sábado, 27 de julho de 2024

Are You Really in the Martial Arts Business? An Essay on "Jiang Hu" (江湖)

(Grão Mestre Leo Imamura no Instituto Moy Yat)
(Grandmaster Leo Imamura at Moy Yat Institute)

Nenhum termo de nenhum idioma poderia capturar o termo "Jiang Hu" (江湖) em sua completude (Boretz, Avron Albert, 1956). No imaginário cultural dos romances, novelas e histórias em quadrinhos, os "rios e lagos" (Jiang Hu 江湖) representam um mundo de fantasia povoado por andarilhos, aventureiros, bandidos que roubam apenas os ricos, além de ladrões e apostadores. Seja por destino ou escolha, todos esses são personagens alienados do mundo patente. Vagando entre si, mas de alguma maneira também separados uns dos outros, existem ainda espadachins, monges guerreiros e outros adeptos das artes marciais que, com suas habilidades e aptidões heroicas, alcançam a fama dentro do 'Mo Lam', que é o 'mundo das artes marciais' (Boretz, Avron Albert, 1956)
"Você gostaria de estar no meu lugar?" – me perguntou Si Gung, abrindo uma das portas do prédio do seu pai. Respondi sem pestanejar que não. – "Muita gente quer estar no meu lugar, mas sem as obrigações que eu tenho..." – teria complementado.
Você poderia me ver sentado numa tarde de sábado assistindo a algum filme policial de Hong Kong no videocassete dos meus avós. Era meu lugar favorito, no meu dia favorito, assistindo a alguma produção estranha na esperança de que houvesse alguma cena de luta. A fotografia com aquele azul característico dos filmes de Hong Kong da virada dos anos 80 para os 90 me fazia sentir saudades de uma época que não vivi. Desde as roupas, passando pela irmandade entre os personagens e seu estilo de vida, tudo me encantava entre os 13 e 14 anos de idade. – "É um mundo que só pode existir além da estabilidade e segurança da vila, da família e das ocupações convencionais" (Boretz, Avron Albert, 1956)
Meu Si Fu me disse certa vez que "a vida segue para onde o coração aponta", e sentado ali diante dele no antigo Walmart da Barra da Tijuca, sendo muito honesto, eu esperava dele uma resposta que pudesse me tirar o peso que carregava no coração. Havia uma expectativa do meu pai e de outras pessoas do meu convívio na época de que eu fosse concursado. Resolvi sugerir ao meu Si Fu, aos vinte e cinco anos de idade, a possibilidade de me tornar profissional de Ving Tsun. Devido à confiança depositada na relação, bastava apenas ele dizer que não era uma boa ideia para que eu pudesse enfim me desvencilhar da minha vocação e seguir o esperado. Porém, com muita naturalidade, ele recebeu a possibilidade de bom grado, o que me desconcertou completamente. Para ele, parecia óbvio; para mim, era apenas o começo dos meus problemas para atender o chamado da minha vocação. – "Quando seu coração pergunta, o que você irá responder?" (Yamamoto, Tsunetomo. Hagakure: The Book of the Samurai. Translated by William Scott Wilson. Kodansha International, 2002.)

No language could fully capture the term "Jiang Hu" (江湖) in its entirety (Boretz, Avron Albert, 1956). In the cultural imagination of novels, stories, and comics, "rivers and lakes" (Jiang Hu 江湖) represent a fantasy world inhabited by wanderers, adventurers, bandits who only rob the rich, along with thieves and gamblers. Whether by fate or choice, all these characters are alienated from the mundane world. Wandering among themselves, but somehow also separated from each other, there are also swordsmen, warrior monks, and other practitioners of martial arts who, with their heroic skills and abilities, achieve fame within the 'Mo Lam', which is the 'world of martial arts' (Boretz, Avron Albert, 1956)
"Would you like to be in my place?" – Si Gung asked me, opening one of the doors of his father's building. I answered without hesitation that I would not. – "A lot of people want to be in my place, but not with the obligations I have..." – he would have added.
You could see me sitting on a Saturday afternoon watching some Hong Kong crime film on my grandparents' video cassette player. It was my favourite spot, on my favourite day, watching some strange production in the hope of seeing a fight scene. The photography with that characteristic blue of Hong Kong films from the turn of the 1980s to the 1990s made me feel nostalgic for a time I had not lived through. From the clothes to the camaraderie between the characters and their lifestyle, everything enchanted me between the ages of 13 and 14. – "It is a world that can only exist beyond the stability and security of the village, the family, and conventional occupations"(Boretz, Avron Albert, 1956)
My Si Fu once told me that "life follows where the heart points", and sitting there in front of him at the old Walmart in Barra da Tijuca neighborhood, being very honest, I was expecting him to give me an answer that could relieve the weight I carried in my heart. There was an expectation from my father and others in my circle at the time that I would become a civil servant. I decided to suggest to my Si Fu, at the age of twenty-five, the possibility of becoming a professional in Ving Tsun. Due to the trust in our relationship, it would have been enough for him to say it was not a good idea for me to finally release myself from my vocation and do what was expected. However, he received the possibility with great openness, which completely disconcerted me. To him, it seemed obvious; to me, it was just the beginning of my problems in answering the call of my vocation. – "When your heart asks, what will you respond?" (Yamamoto, Tsunetomo. Hagakure: The Book of the Samurai. Translated by William Scott Wilson. Kodansha International, 2002.)
(Grão Mestre Leo Imamura em uma aula do Sistema RIS)
(Grand Master Leo Imamura during a class using the RIS System)



Nos últimos anos, tem sido um verdadeiro privilégio reconhecer meu Si Gung. Conversando de maneira aberta, a querida padaria Manhattan, na Zona Sul da cidade de São Paulo, tem sido palco para momentos bastante inspiradores. “...A quantidade de investimento que eu fiz na minha formação é o que me permite ter a vida que tenho hoje...” – dizia Si Gung. “...O problema é que às vezes a pessoa recebe um primeiro dinheiro e, em vez de continuar reinvestindo na sua qualificação, vai lá e compra uma TV grande, um carro...” – Si Gung tinha um olhar, nessas horas, de alguém que parece saber para onde certas condutas podem levar. “...Na Dimensão Kung Fu, a casa que você tem, o carro que você dirige, nada disso é importante...” – conclui ele.
Segundo Avron Boretz em seu estudo sobre "Jiang Hu" (江湖) de 1956, os heróis que vivem nesse mundo não se contentam com um simples petisco e um gole de bebida. De acordo com ele, esses personagens pediam verdadeiros banquetes e bebiam muito álcool. Isso não significava que estavam festejando ou exibindo sua masculinidade, mas sim que a vida incerta em "Jiang Hu" (江湖) trazia a possibilidade de um encontro com a morte a qualquer momento, tornando essas refeições um prelúdio para uma possível morte.
“...Não devemos ter medo da morte. Existem práticas que nos preparam para ela, como as artes marciais. Um artista marcial deve reconhecer a vida não como um direito, mas como um privilégio... Entende isso?” – pergunta Si Gung. “...Por isso, alguém que se diz profissional, mas se assusta com um boleto, não pode ser profissional de artes marciais. Aqui, nós entendemos a riqueza de cada momento, com seus altos e baixos...” – conclui ele.



In recent years, it has been a real privilege to get to know my Si Gung. In open conversations, the beloved Manhattan bakery in the South Zone of São Paulo has been the setting for many inspiring moments. "…The amount of investment I made in my qualification is what allows me to have the life I have today…" – Si Gung would say. "…The problem is that sometimes a person receives their first money and, instead of continuing to reinvest in qualifitacion, they go and buy a big TV or a car…" – Si Gung has a look at these times of someone who seems to know where certain behaviours will lead. "…In the Kung Fu Dimension, the house you have, the car you drive, none of that is important…" – he would conclude.
According to Avron Boretz in his 1956 study on "Jiang Hu" (江湖), heroes living in this world do not settle for a simple snack and a modest drink. According to him, these characters would request true banquets and drink a lot of alcohol. This did not mean they were celebrating or displaying their masculinity, but rather that the uncertain life in "Jiang Hu" (江湖) brought the possibility of a life-or-death encounter at any moment, making these meals a prelude to a potential death.
"…We should not fear death. There are practices that prepare us for it, such as martial arts. A martial artist should recognise life not as a right, but as a privilege... Do you understand that?" – Si Gung would ask. "…That’s why someone who claims to be a professional but is scared of a bill cannot be a true martial artist. Here, we understand the richness of each moment, with its ups and downs…" – he would conclude.


