BY
THIAGO PEREIRA
Agora já por mais de uma década, a MARVEL STUDIOS conseguiu uma legião de fãs ao redor do mundo, que valorizam bastante cada novo lançamento. Graças ao trabalho sempre feito com esmero e muita inteligencia e visão,a MARVEL STUDIOS conseguiu a confiança dos fãs. Com isso, mesmo títulos um tanto quanto obscuros para o grande público, sempre criam grande expectativa de ser a nova grande surpresa, como no caso de “Guardiões da Galáxia”[2014] e até mesmo do próprio “Homem de Ferro”[2008].
Então “Shang-Chi e a lenda dos dez anéis” já causa comoção entre fãs da MARVEL, antigos fãs dos quadrinhos, e até mesmo, os fãs dos filmes chineses de artes marciais. E foi por isso, que convidamos o Grão-Mestre Leo Imamura, que tem 50 anos de vida dedicados as artes marciais, para comentar detalhes da época em que lia os quadrinhos de “Shang-Chi” e de curiosidades muito importantes do cinema chinês e desta cultura ainda tão misteriosa para o ocidente....
Now for more than a decade, MARVEL STUDIOS has achieved a legion of fans around the world, who highly value each new release. Thanks to the work always done with care and a lot of intelligence and vision, MARVEL STUDIOS has gained the confidence of its fans. With that, even a somewhat obscure title for the general public, always create great expectations of being a new big surprise, as in the case of "Guardians of the Galaxy" [2014] and even "Iron Man" [2008] .
So “Shang-Chi and the legend of the ten rings” is already causing a stir among MARVEL fans, former comic book fans, and even fans of Chinese martial arts movies. And that's why we invited Grandmaster Leo Imamura, who has 50 years of life dedicated to the martial arts, to comment on details of the time he was reading “Shang-Chi” comics and very important curiosities of Chinese cinema and of this culture still so mysterious to the West....
1- INSIDE VING TSUN - GM Léo, o senhor pode falar um pouco sobre quem é o senhor e sua história com as artes marciais?
GM LEO - Meu nome é Leo Imamura, pratico artes marciais a cinquenta anos. Meu interesse principal é o Sistema Ving Tsun. Fui introduzido a esse Sistema pelo Grão-Mestre Li Hon Ki[1952-2016] e tive a honra de ser discípulo do Patriarca Moy Yat [ 1938-2001] que por sua vez, foi discípulo direto do Patriarca Ip Man [1893-1972].
1- INSIDE VING TSUN - GM Léo, can you talk a little about who you are and your history with the martial arts?
GM LEO - My name is Leo Imamura, I practice martial arts for fifty years. My main interest is the Ving Tsun System. I was introduced to this System by Grand Master Li Hon Ki[1952-2016] and had the honor of being a disciple of Patriarch Moy Yat [1938-2001] who in turn was a direct disciple of Patriarch Ip Man [1893-1972] .
2- INSIDE VING TSUN - Por qual razão o senhor gostava do personagem “Shang-Chi”? O senhor lembra da sua história favorita ?
GM LEO - Curioso porque o personagem Shang-Chi, que quando criança eu chamava de “Shang-Shi”. Eu conhecia como “O mestre do Kung Fu”. As feições dele, lembravam muito as do Bruce Lee. Nos quadrinhos, sempre tinha alguma referencia aos movimentos de “Kung Fu”, e eu gostava muito, pois já tinha iniciado minha jornada nas artes marciais.
Eu já tinha contato com o “Kung Fu”, através da série homônima estrelada por David Carradine[1936-2009]. Porém, para mim o mais interessante não era a história, eram os movimentos do Shang-Chi e tudo aquilo que vinha agregado e que lembrava uma prática de “Kung Fu”.
Observe a precariedade, pois para que pudéssemos nos aproximar do meio do Kung Fu, nós precisávamos adentrar o mundo de fantasia das histórias em quadrinhos.
Então precisamos identificar a grande diferença que existe nos dias de hoje, com relação ao passado. Porém, ainda existe uma certa semelhança... Pois ainda que as pessoas tenham hoje muito mais informações e elementos de aproximação, continuam ainda distantes do mundo do Kung Fu de alguma maneira. Então, como profissionais de artes marciais, isso é algo que deveríamos refletir.
