O Grão-Mestre Leo Imamura, logo no início dessa jornada, falou sobre a importância de apresentarmos resultados, e não apenas contarmos com o processo. Dentro do senso comum, pensamos na casa, no carro, em aquisições — que, muitas vezes, não representam aquilo que um profissional de artes marciais deveria estar realmente observando.
Ele também mencionou a ideia do Mestre que atua como Mestre para poder continuar praticando. Você recebe dos seus alunos pelo que oferece, e reinveste na sua formação. “Tudo é uma questão de prioridade”, costuma dizer o Grão-Mestre.
Na última semana, pude experimentar um pouco do que significa “resultado” .
Meu discípulo Lucas (foto acima) pratica comigo desde criança. Mas, conforme eu já havia adiantado aos membros da minha Família, quando passamos a trabalhar diretamente com o Grão-Mestre Leo Imamura, esse trabalho passaria a ser alinhado e organizado, e alguns praticantes talvez se afastassem nesse processo. No caso de Lucas, isso se manifestou como uma espécie de falta de motivação. Mas, no fundo, o Sistema Ving Tsun estava pedindo dele uma abordagem mais amadurecida — diferente daquela bagunça que era o “Chi Sau” que ele fazia há tanto tempo.
Com o passar dos meses, Lucas foi perdendo o interesse em praticar, e sempre parecia ter uma desculpa. Numa das poucas tentativas de retomada, estávamos sozinhos numa noite de sexta-feira no Instituto Moy Yat, e Lucas apresentava um Jin Choei cansado e pouco comprometido. Após eu ter feito algum comentário sobre essa falta de espírito, Lucas não deixou por menos e, pela primeira vez em 17 anos, me respondeu:
— "E o senhor, se estivesse sem praticar há três meses, acha mesmo que conseguiria atravessar a sala fazendo?"
Pude perceber pelo seu tom de voz, que até para dar uma resposta, Lucas é educado. No fundo, eu estava com muita vontade de rir, mas me mantive sério, respondi de forma assertiva e voltamos ao trabalho por mais algum tempo. A verdade é que aquela atitude de Lucas já era um efeito da experiência marcial.
Grandmaster Leo Imamura, at the very beginning of this journey, spoke about the importance of presenting results, rather than relying solely on the process. In common thinking, we tend to associate results with things such as owning a house or a car—acquisitions that, more often than not, do not truly reflect what a martial arts professional ought to be observing.
He also referred to the idea of a Master who works as a Master in order to continue practising. You receive money from your students according to what you offer them—and you reinvest that into your own development. “It’s all a matter of priority,” the Grandmaster often says.
Last week, I had the opportunity to experience a glimpse of what the word “result” really means.
My disciple Lucas (photo above) has been practising with me since childhood. However, as I had already mentioned to members of my Family, once we began working directly with Grandmaster Leo Imamura, our work would become more aligned and organised—and in that process, some practitioners might step away. In Lucas's case, this manifested as a kind of lack of motivation. But deep down, the Ving Tsun System was demanding a more mature approach from him—very different from the disorganised “Chi Sau” he had been doing for so long.
As the months went by, Lucas began to lose interest in practice and always seemed to have an excuse. On one of the rare occasions he did attempt to return, we found ourselves alone on a Friday evening at the Moy Yat Institute. Lucas’s Jin Choei was tired and lacked commitment. After I made a comment regarding his lack of spirit, Lucas responded—for the first time in 17 years:
— “And you, Si Fu? If you hadn’t practised for three months, do you honestly think you’d be able to make it across the room doing that?”
I could tell from his tone of voice that—even when replying—Lucas remained respectful. Deep down, I felt like laughing, but I kept a serious expression, responded assertively, and we carried on for a little while longer.
The truth is, that response from Lucas was already a reflection of martial experience.
Durante os meses que se seguiram, Lucas participou de dois Instrumentos do Programa: um com os membros da Família do Mestre Sênior Camiz, e outro com seus irmãos Kung Fu, de forma remota. Houve um salto considerável da sua capacidade de elaboração entre as duas oportunidades.