(Poster de Hong Kong do filme "The Killer" de 1989)
(A Hong Kong Poster for the movie "The Kller", 1989)

Um dos filmes mais memoráveis de Hong Kong que lembro de ter assistido foi "The Killer" (1989), não em uma tarde, mas em alguma noite de sábado de 1998 na casa dos meus avós. Chow Yun Fat é simplesmente meu ator favorito de todos os tempos! Porém, mais importante do que isso, é que no filme ele interpreta um arquétipo que o Professor Avron (1956) define como um fora da lei solitário, um cavaleiro errante, que prefere operar fora dos padrões hierárquicos. Ele vive pela honra e pela camaradagem. – “…Ele (entrevistado) soma o ethos da 'irmandade' em Jiang Hu (江湖) nos seguintes termos: 'Você pode esquecer todo o resto, porque para nós, o que importa é a honra'…” (Boretz, Avron Albert, 1956)
Lembro de dois domingos com Si Gung em que tive a honra de praticar diretamente com ele os conteúdos do Domínio "Mui Fa Jong" e, na outra oportunidade, o Nível 6 do Programa Ving Tsun Experience. Ambas as experiências serviram, em algum nível, para Si Gung me conhecer melhor – “…Você mostrou que 'é do ramo'…” – teria dito ele, sentado em uma das poltronas do hall de entrada do prédio dos seus pais.  Meses depois, em um jantar mais reservado no restaurante Koji, Si Gung elogiou, depois de cinco dias, meu semblante: “…Você está bem, está inteiro... Isso que é bom…” – Ele sorriu e prosseguiu brincando – “Tem gente que parece que dá graças a Deus quando vai embora... Nunca mais volta... Mas você parece bem... Olha aí…” – concluiu, bebendo mais um gole de sua bebida.
O Professor Avron chama quem “é do ramo” por um termo que em mandarim se diz “hàohàn” (好漢). Isso serve também para o arquétipo de Chow Yun Fat em "The Killer" (1989), ou qualquer pessoa que esteja disponível a viver, como já citado acima: “Em um mundo que só pode existir além da estabilidade e segurança da vila, da família e das ocupações convencionais”(Boretz, Avron Albert, 1956)


One of the most memorable Hong Kong films I recall watching was "The Killer" (1989), not on an afternoon, but on a Saturday night in 1998 at my grandparents' house. Chow Yun Fat is simply my favourite actor of all time! However, more importantly, in the film he plays an archetype that Professor Avron (1956) defines as a solitary outlaw, a wandering knight, who prefers to operate outside hierarchical norms. He lives by honour and camaraderie. – “…He (the interviewee) sums up the ethos of 'brotherhood' in Jiang Hu (江湖) in the following terms: 'You can forget everything else, because for us, what matters is honour'…” ((Boretz, Avron Albert, 1956)
I remember two Sundays with Si Gung when I had the honour of practising directly with him the content of the "Mui Fa Jong" domain and, on another occasion, Level 6 of the Ving Tsun Experience Programme. Both experiences served, in some way, for Si Gung to get to know me better – “…You showed that you ‘are in the business’…” – he would have said, sitting in one of the armchairs in the entrance hall of his parents' building. Months later, at a more private dinner at the Koji restaurant, Si Gung complimented, after five days, my appearance: “…You look well, you're intact... That’s good…” – He smiled and continued joking – “Some people seem to thank God when they leave... They never come back... But you seem well... Look at that…” – he concluded, taking another sip of his drink.
Professor Avron refers to those “in the business” with a term in Mandarin, “hàohàn” (好漢). This also applies to Chow Yun Fat’s archetype in "The Killer" (1989), or anyone willing to live, as previously mentioned: “In a world that can only exist beyond the stability and security of the village, the family, and conventional occupations” (Boretz, Avron Albert, 1956)

(Mestre Thiago Pereira ajuda Grão Mestre Leo Imamura 
em uma palestra na Zona Sul do Rio em 2018)

(Master Pereira assisting Grand Master Leo during a lecture in Rio, 2018)

"Se você não gosta de aventura, se você fica em pânico quando vê um boleto, se você não gosta de estudar o Sistema para fazer uma entrega de qualidade, é melhor fazer algo mais previsível, como uma carreira pública..." – enfatiza Si Gung em diferentes momentos – "Agora, se você gosta de aventura, se você entende os altos e baixos como uma experiência rica, então você é do 'ramo da emoção'" – conclui ele.
"cáizǐ (才子)" é uma expressão que, segundo o Professor Avron (1956), fala de um jovem talentoso que conseguiu superar todos os empecilhos para se tornar um funcionário público, algo que era difícil mesmo para filhos de famílias proeminentes. Então, o termo cáizǐ (才子), hoje se refere a uma pessoa com um futuro brilhante, devido a ter uma carreira sólida, estável e que aproveita seu status social devido à sua carreira.
Existem pessoas que manifestam a vocação do cáizǐ (才子) para vidas mais estáveis, mas são levadas pelo encanto que a vida de aventuras guiada pela honra do “hàohàn” (好漢) parece promover. Infelizmente, a vocação do “hàohàn” (好漢) exige "muito estômago" para os altos e baixos e uma clareza muito grande sobre a sua missão. Afinal, segundo o Professor Avron (1956), desde artistas marciais até professores de piano, vivem em Jiang Hu (江湖). São pessoas que vivem das suas habilidades sem a certeza do amanhã, fazendo com que o "cáizǐ (才子)" seja seu contraponto.


If you don’t like adventure, if you panic when you see a bill, if you don’t enjoy studying the System to deliver quality work, it’s better to pursue something more predictable, like a public career...” – emphasises Si Gung at different times – “Now, if you enjoy adventure, if you see the ups and downs as a rich experience, then you are in the 'emotion business'” – he concludes.
“cáizǐ (才子)” is a term that, according to Professor Avron (1956), describes a talented young man who has managed to overcome all obstacles to become a public official, something that was difficult even for children of prominent families. Today, the term cáizǐ (才子) refers to a person with a bright future, due to having a solid, stable career and leveraging their social status as a result of their career.
There are people who exhibit the vocation of cáizǐ (才子) towards more stable lives but are drawn by the allure of a life of adventure guided by the honour of “hàohàn” (好漢). Unfortunately, the vocation of “hàohàn” (好漢) demands "a strong stomach" for the ups and downs and a great deal of clarity about one's mission. After all, according to Professor Avron (1956), from martial artists to piano teachers, they live in Jiang Hu (江湖). These are people who live by their skills without certainty of the future, making the "cáizǐ (才子)" their counterpart.