2- INSIDE VING TSUN - Why did you like the character “Shang-Chi”? Do you remember your favorite story?
GM LEO - Curious because the character Shang-Chi, who as a child I called “Shang-Shi”. I knew him as “The Kung Fu Master”. His features were very reminiscent of Bruce Lee. In the comics, there was always some reference to “Kung Fu” movements, and I liked it a lot, as I had already started my journey in martial arts.
I already had contact with “Kung Fu”, through the homonymous series starring David Carradine[1936-2009]. However, for me the most interesting thing wasn't the story, it was the Shang-Chi movements and everything that came together and that reminded me of a “Kung Fu” practice.
Note the precariousness, because in order for us to get closer to the world of Kung Fu, we needed to step into the fantasy world of comic books.
So we need to identify the big difference that exists today, in relation to the past. However, there is still a certain similarity... Because even though people today have much more information and approach elements, they are still distant from the world of Kung Fu in some way. So, as martial arts professionals, this is something that we should think about.
[Cena do filme considerado o melhor filme de Kung Fu de todos os tempos: “Herói”,2002. Filme que estrela Jet Li, Donnie Yen, Tony Leung, Zhang Zhi Yi e Maggie Cheung. E que foi concebido pelo genial cineasta chamado Zhang Yi Mou]
[Scene from the movie considered the best Kung Fu movie of all time: “Hero”, 2002. Film starring Jet Li, Donnie Yen, Tony Leung, Zhang Zhi Yi and Maggie Cheung. And that was conceived by the genius filmmaker named Zhang Yi Mou]
3- INSIDE VING TSUN - Muito se fala atualmente em “multiverso”, quando se trata de filmes de super heróis. O que poucos sabem, é que na literatura chinesa existe um universo comum a todos os “heróis” chamado “Rios e Lagos” (Jiang Hu). O senhor pode falar um pouco desse conceito de um mundo comum a todos os heróis?
GM LEO - “Jiang Hu”[江湖] é o que podemos chamar de “Mundo do Kung Fu”. Porque é onde os heróis se encontram, ou seja, aqueles que buscam a excelência. E lá, existe uma maneira de ver as coisas...Uma perspectiva de ver as coisas... Muito diferente da forma que nós vemos no mundo comum..
E a razão de se chamar “Jiang Hu”[江湖], é porque “Jiang”[江] que significa “rio” faz referencia a fluidez. O “rio” não se estagna , diferente de como nós percebemos as coisas muitas vezes, “congeladas” dentro do intelecto. Por isso nesse contexto, o intelecto tem uma dinâmica muito diferente daquela que estamos acostumados. Porém, ao mesmo tempo há uma necessidade de serenidade e reflexão representada pelo “Lago” [ “Hu” 湖]. Então, ao mesmo tempo que existe um dinamismo, há uma necessidade de reflexão.
Por isso, quando temos esse tipo de simbologia, ao citarmos os “Mou Hap”[武俠] ou “Heróis marciais”. Estamos falando de outros tipos de “heroísmo” que serão identificados nesta realidade. São heroísmos de reflexão, heroísmos para com a vida. Ou seja, a excelência para com a vida.
Isso não significa, que estejamos falando de um mundo “marginal” a sociedade convencional... Não é isso. Ele é um mundo no qual podemos nos identificar e conviver com a sociedade convencional, mas ao mesmo tempo, termos capacidade de saber como viver uma vida mais rica. Saber como viver a nossa vida.
3- INSIDE VING TSUN - There is a lot of talk these days about “multiverse” when it comes to superhero movies. What few people know is that in Chinese literature there is a universe common to all “heroes” called “Rivers and Lakes” (Jiang Hu). Can you talk a little about this concept of a world common to all heroes?
GM LEO - “Jiang Hu”[江湖] is what we can call the “Kung Fu World”. Because that's where heroes meet, that is, those who strive for excellence. And there, there is a way of looking at things... A perspective of looking at things... Very different from the way we see things in the common world...
And the reason for calling it “Jiang Hu”[江湖] is because “Jiang”[江] which means “river” refers to fluidity. The “river” does not stagnate, unlike how we often perceive things, “frozen” within the intellect. So in this context, the intellect has a very different dynamic from what we are used to. However, at the same time there is a need for serenity and reflection represented by the “Lake” [“Hu” 湖]. So, while there is a dynamism, there is a need for reflection.
