terça-feira, 19 de setembro de 2023

The magical hot dog with GM Leo Imamura


Quando comecei a praticar Ving Tsun, pouco tempo depois parecia que todo o Núcleo estava voltado para aspectos de gestão. Naqueles tempos, o Sistema Ving Tsun por si só já era suficientemente exótico para um garoto de 15...16 anos como eu. E vendo tanta energia sendo colocada em melhoria de gestão e profissionalização, tornava tudo incompreensível para mim. Não ter parado de praticar por desmotivação, em parte, foi graças ao meu Si Fu e, em parte, um milagre. Muitos anos depois, eu me encontrava debruçado em uma mureta de um dos estacionamentos da primeira sede do Núcleo Méier, olhando os carros passando em câmera lenta lá na Rua Medina. "Do dia para a noite", quase todos os alunos abandonaram a prática, e sobraram seis. Como eu sabia tão pouco sobre como precificar o trabalho que oferecia, a conta não fechava. Conversava com Si Fu ao telefone, e ao final da conversa percebi algo muito importante: Eu ainda estava brincando de ser Diretor de Núcleo, mesmo um ano depois da sala alugada. Eu usava o tempo livre no Mo Gun para ler livros que não agregavam ao trabalho que eu realizava, apenas para matar o tempo até a chegada dos poucos alunos do horário da noite. Quando na verdade, não estava considerando me preparar melhor para quando um novo ciclo se iniciasse. Porém, minha "brincadeira" não pararia ali no ano de 2012. Apesar de me dedicar mais aos estudos e fazer questão de estar em todos os seminários possíveis nos anos seguintes, a quantidade de alunos subira vertiginosamente, mas minha falta de compreensão de como administrar o Núcleo seguia a mesma. Com isso, fazendo quase que um trabalho de filantropia ao deixar muitos praticantes frequentarem as aulas sem fazer qualquer tipo de acerto, em 2017 fomos obrigados a fechar as portas na Rua Medina. Enquanto assistia a um episódio de uma série com meu discípulo Cayo em meu Notebook, enquanto descansávamos com os últimos itens prontos para serem retirados e a sala entregue. Lembrei-me dos tempos de altas aventuras quando comecei e de todo o foco em gestão. Porém, não me culpei. Eu era jovem demais para entender o valor daquele processo e nada garantia que eu fosse capaz de contribuir com algo se fosse mais velho. Porém, me sentindo um tanto derrotado olhando a sala vazia, permiti-me ter aqueles devaneios.

When I began practicing Ving Tsun, shortly thereafter, it seemed like the entire School was focused on management aspects. In those times, the Ving Tsun System itself was exotic enough for a young lad of 15...16 years old like me. And seeing so much energy being devoted to management improvement and professionalization made it all incomprehensible to me. Not having stopped practicing due to demotivation was partly thanks to my Si Fu and partly a miracle. Many years later, I found myself leaning against a wall in one of the car parks at the first headquarters of the Méier School in wild Meier neighborhood, watching the cars pass in slow motion on Medina Street. 'Almost overnight,' nearly all the students abandoned the practice, and only six remained. Since I knew so little about how to price the work I offered, the math didn't add up. I would talk to Si Fu on the phone, and at the end of the conversation, I realized something very important: I was still playing at being a School Director, even a year after renting the room. I used my free time in Mo Gun to read books that didn't contribute to the work I was doing, just to pass the time until the few evening students arrived. When in fact, I wasn't considering preparing myself better for when a new cycle began. However, my 'play' didn't stop there in 2012. Despite dedicating myself more to studies and making it a point to attend all possible seminars in the following years, the number of students rose steeply, but my lack of understanding of how to manage the school remained the same. Consequently, almost like an act of philanthropy, allowing practitioners to attend classes without making any kind of payment in the face of the first difficulty, in 2017, we were forced to close the doors on Medina Street. While watching an episode of a series with my disciple Cayo on my notebook, as we rested with the last items ready to be removed and the room handed over, I remembered the times of high adventures when I started and all the focus on management. However, I did not blame myself. I was too young to understand the value of that process, and nothing guaranteed that I would be able to contribute anything if I were older. However, feeling somewhat defeated as I looked at the empty room, I allowed myself those reveries.
Me vi sentado em uma praça de Brasília para comer o famoso 'cachorro-quente da igrejinha' com Si Gung, Si Suk Vede e dois dos meus discípulos. Lembro-me bem da primeira vez que comi cachorro-quente na rua, em frente ao Cine Guaraci, no bairro de Rocha Miranda. Cheguei em casa contando ao meu avô como era incrível que tantas coisas pudessem caber em um cachorro-quente... Também fiz muitos lanches com meu Si Fu em lugares incríveis, como quando o levei para beber Tobi no Mercadão de Madureira, enquanto ele estava pelo bairro resolvendo questões pessoais. No entanto, estar sentado ali com o Si Fu do meu Si Fu era, por si só, uma situação completamente inédita para mim.
Si Gung permanecia calado, disponível, mas em silêncio. Ele não costuma dar continuidade a assuntos triviais. Se você tentar três vezes, ele aborda o tema a partir de uma 'Perspectiva Kung Fu' e o relaciona a algum tópico relevante para a preservação do Sistema Ving Tsun. Era o final do dia, no qual ele tinha dedicado toda a sua energia aos 'To Dai' do Mestre Thiago Quintela, mas reservou um tempo para estar comigo, meus discípulos e meu Si Suk sentados ali.
Apesar de não saber como aproveitar melhor aquele momento com meu Si Gung, senti que todos que estavam com ele ali estavam de alguma forma tocados pelas circunstâncias do momento. Simplesmente é impossível, depois de tantos anos, estar com discípulos de diferentes gerações em uma praça quase à meia-noite, se você não ama o que faz. Desde o episódio em que o Núcleo Méier passou a ter apenas seis alunos e quase fechou em 2012, passei a acreditar que tudo diz respeito ao compromisso, mas também estava enganado.

