Apoie o Blog!

[詠春武林中外]

quarta-feira, 22 de outubro de 2025

A busca pela Transmissão Qualificada por Nathan de Assis

 

Texto por Nathan de Assis
(To Dai do Mestre Pereira e membro do 
Nível Básico do Programa de Salvaguarda)


 Há cerca de um ano, acompanharia meu Si Fu em uma entrevista com uma pessoa interessada em 
praticar o Sistema Ving Tsun em nosso Polo de Acesso situado no bairro do Méier. Naquela época, eu ainda era praticante do  Programa Ving Tsun Experience e não havia ingressado na Família Kung Fu. Nos reunimos na cafeteria favorita do Si Fu (Thiago Pereira) no centro do Rio, onde aconteceria a entrevista. Porém, ela nunca chegou a ocorrer, pois a pessoa interessada não conseguiu comparecer.

 Enquanto ainda aguardávamos, Si Fu aproveitou para conversar comigo sobre minha jornada. Em determinado momento, o assunto foi a Tutorização dentro do Programa Ving Tsun Experience. Lembro de já ter  mencionado, em ocasiões anteriores, minha vontade de me tornar tutor um dia — muito pelo exemplo do meu Si Hing, o tutor qualificado Daniel Eustáquio, que, na época (e até o momento em que escrevo este artigo), é o tutor mais jovem da América Latina. 

O alto nível com que o Si Hing Daniel conduz seu trabalho de tutorização sempre me inspirou profundamente a seguir o mesmo caminho. No entanto, meu entendimento sobre o que era realmente a tutorização ainda era muito limitado, e eu queria compreender melhor esse papel. Si Fu, com toda paciência, compartilhou comigo da melhor maneira que podia, sobre "tutorização" neste Programa, e como eu poderia começar a trilhar esse caminho. 

(Mestre Pereira chama a minha atenção para detalhes no material de apoio).


Naquele dia, eu ainda não fazia ideia do que me esperava — mas ali começava uma nova etapa da minha vida como praticante. 
Ao longo do ano, foram realizados diversos seminários de tutorização correspondentes a cada nível 
do Programa Ving Tsun Experience, todos organizados pelo meu Si Fu e conduzidos de forma ímpar pelo Grão-Mestre Leo Imamura. Entre encontros online e presenciais, cada seminário foi extremamente 
rico — tanto pelas contribuições dos painelistas quanto pelas trocas com os participantes, vindos de 
diferentes níveis deste Programa ou aqueles que já trabalham dentro do Programa de Salvaguarda, o Sistema Tradicional.

 Ao final de cada transevento, eu saía com a sensação de ainda estar distante do que acreditava ser 
necessário para alcançar a qualificação de tutor. Por outro lado, esse sentimento também revelava 
que muitas coisas estavam se tornando mais claras: minha compreensão sobre a intencionalidade 
dos componentes associados havia amadurecido, e as naturezas começaram a se manifestar mais 
nitidamente na forma como eu abordava cada trabalho em que participava.
(Início de noite de Sábado com meu 
Si Fu no Pólo de Acesso Rio de Janeiro)

Alguns meses se passaram, e pude participar de aulas de imersão de outros praticantes do 
Programa Ving Tsun Experience, em nosso Pólo no bairro do Méier — ora para consolidar o aprendizado dos seminários, ora para identificar lacunas que antes me passavam despercebidas. Parecia quase mágica a forma como certas peças se encaixavam, como meu corpo ganhava consciência ou como eu rapidamente percebia que ainda podia fazer melhor, mesmo já possuindo os recursos necessários. Minha jornada começava, de fato, a tomar forma.

 No início deste mês de outubro, próximo ao seu aniversário, Si Fu decidiu realizar algumas aulas 
de regulação com membros da Família. No meu caso, o objetivo era revisar os níveis 1 a 3 do 
Programa Ving Tsun Experience. Acredito que Si Fu tenha percebido que eu ainda precisava lapidar certos aspectos para consolidar todo o preparo dos últimos meses e, assim, me tornar apto à tutorização.

 Em um sábado, após as atividades da manhã — das quais procuro sempre participar —, tivemos um 
almoço e um café que serviram como pré-evento das revisões. Eu estava focado em realizar um 
bom trabalho, mas sabia que aquele era o momento de expor tudo o que eu tinha: meus recursos, 
minhas dúvidas e minhas limitações, para poder aprimorar o que fosse necessário.

 Seguimos então para o Mo Gun, onde deixei preparado o material disponibilizado por Si Fu. 
Começamos com alguns compartilhamentos sobre como ele abordava as aulas de imersão — com 
exemplos práticos de como apresentava e executava os trabalhos propostos, sempre de maneira 
personalizada. Percebi que prestar atenção no tutorado era um dos pontos mais importantes: trazer 
uma experiência marcial coerente com a natureza do nível trabalhado. Eu me concentrava ao 
máximo em ouvir cada palavra e observar cada gesto, entendendo que estava diante de uma 
oportunidade única — assistir a meu Si Fu conduzindo uma imersão em um nível elevadíssimo.