Therefore, when we have this type of symbology, when we mention the “Mou Hap”[武俠] or “Martial Heroes”. We are talking about other types of “heroism” that will be identified in this reality. They are heroisms of reflection, heroisms towards life. In other words, excellence in life.
This does not mean that we are talking about a world "marginal" to conventional society... It's not that. It is a world in which we can identify and live with conventional society, but at the same time, we are able to know how to live a richer life. Knowing how to live our life.
“...Quando observamos esses 'voos', e aqui eu quero colocar a palavra entre aspas. Podemos entender que se tratam de uma expansão das habilidades naturais que um ser humano possui. Eles não estão lá para romper com a realidade, mas para expandir a realidade..”
[GM LEO IMAMURA]
“...When we look at these 'flights', and here I want to put the word in quotation marks. We can understand that these are an expansion of the natural abilities that a human being has. They are not there to break with reality, but to expand reality...”
[GM LEO IMAMURA]
4- INSIDE VING TSUN -Quando “O tigre e o dragão”[2000] foi lançado nos cinemas, o grande público teve contato com a capacidade de voo dos personagens. O senhor poderia explicar o que isso representa e como se diferencia do voo dos heróis ocidentais? Além disso, tem algo a ver com o processo de “Transformação Silenciosa”?
GM LEO - Quando observamos esses “voos”, e aqui eu quero colocar a palavra entre aspas. Podemos entender que se tratam de uma expansão das habilidades naturais que um ser humano possui. Eles não estão lá para romper com a realidade, mas para expandir a realidade. Dai a importância de identificarmos neste símbolo, a importância do praticante de artes marciais, saber lidar com seus recursos internos. Pois são esses recursos internos, que irão prover a possibilidade de nos utilizarmos dos recursos externos. E a partir daí, podermos realizar coisas de grande raridade e de grande dificuldade para as pessoas comuns, que serão simbolizadas principalmente na literatura “Wu Xia”[武俠]. Que foi de onde se inspirou toda a narrativa existente no filme “O tigre e o dragão”[2000], e que nos ajuda a entender porque esses artistas marciais ficcionais fazem feitos excepcionais.
Porém, quando levamos essa ideia para os artistas marciais reais, vamos observar que são ações sutis. São ações comuns, mas que trazem grande impacto, conforme são simbolizadas nesses romances.
4- INSIDE VING TSUN -When “Crouching Tiger, Hidden Dragon”[2000] was released in theaters, the general public had contact with the characters' ability to fly. Could you explain what this represents and how it differs from the flight of Western heroes? Also, does it have anything to do with the “Silent Transformation” process?
GM LEO - When we observe these “flights”, and here I want to put the word in quotes. We can understand that these are an expansion of the natural abilities that a human being has. They are not there to break with reality, but to expand reality. Hence the importance of identifying in this symbol, the importance of the practitioner of martial arts, knowing how to deal with their internal resources. Because it is these internal resources that will provide the possibility for us to use external resources. And from there, we can do things that are very rare and very difficult for common people, which will be symbolized mainly in the literature “Wu Xia”[武俠]. Which is where all the existing narrative in the movie “Crouching Tiger, Hidden Dragon”[2000] was inspired, and which helps us to understand why these fictional martial artists do exceptional things.
However, when we take this idea to real martial artists, let's note that they are subtle actions. These are common actions, but they have great impact, as they are symbolized in these novels.
[Bruce Lee, responsável direto pela popularização do Kung Fu
em todo o planeta a partir da década de '70, com a chegada de seus filmes ao ocidente]
[Bruce Lee, directly responsible for popularizing Kung Fu
around the planet in the '70s, with the arrival of his films in the West]
“...Podemos entender o Kung Fu no cinema como uma fantasia necessária para aquilo que não pode ser compreendido pelo senso comum...”
[GM LEO IMAMURA]
“...We can understand Kung Fu in cinema as a necessary fantasy for what cannot be understood by common sense...”
