quarta-feira, 27 de outubro de 2021

THE MOTION MEDITATION: AN ESSAY ON BAAT JAAM DO [八斬刀]


Existe uma história que ouvi do Si Fu certa vez: Um grupo de monges budistas fazia uma oração durante a noite diante de uma estátua de buda feita de madeira. Com o passar das horas, o vento frio aumentava. O monge mais antigo ateou fogo na estátua, formando uma fogueira e aquecendo os monges do frio. 
Ao ouvir essa história, entendi que ela se tratava de trabalharmos não ter apego as coisas. A estátua estava servindo a um propósito, porém assim que a circunstancia mudou, seu uso foi ajustado. Isso me lembrou do ideograma Nim [念] como em [Siu Nim Tau]. Pois sempre interpretei o Nim[念] como “Manter a mente no presente” ou ainda “Manter o coração atualizado”.
Mais tarde, ouvi uma outra história, na qual um monge mais velho e um mais novo caminhavam por uma estrada dentre campos de arrozais quando começou a cair um forte temporal. Sua ordem monástica não lhes permitia ter nenhum tipo de contato físico com mulheres. Porém quando o monge mais velho viu uma menina sem conseguir atravessar um grande lamaçal, ofereceu a ela suas costas, e ajudou ela a atravessar lhe carregando. O monge mais novo ficou estarrecido. A menina então desceu e agradeceu ao monge mais velho. Ambos os monges então seguiram seu caminho. Alguns quilômetros a frente, o monge mais novo finalmente questiona:  “O senhor sabia que não podemos tocar em mulheres, mas mesmo assim  a carregou! Por que?” - O monge mais velho apenas respondeu:  “ De fato eu a carreguei, mas a devolvi ao chão logo em seguida. Você por outro lado, continua carregando ela até agora...” - O monge mais novo percebeu seu erro e se calou. Isso para mim, corresponde ao ideograma Nim [念] enquanto “Manter o coração atualizado”.

There is a story I heard from Si Fu once: A group of Buddhist monks prayed at night in front of a wooden Buddha statue. As the hours passed, the cold wind increased. The oldest monk set fire to the statue, building a fire and warming the monks from the cold.
Upon hearing this story, I understood that it was about working not to be attached to things. The statue was serving a purpose, but as the circumstances changed, its use was adjusted. It reminded me of the character Nim [念] as in [Siu Nim Tau]. Because I always interpreted Nim[念] as “Keep the mind in the present” or even “Keep the heart refreshed”.
Later, I heard another story, in which an older and a younger monk were walking along a road through rice fields when a heavy storm began to fall. Their monastic order did not allow them to have any kind of physical contact with women. But when the eldest monk saw a little girl unable to cross a great mud, he offered her his back, and helped her across by carrying her. The younger monk was appalled. The girl then  thanked the older monk. Both monks then went on their way. A few kilometers ahead, the younger monk finally questions: “You knew we can't touch women, but you carried her anyway! Why?" - The eldest monk just replied: “In fact I carried her, but I returned her to the ground right away. You, on the other hand, continue carrying her until now...” - The younger monk realized his mistake and was silent. This, for me, corresponds to the ideogram Nim [念] as “Keep your heart refreshed”.

Comecei a praticar  Baat Jaam Do  [八斬刀] em Julho de 2008. Naqueles tempos, não sabia que o Do 刀[ou “facas”] era um par de facas que tinham um design como se uma única faca tivesse sido dividida ao meio. Alguns anos depois, meu Si Fu escreveu em um guardanapos para mim, enquanto tomávamos sopa -“Duas facas, um movimento”.  Então de repente é como se ao mover uma faca, a outra precisasse fazer um movimento complementar correspondente ao da primeira. E isso sempre foi muito difícil... Percebi com o tempo, que focava todas as minhas energias apenas em uma das mãos, “ligando” a outra, apenas quando a ação dela era evidente. Isso começou a se manifestar no manejo das facas, pois não conseguia manter a mente em ambas simultaneamente. Por “mente” me refiro ao ideograma de “coração”[Sam 心] já que ele também serve para “mente”. Então é como se não conseguisse estar com o “coração”[Sam 心] aonde deveria. E por conta dos movimentos de uma sequencia serem engendrados de maneira que o anterior promova o seguinte, você não tem tempo de se lamentar... Ou você está presente ou não. Meu Si Fu chamou isso certa vez de “meditação em movimento”.

I started practicing Baat Jaam Do [八斬刀] in July 2008. Back then, I didn't know that Do 刀[or “knives”] was a pair of knives that had a design as if a single knife had been split in half . A few years later, my Si Fu wrote on a napkin to me while we were having soup - "Two Knives, One Move." So suddenly it's as if when moving one knife, the other needed to make a complementary movement corresponding to the first one. And this was always very difficult... I realized over time, that I focused all my energies on just one hand, “turning on” the other, only when its action was evident. This began to manifest itself in the handling of the knives, as I couldn't keep my mind on both simultaneously. By “mind” I mean the ideogram for “heart” [Sam 心] as it also serves for “mind”. So it's like I can't get the “heart” [Sam 心] where it should. And because the movements of a sequence are engendered in a way that the previous one promotes the next, you don't have time to complain... You're either present or not. My Si Fu once called it "meditation in motion."

Com isso, não estou dizendo que não possua a habilidade de me expressar com as facas. Acontece que existem outros níveis mais profundos de entendimento, que gostaria de acessar através dos dispositivos corporais. Por isso, uma simples prática pode ser devastadora quando não conseguimos a cada movimento, “Manter o coração atualizado”. Como se isso não bastasse, diferente do boneco de madeira e do bastão, sendo as facas muito mais sujeitas a seguir a grosseria de um movimento pouco refinado. Me mostra sempre o quanto ainda coloco um excesso de vontade nos movimentos. O boneco de madeira fica preso a parede, o bastão é grande e pesado... Mas as facas, são mais fáceis de serem desrespeitadas. Portanto, se você não criar a tendência do movimento adequadamente ao apontar as facas e seguir sua linha de corte com potencial de perfurar. Você poderá estar fazendo apenas um movimento “Vazio”. E ao final de tudo, é quando você pode correr o risco de ficar apegado ao erro, e assim como o monge mais novo na história da chuva que contei no início do texto. Ficar preso ao que já foi... 

By that, I'm not saying I don't have the ability to express myself with knives. It turns out that there are other deeper levels of understanding that I would like to access through bodily devices. That's why a simple practice can be devastating when we don't get every move, “Keep your heart  refreshed”. As if that weren't enough, unlike the wooden dummy and the long pole, knives are much more likely to follow the unrefined movements. Always show me how much I still put an excess of will into the movements. The wooden dummy is attached to the wall, the long pole is big and heavy... But knives are easier to be disrespected. Therefore, if you do not properly bias the movement by aiming the knives and following its cutting line with the potential to pierce. You may only be making an "Empty" move. And at the end of it all, when you can run the risk of becoming attached to error, and just like the youngest monk in the story of the rain I told you about at the beginning of the article: Getting stuck with what has been...



The Disciple of Master Julio Camacho
Thiago Pereira “Moy Fat Lei”
moyfatlei.myvt@gmail.com