 Acompanhando a programação de referência mais recente de cada nível, trabalhamos atentamente 
cada componente associado. Naquele momento, não existia horário, nem compromissos — só o 
trabalho. Eu estava completamente imerso. Havia momentos em que meu desempenho não era o 
melhor, mas isso não podia me deter. Eu apenas recomeçava — de novo e de novo —, tentando a 
cada rodada fazer melhor que na anterior. Queria que aquilo estivesse no sangue, que meu 
entendimento seguisse um caminho coerente.

 Quando penso naquele dia, percebo: "Si Fu teve muita paciência comigo, até quando eu mesmo já 
não tinha
." Em certo momento, durante um exercício em que eu assumia o papel de tutor e Si Fu o 
de tutorado, não consegui executar adequadamente um procedimento estratégico. Ao recomeçar, 
sem perceber, soltei um sonoro “vamos lá de novo” para Si Fu, como se ele fosse qualquer pessoa.
 Na hora, nem notei, mas Si Fu fez uma pausa estratégica e me convidou a refletir sobre o que eu 
havia percebido. Ele aproveitou para pontuar que, embora minha fala não tivesse má intenção, não 
era adequada. Naquele instante, percebi que havia aberto completamente minha linha central — 
deixei de estar presente diante de quem estava à minha frente e apenas quis recomeçar 
mecanicamente.

 Foi ali que compreendi algo essencial: ser tutor não é sobre mim, nem sobre o que eu quero. Trata
se de não atrapalhar a transmissão do conteúdo. Absorvi rapidamente essa lição e voltei a me 
concentrar no propósito do momento — preparar-me para ser um verdadeiro tutor.
 Quando a noite chegou, as aulas se encerram naturalmente, e senti que havíamos feito tudo o que 
era possível naquele dia. Ainda imerso em tudo o que havia acontecido, passei a admirar ainda mais 
o trabalho que meu Si Hing Daniel realiza hoje.
 Eu estava ali tendo uma experiência que eu levaria pra sempre, mesmo sendo só um dia e talvez 
nem tenha ainda noção do impacto. Talvez mais pra frente eu consiga entender

quarta-feira, 15 de outubro de 2025

Revisiting the Ving Tsun System alongside my disciples

 

Over the past few weeks, I’ve been able to do something that brought me a great deal of joy: work directly with each disciple, or To Dai, who expressed interest in revisiting a particular Domain of the Ving Tsun System with me. With my birthday approaching, I realised it could serve as a milestone to work with each of these individuals on certain key aspects of the Programme which, for some reason, had either not been well introduced—or had never even been presented—during their initial opportunity with me.

So there I was, with each of these individuals, in a moment where both the disciple and I gave ourselves a new chance to do better this time around.

There’s a little-known term called Fong Faat (方法). It refers to the methodology found in the process of transmission and learning, based on the notion of fan chuen (分傳). And what is fan chuen? We might say it is “individualised transmission”. After having experienced this process of personalisation intensely with Grandmaster Leo Imamura on my own journey, I came to admire his patience and dedication even more (as I always like to emphasise here). Because adapting to each practitioner—with their difficulties, strengths, potential, and self-sabotage—is something extremely delicate.

You know, some years ago, while sitting in a café, someone said to me: “…I think you’re hitting the reset button on the System unnecessarily...”
Regardless of who said that, I had no doubt about the importance of what I was doing: to become a better professional, to become a better Si Fu, but also... for myself.

I have a Kung Fu brother who has been inactive for quite a while. Every now and then, he toys with the idea of coming back, and in one of those conversations I said something like:
Mate, there’s this boy you left behind somewhere, at a crossroads between two roads that seem to lead nowhere. You owe it to that boy to go back and get him.”
I said that to him, but it was as if I needed to hear myself say it, too.

Grandmaster Leo Imamura guides us towards an awakening to the System—and you smile. Not because of his charisma or something clever he said. These moments are usually silent, and he is usually quite serious. It’s a strange moment, when the System seems to speak to you, and you feel that teenager returning. The one who was 15 when he started practising Ving Tsun…

We were starting at 7 in the morning and going until 11 at night, without pause... It was incredible. It was the same spirit from São Paulo reaching Méier.
It had nothing to do with eccentricity or simply wanting to go on late into the night. It’s that, through constant evaluation and re-evaluation of the work and the individual, you feel the need to go 5 more minutes, 10 more… or 5 more hours. And the most amazing part is how the disciple seems to share in this silent commitment to exhaust everything that needs to be worked on that day.

It’s not about ticking off boxes on a checklist of milestones in a Domain. It’s a sense that the component being worked on could still be improved. It hasn’t yet been fully grasped. Or perhaps… there’s something there, right in front of you… you can feel it, but you still can’t quite see it. And now, you don’t want to stop until you do.

Then you see people practising for hours, without tiring, without asking to stop. And that’s when you understand the power of coherence. Because coherent work... doesn’t tire you out.
That’s what I experience in São Paulo — and what I was trying to breathe life into so that the same could be possible with my disciples.



Grandmaster Leo Imamura comments:
“…The notion of bei chuen 秘傳 can be related to the expression Bat Chuen Ji Bei 不傳之秘. When one speaks of bei chuen 秘傳, it is not about something that must be hidden, but something that is unreachable by those who have not yet learned how to perceive what is hidden…”

So, as we were revisiting milestones of the Ving Tsun System that had already been introduced to these individuals — regardless of the quality of that initial presentation — I was able to interact more directly with these disciples and, in other cases, remind them of their seniority, of their time in the Kung Fu Family, so that they might respond more promptly to a stimulus.