(Mestre Pereira leva comida japonesa feita em casa para 
comer com seu Mestre Julio Camacho em 2012)

(Master Pereira takes home made japanese food to share 
with his Master Julio Camacho at one of his former houses)

Recentemente, pude ouvir também da minha Si Taai Vanise algo que me tocou muito durante sua visita à minha Família Kung Fu: o fato de que, em uma das visitas do Patriarca Moy Yat, ela e o Si Gung precisaram vender um carro para poder completar o que faltava para arcar com as despesas. Ela disse isso publicamente, e para mim sempre foi um grande mistério como Si Gung construiu sua carreira em um momento tão adverso economicamente em nosso país (ainda mais do que hoje). Ao relembrar o passado, Si Gung sempre se recorda de seus discípulos mais antigos que, segundo ele, "roeram o osso" com ele, mas que hoje, com as coisas mais favoráveis, acabaram se afastando.
O Professor Avron (1956) também fala da solidão experimentada por quem vive em Jiang Hu (江湖). Pois, embora essas pessoas vivam dentro da sociedade comum, as regras não são as mesmas. – "Nós não tiramos férias porque amamos o que fazemos" – diz às vezes Si Gung. Porém, me lembrei, ao ler esse trecho, de uma conversa com Si Fu em 2015, em um restaurante japonês que ele frequentou por um tempo no Recreio. Falava com ele sobre as dificuldades que encontrava em ser profissional. Era uma terça-feira, eu lembro bem, pois no domingo anterior a esta conversa, eu precisei sair de um evento de família no meio do domingo para atender a um evento da Família Kung Fu da Mestra Ursula Lima em sua casa. Dentro de mim, estava dividido: dirigia-me até lá de bom grado, mas preocupava-me com o fato de que as pessoas ao meu redor não entendiam o que eu fazia: "Pereira, o que você espera? Uma plateia batendo palmas?" – teria dito Si Fu, mudando a energia que minha voz chorosa e vitimista promovia – "No nosso trabalho, nós não temos uma plateia batendo palmas" – Si Fu resolveu ser mais didático – "Você que é romântico, sabe quando alguém quer fazer uma declaração de amor e aluga um helicóptero e joga rosas?" – indagou Si Fu – "Essa pessoa faz isso para a pessoa que está sendo homenageada ou para a plateia?" – concluiu ele – "A nossa atividade não só não tem plateia, como muitas vezes falta entendimento. Você precisa ver se é isso que você realmente quer fazer" – teria dito Si Fu, por fim.
Estamos em 2024, eu nunca desisti.

Recently, I also heard something from my Si Taai Vanise that deeply touched me during her visit to my Kung Fu Family: the fact that, during one of Patriarch Moy Yat's visits, she and Si Gung had to sell a car to make up the shortfall and cover the expenses. She mentioned this publicly, and it has always been a great mystery to me how Si Gung built his career in such an economically adverse time in our country (even more so than today). Reflecting on the past, Si Gung always remembers his older disciples who, according to him, "broke the bone" with him, but who, now that things are more favourable, have ended up drifting away.
Professor Avron (1956) also speaks of the loneliness experienced by those living in Jiang Hu (江湖). Although these people live within common society, the rules are not the same. – "We don’t take holidays because we love what we do," – Si Gung sometimes says. However, I remembered, upon reading this passage, a conversation with Si Fu in 2015 at a Japanese restaurant he frequented for a while in Recreio neighborhood. I was discussing with him the difficulties I faced in being a  martial arts professional. It was a Tuesday, I remember well, because the Sunday before this conversation, I had to leave a family event in the middle of the Sunday to attend an event of the Kung Fu Family of Master Ursula Lima at her home. Inside me, I was torn: I was willingly heading there, but I worried that the people around me did not understand what I was doing: "Pereira, what do you expect? An audience applauding?" – Si Fu would have said, changing the energy that my tearful and victimised voice was creating – "In our business, we don’t have an audience applauding" – Si Fu decided to be more didactic – "You, who are romantic, know when someone wants to make a love declaration and hires a helicopter to drop roses?" – Si Fu asked – "Does that person do it for the person being honoured or for the audience?" – he concluded – "Our business not only lacks an audience, but often lacks understanding. You need to see if this is truly what you want to do," – Si Fu would have said in the end.
We are in 2024, and I have never given up.



A DISCIPLE OF MASTER JULIO CAMACHO
Master Thiago Pereira
Leader of  Moy Fat Lei Family
moyfatlei.myvt@gmail.com
@thiago_moy 



terça-feira, 23 de julho de 2024

ALL THAT A SI FU CAN DO.

Às vezes, eu me pego pensando: "Será que eu sou mesmo do ramo?" - Quem sou eu para julgar as escolhas do meu Si Fu, mas me atrevo a dizer que a escolha do meu Nome Kung Fu foi perfeita para mim. Meu Nome Kung Fu tem o ideograma "Fat" (法), que, apesar da transliteração oficial da Moy Yat Ving Tsun Safeguard Group orientar para "Faat" (法), prefiro manter com apenas uma letra "a", pois foi assim que recebi em 2007 no dia do meu "Baai Si". Eu entendo que "Fat" (法) não seja o mesmo que "Lai" (禮). Porém, "Fat" (法) também pode ser traduzido como "procedimento" ou "modo". E então, nessas horas, penso que o "modo" pelo qual um Si Fu deveria pensar não deveria ser esse. Então eu paro de duvidar de mim mesmo.
Acho que esses dias acontecem com todos nós, e a convivência com o Si Gung tem sido muito importante para que eu entenda que não sou tão esperto quanto pensava. "Por isso, não devemos olhar para algumas das pessoas que compõem o Safeguard Group como elas são agora, mas como elas poderão vir a ser, mas têm que querer", teria dito ele em mais de uma ocasião. Mesmo assim, há momentos em que os fracassos seguidos em um movimento que eu já deveria dominar trazem um certo aperto no coração. Às vezes, eu penso em algum herói de algum filme de artes marciais; às vezes, eu penso no porquê comecei; às vezes, eu penso nos meus discípulos. Independentemente do que você vai pensar, você se prepara para começar toda a configuração inicial novamente (seja ela qual for). A seriedade com a qual o Si Gung conduz o meu processo me impede de agir diferente. É uma espécie de pacto - "...Podemos sim trabalhar, mas você está se preparando? Se você não perder meu tempo, podemos sim trabalhar... Eu não quero é perder meu tempo", diz ele em um certo tom de desafio. Para Si Gung, porém, nunca é perda de tempo, desde que você se dedique com um desejo sincero de seguir aprendendo.


Sometimes, I find myself thinking: "Am I really cut out for this?" Who am I to judge my Si Fu's choices, but I dare say that the choice of my Kung Fu Name was perfect for me. My Kung Fu Name features the ideogram "Fat" (法), which, despite the official transliteration from Moy Yat Ving Tsun Safeguard Group suggesting "Faat" (法), I prefer to keep with just one "a", as that's how I received it in 2007 on my "Baai Si" day. I understand that "Fat" (法) isn't the same as "Lai" (禮). However, "Fat" (法) can also be translated as "procedure" or "way". And so, at these times, I think that the "way" in which a Si Fu should think shouldn't be this way. Then I stop doubting myself.
I think these days happen to all of us, and living with Si Gung has been very important for me to understand that I'm not as clever as I thought. "That's why we shouldn't look at some of the people in the Safeguard Group as they are now, but as they could become, but they have to want to," he would have said on more than one occasion. Nevertheless, there are moments when repeated failures in a move I should already have mastered bring a certain tightness to my heart. Sometimes, I think of a hero from a martial arts film; sometimes, I think of why I started; sometimes, I think of my disciples. Regardless of what you will think, you prepare to start the entire initial setup again (whatever it may be). The seriousness with which Si Gung conducts my process prevents me from acting differently. It's a kind of pact - "...We can indeed work, but are you preparing yourself? If you don't waste my time, we can indeed work... I just don't want to waste my time," he says in a challenging tone. However, for Si Gung, it's never a waste of time, as long as you dedicate yourself with a sincere desire to keep learning.