Paralelamente, no último ano, Lucas havia assumido para si a coordenação da "Visita Oficial" de 2024 em nosso Polo de Acesso. Eu estava atento para ver qual seria sua atitude neste ano. Dependendo de como ele tratasse o assunto, isso poderia significar que a experiência anterior havia sido excessiva. No entanto, ele mais uma vez deu o start nos preparativos para a Visita Oficial, que ocorrerá em dezembro.
Com uma singela mudança de perspectiva, Lucas decidiu participar do Seminário de Tutorização do Ving Tsun Experience – Nível 5. Nesse nível, é trabalhado o manuseio do bastão dentro do que chamamos de Siu Nim Do Gwan Faat. Eu acreditava que Lucas poderia elucidar algumas de suas dúvidas e aliviar seus questionamentos com essa vivência, pois teríamos o advento de uma possibilidade maior de compartilhamento, por parte do Grão-Mestre Leo Imamura, a respeito desse trabalho.
Lucas aceitou participar e se juntou a um grupo maior, composto por veteranos e novatos na Jornada Kung Fu — entre eles, Mestres e Mestres Seniores — sob a batuta do Grão-Mestre Leo Imamura.
Over the months that followed, Lucas took part in two Safeguard Programme Instruments: one alongside members of Master Senior Camiz’s Family, and another with his Kung Fu brothers, conducted remotely. There was a noticeable improvement in his capacity for elaboration between the two opportunities.
In parallel, over the past year, Lucas had taken upon himself the responsibility of coordinating the 2024 Official Visit at our Access Hub. I observed closely to see what his attitude would be this year. Depending on how he handled the matter, it might have indicated that the previous experience had been overwhelming. However, once again, he initiated preparations for the Official Visit, which is scheduled to take place in December.
With a subtle shift in perspective, Lucas decided to participate in the Tutoring Seminar of the Ving Tsun Experience – Level 5. At this level, the focus is on working with the long pole, within what we refer to as Siu Nim Do Gwan Faat. I believed that this experience could help Lucas clarify some of his doubts and ease his internal questioning, particularly as there would be an increased likelihood of deeper sharing by Grandmaster Leo Imamura regarding this area of the System.
Lucas accepted the invitation and joined a larger group, composed of both veterans and newcomers in the Kung Fu Journey — among them, Masters and Senior Masters — all under the direction of Grandmaster Leo Imamura.
Apenas nesta oportunidade pude compreender melhor o que é um “pré-evento”. Logo de início, o Grão-Mestre Leo Imamura me comunicou a necessidade de um ajuste, em função do que o grupo vinha apresentando. Eu, na condição de organizador, não apresentei nenhuma ressalva. De fato, para uma experiência como essa, ter contato prévio com o bastão seria fundamental para um melhor aproveitamento, especialmente no acompanhamento do material proposto.
Pode parecer algo simples, mas ao observar o Grão-Mestre se desdobrar para salvar o investimento de tempo dos presentes durante o trans-evento — mesmo o grupo não tendo sido adequadamente orientado no pré-evento —, compreendi com mais clareza o quanto um melhor preparo da nossa parte poderia ter alavancado ainda mais a experiência.
It was only through this particular opportunity that I was able to gain a clearer understanding of what a “pre-event” truly entails. Right at the outset, Grandmaster Leo Imamura informed me of the need for an adjustment, based on the way the group had been performing. In my capacity as organiser, I raised no objections. Indeed, for an experience of this nature, prior contact with the long pole would have been essential for a fuller and more effective engagement—especially in relation to the study of the proposed material.
It may seem like a small detail, but witnessing the Grandmaster going to great lengths to safeguard the time investment of those present during the trans-event—even though the group had not been properly prepared during the pre-event—allowed me to understand, more clearly, just how much a better level of preparation on our part could have further enhanced the overall experience.
Uma das pessoas mais queridas desta minha nova fase como praticante é o Si Suk Dorival(FOTO). Sempre com um sorriso no rosto e uma energia positiva, é alguém extremamente amável. Ele também tem sido uma fonte de grande inspiração para mim e para o Lucas (segundo suas próprias palavras), pois demonstra um nível de relaxamento muito especial ao praticar o Domínio Luk Dim Bun Gwan.