However, there was one sentiment that everyone, on different days, seemed to share:

It feels like I had never seen this before…”


The photo above is from 2013, in what was then known as the “House of Disciples”. In the foreground, we can see Grandmaster Leo Imamura; beside him, Master Paul Liu; next to him, Master Cristina Azevedo; and standing, practising Cham Kiu, Si Suk Paulo Camiz Sr.

I had been with Si Gung the entire morning, and something curious happened — something I’ve shared here before: when he asked me to join the practice, I simply couldn’t move. It felt like I had never done Toei Ma in my life. Even with the characteristic patience and kindness of Master Paul Liu, it felt like a different martial art from the one I practised.

In the article I wrote at the time, my interpretation of the episode was:
“…It’s always so enriching to be able to observe how Si Gung lets the session unfold. The level of mobilisation he demands is also quite high, and humbly, it felt as if I were learning from scratch…”
Back then, in 2013, I didn’t even know what I was talking about.

That very morning, Si Gung generously gave two hours of his time to go through the entire list of Cham Kiu with me. Professor Vanise Almeida, my Si Taai, would perhaps have called that opportunity a “blessing” — but I was too immature to grasp the meaning of that moment. Even so, my instinct led me to share all that material, at the first opportunity, with some practitioners from the then “Méier School”, among them Rodrigo Caputo and Lucas Eustáquio.
As if it were a newly discovered secret…

I think the main feeling I’ve been experiencing — very intensely — is one of gratitude. Even though it’s a word that has become clichéd in recent years, the feeling of gratitude has always been present.

Of course, my ability to transmit is still far from what is possible to achieve. But for those people, in those hours we spent practising together, in my heart I knew that it hardly mattered that it was me who was there with them. Because throughout the day, in some mysterious way, it was the Ving Tsun System trying to manifest itself through mutual dedication — not just of the two people there practising, but also of Grandmaster Leo Imamura’s work, absorbed through shopping mall strolls, in cafés, restaurants, or in conversations during car rides through São Paulo — and which, somehow, made its way into that moment.

It was then that, reflecting on it all, a saying came to mind:
“The man who plants a tree knowing he will never sit in its shade has begun to understand the meaning of things.”

Perhaps, in the end, that is Grandmaster Leo’s true work.

I never gave up.

Revisitando o Sistema Ving Tsun com os discípulos

 

Nas últimas semanas, pude fazer algo que me deixou muito feliz: trabalhar diretamente com cada discípulo ou To Dai que se interessou em revisar um determinado Domínio do Sistema Ving Tsun comigo. Com a celebração do meu aniversário se aproximando, entendi que ele poderia ser usado como um marco para trabalhar com cada uma dessas pessoas marcos do Programa que, por alguma razão, não foram bem apresentados — ou sequer apresentados — na primeira oportunidade que essas pessoas tiveram comigo.

Então, você podia me ver ali, com cada uma dessas pessoas, em um momento no qual tanto eu quanto o discípulo nos dávamos uma nova oportunidade de fazer melhor desta vez.

Existe um termo pouco conhecido, que é o Fong Faat (方法). Ele diz respeito à metodologia encontrada para o processo de transmissão e aprendizagem, a partir da noção de fan chuen (分傳). E o que é fan chuen (分傳)? Podemos dizer que é a “transmissão individualizada”. Após vivenciar intensamente com o Grão-Mestre Leo Imamura esse processo de personalização na minha própria jornada, passei a admirar ainda mais sua paciência e dedicação (como sempre ressalto aqui). Porque o ajuste para cada praticante — com suas dificuldades, qualidades, potenciais e auto-sabotagens — é algo extremamente delicado.

Sabe, alguns anos atrás, sentado em uma cafeteria, me disseram: “...Acho que você está dando um ‘reset’ no Sistema que não é necessário...” - Apesar da pessoa que estava me dizendo aquilo, eu já não tinha nenhuma dúvida da importância do que estava fazendo: para ser um melhor profissional, para ser um melhor Si Fu, mas também... por mim.

Tenho um irmão Kung Fu que já está parado há muito tempo. Às vezes ele ensaia retomar, e numa dessas conversas eu lhe disse algo como: “Cara, tem esse garoto que você deixou lá atrás, em algum lugar, numa encruzilhada entre duas estradas que parecem não dar em lugar nenhum. Você deve a esse menino voltar lá e buscá-lo.” - Eu dizia isso para ele, mas era como se precisasse ouvir a mim mesmo falando aquilo.

O Grão-Mestre Leo Imamura nos conduz a uma tomada de consciência sobre o Sistema — e você abre um sorriso. Não tem a ver com o carisma dele ou com algo legal que ele disse. Esses momentos geralmente são silenciosos, e ele geralmente está muito sério. É um momento estranho, em que o Sistema parece falar com você, e você sente aquele adolescente voltando. Aquele de 15 anos de idade, que começou a praticar Ving Tsun...