Dependendo de uma simples construção de pergunta ou dúvida que você faça, Si Gung já é capaz de saber o quanto você tem se dedicado ou que tipo de acesso àquele conteúdo do Sistema você teve. Por isso, lidar com constantes tomadas de consciência a respeito de "furos" que eu tenho em meu entendimento do Sistema, às vezes não me chateiam tanto; em outras, me arrasam. Por isso, tenho também me jogado de cabeça nas oportunidades que me são dadas.
E aqui um fenômeno curioso acontece: De alguma maneira, toda a minha Família Kung Fu tem entrado instintivamente nessa mesma jornada de reestudo. Não sabia muito bem como seria conversar com cada discípulo a respeito de revisar o Sistema Ving Tsun, agora com mais condições de dar a eles um acesso com mais qualidade, mas nem foi preciso. Um a um, todos têm requisitado reestudar o Sistema desde o início - "Acho que essa foi minha melhor prática de 'Cham Kiu' até hoje..." - Ouvi de um dos meus discípulos. - "...Quero saber se esses estudos acontecerão sempre, não queria perder..." - Disse outro. - "Si Fu, pensei bem e acredito que meu problema nem esteja no Cham Kiu, mas no Siu Nim Tau. Queria saber se podemos estudar de novo desde o Siu Nim Tau" - Falou um dos mais antigos.
Esses pedidos espontâneos me tocaram profundamente nas últimas semanas. Nenhum deles sabe o quão incompetente me sinto às vezes com relação ao Sistema nos estudos com o Si Gung, mas de alguma maneira todos estão entendendo a mesma coisa que eu em termos de necessidade de estudo, ainda que não saibamos colocar em palavras.


Depending on a simple question or doubt you raise, Si Gung is already able to gauge how much you have dedicated yourself or what kind of access you have had to that System content. Therefore, dealing with constant realizations about "gaps" in my understanding of the System sometimes doesn't bother me so much; at other times, it crushes me. That's why I have also thrown myself wholeheartedly into the opportunities presented to me.
And here, a curious phenomenon occurs: Somehow, my entire Kung Fu Family has instinctively embarked on this same journey of restudy. I wasn't quite sure how it would be to talk to each disciple about revisiting the Ving Tsun System, now with better conditions to provide them with higher-quality access, but it wasn't necessary. One by one, they have all requested to restudy the System from the beginning - "I think this was my best 'Cham Kiu' practice to date..." - I heard from one of my disciples. - "...I want to know if these studies will always happen; I wouldn't want to miss out..." - said another. - "Si Fu, upon reflection, I believe my issue may not lie in 'Cham Kiu', but in 'Siu Nim Tau'. I would like to know if we can study from 'Siu Nim Tau' again" - spoke one of the more senior disciples.
These spontaneous requests have deeply touched me in recent weeks. None of them knows how incompetent I sometimes feel about the System in my studies with Si Gung, but somehow, everyone understands the same need for study, even if we cannot put it into words.

Ontem à noite, durante o instrumento do Programa que qualifica o tutor a conceder acesso aos marcos do Domínio Luk Dim Bun Gwan, foi mais um desses dias em que me deparei com minhas limitações. E não são poucas. No entanto, Si Gung teria dito: "...Talvez o grande Mestre apenas saiba o quanto ainda não sabe..." - Foi uma frase que me tocou profundamente, porque me fez lembrar de outra fala do Si Gung alguns anos atrás, sobre "o sucesso no círculo marcial talvez estar relacionado com a capacidade de continuar no jogo" - É como se você não desistisse mesmo ao perceber constantemente o quanto ainda não sabe.
Si Gung não brinca, não fala sobre vida pessoal, não conta histórias; cada minuto com ele é dedicado a um melhor entendimento sobre a salvaguarda do Sistema Ving Tsun. E tem sido muito especial notar que, de maneiras diferentes, Si Taai também atua da mesma forma. Assim como meu Si Baak Nataniel e os Si Suk Felipe e Tiago, por exemplo. Todos são pessoas que, cada uma com suas próprias características, não perdem tempo. Por isso, gosto muito do nome "Safeguard Group", porque fica muito clara qual é a nossa missão.
Então, é como se em uma "Foto Oficial" onde apareço sentado na posição de Si Fu, tenha eu cinco ou cem pessoas atrás de mim, não importa mais. O que vai importar é a condição que estou proporcionando a cada um dos discípulos de pé atrás de mim, de serem legítimos herdeiros da Linhagem Moy Yat. - "A escola de Kung Fu mais famosa da época tinha 3.000 alunos, e a Família Kung Fu do Patriarca Leung Jaan tinha seis discípulos. Ainda assim, a Família Kung Fu do Patriarca tinha muito mais respeito com seis discípulos... Já parou para pensar por que?" - Teria questionado Si Gung sem dar uma resposta, no final dos anos 2000, durante uma conversa por MSN comigo. Agora, com o "Safeguard Group" consigo finalmente entender.

Last night, during the instrument of the Program that qualifies the tutor to grant access to the milestones of the Luk Dim Bun Gwan Domain, was another one of those days where I confronted my limitations. And they are not few. However, Si Gung said: "...Perhaps the great Master only knows how much he still doesn't know..." - It was a phrase that deeply resonated with me because it reminded me of another statement from Si Gung years ago, about "success in the martial circle possibly being related to the ability to stay in the game" - It's as if you don't give up even when constantly realizing how much you still don't know.
Si Gung doesn't joke around, doesn't talk about personal life, doesn't tell stories; every minute with him is dedicated to a better understanding of safeguarding the Ving Tsun System. And it has been very special to notice that, in different ways, Si Taai also operates in the same manner. Just like my Si Baak Nataniel and the Si Suk Felipe and Tiago, for example. They are all individuals who, each with their own characteristics, do not waste time. That's why I really like the name "Safeguard Group", because our mission is made very clear.
So, it's as if in an "Official Photo" where I am seated in the position of Si Fu, whether there are five or a hundred people behind me, it doesn't matter anymore. What matters is the opportunity I am providing to each disciple standing behind me, to be legitimate heirs of the Moy Yat lineage. - "The most famous Kung Fu school of that time had 3,000 students, and Patriarch Leung Jaan's Kung Fu Family had six disciples. Yet, Patriarch's Family had much more respect with six disciples... Have you ever wondered why?" - Si Gung would have asked me, in the late 2000s, during an MSN conversation with me. Now, with the "Safeguard Group", I can finally understand.



A DISCIPLE OF MASTER JULIO CAMACHO
Master Thiago Pereira
Leader of  Moy Fat Lei Family
moyfatlei.myvt@gmail.com
@thiago_moy 




quarta-feira, 17 de julho de 2024

The celebration of Prof. Vanise Almeida's birthday in 2024




Me pareceu correto propor que organizássemos o aniversário da Si Taai Vanise Almeida. Devido ao nosso contato recente durante sua histórica visita ao Mo Gun da minha Família Kung Fu, situado no bairro do Méier, nos foi possível estabelecer um vínculo, graças à condução dela. "...Uma Si Mo no nível esperado por nós hoje, a Si Taai tem total condição de ser...", teria dito Si Gung em alguma conversa recente. De fato, me encantou muito a maneira pela qual a Si Taai faz seus apontamentos. Sempre com uma voz suave, mesmo que seja para chamar a atenção, foi um grande exemplo. Você simplesmente se vê seguindo o comando, sem que haja necessidade de "caras feias" ou situações que criem qualquer tipo de constrangimento.
Alguns dias depois de me oferecer para organizar o aniversário da Si Taai, dirigia meu carro na região da Barra da Tijuca quando Si Gung me ligou: "Está podendo falar, Thiago?"-  Si Gung costuma começar as ligações desta maneira. Devido à nossa diferença geracional, para mim às vezes é até desconcertante o respeito com o qual ele me trata, e isso não ocorre porque sou especial. Si Gung tem promovido essa conduta com todas as pessoas. Com isso, é possível ver como ele se conecta por vezes na dimensão humana e, em outros momentos, quando a mensagem começa por: "Mestre Pereira...", já fica fácil de identificar que seja lá qual for sua resposta, ela deve levar em consideração a função que você ocupa no círculo marcial, ou seja lá o que você tiver feito de errado, você também errou como um Mestre.