[GM LEO IMAMURA]
6- INSIDE VING TSUN -No artigo do Prof. Ni no NY Times (Kung Fu for Philosophers). Ele fala sobre como o cinema ajudou a divulgar as artes marciais chinesas, mas como também contribuiu com uma ideia fantástica que não condiz com uma visão ampla de “Kung Fu”. O senhor poderia compartilhar sobre o que acha dessa apresentação da cultura chinesa como algo fantástico e do que podemos entender por “Kung Fu”?
GM LEO - Isso depende muito da maneira pela qual olhamos o que seria “fantástico”. Pois diferente de algo “transcendental”, segundo o Professor François Jullien [Professor da Universidade de Paris VII e diretor do Instituto do Pensamento Contemporâneo e do Centro Marcel-Granet. É também membro senior do Instituto Universitário da França], nós temos uma perspectiva de imanência ao “fantástico”. Com isso, nós podemos perfeitamente entender o Kung Fu no cinema como uma fantasia necessária para aquilo que não pode ser compreendido pelo senso comum.
Nós vemos isso em vários sentidos para que possamos reproduzir em uma determinada linguagem, que é a linguagem cinematográfica, aquilo que possa vir a escapar a percepção do senso comum.
O que acontece é que muitas vezes a pessoa desavisada, vai querer reproduzir a fantasia do cinema no mundo real. Porém, acho que já evoluímos bastante para percebermos as diferentes distinções entre uma linguagem cinematográfica e o que acontece no mundo real. E ao fazermos essas distinções, poderemos ver também ver as diferentes possibilidades que o mundo real nos oferece, mas que aqui eu quero colocar entre aspas o “senso de realidade” acaba também nos impedindo de levar essas possibilidades em consideração.
6- INSIDE VING TSUN -In the article by Prof. Ni at the NY Times (Kung Fu for Philosophers). He talks about how cinema helped to spread the Chinese martial arts, but also contributed with a fantastic idea that doesn't fit with a broad vision of “Kung Fu”. Could you share what you think of this presentation of Chinese culture as something fantastic and what we can understand by “Kung Fu”?
GM LEO - That depends a lot on the way we look at what would be “fantastic”. Well, different from something “transcendental”, according to Professor François Jullien [Professor at the University Paris VII and director of the Institute of Contemporary Thought and the Marcel-Granet Center. He is also a senior member of the University Institute of France], we have a perspective of immanence to the “fantastic”. With that, we can perfectly understand Kung Fu in cinema as a necessary fantasy for what cannot be understood by common sense.
We see this in several senses so that we can reproduce in a certain language, which is the cinematographic language, what may come to escape the perception of common sense.
What happens is that often the unsuspecting person will want to reproduce the fantasy of cinema in the real world. However, I think we've come a long way to understand the different distinctions between a cinematic language and what happens in the real world. And when we make these distinctions, we will also be able to see the different possibilities that the real world offers us, but here I want to put in quotes the “sense of reality” also ends up preventing us from taking these possibilities into consideration.
Professor François Jullien [Professor da Universidade de Paris VII e
diretor do Instituto do Pensamento Contemporâneo e do Centro Marcel-Granet.
É também membro senior do Instituto Universitário da França]
Professor François Jullien [Professor at the University of Paris VII and
director of the Marcel-Granet Center.
He is also a senior member of the French University Institute]
5- INSIDE VING TSUN - Quando falamos em “Mo Lam”[武林], ele seria um paralelo ao que “Jiang Hu”[江湖] é na literatura ? Além disso, o senhor poderia falar do que o Prof Francois Jullien chamou de “sociedade imanente”?
GM LEO - O “Mo Lam”[武林] é uma sociedade de fundo que movimenta a sociedade convencional, mas ao mesmo tempo é uma sociedade pouco identificável. A partir do momento que esta sociedade trabalha com o que chamamos de “transformações silenciosas”. Por isso, o que se passa nesta sociedade de fundo chamada “Mo Lam”[武林] , tem muito mais a ver com estruturas internas, onde a coerência profunda é muito importante para que possamos compreender ou aceitar coisas que aparentemente são incoerentes dentro de uma sociedade convencional, mas que através do convívio ou do entendimento do “Mo Lam”[武林] . Lhe é permitida uma melhor capacidade de ajuste, de adaptação ou simplesmente uma melhor capacidade de extrair benefício das situações. Pois você vai ter uma outra perspectiva de visão, uma outra lente para enxergar aquilo que está acontecendo.
