluable support of friends, my family, and Master Thiago Pereira, who will join me as an instructor at this event. Additionally, I have the privilege of receiving guidance and support from my mentors and leaders of the Moy Yat Ving Tsun Safeguard Group, Grand Master Leo Imamura and Professor Vanise Almeida, whose leadership inspires and strengthens the safeguarding work of the system.
By presenting the system in a global expert environment, this participation not only validates its effectiveness but also contributes to its preservation and appreciation in new contexts, allowing it to remain a reference in both the training of security professionals and the promotion of a strategically integrated approach between tradition and innovation. Thus, the conference has the potential to expand the reach of the safeguarding work, ensuring that the Ving Tsun legacy remains relevant to contemporary needs.


A DISCIPLE OF MASTER JULIO CAMACHO
Master Thiago Pereira
Leader of  Moy Fat Lei Family
moyfatlei.myvt@gmail.com
@thiago_moy 


sábado, 7 de dezembro de 2024

DISPAX 2024 (BKK) Part 2: Reintroducing Martial Arts to Society

(Mestre Fabio, eu e a Srta Nan)
(Master Fabio, Miss Nan and I)

Xu Haofeng é um cineasta e roteirista chinês, conhecido principalmente dentro do contexto de filmes de wǔxiá (武侠), um tipo de narrativa que mistura artes marciais e elementos de fantasia. O genial Xu Haofeng tem se esforçado, nos últimos vinte anos, através de colaborações com outros cineastas lendários, como Wong Kar Wai, ou em seus próprios projetos, para reapresentar as artes marciais para espectadores de todo o mundo. Seus roteiros possuem diversas camadas, nas quais o público menos exigente pode ainda se divertir com cenas intrincadas de combate, repletas de coreografias originais. No entanto, o público mais exigente, composto por sinólogos, entusiastas das artes marciais, professores e estudiosos da cultura clássica chinesa, artistas marciais experientes e muitos outros, pode apreciar detalhes nunca antes vistos em filmes desse gênero.
Esse movimento, que o cineasta Xu Haofeng vem empreendendo nas últimas décadas, tenta retificar um problema apontado pela Professora Anne Cheng, que considera o cinema de artes marciais como um dos principais responsáveis por uma visão redutora das artes marciais chinesas.
Por isso, quando eu e o Mestre Fabio Gomes subimos ao palco da DISPAX 2024 para demonstrar como o Sistema Ving Tsun poderia ser uma ferramenta imprescindível para o ramo da aviação, especialmente na gestão de passageiros indisciplinados, estávamos, em outra camada, também reapresentando as artes marciais chinesas para a sociedade.

 Xu Haofeng is a Chinese filmmaker and screenwriter, best known for his work in the martial arts film genre, particularly within the context of wǔxiá (武侠) films, a type of narrative that combines martial arts and fantasy elements. The brilliant Xu Haofeng has spent the last two decades, through collaborations with legendary filmmakers such as Wong Kar Wai or through his own projects, reintroducing martial arts to audiences worldwide. His screenplays have multiple layers, in which less demanding viewers can still enjoy intricate combat scenes with original choreography. However, the more discerning audience—comprising sinologists, martial arts enthusiasts, professors and scholars of classical Chinese culture, experienced martial artists, and many others—can appreciate details never before seen in films of this genre.
This movement that filmmaker Xu Haofeng has been undertaking over the past decades seeks to correct an issue initially raised by Professor Anne Cheng, who points out that martial arts cinema is one of the main causes of a reductive conception of Chinese martial arts.
Therefore, when Master Fabio Gomes and I took the stage at DISPAX 2024 to show how the Ving Tsun system could be an indispensable tool in aviation, particularly for handling unruly passengers, we were, on another level, also reintroducing Chinese martial arts to society.

Um dos primeiros desafios que enfrentaríamos seria falar para um público que talvez não estivesse muito familiarizado com as artes marciais. O segundo ponto, é claro, era o idioma. Como falamos português no Brasil, precisaríamos nos apresentar também por meio de um idioma diferente do nosso. Por fim, havia a questão de que tipo de palavras e raciocínios deveríamos usar em nosso discurso, pois acreditamos no Moy Yat Ving Tsun Safeguard Group, que ao falarmos, nos vestirmos e nos apresentarmos de forma geral, estamos não só representando a nós mesmos, mas também todo o Sistema Ving Tsun. Afinal, também representamos nosso país, e qualquer descuido de nossa parte poderia comprometer trabalhos futuros, inclusive de outros profissionais. Contudo, acreditamos que, quando estamos verdadeiramente alinhados com o Sistema Ving Tsun, ele pode se expressar através de nós.