I found myself seated in a square in Brasilia, having the famous 'lil' church's hot dog' with Si Gung, Si Suk Vede, and two of my disciples. I vividly remember when I ate a street hot dog for the first time in front of the Guaraci Cinema in the Rocha Miranda neighborhood. I came home, telling my grandfather how incredible it was to fit so much into a hot dog... I've also had many snacks with my Si Fu in amazing places, like when I took him for a  north zone folk drink at the Madureira Market in North Zone of Rio while he was in the neighborhood dealing with personal matters. However, sitting there with my Si Fu's Si Fu was in itself a completely unprecedented situation for me.
Si Gung remained quiet, available but silent. He doesn't usually continue with trivial matters. If you try three times, he approaches the subject from a 'Kung Fu perspective' and links it to some relevant topic related to the preservation of the Ving Tsun System. It was the end of the day when he had devoted all his energy to the 'To Dai' of Master Thiago Quintela but had set aside some time to be with me, my disciples, and my Si Suk sitting there.
Although I didn't know how to make the most of that moment with my Si Gung, I felt that everyone who was there with him was deeply moved by the circumstances of the moment to some extent. It's simply impossible, after so many years, to be sitting in a square with disciples from different generations  near midnight if you don't love what you do. Since the episode when the Méier School had only six students and almost closed in 2012, I came to believe that it was all about commitment, but I was also mistaken


Foi apenas no final do ano passado que comecei a perceber isso... Sabe, quando achava que tudo girava em torno do compromisso com meu trabalho, eu parecia sempre cansado e tenso. Então passei a ter contato com praticantes da minha faixa etária de diferentes gerações como meus Si Suk Thiago Quintela e Felipe Soares e também com o Gabriel Mendes, que buscam um aprofundamento de entendimento do Sistema Ving Tsun que se comunica bem com o meu momento. É bem especial e inspirador ver pessoas que começaram no mesmo período que você, falando com tanta qualidade sobre o Sistema Ving Tsun.
É verdade que a 'Vida Kung Fu' não pode ser programada, inclusive o seu horário de término. Pois, sentado ali naquela hora da noite, me peguei pensando em quanto ainda me apoio no tempo cronológico para prover experiências.
Por fim, depois desse cachorro-quente tão marcante quanto o primeiro que comi nos anos 80 em Rocha Miranda, lembrei que já estou prestes a completar 40 anos de idade. O que fiz com o tempo que dediquei desde os 15, não dá para saber muito bem. Porém, espero poder manter a energia suficiente para um dia estar sentado não só com discípulos de diferentes gerações, mas também com alunos iniciantes tendo a determinação para nada falar e esperar que a abordagem correta aconteça. Com ou sem um Mo Gun. E talvez eu nunca chegue lá, mas se apenas me disponibilizar para o processo de tentar com um espírito de iniciante, quem sabe?

It was only at the end of last year that I began to realize this... You know, when I used to think that everything revolved around my commitment to my work, I always seemed tired and tense. Then I started to have contact with practitioners of my age group from different generations, such as my Si Suk Thiago Quintela and Felipe Soares, and also Gabriel Mendes, who seek a deeper understanding of the Ving Tsun System that resonates well with my current phase. It's quite special and inspiring to see people who started at the same time as you, speaking with such quality about the Ving Tsun System.
It's true that a 'Kung Fu Life' cannot be programmed, including its ending time. Because, sitting there at that late hour, I found myself thinking about how much I still rely on chronological time to provide experiences.
Finally, after that hot dog, as memorable as the first one I had in the 80s in Rocha Miranda, I remembered that I'm about to turn 40 years old. What I did with the time I dedicated since I was 15, it's hard to say. However, I hope to maintain enough energy to one day be seated not only with disciples from different generations but also with beginner students, having the determination to say nothing and wait for the right approach to happen. With or without a Mo Gun. And maybe I'll never get there, but if I simply make myself available for the process of trying with a beginner's spirit, who knows?

The Disciple of Master Julio Camacho
Thiago Pereira "Moy Fat Lei"
moyfatlei.myvt@Gmail.com