5- INSIDE VING TSUN - When we talk about “Mo Lam”[武林], would it be a parallel to what “Jiang Hu”[江湖] is in the literature? Furthermore, could you speak of what Prof Francois Jullien called “immanent society”?
GM LEO - The “Mo Lam”[武林] is a fund society that moves the conventional society, but at the same time it is a barely identifiable society. From the moment that this society works with what we call “silent transformations”. Therefore, what happens in this background society called “Mo Lam”[武林] has much more to do with internal structures, where deep coherence is very important for us to understand or accept things that are apparently inconsistent within a conventional society, but through the coexistence or understanding of “Mo Lam”[武林] . You are allowed a better ability to adjust, adapt or simply a better ability to extract benefit from situations. Because you will have another perspective of vision, another lens to see what is happening.
[Grão-Mestre Leo Imamura tem dedicado cinquenta anos
ininterruptos de sua vida as artes marciais]
[Grandmaster Leo Imamura has dedicated fifty years
of his life the martial arts]
“...E da mesma forma, se nós quisermos construir algo para daqui a vinte anos, precisamos pensar nisso hoje. E infelizmente, as pessoas não tem maturidade para enxergar isso. Os que tiverem, terão daqui a vinte anos uma condição privilegiada...” [GM LEO IMAMURA]
“…And by the same token, if we want to build something twenty years from now, we need to think about it today. And unfortunately, people don't have the maturity to see this. Those who do will have a privileged status in twenty years from now...” [GM LEO IMAMURA]
7- INSIDE VING TSUN -O senhor poderia explicar o conceito de “herói cultural” e da importância da transmissão oral para a preservação de um legado? Além disso, por ocasião do lançamento de “O Tigre e o Dragão”, o senhor escreveu um artigo para a KIAI na época chamado: “A tradição como processo de inovação”. O senhor pode aproveitar e explicar como podemos entender esse título 20 anos depois?
GM LEO - Bem a expressão “herói cultural”, foi cunhada pelo Professor Roger T. Ames [co-diretor do Programa do Centro de Desenvolvimento de Estudos Asiáticos da Universidade do Havaí]. Este termo diz respeito a importância dos ancestrais como pessoas exemplares, que alcançaram simbolicamente a excelência naquilo que pessoas estão buscando e passam a servir de referencia para todos nós. E nesse sentido, nós podemos associar ao artigo da querida revista KIAI, no qual eu falava sobre a importância da tradição ser um processo de inovação. Ou quem sabe ao contrário: A inovação ser um processo de tradição. E isso continua sendo cada vez mais válido, porque a inovação hoje não é mais exceção, ela é regra. E com isso , nós conseguimos validar o que anunciamos vinte anos atrás.
E se hoje temos situações dentro da Família Kung Fu que lidero, ou mais amplas, como no próprio mercado. Decorrem disso que nós vimos vinte anos atrás. E da mesma forma, se nós quisermos construir algo para daqui a vinte anos, precisamos pensar nisso hoje. E infelizmente, as pessoas não tem maturidade para enxergar isso. Os que tiverem, terão daqui a vinte anos uma condição privilegiada. Para tanto, precisam entender melhor a importancia da inovação ser uma tradição. O sentido de inovação deve estar presente a cada geração. E esse entendimento é fundamental, para que com isso nós possamos construir, toda uma riqueza com relação ao legado. O legado, é algo muito maior do que o ser humano e por isso nós não conseguimos que em uma vida humana, isso seja possível de ser alcançado. Ele é comparável a construção de um país...De uma cultura... São necessárias, várias gerações para que se possa ser consolidado.
7- INSIDE VING TSUN - Could you explain the concept of “cultural hero” and the importance of oral transmission for the preservation of a legacy? Also, on the occasion of the release of “The Tiger and the Dragon”, you wrote an article for KIAI at the time called: “Tradition as a process of innovation”. Can you take the opportunity and explain how we can understand this title 20 years later?
