(Mestre Fabio, eu e a Srta Nan)
(Master Fabio, Miss Nan and I)
Xu Haofeng é um cineasta e roteirista chinês, conhecido principalmente dentro do contexto de filmes de wǔxiá (武侠), um tipo de narrativa que mistura artes marciais e elementos de fantasia. O genial Xu Haofeng tem se esforçado, nos últimos vinte anos, através de colaborações com outros cineastas lendários, como Wong Kar Wai, ou em seus próprios projetos, para reapresentar as artes marciais para espectadores de todo o mundo. Seus roteiros possuem diversas camadas, nas quais o público menos exigente pode ainda se divertir com cenas intrincadas de combate, repletas de coreografias originais. No entanto, o público mais exigente, composto por sinólogos, entusiastas das artes marciais, professores e estudiosos da cultura clássica chinesa, artistas marciais experientes e muitos outros, pode apreciar detalhes nunca antes vistos em filmes desse gênero.
Esse movimento, que o cineasta Xu Haofeng vem empreendendo nas últimas décadas, tenta retificar um problema apontado pela Professora Anne Cheng, que considera o cinema de artes marciais como um dos principais responsáveis por uma visão redutora das artes marciais chinesas.
Por isso, quando eu e o Mestre Fabio Gomes subimos ao palco da DISPAX 2024 para demonstrar como o Sistema Ving Tsun poderia ser uma ferramenta imprescindível para o ramo da aviação, especialmente na gestão de passageiros indisciplinados, estávamos, em outra camada, também reapresentando as artes marciais chinesas para a sociedade.
Xu Haofeng is a Chinese filmmaker and screenwriter, best known for his work in the martial arts film genre, particularly within the context of wǔxiá (武侠) films, a type of narrative that combines martial arts and fantasy elements. The brilliant Xu Haofeng has spent the last two decades, through collaborations with legendary filmmakers such as Wong Kar Wai or through his own projects, reintroducing martial arts to audiences worldwide. His screenplays have multiple layers, in which less demanding viewers can still enjoy intricate combat scenes with original choreography. However, the more discerning audience—comprising sinologists, martial arts enthusiasts, professors and scholars of classical Chinese culture, experienced martial artists, and many others—can appreciate details never before seen in films of this genre.
This movement that filmmaker Xu Haofeng has been undertaking over the past decades seeks to correct an issue initially raised by Professor Anne Cheng, who points out that martial arts cinema is one of the main causes of a reductive conception of Chinese martial arts.
Therefore, when Master Fabio Gomes and I took the stage at DISPAX 2024 to show how the Ving Tsun system could be an indispensable tool in aviation, particularly for handling unruly passengers, we were, on another level, also reintroducing Chinese martial arts to society.
Um dos primeiros desafios que enfrentaríamos seria falar para um público que talvez não estivesse muito familiarizado com as artes marciais. O segundo ponto, é claro, era o idioma. Como falamos português no Brasil, precisaríamos nos apresentar também por meio de um idioma diferente do nosso. Por fim, havia a questão de que tipo de palavras e raciocínios deveríamos usar em nosso discurso, pois acreditamos no Moy Yat Ving Tsun Safeguard Group, que ao falarmos, nos vestirmos e nos apresentarmos de forma geral, estamos não só representando a nós mesmos, mas também todo o Sistema Ving Tsun. Afinal, também representamos nosso país, e qualquer descuido de nossa parte poderia comprometer trabalhos futuros, inclusive de outros profissionais. Contudo, acreditamos que, quando estamos verdadeiramente alinhados com o Sistema Ving Tsun, ele pode se expressar através de nós.
One of the first challenges we would face would be speaking to an audience that might not be very familiar with martial arts. The second point, of course, was the language. Since we speak Portuguese in Brazil, we would also need to present ourselves in a language other than our own. Finally, there was the question of what kind of words and reasoning we should use in our speech, as we believe in the Moy Yat Ving Tsun Safeguard Group, that when we speak, dress, and present ourselves in general, we are not only representing ourselves but also the entire Ving Tsun System. After all, we are also representing our country, and any misstep on our part could jeopardise future work, including that of other professionals. However, we believe that when we are truly aligned with the Ving Tsun System, it can speak through us.