It seemed appropriate to suggest that we organise Si Taai Vanise Almeida's birthday. Due to our recent contact during her historic visit to our Kung Fu Family's Mo Gun, located in the Méier neighbourhood, we were able to establish a connection, thanks to her leadership. "...A Si Mo at the level expected by us today, Si Taai has every capability to be...", Si Gung is said to have mentioned in a recent conversation. Indeed, I was very impressed by the way Si Taai makes her points. Always with a gentle voice, even when calling our attention, she set a great example. You simply find yourself following her lead, without the need for "grimaces" or situations that create any kind of discomfort.
A few days after offering to organise Si Taai's birthday, I was driving in the Barra da Tijuca neighborhood area when Si Gung called me: "Can you talk, Thiago?" Si Gung typically starts his calls this way. Due to our generational difference, I sometimes find the respect with which he treats me a bit unsettling, and this isn't because I'm special. Si Gung has promoted this behaviour with everyone. It shows how he connects on a human level at times and, at other times, when the message starts with "Master Pereira...", it's clear that whatever your response is, it must take into account the role you play in the martial arts circle; in other words, whatever mistake you've made, you've also erred as a Master.



Com isso, não quero chamar a atenção para o fato de a proposta ter partido de mim, mas sim, por tudo que pude experienciar graças a esse movimento começando por essa ligação. Si Gung conversou comigo por cerca de meia hora sobre como eu estava e como eu pensava em realizar essa celebração. Em algum momento, ele deixou clara sua preocupação e da Si Taai, de que eu não estivesse indo além das minhas possibilidades - "...Não queremos que você quebre..." - teria dito ele se referindo ao "emocional". A simples preocupação que motivou aquela ligação me deu uma motivação ainda maior, por saber que todo o processo seria monitorado. E isso é muito importante. Não é uma questão de querer manter uma espécie de "cordão umbilical" preso a ninguém, nem ao meu Si Fu e nem ao meu Si Gung, mas sim uma crença de que nossas ações dentro da Família Kung Fu ressoam em todo o Clã e em toda a Linhagem, trazendo benefícios ou causando danos, seja naquele exato momento ou futuramente. Além disso, acredito muito no exemplo para os meus discípulos, de que seguiremos aprendendo, independentemente da titulação que alcancemos.

With this, I don't want to draw attention to the fact that the proposal came from me, but rather, to everything I could experience thanks to this initiative starting from this call. Si Gung spoke with me for about half an hour about how I was doing and how I planned to carry out this celebration. At some point, he made clear his concern, and Si Taai's, that I wasn't overextending myself - "...We don't want you to burn out..." - he said, referring to the "emotional" aspect. The simple concern that prompted that call gave me even greater motivation, knowing that the whole process would be monitored. And that is very important. It's not about wanting to maintain a kind of "umbilical cord" tied to anyone, neither to my Si Fu nor to my Si Gung, but rather a belief that our actions within the Kung Fu Family resonate throughout the Clan and the entire lineage, bringing benefits or causing harm, whether at that exact moment or in the future. Moreover, I strongly believe in setting an example for my disciples, that we will continue to learn regardless of the titles we achieve.



As conversas com a Si Taai seguiram em um ritmo muito particular. No início, eu precisava controlar meu desejo de arrematar a programação e fechar cada atividade. Com o tempo, deixei isso de lado e passei a entrar na lógica da Si Taai. Sua intenção sempre foi uma celebração leve, que nos unisse e fosse um tempo de qualidade em Família Kung Fu, tirando proveito da ausência de protocolos. Conforme as semanas passaram, percebi que a participação presencial não contaria com "muitos membros do Grande Clã". Levei esse tema à Si Taai, e ela me tranquilizou. Si Gung tem falado muito na necessidade de não buscarmos "maquiar" as coisas para parecer algo que não é, e Si Taai pareceu estar bem alinhada com ele, pois, sem nunca ter participado dessas conversas que tivemos, ela disse que não deveria me preocupar, pois lá estariam aqueles que desejassem. De minha Família Kung Fu, meu discípulo que até o momento tem sido onipresente, chamado Daniel Eustáquio, confirmou imediatamente. Porém, a boa surpresa veio de seu irmão Lucas Eustáquio, que foi o primeiro a confirmar. Lucas, um verdadeiro entusiasta das artes marciais, por mais de uma década, nunca se importou muito com qualquer tipo de interação que não trouxesse um aspecto técnico. Talvez pela sorte imbatível que minha Família carrega, foi exatamente quando se mudou para São Paulo que seu desejo de participar mais da Família Kung Fu ficou mais forte. E isso, graças ao Si Gung e também a mestres como Herbert Morais, Rodrigo Giarola e Paulo Camiz, que o acolheram no Instituto Moy Yat.

The conversations with Si Taai unfolded at a very particular pace. Initially, I had to restrain my urge to finalize the schedule and lock down each activity. Over time, I set this aside and began to align with Si Taai's approach. Her intention was always for a relaxed celebration that would unite us and provide quality time within the Kung Fu Family, taking advantage of the absence of protocols. As the weeks passed, I realised that the in-person participation wouldn't include "many members of the Great Clan." I brought this up with Si Taai, and she reassured me. Si Gung has been emphasising the need not to "disguise" things to appear as something they're not, and Si Taai seemed to be in agreement with him. Without ever having been part of those conversations, she said I shouldn't worry because those who wished to be there would attend.
From my Kung Fu Family, my disciple who has been omnipresent so far, Daniel Eustáquio, confirmed immediately. However, the pleasant surprise came from his brother, Lucas Eustáquio, who was the first to confirm. Lucas, a true martial arts enthusiast, for over a decade didn't pay much attention to any interaction that didn't have a technical aspect. Perhaps due to the unbeatable luck my Family carries, it was precisely when he moved to São Paulo that his desire to become more involved in the Kung Fu Family grew stronger. And this, thanks to Si Gung and also to Masters like Herbert Morais, Rodrigo Giarola, and Paulo Camiz, who welcomed him at the Moy Yat Institute.



Então lá estava eu com Daniel Eustáquio, quase em pé dentro do ônibus porque os bancos quase não reclinavam. Sentia-me como se estivesse em uma cápsula criogênica de algum filme de ficção científica: quase em pé, reto, e quase sem poder mexer o pescoço. Podia sentir o olhar de Daniel desviando do meu, mesmo que eu não estivesse olhando para ele. Além disso, eu tinha participado de um "happy hour" pois era noite de sexta-feira, e havia deixado para beber água oferecida no ônibus, mas aquele modelo não tinha água. "Oh, Deus..." pensei. Seriam três horas sem me mexer e com sede.
Algumas horas depois, você podia me ver sentado com Lucas (que nos encontrou na cidade de Campinas) e Daniel em uma espécie de sítio, já na cidade de Nova Odessa, onde ocorreria o evento. Chegamos mais cedo para tomar um café e fazer um pré-evento. Eu estava muito feliz naquele momento. Os sábados são meus dias favoritos da semana, e lá estava eu com dois discípulos queridos, desfrutando de uma temperatura deliciosamente baixa, e prestes a viver um dia excelente. Estes são os dias de grandes aventuras.

So there I was with Daniel Eustáquio, almost standing inside the bus because the seats hardly reclined. I felt like I was in a cryogenic capsule from some sci-fi movie: almost standing straight, barely able to move my neck. I could feel Daniel's gaze avoiding mine, even though I wasn't looking at him. Moreover, I had attended a happy hour since it was Friday night and had relied on the bus's offered water, but that model didn't have any water. "Oh, God..." I thought. It would be three hours without moving and feeling thirsty.
A few hours later, you could see me sitting with Lucas (who met us in Campinas) and Daniel at a kind of country house, already in the city of Nova Odessa, where the event would take place. We arrived early to have a coffee and do a pre-event. I was very happy there in that moment. Saturdays are my favourite days of the week, and there I was with two dear disciples, enjoying pleasantly cool weather, and about to experience an excellent day. These are the days of high adventures.