GM LEO - Well, the term “cultural hero” was coined by Professor Roger T. Ames [co-director of the Asian Studies Development Center Program at the University of Hawaii]. This term refers to the importance of ancestors as exemplary people, who symbolically achieved excellence in what people are looking for and start to serve as a reference for all of us. And in this sense, we can associate it with the article in the dear brazilian KIAI magazine, in which I spoke about the importance of tradition being a process of innovation. Or maybe the opposite: Innovation is a process of tradition. And this continues to be more and more valid, because innovation today is no longer the exception, it is the rule. And with that, we were able to validate what we announced twenty years ago.
And if today we have situations within the Kung Fu Family that I lead, or broader ones, such as in the market itself. They follow from what we saw twenty years ago. And in the same way, if we want to build something twenty years from now, we need to think about it today. And unfortunately, people don't have the maturity to see this. Those who do will have a privileged status in twenty years. To do so, they need to better understand the importance of innovation being a tradition. The sense of innovation must be present in every generation. And this understanding is fundamental, so that with this we can build a wealth in relation to the legacy. The legacy is something much bigger than the human being and that's why we can't manage that in a human life, this is possible to be achieved. It is comparable to building a country... A culture... It takes several generations for it to be consolidated.
[Tony Leung Chiu-wai, com os anéis, é um ator e cantor chinês. Ele foi o
vencedor do prêmio de melhor ator do Festival de Cannes
por seu papel em Amor à Flor da Pele e será o pai de Shang-Chi.]
[Tony Leung Chiu-wai, with the rings, is a Chinese actor and singer. he was the
winner of the Cannes Film Festival best actor award
and will be the father Shang-Chi.]
8- INSIDE VING TSUN -Para encerrar, o vilão do filme “Shang-Chi” será interpretado pelo ator Tony Leung. Ele também interpretou o ancestral do estilo Ving Tsun, Patriarca Ip Man no filme “The Grandmasters”[2013] de Wong Kar Wai. Este filme foi escrito pelo cineasta Xu Haofeng. O senhor poderia falar da importância de Xu Haofeng para a ressignificação do grande público, a respeito de uma visão ampla do Kung Fu no cinema?
GM LEO - Acontece que o Mestre Xu Hao Feng ele é um grande historiador e pesquisador com relação as questões do Kung Fu. E o diretor Wong Kar Wai, por ser muito sério em todos os seus empreendimentos, ele contatou Xu Hao Feng para que pudesse dar fundamento ao roteiro que ele por ventura iria escrever sobre o Patriarca Ip Man.
Durante a pesquisa feita por Wong Kar Wai , ele identificou uma quantidade muito significativa de Grão-Mestres que suplantava e que também tinham destaque, assim como o Patriarca Ip Man. Então suplantava o que? O comum. Então Wong Kar Wai, viu que seria interessante prestar uma homenagem, não só ao Sistema Ving Tsun, mas também ao Bai Ji , ao Ba Gua, ao Xing Yi... Que são grandes estilos e que portanto são muito valorizados dentro da China. E foi por isso mesmo que nós temos diferentes versões de título para este filme, sendo a versão de Hong Kong, mas aproximada do título “The Grandmasters”.
O diretor Xu Hao Feng então se esmera em tentar mostrar alguma visão sobre o que seria o “Mo Lam”[武林]. Talvez o filme pudesse ter sido mais palatável para o publico em geral, mas ele tem elementos muito típicos do “Mo Lam”[武林]. Porém, o que o leigo muitas vezes entende, é que no “Mo Lam”[武林] todo mundo acaba enganando um ao outro, o que não é verdade. Existe uma outra situação a ser colocada, que é a ideia de saber contrariar o consenso, como já nos dizia o general Sun Zi [conhecido como Sun Tzu].
8- INSIDE VING TSUN -In closing, the villain of the movie “Shang-Chi” will be played by actor Tony Leung. He also played Ving Tsun-style ancestor Patriarch Ip Man in Wong Kar Wai's movie “The Grandmasters”[2013]. This movie was written by filmmaker Xu Haofeng. Could you talk about the importance of Xu Haofeng for the redefinition of the general public, regarding a broad vision of Kung Fu in cinema?
GM LEO - It turns out that Master Xu Hao Feng is a great historian and researcher regarding Kung Fu issues. And director Wong Kar Wai, being very serious in all his endeavors, he contacted Xu Hao Feng so that he could lay the groundwork for the screenplay he was going to write about Patriarch Ip Man.
