Si Gung costuma falar da importância de estar com seu Si Fu em seus diferentes momentos de maturidade. Ele também ressalta que a relação discipular é medida em décadas e comenta que, se por um lado você deve respeitar aqueles que vieram antes, pois essas pessoas estavam atuando em uma década em que você ainda não estava na Família Kung Fu, por muitas vezes esse mesmo Si Hing deveria considerar a atuação do irmão Kung Fu mais novo, que pode estar atuando em uma década na qual o primeiro esteja mais distante.
Assim sendo, entre o primeiro Ato Cerimonial da minha Família Kung Fu em 9 de abril de 2016 e os tempos atuais, pude repensar muitas coisas. Uma delas foi quando, nessa primeira cerimônia, em um gesto de carinho, retirei o Pin do Grande Clã Moy Yat Sang (foto acima) do "Tong Jong" que usava e o coloquei na camisa do meu To Dai mais antigo que estava sendo admitido em minha Família naquela oportunidade. Eu tinha o Pin como um adereço, mas não compreendia por que ele tinha os ideogramas da Família Moy Yat Sang e também não sabia nada a respeito da razão pela qual antes usávamos o Pin da Família Moy Yat e depois passamos a usar o da Família Moy Yat Sang. Então, eu simplesmente dei a ele, como alguém que dá um presente para tornar ainda mais inesquecível um momento por si só já emblemático. Diferente daqueles tempos de 2016, muita coisa já aconteceu e hoje me é possível ter um entendimento mais apropriado a respeito desse item que, muito além de um adereço, pode-se dizer que é uma verdadeira honra portá-lo, em função de como ele surgiu.
Si Gung often speaks about the importance of being with your Si Fu through his various stages of maturity. He also emphasises that the discipular relationship is measured in decades and notes that, on the one hand, you should respect those who came before you, as they were active in a decade when you were not yet part of the Kung Fu Family. On the other hand, the same Si Hing should consider the contributions of the younger Kung Fu brother, who might be active in a decade when the former is more distant.
Therefore, between the first Ceremonial Act of my Kung Fu Family on April,9.2016 and the present time, I have had the opportunity to rethink many things. One such reflection was on the occasion of that first ceremony, when, as a gesture of affection, I removed the Pin of the Grand Moy Yat Sang Clan (see photo above) from the "Tong Jong" I was wearing and placed it on the shirt of my oldest To Dai, who was being admitted into my Family at that time. I saw the Pin as merely an accessory but did not understand why it had the ideograms of the Moy Yat Sang Family, nor did I know why we had previously used the Pin of the Moy Yat Family and later began using the Pin of the Moy Yat Sang Family. So, I simply gave it to him as one might give a gift to make an already emblematic moment even more memorable. Unlike those times in 2016, much has happened since then, and today I have a more appropriate understanding of this item, which, far beyond being just an accessory, can be said to be a true honour to wear, due to its origins.
Certa vez, Si Gung estava voltando de Angra dos Reis, uma cidade do estado do Rio de Janeiro, com o Mestre Fabio Gomes. Naquela ocasião, ele fez contato comigo e me convidou para passar a tarde com eles no aeroporto Santos Dumont até o horário do voo. Prontamente reorganizei minha agenda e dois discípulos me acompanharam na ocasião (foto acima). Naquela tarde, nos foi possível conversar sobre muitas coisas, dentre elas a razão do meu "Jiu Paai" ostentar o "logo" da Família Moy Yat Sang (mesma da 1ª foto). Pensando agora, me parece até mesmo estranho que nunca tenha me ocorrido ir atrás dessa informação. Acredito que esquecemos da responsabilidade da nossa função de "Si Fu" em detalhes como esse, que, assim como todos os demais, exige um aprofundamento para um melhor entendimento.
Si Gung comentou que certa vez recebeu uma ligação do Sr. Michael Wong em nome de sua Si Mo, a Sra. Helen Moy, que, dentre outras informações, ofertou, juntamente com uma única outra Família do Clã Moy Yat, a ter seu próprio Pin. Desta forma, ela mesma encomendou uma quantidade considerável com o Professor Kwon Chi Nam; esses são os Pins que os membros do Grande Clã Moy Yat Sang usam, e essa seria a razão de Si Gung usar um logo diferente da sua própria Família Kung Fu de origem: uma ligação de sua Si Mo, e não um desejo pessoal. - "... Você observa que o nosso Pin tem uma estética própria, bem chinesa..." - comentou ele sobre a qualidade estética do Pin e prosseguiu - "... A pessoa olha e sabe que é chinês... Por isso fico pensando quando acabar..." - comentou ele sorrindo. Perguntei então a Si Gung sobre como se dá a entrega do Pin, e ele falou que faz questão de entregá-lo sem cobrar nada. - "... E se a pessoa perder, ela pode me pedir outro que eu darei novamente..." - concluiu ele. Por isso também é possível ver Si Gung em algumas ocasiões perguntando a alguém: "Cadê o seu Pin? Você não tem Pin?" - Ele então costuma tirar um Pin do bolso e colocá-lo na lapela do terno da pessoa.