Nós estávamos começando às 7h da manhã e indo até às 23h, sem parar... Era incrível. Era o mesmo espírito de São Paulo chegando até o Méier.
Não tem nada a ver com alguma excentricidade, com querer simplesmente entrar noite adentro. É que, a partir da avaliação e reavaliação constante do trabalho e da pessoa, você sente a necessidade de ir mais 5 minutos, mais 10... ou mais 5 horas. E o mais legal é como o discípulo parece compartilhar de um compromisso silencioso de esgotar tudo o que precisa ser trabalhado naquele dia.

Também não tem a ver com fazer um checklist dos diferentes marcos de um Domínio. É um sentimento de que aquele componente associado, que está sendo trabalhado, ainda pode ficar melhor. Ainda não foi totalmente compreendido. Ou, quem sabe, parece haver algo ali, bem diante de você... você sente isso, mas ainda não consegue ver. E agora você também não quer parar enquanto não conseguir.

Então, você vê pessoas praticando por horas, sem cansar, sem pedir para parar. E aí você entende o poder da coerência. Porque um trabalho coerente... não cansa.
É isso que vivo em São Paulo — e é o que tentava dar a vida ali para que o mesmo fosse possível com meus discípulos.


O Grão-Mestre Leo Imamura comenta que:
“...Pode-se relacionar a noção de bei chuen 秘傳 com a expressão Bat Chuen Ji Bei 不傳之秘. Quando se fala de bei chuen 秘傳, não se trata de algo a ser escondido, mas de algo que é inalcançável por aqueles que ainda não aprenderam a enxergar o oculto...”

Então, como estávamos repisando marcos do Sistema Ving Tsun que já haviam sido apresentados a essas pessoas — independentemente da qualidade com que isso foi feito no passado —, eu estava podendo interagir mais diretamente com esses discípulos e, em outros casos, lembrá-los de sua antiguidade, de seu tempo na Família Kung Fu, de modo que tivessem uma brevidade maior para responder a um estímulo.

Porém, havia um sentimento que todos, nos diferentes dias, compartilharam:

A impressão que dá é a de que eu nunca tinha visto isso antes...”

A foto acima é de 2013, na então "Casa dos Discípulos". Nela, podemos ver, em primeiro plano, o Grão-Mestre Leo Imamura; ao seu lado, o Mestre Paul Liu; ao lado dele, a Mestra Cristina Azevedo; e, de pé, praticando o Cham Kiu, o Si Suk Paulo Camiz Sr.

Eu estava com Si Gung durante toda a manhã, e algo curioso aconteceu — algo que já compartilhei aqui antes: quando ele me pediu para participar da prática, eu simplesmente não conseguia sair do lugar. Parecia que eu nunca tinha feito Toei Ma na vida. Mesmo com a paciência e o carinho característicos do Mestre Paul Liu, parecia uma arte marcial diferente da que eu praticava.

No artigo que escrevi na época, minha interpretação sobre o episódio foi:
“...Para mim é sempre muito rico poder acompanhar a maneira como Si Gung deixa a sessão correr. O nível de mobilização que ele propõe também é bem alto, e humildemente é como se eu estivesse aprendendo do zero...”
Naquele artigo de 2013, eu nem sabia do que estava falando.

Naquela mesma manhã, Si Gung gentilmente cedeu duas horas de seu tempo para trabalhar comigo toda a listagem do Cham Kiu. A Professora Vanise Almeida, minha Si Taai, talvez chamasse essa oportunidade de “dádiva” — mas eu era muito imaturo para compreender aquele momento. Ainda assim, meu instinto me levou a compartilhar todo aquele estudo, na primeira oportunidade, com alguns praticantes do então "Núcleo Méier", entre eles Rodrigo Caputo e Lucas Eustáquio.
Como uma espécie de segredo recém-descoberto...

Acho que o principal sentimento que venho experimentando, muito fortemente, é o de gratidão. Apesar de ser uma palavra usada de forma clichê nos últimos anos pelas pessoas, o sentimento de gratidão sempre esteve presente.

É claro que minha habilidade de transmissão ainda está muito aquém do que é possível alcançar. Mas, para aquelas pessoas, naquelas horas que passamos juntos praticando, no meu coração eu sabia que pouco importava ser eu quem estivesse ali com elas. Porque ao longo do dia, de alguma forma misteriosa, era o Sistema Ving Tsun tentando se manifestar por meio da dedicação mútua — não só das duas pessoas que estavam ali praticando, mas também do trabalho do Grão-Mestre Leo Imamura, apreendido em passeios no shopping, em cafés, restaurantes, ou em conversas durante trajetos de carro por São Paulo — e que, de algum modo, chegava até aquele momento.

Foi então que, pensando sobre isso, me ocorreu um ditado:
O homem que planta uma árvore sabendo que nunca irá se sentar à sombra dela começou a entender o sentido das coisas.

Talvez, no final das contas, esse seja o trabalho do Grão-Mestre Leo.


Eu nunca desisti.



domingo, 12 de outubro de 2025

The strategic aspects of the Baat Jaam Do configuration.

  

(With Senior Master Leandro Godoy and Senior Master Fabio Gomes)

When I first gained access to the domain of Baat Jaam Do, it was July 2008. My mind was preoccupied with other matters, and I did not yet understand what it meant. One might have seen me, a year later, debating whether or not to purchase a pair of Baat Jaam Do that were being imported from China. The opportunity was there, but I saw little reason to pursue it.