During the research done by Wong Kar Wai, he identified a very significant number of Grand Masters that supplanted and who were also prominent, as well as Patriarch Ip Man. So what supplanted? The common. So Wong Kar Wai saw that it would be interesting to pay homage not only to the Ving Tsun System, but also to Bai Ji, Ba Gua, Xing Yi... which are great styles and therefore highly valued within China. And that's why we have different title versions for this movie, being the Hong Kong version, but closer to the title “The Grandmasters”.
Director Xu Hao Feng then takes great study to try to show some vision about what would be “Mo Lam”[武林]. Perhaps the movie could have been more palatable to the general public, but it has very typical “Mo Lam”[武林] elements. However, what the layman often understands is that in “Mo Lam”[武林] everyone ends up deceiving each other, which is not true. There is another situation to be raised, which is the idea of knowing how to contradict the consensus, as General Sun Zi [known as Sun Tzu] told us.
[Grão-Mestre Leo Imamura que apareceu bastante em revistas especializadas e na TV nos anos '90.
Agora tem seu próprio canal de Youtube chamado
KUNG FU LIFE].
[Grandmaster Leo Imamura who appeared a lot in specialized magazines and on TV in the '90s.
INSIDE VING TSUN - Uma pergunta extra: O senhor poderia falar um pouco sobre o trabalho que vem promovendo no YouTube e sobre o curso que está conduzindo sobre o “Ving Tsun Kuen Kuit”?
GM LEO - A coleção “Ving Tsun Kuen Kuit” é uma coleção muito importante, porque o Patriarca Moy Yat ele selcionou 51 carimbos de pedra, onde foi possível colocar importantes “Kuen Kuit” estrategicamente selecionados. Então porque de tantos “Kuen Kuit” ele escolheu especificamente alguns deles? Então é aí que entra o nosso trabalho de organizá-los, para que as pessoas possam entende-lo. Primeiro, sobre como é que a arte plástica, arte do carimbo, a arte da inscultura, etc... Podem ajudar as artes marciais e seu entendimento.
Então, estamos falando de um curso que é de interesse não só de pessoas que praticam artes marciais mas também, aquelas que tem interesse em saber o que é viver uma vida com excelência e suas sutilezas.
Para um descendente do Patriarca Moy Yat, isso é uma obrigação. É um estudo importantíssimo, pois ele faz algumas escolhas que elas são imprescindíveis de serem observadas por seus descendentes. Para que com isso, eles possam usufruir de maneira apropriada daquilo que se chama “Ving Tsun Kuen Kuit”. E que inclusive, foi mencionado no filme “Ip Man”[2008] de Wilson Yip estrelando Donnie Yen.
INSIDE VING TSUN - An extra question: Could you talk a little about the work you have been promoting on YouTube and the course you are conducting on the “Ving Tsun Kuen Kuit”?
GM LEO - The collection “Ving Tsun Kuen Kuit” is a very important collection, because Patriarch Moy Yat selected 51 stone stamps, where it was possible to place important “Kuen Kuit” strategically selected. So why out of so many “Kuen Kuit” did he specifically choose some of them? So that's where our job of organizing them comes in, so that people can understand it. First, about how plastic art, seal art, sculpture art, etc... can help martial arts and your understanding.
So, we are talking about a course that is of interest not only to people who practice martial arts but also those who are interested in knowing what it is to live a life with excellence and its subtleties.
For a descendant of Patriarch Moy Yat, this is a must. It is a very important study, as he makes some choices that are essential for his descendants to observe. So that with this, they can properly enjoy what is called “Ving Tsun Kuen Kuit”. And that was even mentioned in Wilson Yip's “Ip Man” [2008] starring Donnie Yen.
Para quem quiser saber mais ou se inscrever no curso, basta clicar AQUI. A Inside Ving Tsun agradece ao Grão-Mestre Leo Imamura...
“Shang-Chi - E a lenda dos dez anéis” estreia nos cinemas brasileiros em 2 de Setembro.
For those who want to know more or register for the course, just click HERE. Inside Ving Tsun thanks Grandmaster Leo Imamura...
“Shang-Chi - And the legend of the ten rings” opens in Brazilian cinemas on September 2nd.