One of the first challenges we would face would be speaking to an audience that might not be very familiar with martial arts. The second point, of course, was the language. Since we speak Portuguese in Brazil, we would also need to present ourselves in a language other than our own. Finally, there was the question of what kind of words and reasoning we should use in our speech, as we believe in the Moy Yat Ving Tsun Safeguard Group, that when we speak, dress, and present ourselves in general, we are not only representing ourselves but also the entire Ving Tsun System. After all, we are also representing our country, and any misstep on our part could jeopardise future work, including that of other professionals. However, we believe that when we are truly aligned with the Ving Tsun System, it can speak through us.

Como fazer uma demonstração através de movimentos de combate simbólicos, sem parecer que se trata de algo que exige aptidão física diferenciada? Ao compensar isso, como evitar que pareça ineficiente ou sem efeito no mundo real? Deveríamos ser contundentes, ou isso poderia parecer excessivamente agressivo? Seria melhor sermos mais suaves, ou isso daria a impressão de que são apenas movimentos combinados?
Existe um limite para o controle que temos sobre o efeito gerado por nossas ações, mas nos dedicamos com afinco ao pré-evento, antecipando essas e muitas outras questões. Afinal, nossa apresentação também tratava disso: uma arte que nega a si mesma. A arte de lutar sem lutar. Para isso, não falamos apenas da eficácia do Sistema Ving Tsun na contenção de passageiros indisciplinados, mas, principalmente, sobre tudo o que antecede esse momento tão complexo, que afeta profissionais dentro das cabines de aeronaves em todo o mundo. O que faltou para você perceber o conflito se configurando?

How can we perform a demonstration through symbolic combat movements without it seeming like something that requires exceptional physical aptitude? In compensating for this, how can we avoid it seeming ineffective or lacking real-world impact? Should we be forceful, or would that come across as overly aggressive? Should we aim to be gentler, or would that make it seem like mere choreographed movements?
There is a limit to the control we have over the effect of our actions, but we dedicated ourselves thoroughly to the pre-event preparation, anticipating these and many other questions. After all, our presentation was also about this: an art that denies itself. The art of fighting without fighting. To this end, we didn’t just talk about the effectiveness of the Ving Tsun System in restraining unruly passengers, but, more importantly, about everything that precedes that complex moment, which affects professionals in aircraft cabins around the world. What was missing for you to perceive the conflict unfolding?

Acredito firmemente que, se bem conduzido, o Sistema Ving Tsun pode contribuir de maneira positiva para a sociedade. Todo o trabalho dedicado do Grão-Mestre Leo Imamura nas últimas décadas, com o objetivo de viabilizar a salvaguarda do que recebeu de seu mentor, o Patriarca Moy Yat, possui uma coerência tão profunda que, bastaria a nós dois, desde que estivéssemos qualificados, permitir que a qualidade do trabalho se manifestasse por meio de nós. Por isso, nos dedicamos a trabalhar alinhados com ele o tempo todo, para que nossa presença não se sobressaísse ao potencial do Sistema Ving Tsun.
Parece haver um ditado originário de Hong Kong que diz: "天無絕人之路" (tīn mòh jyut yàhn zhī louh), que poderia ser traduzido como: "Os céus nunca fecham todos os caminhos para uma pessoa". Este ditado me faz refletir sobre os resultados que estão surgindo, um após o outro, em apenas dois anos de trabalho com o Grão-Mestre Leo e agora como membro do Moy Yat Ving Tsun Safeguard Group.

I firmly believe that, if properly guided, the Ving Tsun System can positively contribute to society. The dedicated work of Grandmaster Leo Imamura over the past decades, aimed at safeguarding what he received from his mentor, Patriarch Moy Yat, has such profound coherence that, as long as we are qualified, it would suffice for the work's quality to manifest through us. For this reason, we dedicate ourselves to working in alignment with him at all times, so that our presence does not overshadow the potential of the Ving Tsun System.
There seems to be a saying originating from Hong Kong: "天無絕人之路" (tīn mòh jyut yàhn zhī louh), which could be translated as: "The heavens never close all the paths for a person." This saying makes me reflect on the results that have been emerging, one after another, in just two years of work with Grandmaster Leo, and now as a member of the Moy Yat Ving Tsun Safeguard Group.




A DISCIPLE OF MASTER JULIO CAMACHO
Master Thiago Pereira
Leader of  Moy Fat Lei Family
moyfatlei.myvt@gmail.com
@thiago_moy