Once, Si Gung was returning from Angra dos Reis, a city in the state of Rio de Janeiro, with Master Fabio Gomes. On that occasion, he got in touch with me and invited me to spend the afternoon with them at Santos Dumont Airport until the flight time. I promptly rearranged my schedule, and two disciples accompanied me at the time (see photo above). That afternoon, we were able to discuss many things, including the reason why my "Jiu Paai" displays the logo of the Moy Yat Sang Family (same as in the 1st photo). Thinking back now, it seems strange that it never occurred to me to seek out this information. I believe we sometimes forget the responsibility of our role as "Si Fu" in details like this, which, like all others, requires in-depth understanding.
Si Gung mentioned that he once received a call from Mr Michael Wong on behalf of his Si Mo, Mrs Helen Moy, who, among other information, offered him, along with only one other Family from the Moy Yat Clan, to have their own Pin. Thus, she herself ordered a considerable quantity from Professor Kwon Chi Nam; these are the Pins that members of the Great Moy Yat Sang Clan use, and this would be the reason Si Gung uses a different logo from his own original Kung Fu Family: a request from his Si Mo, not a personal desire. - "... You observe that our Pin has its own, very Chinese aesthetic..." - he commented on the aesthetic quality of the Pin and continued - "... People look at it and know it is Chinese... That’s why I wonder what will happen when it runs out..." - he said with a smile. I then asked Si Gung about how the Pin is presented, and he mentioned that he insists on giving it without charging anything. - "... And if someone loses it, they can ask me for another, and I will give it again..." - he concluded. That is also why it is possible to see Si Gung on some occasions asking someone: "Where is your Pin? Don’t you have a Pin?" - He then often takes a Pin out of his pocket and places it on the person’s lapel.
Desde essa conversa com Si Gung no aeroporto, decidi usar apenas o Pin do Grande Clã Moy Yat Sang em qualquer ocasião. Pois, nesse período, pude elaborar uma ideia que me ajudou muito na compreensão da minha função. Percebi a importância de me manter, enquanto Si Fu, em coincidência com a Linhagem, pois sou um guardião do Sistema Ving Tsun e não o seu dono. Muitos e muitos anos atrás, ouvi meu Si Fu fazer uma alegoria na qual, se o Sistema Ving Tsun fosse um prédio, o Si Fu seria o porteiro. Levei muito a sério o que ele falou naquela ocasião, e acredito que é isso que um guardião faz: ele guarda. O que já é muita coisa.
Então, por mais que um discípulo meu desejasse que nossa Família tivesse seu próprio Pin, penso em uma entrevista que um Si Suk meu citou recentemente: ele dizia que um comandante de expedições para a Antártica, nas quais a margem de erro é zero, teria dito que, para fazer parte de uma expedição como essa, é importante entender que a pessoa terá direitos, mas em primeiro lugar vem o dever, e quem não entender isso não pode estar dentro. Com isso, entendo que, nos grandes e pequenos detalhes, quando eu não coincido com a Linhagem, no futuro eu posso acabar fazendo com que meus discípulos, que também se tornarem Si Fu, enfrentem uma escolha muito cruel: ter que escolher entre eu que sou Si Fu deles, e a Linhagem. Não uma única vez, mas várias. E eu não posso fazer isso com eles.
Since that conversation with Si Gung at the airport, I decided to use only the Pin of the Grand Moy Yat Sang Clan on any occasion. During this period, I was able to develop an idea that greatly helped me understand my role. I realised the importance of maintaining, as a Si Fu, alignment with the Lineage, as I am a guardian of the Ving Tsun System, not its owner. Many years ago, I heard my Si Fu make an analogy in which, if the Ving Tsun System were a building, the Si Fu would be the doorman. I took very seriously what he said at that time, and I believe that is precisely what a guardian does: he guards. Which is already a significant role.
Therefore, even though one of my disciples might wish that our Family had its own Pin, I think of an interview that a Si Suk of mine mentioned recently: he said that a commander of expeditions to Antarctica, where the margin for error is zero, would have stated that, to be part of such an expedition, it is important to understand that a person will have rights, but first and foremost comes duty, and anyone who does not understand this cannot be included. With this in mind, I understand that, in both major and minor details, if I deviate from the Lineage, in the future I might end up making my disciples, who will also become Si Fu, face a very cruel choice: having to choose between me as their Si Fu and the Lineage. Not just once, but several times. And I cant do that with them.