Como fazer uma demonstração através de movimentos de combate simbólicos, sem parecer que se trata de algo que exige aptidão física diferenciada? Ao compensar isso, como evitar que pareça ineficiente ou sem efeito no mundo real? Deveríamos ser contundentes, ou isso poderia parecer excessivamente agressivo? Seria melhor sermos mais suaves, ou isso daria a impressão de que são apenas movimentos combinados?
Existe um limite para o controle que temos sobre o efeito gerado por nossas ações, mas nos dedicamos com afinco ao pré-evento, antecipando essas e muitas outras questões. Afinal, nossa apresentação também tratava disso: uma arte que nega a si mesma. A arte de lutar sem lutar. Para isso, não falamos apenas da eficácia do Sistema Ving Tsun na contenção de passageiros indisciplinados, mas, principalmente, sobre tudo o que antecede esse momento tão complexo, que afeta profissionais dentro das cabines de aeronaves em todo o mundo. O que faltou para você perceber o conflito se configurando?
How can we perform a demonstration through symbolic combat movements without it seeming like something that requires exceptional physical aptitude? In compensating for this, how can we avoid it seeming ineffective or lacking real-world impact? Should we be forceful, or would that come across as overly aggressive? Should we aim to be gentler, or would that make it seem like mere choreographed movements?
There is a limit to the control we have over the effect of our actions, but we dedicated ourselves thoroughly to the pre-event preparation, anticipating these and many other questions. After all, our presentation was also about this: an art that denies itself. The art of fighting without fighting. To this end, we didn’t just talk about the effectiveness of the Ving Tsun System in restraining unruly passengers, but, more importantly, about everything that precedes that complex moment, which affects professionals in aircraft cabins around the world. What was missing for you to perceive the conflict unfolding?
Acredito firmemente que, se bem conduzido, o Sistema Ving Tsun pode contribuir de maneira positiva para a sociedade. Todo o trabalho dedicado do Grão-Mestre Leo Imamura nas últimas décadas, com o objetivo de viabilizar a salvaguarda do que recebeu de seu mentor, o Patriarca Moy Yat, possui uma coerência tão profunda que, bastaria a nós dois, desde que estivéssemos qualificados, permitir que a qualidade do trabalho se manifestasse por meio de nós. Por isso, nos dedicamos a trabalhar alinhados com ele o tempo todo, para que nossa presença não se sobressaísse ao potencial do Sistema Ving Tsun.
Parece haver um ditado originário de Hong Kong que diz: "天無絕人之路" (tīn mòh jyut yàhn zhī louh), que poderia ser traduzido como: "Os céus nunca fecham todos os caminhos para uma pessoa". Este ditado me faz refletir sobre os resultados que estão surgindo, um após o outro, em apenas dois anos de trabalho com o Grão-Mestre Leo e agora como membro do Moy Yat Ving Tsun Safeguard Group.
I firmly believe that, if properly guided, the Ving Tsun System can positively contribute to society. The dedicated work of Grandmaster Leo Imamura over the past decades, aimed at safeguarding what he received from his mentor, Patriarch Moy Yat, has such profound coherence that, as long as we are qualified, it would suffice for the work's quality to manifest through us. For this reason, we dedicate ourselves to working in alignment with him at all times, so that our presence does not overshadow the potential of the Ving Tsun System.
There seems to be a saying originating from Hong Kong: "天無絕人之路" (tīn mòh jyut yàhn zhī louh), which could be translated as: "The heavens never close all the paths for a person." This saying makes me reflect on the results that have been emerging, one after another, in just two years of work with Grandmaster Leo, and now as a member of the Moy Yat Ving Tsun Safeguard Group.