Chegamos com certa facilidade até o Jardim Botânico e, pouco tempo depois, o Mestre Felipe Soares e sua esposa Elisa Wanderley chegaram também. Sempre é uma felicidade encontrar os dois, não só devido ao carinho mútuo que existe entre nós, mas também pela condução suave que o Mestre Felipe promove na nossa relação, mesmo sendo nós dois tão diferentes. Então lá estava Si Taai subindo o caminho que leva até a entrada da recepção do Jardim Botânico. Junto dela estavam Lukas Imamura e Melissa Imamura, seus filhos, acompanhados por seus respectivos companheiros.
Si Taai estava delicadamente bem vestida para a ocasião, e em silêncio pensei no quanto eu estava mal vestido. Eu tinha me preocupado com as longas horas de ônibus, mas não com o evento em si. A preocupação com relação a isso é que registros são feitos, e para a história, fica marcado o quanto você não antecipou situações, incluindo sua apresentação pessoal. Mal começamos a caminhar, e Si Taai nos pediu que não usássemos nossos celulares, para que pudéssemos apreciar aquele momento estando completamente presentes nele - "Depois vocês podem dar mais uma volta e tirar fotos".


We arrived at the Botanical Garden quite easily, and shortly afterwards, Master Felipe Soares and his wife Elisa Wanderley arrived. It's always a joy to meet them, not only because of the mutual affection between us but also due to the gentle manner in which Master Felipe handles our relationship, despite our personality differences. Then there was Si Taai walking up the path leading to the entrance of the Botanical Garden's reception. Alongside her were Lukas Imamura and Melissa Imamura, her children, accompanied by their respective partners.
Si Taai was elegantly dressed for the occasion, and silently I thought about how underdressed I was. I had worried about the long hours on the bus but not about the event itself. The concern regarding this is that records are made, and historically, it marks how much you didn't anticipate situations, including your personal presentation. We had barely started walking when Si Taai asked us not to use our mobile phones so that we could fully appreciate the moment - "Later on, you can take another stroll and take photos."



A caminhada seguiu com nosso pequeno grupo prestando atenção aos detalhes do caminho, muitas vezes apontados e comentados pela Si Taai. Ela falava sobre diferentes cores, flores, aspectos, sempre com uma felicidade radiante. Naquele momento, lembrei-me de quando disse a ela que não teríamos muitos participantes presencialmente naquele dia, como algo ruim, algumas semanas antes. Ali, percebi que não era para ser uma pena apenas nós estarmos caminhando com ela, mas sim um privilégio. Também pude refletir enquanto a ouvia falar e se entusiasmar sobre o que na minha vida hoje me causa tamanho entusiasmo. Lembrei-me então dos momentos de Vida Kung Fu que tenho tido com Si Gung, e percebi que, apesar de estar apreciando esses momentos, talvez não os estivesse aproveitando como poderia, assim como Si Taai fazia ali com uma simples florzinha - "Olha! Que linda!" - dizia ela. - "O quanto algo realmente me tocou ao ponto de eu verbalizar?" - pensei. E lembrei-me do Chi Sau do Cham Kiu uma semana antes - "Como é bom praticar sabendo o que estamos fazendo!" - Percebi então, que já estou  no caminho para experimentar a felicidade desde que esteja aprendendo.

The walk continued with our small group paying attention to the details of the path, often pointed out and commented on by Si Taai. She spoke about different colours, flowers, aspects, always with a radiant happiness. In that moment, I remembered when I had told her that we wouldn't have many participants in person that day, as something negative, a few weeks earlier. There, I realised it wasn't meant to be a pity that it was just us walking with her, but rather a privilege. I also could reflect as I listened to her speak and get excited about what in my life today brings me such enthusiasm. I then remembered the moments of Kung Fu Life,  I've had with Si Gung, and realised that, despite enjoying those moments, perhaps I hadn't been fully embracing them as I could, just as Si Taai did there with a simple little flower - 'Look! How beautiful!' she would say. 'How much has something really touched me to the point of me verbalising it?' I thought. And I recalled the Chi Sau of Cham Kiu a week before - 'How good it is to practice knowing what we are doing!' I realised then that I'm already on the path to experiencing happiness as long as I am learning.

Durante o almoço, experimentamos uma comida realmente deliciosa e cantamos um singelo "Parabéns para você", com um "mini-bate-palmas", de maneira a não atrapalhar os demais fregueses. O bolo havia sido encomendado pela Melissa e estava realmente bonito.

During lunch, we enjoyed some truly delicious food and sang a simple "Happy Birthday" with a mini round of applause so as not to disturb the other customers. The cake had been ordered by Melissa and looked really beautiful. 

Lukas entregou o Hung Baau que materializava o desejo de todos os discípulos que participaram do mesmo. Si Taai estava realmente feliz, e foi quando nos encaminhamos para a reta final do evento, já com a presença do Mestre Washington Fonseca e da co-líder de sua Família Kung Fu, a Sra. Márcia. Online, representando os discípulos da décima primeira geração, estavam os queridos Mestre Nataniel Rosa e sua esposa Patricia Hallack. 

Lukas gave her the Hung Baau that embodied the wish of all the disciples who participated. Si Taai was genuinely happy, and it was when we moved towards the final stretch of the event, with the presence of Master Washington Fonseca and the co-leader of his Kung Fu Family, Mrs Marcia. Representing the eleventh-generation disciples online were dear Master Nataniel Rosa and his wife Patricia Hallack.

Si Taai havia sugerido que priorizássemos as participações presenciais devido à natureza do evento, mas Si Baak Mo Patricia Hallack estava realmente muito empenhada em ajudar a celebração a acontecer e muito sentida também por não poder estar presente. Sua sinceridade era tamanha que conversei com Si Taai para ambos entrarem online, e com uma caixinha de som cedida pela namorada do Daniel, a querida Liz, tudo correu bem.

 Si Taai had suggested prioritising in-person participation due to the nature of the event, but Si Baak Mo Patricia Hallack was really keen on helping the celebration happen and deeply saddened not to be able to be there. Her sincerity was such that I spoke with Si Taai to have both of them join online, and with a speaker borrowed from Daniel's girlfriend, dear Liz, everything went smoothly.




No final do dia, o evento ainda não havia acabado para mim. Em um gesto de muita gentileza, Mestre Felipe e Elisa nos levaram de carro até a cidade de Campinas. A viagem de volta parecia mais longa do que a ida pela manhã. Depois disso, jantamos e conversamos sobre a Família Kung Fu. Já na rodoviária, a sensação térmica era de 10ºC e eu estava aproveitando cada minuto. Daniel ficaria em São Paulo com seu irmão Lucas, e quando me sentei em meu lugar, muito mais confortável do que na ida, vi ambos em pé do lado de fora, esperando meu ônibus partir. Adormeci e acordei já na Avenida Brasil, pouco antes de chegar à rodoviária. Quando o ônibus parou, vi meu discípulo Luiz Grativol em pé, me esperando. Através da mesma janela, isso me tocou profundamente. Refleti sobre a responsabilidade que tenho, devido à dedicação que essas pessoas depositam na relação. Pensei em como retribuir pelo seu esforço. Lembrei-me então de uma conversa com o Mestre Herbert, que me contou o quanto foi emocionante para ele quando Si Gung chegou cansado de um voo difícil após alguns dias nos Estados Unidos, e mesmo assim dedicou cerca de duas horas a Herbert e seus alunos que foram buscá-lo no aeroporto. Incentivado por este forte exemplo, desisti de ir direto para casa e convidei Luiz para tomar um café. Ficamos juntos por cerca de 1h30min.
Espero poder avançar cada vez mais em direção a um futuro onde nos apoiamos mutuamente. Eu nunca desisti

At the end of the day, the event wasn't over for me yet. In a gesture of great kindness, Master Felipe and Elisa drove us to the city of Campinas. The journey back seemed longer than the morning one. After that, we had dinner and talked about the Kung Fu Family. At the bus station, the temperature felt like 10ºC and I was enjoying every minute of it. Daniel would stay in São Paulo with his brother Lucas, and when I sat in my seat, much more comfortable than on the way there, I saw both of them standing outside, waiting for my bus to leave. I dozed off and woke up already in Riol, shortly before reaching the bus station. When the bus stopped, I saw my disciple Luiz Grativol standing there waiting for me. Seeing him through the same window deeply moved me. I reflected on the responsibility I have, due to the dedication these people invest in our relationship. I thought about how to repay his effort. I then remembered a conversation with Master Herbert, who told me how moved he was when Si Gung arrived tired from a difficult flight after a few days in the United States, yet still dedicated about two hours to Herbert and his students who had come to pick him up from the airport. Encouraged by this strong example, I decided not to go straight home and invited Luiz for a coffee. We spent about 1 hour and 30 minutes together.
I hope to be able to advance more and more towards a future where we support each other. I never gave up.