At that time, my feeling when practising Baat Jaam Do was that I had to force myself to do it. Baat Jaam Do represents a pinnacle in several respects — one of which is the exploration of the Ving Tsun System itself. In cases such as mine, one ends up resorting to resources outside the "Kung Fu dimension" because one has not yet developed the mindset necessary to simply study.

As a result, something very simple completely escaped my awareness: the strategic aspects of the Baat Jaam Do configuration.

It had never occurred to me, even a year later, that understanding its configuration might contribute meaningfully to my study. I ended up acquiring the pair from China at the encouragement of my Kung Fu brother, Vlaidmir Anchieta. With his characteristic kindness towards me, he noted that we did not know when we might next have the opportunity to acquire such a pair for practice.

As I did not yet know how to begin exploring the configuration, that first pair felt far too large for me, and my wrists would quickly ache due to the excessive force I was applying.

This frustrated me deeply; with each practice, I felt increasingly foolish. It was as though one were holding a mirror that magnified all one’s flaws in a given process. That is not an easy thing to face.

I also did not want to complain about the Baat Jaam Do — no one else seemed to — and I did not wish to give the impression that I did not know how to use them.

It was only in 2013, during a study session led by Grandmaster Leo Imamura at one of the residences where my master had once lived, that I saw, for the first time, a slide showing the different parts of the Baat Jaam Do and their respective names.


(Grandmaster Leo Imamura talks about the 
configuration of the  "Baat Jaam Do", 2013)

There is potential in things, but it is not all of that potential that we will necessarily make use of. Another important point is that, even if the arrangement of something is potentially strategic, it may stand right before us — and yet, if we are not prepared, we will not be able to perceive anything at all.

That is precisely what happened to me on that Sunday morning.

Although the slide was being presented, in practical terms it would not come to mean very much to me in the years that followed.


(From left to right: the one that came from China in 2009, 
and the two crafted by Senior Master Godoy)

My subsequent pairs of Baat Jaam Do were made by Senior Master Leandro Godoy, the second of which is the one in the middle of the photograph above. Despite the darkened blade and the wooden handle — both very well crafted — the blade’s shape was skewed.

By then it was 2021, and I still could not grasp how to make proper use of the Baat Jaam Do configuration.

It was as if the Ving Tsun System had a kind of safety mechanism: for certain things, no matter how much you try, you simply will not be able to progress beyond a certain point unless you know how to study. I no longer tormented myself during practice, but I had become stagnant.

Until one day, the configuration began to become slightly clearer. I had been within the domain of Baat Jaam Do for sixteen years by then.

It was at that point, taking advantage of an opportunity, that I spoke with Senior Master Leandro Godoy — just before recording an interview with him for my Vida Kung Fu podcast — about what he thought of the idea of customising a Baat Jaam Do.

My Kung Fu brother, Thiago Silva, was tending to a work-related task on his tablet, and I, sitting with him at a café in Largo do Machado neighbourhood, was able to listen to Master Godoy’s thoughts on my question — as always, very insightful.

A year and a half after that conversation in a café in São Paulo — in the presence of Senior Master Fabio Gomes and the designer and cinematographer Nan Satornlug (photo above) — I received my third pair of Baat Jaam Do from the hands of Senior Master Godoy, because I had bought them earlier this year.

My understanding of how to make use of the Baat Jaam Do configuration has been gradually becoming clearer, seventeen years after that July in 2008. This gave rise to the need for a new pair — one without any distortions, designed exclusively with study in mind.

The Safeguarding Programme is fundamental in allowing one’s Kung Fu to be built in such a way that the practitioner has the chance to appreciate the different stages of the Ving Tsun System over time.

I never gave up.


Aspectos Estratégicos da Configuração do Baat Jaam Do

 

(Com Mestre Senior Leandro Godoy e Mestre Senior Fabio Gomes)

Quando tive acesso ao domínio "Baat Jaam Do" era julho de 2008. Minha mente estava em outras questões e eu não sabia o que aquilo significava. Você então poderia me ver, um ano depois, decidindo se comprava ou não um par de Baat Jaam Do que viriam da China. A oportunidade estava ali, mas eu não via muita razão para fazê-lo. Meu sentimento ao praticar o "Baat Jaam Do" naquele período era o de que eu precisava me forçar a fazê‑lo. O "Baat Jaam Do" é um ápice em vários sentidos, e um deles é a de exploração do Sistema Ving Tsun. Em casos como o meu, você acaba fazendo uso de recursos fora da "dimensão Kung Fu" porque não construiu de fato uma mentalidade que lhe permita simplesmente estudar.  Com isso, algo muito simples para mim passava completamente despercebido: Os aspectos estratégicos da configuração do Baat Jaam Do. 

Nunca me passou pela cabeça, depois de um ano, que o entendimento de sua configuração poderia contribuir para o estudo. Acabei adquirindo o par vindo da China por incentivo do meu irmão de Kung Fu, Vlaidmir Anchieta. Com seu carinho costumeiro para comigo, ele me disse que não sabíamos quando teríamos outra oportunidade de adquirir um par como aquele para praticar. Por não saber nem como começar a explorar a configuração, aquele primeiro par parecia grande demais para mim e, rapidamente, meus pulsos doíam devido à força que eu empregava.