Sua performance sempre reflete um trabalho construído e orientado com muita consciência. Por isso, quando pensamos neste Seminário, propus imediatamente ao Grão-Mestre Leo Imamura a possibilidade de convidá-lo.
Apesar de décadas de vivência dentro da Família Kung Fu, a disposição do Si Suk Dorival para experimentar, demonstrar, exemplificar e assistir seu Si Fu é realmente impressionante — e revela o espírito de iniciante com o qual ele conduz sua jornada.
One of the most cherished individuals in this new phase of my journey as a practitioner is Si Suk Dorival (PHOTO). Always with a smile on his face and a positive energy, he is an exceptionally kind and amiable person.
He has also been a great source of inspiration for both myself and Lucas (according to Lucas’s own words), as he displays a particularly refined sense of relaxation when practising the Luk Dim Bun Gwan Domain.
His performance consistently reflects a practice that has been built and guided with great awareness. For this reason, when we began to consider this Seminar, I immediately proposed to Grandmaster Leo Imamura the possibility of inviting him.
Despite his decades of experience within the Kung Fu Family, Si Suk Dorival’s willingness to experiment, demonstrate, exemplify, and support his Si Fu is truly impressive — and it reveals the beginner’s spirit with which he conducts his journey.
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Lucas (foto acima) estava completamente imerso durante todo o fim de semana. A dedicação do Grão-Mestre Leo Imamura a cada pessoa presente — com toda a paciência e empenho para que cada um, à sua maneira e no seu tempo, possa se expressar com consciência — é sempre tocante. Ele se mantém leal ao trabalho e permite que cada praticante tire suas próprias conclusões, a partir de uma condição mais favorável para acessar o Sistema Ving Tsun.
Para mim, é fundamental ter essa conduta como referência. Ao nos tornarmos Si Fu, caso não estejamos atentos, a percepção de uma audiência pré-disposta a nos ouvir pode nos fazer perder o rumo e nos colocar, inadvertidamente, à frente do Sistema.
Foi então que, na tarde de domingo, já com todos tendo ido embora, enquanto eu praticava com o Mestre Sênior Monnerat sob a supervisão do Grão-Mestre Leo Imamura, Lucas conversava com a Srta. Nan na área de convivência. De repente, ele se levantou, foi até a área externa, pegou um bastão e começou a estudar.
Naquele mesmo dia, fomos juntos à missa em homenagem ao Si Suk Osse, e depois ao Dim Sum, onde Lucas ainda perguntava, com muita energia, sobre questões relacionadas ao bastão.
O que aconteceu entre aquela falta de espírito naquela noite de sexta-feira, no Instituto, e esse momento... nem eu sei dizer ao certo. Como tentamos sempre trabalhar na busca constante por condicionantes que promovam as coisas de forma espontânea, o que fica, no fundo, é esse resultado maravilhoso — em que o trabalho deixa, cada vez mais, de ser semi-amador e passa a ser profissional.
Lucas (photo above) was fully immersed throughout the entire weekend. The dedication shown by Grandmaster Leo Imamura to each individual present — with all the patience and commitment required for each person to express themselves consciously, in their own way and in their own time — is always moving. He remains loyal to the work itself and allows each practitioner to draw their own conclusions, from a more favourable position to access the Ving Tsun System.
For me, it is essential to take this conduct as a reference. Upon becoming a Si Fu, if we are not careful, the perception of an audience already inclined to listen to us may cause us to lose our way — and place ourselves, perhaps unknowingly, ahead of the System.
It was then, on Sunday afternoon — after everyone had already left — that, while I was training with Master Senior Monnerat under the supervision of Grandmaster Leo Imamura, Lucas was speaking with Miss Nan in the communal area. Suddenly, he stood up, went to the outer area, picked up a long pole, and began to practise.
Later that same day, we attended a mass together in honour of Si Suk Osse, followed by Dim Sum, during which Lucas was still asking, with great enthusiasm, questions related to the long pole.
What happened between that lack of spirit on that Friday evenning at the Institute and this moment... I honestly cannot say for certain. As we continuously strive to create conditions that allow things to emerge spontaneously, what remains, in the end, is this wonderful result — where the work increasingly transitions from being semi-amateur to truly professional.