A DISCIPLE OF MASTER JULIO CAMACHO
Master Thiago Pereira
Leader of  Moy Fat Lei Family
moyfatlei.myvt@gmail.com
@thiago_moy 



segunda-feira, 15 de julho de 2024

"WHAT I KNOW ABOUT TIGERS AND DRAGONS"

 

Lá estava eu, aguardando em silêncio o evento que estava prestes a acontecer. Acredito muito que se abrirmos mão por completo do que nos levou até as artes marciais, podemos nos perder pelo caminho. Estar naquele local, vendo aquelas pessoas, me fez permitir, por um momento sequer, esquecer que ali eu era Si Fu do meu discípulo Lucas, um "To Suen" do meu Si Gung Leo Imamura e um membro do círculo marcial. Por alguns segundos, eu era só o cara lendo a mais nova revista de artes marciais recém-comprada em algum dia de 1999 em Madureira.
Toda a ambiência proporcionada pela equipe do podcast "O que sei sobre tigres e dragões" era simplesmente maravilhosa. Estava muito feliz pela conquista desse marco nas artes marciais do Brasil por essas pessoas ao promoverem esse encontro. Era um sábado à tarde, e acredito que apenas muito amor pelas artes marciais seria capaz de levar alguém a empreender tamanho esforço. De minha parte, vibrava por dentro. Uma vibração com um "quê" de paradoxo: por um lado, lamentava não ter vivido algo assim quando comecei 25 anos atrás. Por outro, talvez não pudesse apreciar como consigo hoje.
Fiquei quieto e atento enquanto os mais velhos falavam. Verdadeiros pioneiros das artes marciais chinesas no Brasil.

There I was, silently awaiting the event that was about to unfold. I firmly believe that if we completely abandon what led us to martial arts, we risk losing our way. Being in that place, seeing those people, allowed me, for a fleeting moment, to forget that there I was the Si Fu to my disciple Lucas, a "To Suen" to my Si Gung Leo Imamura, and a member of the martial circle. For a few seconds, I was just the guy reading the latest martial arts magazine freshly bought on some day in 1999 in Madureira neighborhood.
The ambiance created by the team from the podcast "What I know about tigers and dragons" was simply wonderful. I was genuinely happy for the achievement of this milestone in Brazilian martial arts by these individuals in organizing this gathering. It was a Saturday afternoon, and I believe only a deep love for martial arts could drive someone to undertake such an effort. For my part, I was filled with inner joy. A joy tinged with a paradox: on the one hand, I lamented not having experienced something like this when I started 25 years ago. On the other hand, perhaps I wouldn't have been able to appreciate it as I do now.
I remained quiet and attentive as the elders spoke. True pioneers of Chinese martial arts in Brazil.

Terminava uma manhã de muitas atividades com Si Gung e Lucas, que havia começado às 7h da manhã no café da manhã. Para isso, Si Gung pegou seus pais em casa e fomos todos juntos a um restaurante vietnamita nas redondezas. Enquanto estacionava o carro de Si Gung, reparei que os Mestres Anderson Maia e Fábio Matsushita foram ao encontro de Si Gung na calçada enquanto ele tentava levar sua mãe para o restaurante. Estacionar o carro do Si Gung sempre é um desafio. Eu dirijo desde 2002, mas por ser o carro do Si Gung, sempre parece que estou pilotando uma nave espacial gigantesca, devido ao nível de tensão para não encostar o carro em nada (risos).
Conforme o Grande Clã se desdobra, as configurações de mesa ficam cada vez mais diversas e naquela tarde não foi diferente. Além dos pais do Si Gung, tínhamos quatro gerações da Linhagem Moy Yat presentes na mesma mesa. Pela etiqueta, alguém se adianta para pagar (ainda que o valor seja posteriormente dividido) de maneira a não quebrar o fluxo da mesa ou fazer alguém "perder a cara". A discrição é algo que prezamos. Naquele dia, resolvi ajudar meu discípulo Lucas e eu mesmo fiz um esquema de divisão da conta em seu celular e devolvi para ele. A ideia era fechar a conta e posteriormente dividir.  Naquele momento, percebi que ainda preciso melhorar como Si Fu. Afinal, desconsiderando as diferentes gerações presentes na mesa e notando outro membro da décima segunda geração levantando-se, eu deveria ter ido atrás. Acredito que, apesar de Lucas ser meu discípulo, era minha obrigação levantar. Caso contrário, estaria me colocando na décima primeira geração ao permanecer sentado. Talvez até na décima, considerando que Si Gung era o mais antigo presente.

It was the end of a morning filled with activities alongside Si Gung and Lucas, which had begun at 7 am with breakfast. Si Gung picked up his parents from home, and we all went together to a nearby Vietnamese restaurant. As Si Gung parked the car, I noticed that Masters Anderson Maia and Fábio Matsushita approached Si Gung on the sidewalk while he escorted his mother to the restaurant. Parking Si Gung's car is always a challenge. I've been driving since 2002, but because it's Si Gung's car, it always feels like I'm piloting a gigantic spaceship, given the level of tension I feel to avoid touching anything (laughs).
As the Grand Clan unfolds, the table configurations become increasingly diverse, and that afternoon was no exception. Besides Si Gung's parents, we had four generations of the Moy Yat lineage present at the same table. According to etiquette, someone steps forward to pay (even though the amount is later divided) so as not to disrupt the flow of the table or cause anyone to "lose face". Discretion is something we value. That day, I decided to assist my disciple Lucas by devising a bill-splitting scheme on his phone and returned it to him. The idea was to settle the bill and then divide it later. However, something unexpected happened. At that moment, I realised that I still need to improve as a Si Fu. After all, disregarding the different generations present at the table and noticing another member of the twelfth generation rising, I should have followed suit. Despite Lucas being my disciple, I believe it was my duty to stand up. Otherwise, I would have relegated myself to the eleventh generation by remaining seated. Perhaps even to the tenth, considering Si Gung was the most senior present.

Chegando ao local do evento, pude observar o quanto Si Gung é considerado e querido. Fui seguindo-o de longe e também encontrei alguns rostos conhecidos, como o Mestre Márcio Fogolin com seu discípulo. Mais ao fundo, estava o Grão Mestre Marcos Hourneaux. Foi uma experiência curiosa, pois troco mensagens com um dos filhos dele, o Si Fu Markinho, desde a época do Orkut, a primeira rede social do Brasil. E ali estava seu pai, ganhando vida como se tivesse saído de alguma revista ou foto de campeonato que vi quando era adolescente.
Também estava animado por poder estar com Lucas naquele momento. Toda a estrutura do local é muito impressionante e é tratada com esmero. Eu sabia que para Lucas, todos os motivos de artes marciais chinesas que ornamentavam o local seriam um deleite.