 Aquilo me irritava profundamente; a cada prática eu me sentia mais burro. Era como se você pegasse um espelho que amplificasse todas as suas falhas em determinado processo. Não é fácil lidar com isso. Eu também não queria reclamar do Baat Jaam Do — não ouvia ninguém reclamar — e não queria que parecesse que eu não sabia como usá‑lo. Foi apenas em 2013, durante um estudo promovido pelo Grão‑Mestre Leo Imamura em uma das casas onde meu mestre morou, que eu vi, pela primeira vez, um slide com as diferentes partes da faca e seus nomes.

(Grão-Mestre Leo Imamura fala da configuração do "Baat Jaam Do", 2013)

Existe um potencial nas coisas, mas não será todo o potencial que vamos usar. Outra coisa importante, é que mesmo que a disposição de algo seja potencialmente estratégica, isso pode estar diante de nós que se não estivermos preparados, não vamos conseguir enxergar nada. E foi o que aconteceu comigo naquela manhã de Domingo. O slide apesar de estar sendo mostrado, em termos práticos não iria querer dizer muita coisa para mim nos anos que se seguiram. 

(Da esquerda para a direita, o par vindo da China em 2009 e os dois feitos pelo Mestre Senior Godoy)

Meus pares seguintes de Baat Jaam Do, foram feitas pelo Mestre Sênior Leandro Godoy, sendo a segunda delas a faca do meio na foto acima. Apesar da lâmina escurecida e do cabo de madeira — ambos muito bem feitos — o shape da lâmina era enviesado. Já estávamos em 2021, e eu ainda não conseguia compreender como me utilizar da configuração do Baat Jaam Do.

Era como se o sistema Ving Tsun tivesse uma espécie de dispositivo de segurança: para certas coisas, não importa o quanto você tente, você simplesmente não conseguirá ir além de um certo ponto se não souber como estudar. Eu já não me martirizava mais ao praticar, mas estava estagnado.

Até que, um dia, a configuração da faca começou a se tornar um pouco mais clara. Eu já havia acessado o domínio "Baat Jaam Do" há dezesseis anos. Foi então que, aproveitando uma oportunidade, conversei com o Mestre Sênior Leandro Godoy, pouco antes da entrevista que faria com ele para o meu podcast Vida Kung Fu, sobre o que ele achava da ideia de personalizar um Baat Jaam Do.

Meu irmão Kung Fu, Thiago Silva, atendia a uma demanda de trabalho em seu tablet, e eu, sentado com ele numa cafeteria no Largo do Machado, pude ouvir as considerações do Mestre Godoy sobre minha pergunta. Como sempre, muito inteligentes.

Um ano e meio depois daquela conversa em uma cafeteria, em São Paulo — na presença do também Mestre Sênior Fabio Gomes e da designer e cinegrafista Nan Satornlug(foto acima) — recebi meu terceiro par de Baat Jaam Do, das mãos do Mestre Sênior Godoy, que o havia encomendado no início do ano.

Meu entendimento sobre como tirar proveito da configuração do Baat Jaam Do vem se tornando mais claro gradualmente, após dezessete anos daquele julho de 2008. E isso fez surgir a necessidade de um novo par, sem nenhum enviesamento e pensado exclusivamente para o estudo.

O Programa de Salvaguarda é fundamental para que, gradualmente, a pessoa tenha seu Kung Fu construído de forma a ter a chance de apreciar os diferentes momentos do Sistema Ving Tsun.

Eu nunca desisti.

quinta-feira, 2 de outubro de 2025

A relação "Si Hing-Dai" (師兄弟) na Dimensão Kung Fu.

 

Você então podia nos ver ali, naquela manhã de sábado: eu e Diego (discípulo do Mestre Sênior Monnerat), que nos observava com atenção. Ao fundo, o Mestre Sênior Fabio Gomes, sempre muito atento ao que seu "Si Fu", o Grão-Mestre Leo Imamura, diz, validava com ele alguns conceitos. Na porta, meu discípulo Lucas assistia à minha tentativa de tutorização dentro do Domínio "Cham Kiu".

Bem antes disso, nos encontramos na padaria, e o Grão-Mestre Leo Imamura chegou trazendo importantes indagações sobre o trabalho que seria feito com Diego naquela manhã. Eu já havia feito trabalhado com ele também na noite de sexta-feira, mas o Grão-Mestre afirmava que, para aquela manhã, o que foi feito na noite anterior não era mais suficiente. Por isso, ele trouxe algumas perguntas bem diretas sobre o trabalho a ser realizado, e todos à mesa me observavam responder.

Geralmente, eu não fico nervoso em situações assim, mas naquela manhã em particular, eu estava. Não pelas pessoas olhando, mas porque, por alguma razão misteriosa, alguns meses antes, dentro do mesmo trabalho do "Cham Kiu", minha performance chegou a ser constrangedora. Em determinado momento naquela ocasião, o Grão-Mestre Leo Imamura chegou a pedir ao Mestre Monnerat que me ajudasse — parecia que algum "botão mental" havia sido desligado.

Por isso, sentado ali, minha ansiedade em mostrar que a situação não era mais a mesma era tamanha que eu não conseguia colocar em palavras o que queria dizer. Nessas horas, lembro também de uma fala da Professora Vanise para mim, orientando-me a "baixar a guarda e parar de lutar um pouco":
— "Você está lutando há muito tempo, tenta ser menos Yang um pouco, Thiago" — teria dito ela.

É como uma competição comigo mesmo. Mas o Grão-Mestre Leo Imamura gentilmente me conduziu ao apropriado e pontuou que era importante eu conseguir verbalizar exatamente o que eu sabia. Nesse ínterim, ele também pôde, de maneira muito rica, me mostrar o quanto minha mente é voltada para "Mobilização", e não para "Tutorização".
A primeira vez que tentei ajudar o Diego, a pedido do Grão-Mestre, foi em um hotel na Barra, de madrugada, alguns anos atrás. Naquela ocasião e em outras mais, talvez Diego tenha ficado confuso por conta da minha conduta durante a prática, não tão assertiva a respeito do que estava fazendo. Isso ocorre porque, no nível de trabalho que o Grão-Mestre Leo Imamura propõe, um momento de desatenção e você sabe que precisa recomeçar tudo de novo. Às vezes ele vem até você e fica olhando de perto, às vezes chama sua atenção com a veemência que a natureza do Domínio em que você está pede, mas ele também diz "obrigado" quando você não comprometeu o trabalho.

 Com isso, não é difícil praticar por muitas horas. Você fica tão imerso em busca da excelência que o maior cuidado que eu preciso ter é o de não me voltar tanto pra dentro buscando o apropriado e esquecer da pessoa que está na minha frente. 

Com o tempo, as práticas com o Diego passaram a terminar com um sorriso de nossa parte, Diego agradece e damos um breve abraço. Mal falamos durante toda a prática, mas não tem nada a ser falado. Às vezes o esforço mútuo em busca da intencionalidade é tamanho que, quando o Grão-Mestre faz uma pausa estratégica e pergunta: "Você quer fazer alguma contribuição, Mestre Pereira?" – é quase certo eu falar: "Não, Si Gung". Por outro lado, quando ele direciona a pergunta ao Si Fu do Diego que acompanha tudo, Mestre Monnerat faz breves e educados comentários. Sempre positivos e que visam a melhora. Então continuamos.

Recentemente, tive acesso a um vídeo espetacular do 7º dan de Aikido, Sihan Ricardo Leite, sobre a relação de irmandade dentro do mundo das artes marciais.
— "Você encontra o cara todo dia, e você eventualmente faz amizade até no trabalho. Fazer amizade não é o que caracteriza a prática do Aikido. Proporcionar uma harmonia, uma irmandade, que está baseada, fundamentada na experiência marcial. Nós nos tornamos irmãos quando a gente, junto, encontra o porquê de um movimento, sem força. Eu, que estou aplicando, encontro a via para explorar a força do meu parceiro, que está me atacando, e faço isso de tal forma que sai independente de mim ou dele. Porque nós veiculamos a arte na prática para além da nossa capacidade consciente. Ela se expressou na plenitude da nossa capacidade humana individual, em conjunto."

Essa fala me parece sensacional, pois ele conseguiu colocar em palavras um sentimento que experimentei exatamente com o Diego na noite de sexta e, principalmente, na manhã de sábado. Não somos da mesma Família Kung Fu, e o Diego gentilmente me chama de "Si Hing", mas eu quero entender que vivi com ele exatamente o que o Sihan Ricardo Leite descreve em seu vídeo, independente de sermos da mesma Família Kung Fu ou não.


Mas talvez você se lembre do Lucas parado na porta do Instituto, na primeira imagem deste artigo. Como sempre escrevo aqui, entre erros e mais erros, e entre as dificuldades da Vida Kung Fu e da prática, o Lucas sempre tem acesso a tudo o que deseja nessa jornada.

Naquele mesmo dia, após o evento com o Mestre Bruno no Hotel Nikkey, retornamos ao Instituto Moy Yat e ficamos por uma hora e meia lá praticando. Lucas havia comido um pouco demais e provado uma cachaça chinesa oferecida pelo Mestre Bruno. Estava usando roupa social durante a prática e, mesmo com o ar-condicionado, suava bastante.

Em certo momento, Lucas parou, olhando para o nada, sentado sozinho na sala de convivência. Olhei para ele pela porta e perguntei se estava tudo bem. Ele pediu um tempo, porque a comida estava "voltando". Pouco tempo depois, levantou-se e continuou — agora praticando o "Biu Gwan". Parecia muito melhor do que da última vez que o vi. A cada tentativa, parecia mais preciso que a anterior, e não percebi mais nele o semblante de alguém que estava passando mal. Muito pelo contrário — ele parecia imerso.

Com uma compreensão sobre o manuseio do bastão mais profunda adquirida no Seminário do Nível 5, e com a atitude mental apropriada, aquele foi um dos nossos melhores dias. Talvez eu nem precisasse mais estar ali. Por isso, acredito que no futuro, Lucas poderá experimentar esse mesmo nível de conexão com seus irmãos Kung Fu, por meio de uma experiência marcial verdadeiramente imersiva. É nisso que quero acreditar.


The "Si Hing-Dai" (師兄-弟) Relationship in the Kung Fu Dimension.

 


You could have seen us there, on that Saturday morning: Diego (a disciple of Senior Master Monnerat) and me, with him watching us attentively. In the background, Senior Master Fabio Gomes—always very attentive to what his Si Fu, Grandmaster Leo Imamura, says—was validating some concepts with him. At the door, my disciple Lucas was observing my attempt at tutoring within the "Cham Kiu" Domain.

Well before that, we had met at the bakery, and Grandmaster Leo Imamura arrived bringing important questions about the work that was to be done with Diego that morning. I had already worked with him the previous Friday evening, but the Grandmaster stated that, for that morning, what had been done the night before was no longer sufficient. So, he brought some very direct questions about the work ahead, and everyone at the table watched as I responded.

Normally, I don’t get nervous in situations like that, but on that particular morning, I was. Not because of the people watching, but because, for some mysterious reason, a few months earlier, within the same “Cham Kiu” work, my performance had become embarrassing. At a certain moment during that occasion, Grandmaster Leo Imamura even asked Master Monnerat to assist me—it felt as if some mental "switch" had been turned off.

So, sitting there, my anxiety to show that the situation was no longer the same was so intense that I couldn’t find the words to say what I meant. In moments like that, I also recall something Professor Vanise Almeida once told me, advising me to "lower my guard and stop fighting so much":
— “You’ve been fighting for a long time, try to be a little less Yang, Thiago,” she might have said.

It feels like a competition with myself. But Grandmaster Leo Imamura gently guided me towards what was appropriate and pointed out how important it was that I be able to clearly articulate what I knew. In the meantime, he was also able, in a very rich way, to show me just how much my mind is geared towards "Mobilisation" rather than "Tutoring".

The first time I tried to help Diego, at the request of the Grandmaster, was at a hotel in Rio, in the early hours of the morning, a few years ago. On that occasion and in others since, perhaps Diego felt confused because of my conduct during the practice, not so assertive regarding what I was doing. This happens because, at the level of work proposed by Grandmaster Leo Imamura, a moment of inattention and you know you need to start all over again. Sometimes he comes up to you and watches closely, sometimes he calls your attention with the vehemence that the nature of the Domain you are in demands, but he also says “thank you” when you haven’t compromised the work.

Because of this, it’s not difficult to practise for many hours. You become so immersed in the pursuit of excellence that the greatest care I need to take is not to turn so far inward in search of what is appropriate and forget about the person in front of me.

Over time, the practices with Diego began to end with a smile from both of us, Diego gives thanks and we share a brief hug. We hardly speak throughout the entire practice, but there is nothing that needs to be said. Sometimes the mutual effort in search of intentionality is so intense that, when the Grandmaster makes a strategic pause and asks: “Would you like to make a contribution, Master Pereira?” – it’s almost certain I’ll say: “No, Si Gung.” On the other hand, when he directs the question to Diego’s Si Fu who follows everything, Master Monnerat makes brief and polite comments. Always positive and aimed at improvement. Then we continue.


Recently, I came across a remarkable video by Aikido 7th Dan, Sihan Ricardo Leite, about the bond of brotherhood within the world of martial arts.
— “You see the guy every day, and eventually you even become friends at work. But making friends is not what defines Aikido practice. It’s about creating harmony, a brotherhood that is based, founded on martial experience. We become brothers when, together, we discover the reason behind a movement, without force. I, the one applying it, find the way to explore my partner’s force as he attacks me, and I do this in such a way that the result comes independently of me or of him. Because we convey the art in practice beyond our conscious capacity. It expresses itself in the fullness of our individual human capacity, together.

That statement struck me as brilliant, because he managed to put into words a feeling I experienced precisely with Diego on Friday night and, even more so, on Saturday morning. We are not from the same Kung Fu Family, and Diego kindly calls me “Si Hing”, but I want to believe that what I experienced with him was exactly what Sihan Ricardo Leite describes in his video, regardless of whether or not we belong to the same Kung Fu Family.



But perhaps you remember Lucas standing at the door of the Institute, in the first image of this article. As I always write here, amid mistakes and more mistakes, and the challenges of the Kung Fu Life and its practice, I allow Lucas always manages to access everything he seeks on this journey.

That very same day, after the event with Master Bruno at the Hotel Nikkey, we returned to the Moy Yat Institute and spent an hour and a half there practising. Lucas had eaten a bit too much and had tasted some Chinese heavy alcohol offered by Master Bruno. He was wearing formal clothing during the practice, and even with the air conditioning, he was sweating quite a lot.

At one point, Lucas paused, staring into the distance, sitting alone in the common room. I looked at him through the doorway and asked if he was alright. He asked for a moment, as the food was "coming back". A short while later, he got up and continued — now practising the Biu Gwan. He looked much better than the last time I saw him. With each attempt, he seemed more precise than the previous one, and I no longer saw in him the expression of someone feeling unwell. On the contrary — he seemed completely immersed.

With a deeper understanding of handling the Gwan, acquired during the Level 5 Seminar, and the appropriate mental attitude, that was one of our best days. Perhaps I no longer even needed to be there. That’s why I believe that in the future, Lucas will be able to experience this same level of connection with his Kung Fu brothers, through a truly immersive martial experience. That is what I choose to believe.