Arriving at the event venue, I could observe how highly regarded and beloved Si Gung is. I followed him from a distance and also encountered some familiar faces, including Master Márcio Fogolin with his disciple. Further back was Grand Master Marcos Hourneaux. It was a curious experience because I've been exchanging messages with one of his sons, Si Fu Markinho, since the days of Orkut, Brazil's first social network. And there was his father, coming to life as if he had stepped out of some magazine or championship photo I saw when I was a teenager.
I was also excited to be with Lucas at that moment. The entire venue's structure is very impressive and meticulously cared for. I knew that for Lucas, all the Chinese martial arts motifs adorning the place would be a delight.
Seu Malho Imamura, pai do Si Gung, também foi recebido com muita alegria por todos. Sua vitalidade é algo muito impressionante. Muito concentrado, ele parece prestar atenção o tempo todo sem desviar seu olhar para o celular ou qualquer outra coisa, como alguém mais jovem faria. Também me marca sempre seu constante semblante de sorriso e satisfação. Às vezes parece que as coisas mais simples ou as falas mais despretensiosas significam o mundo para ele. E durante todas as horas do painel ao vivo, lá estava Seu Malho, assistindo com atenção. Não satisfeito, fez questão de conversar e parabenizar quem encontrava pelo caminho ao final do evento. Um verdadeiro exemplo.

Mr. Malho Imamura, Si Gung's father, was also warmly welcomed by everyone. His vitality is quite impressive. He appears very focused, paying attention all the time without diverting his gaze to his phone or anything else, as a younger person might do. I'm also struck by his constant smile and look of satisfaction. Sometimes it seems that the simplest things or the most casual remarks mean the world to him. And throughout the entire live panel session, there was Mr. Malho, watching attentively. Not only that, he made a point of talking and congratulating everyone he met along the way at the end of the event. A true example.

De repente, chegou o Grão Mestre Dani Hu e pude conhecê-lo pessoalmente. Imediatamente senti uma conexão e tive a oportunidade de receber uma explicação dele, junto com seus discípulos, do meu discípulo Lucas e do Mestre Fogolin, sobre a simbologia do tigre na cultura chinesa, os diferentes tipos de peças de alegoria ao longo das eras, como a que vemos na foto, e suas cores. O Grão Mestre Dani Hu possui um grande carisma e um humor muito sutil. Foi muito especial poder ouvi-lo ao vivo também. Às vezes brincando com os outros painelistas e outras vezes apoiando-se no que os demais falavam, foi um grande aprendizado observar como ele conduziu sua participação naquele painel. Afinal, confesso que estava bastante curioso sobre a interação entre os painelistas. Apesar do clima amistoso, o Kung Fu de todos estava sendo demonstrado nos detalhes a cada palavra e gesto.

Suddenly, Grand Master Dani Hu arrived and I had the opportunity to meet him in person. I immediately felt a connection and had the chance to receive an explanation from him, along with his disciples, my disciple Lucas, and Master Fogolin, about the symbolism of the tiger in Chinese culture, the different types of allegorical pieces throughout the ages, like the one we see in the photo, and their colours. Grand Master Dani Hu possesses great charisma and a very subtle sense of humour. It was very special to hear him live as well. At times joking with the other panelists and at other times supporting what others were saying, it was a great learning experience to observe how he conducted his participation in that panel. After all, I must confess I was quite curious about the interaction between the panelists. Despite the friendly atmosphere, everyone's Kung Fu was demonstrated in the details with every word and gesture.

Resolvi sair do protocolo e, ao final, pedi para tirar uma foto posada com os painelistas. Não tive muita oportunidade de conversar com o Grão Mestre Hourneaux (esq) e o Mestre Paulo Silva (dir). No entanto, a sinceridade de ambos ao darem seus depoimentos, o carinho com o qual tratam as histórias do passado e a interação deles com meu Si Gung, como de fato velhos conhecidos que se reencontram, foi muito tocante. Eu sabia que estava presenciando a história acontecendo ali e também fiquei refletindo sobre todos os percalços que eles  enfrentaram e enfrentam para seguir em frente. De fato, um momento inesquecível. Um verdadeiro exemplo.

I decided to break protocol and, in the end, I asked to take a posed photo with the panelists. I didn't have much opportunity to converse with Grand Master Hourneaux (left) and Master Paulo Silva (right). However, their sincerity in giving their testimonies, the care with which they treat stories from the past, and their interaction with my Si Gung, like old acquaintances reuniting, was very touching. I knew I was witnessing history unfolding there and also reflected on all the challenges they have faced and continue to face to move forward. Indeed, an unforgettable moment. A true example.


"Si Gung, por que o senhor escolheu ir com aquela roupa?" - perguntei ao Si Gung, sentado no dia seguinte à nossa mesa habitual na padaria de sempre. Lucas ainda não havia chegado para o café da manhã. - "Como assim?" - perguntou Si Gung, levantando as sobrancelhas, parecendo alguém que procurava algo que tinha deixado passar na inocente pergunta que fiz.- "Eu represento mais do que a mim mesmo. Eu represento o Sistema Ving Tsun, eu represento a nossa Linhagem..." - teria dito ele. - "Não costumo usar gravatas. Eu também tenho o meu estilo. Mas principalmente eu represento mais do que a mim mesmo"- completou ele. Ficamos em silêncio por algum tempo, e ele prosseguiu: "Você, por exemplo: às vezes está bem vestido, às vezes nem tanto. Mas você tem que estar atento a isso e ao que você representa, que vai muito além de você mesmo" - Lembrei então de quando dois dias antes o acompanhava para cortar o cabelo-  "Acho que se você deixasse o cabelo mais baixo nas laterais ficaria muito bom"- comentou ele enquanto dirigia. Eu respondi: "A esposa do Si Suk Fábio Gomes disse que minha foto para o nosso site oficial ficou muito boa, mas não penso em raspar a cabeça agora"-  Si Gung então comentou: "Não disse para raspar, falei para deixar baixo nas laterais" -  Eu insisti: "Não sei, Si Gung, ainda não desisti de deixar o cabelo crescer". - Si Gung fez então uma curva suave em silêncio e comentou: "Você precisa decidir se quer ser um Mestre de Kung Fu ou um Rockstar", e sorriu. Ele concluiu que não era o caso de ter que ter o cabelo curto, mas que eu deveria estar atento à minha apresentação pessoal e ao que queria passar com ela. 

"Sabia que o relógio que a pessoa usa conta a história da pessoa?" - perguntou ele certa vez enquanto andávamos em um shopping. Si Gung discorreu sobre diferentes possibilidades ao se usar um relógio e todo o significado que ele carrega, sempre com um viés dentro da Dimensão Kung Fu -  "Por isso, se você não sabe usar um relógio, o melhor é nem usar" -  teria concluído ele.
Estar na companhia do Si Gung é a manifestação real do que ouvi do Patriarca Moy Yat em um dos vídeos apresentados nos Estudos sobre a Linhagem Moy Yat, que fazem parte do Programa de Salvaguarda, quando o Patriarca Moy Yat teria falado sobre como conviver com Ip Man era conviver com alguém que tinha uma vida com Kung Fu. E sigo me impressionando com a capacidade do Si Gung em se manter e manter quem está ao seu lado completamente imerso na Dimensão Kung Fu a todo o momento, onde nada do que parece é.


"Si Gung, why did you choose to go with that outfit?" - I asked Si Gung, sitting the next day at our usual table in the usual bakery. Lucas hadn't arrived yet for breakfast.- "What do you mean?" - Si Gung asked, raising his eyebrows, seeming like someone searching for something that had slipped through in my innocent question. - "I represent more than just myself. I represent the Ving Tsun System, I represent our Lineage..." - he would have said-  "I don't usually wear ties. I also have my own style. But mainly I represent more than just myself,"-  he concluded. We remained silent for some time, and he continued: "You, for example: sometimes you're well-dressed, sometimes not so much. But you have to be attentive to that and what you represent, which goes far beyond yourself."
I then recalled when two days earlier I accompanied him to get his hair cut-  "I think if you left the sides a bit shorter it would look really good," - he commented as he drove. I replied, "Si Suk Fábio Gomes' wife said my photo for our official website looked really good, but I'm not thinking about shaving my head right now."-  Si Gung then commented, "I didn't say shave, I said keep it low on the sides."-  I insisted, "I'm not sure, Si Gung, I haven't given up on letting my hair grow."
Si Gung then made a gentle turn in silence and commented, "You need to decide if you want to be a Kung Fu Master or a Rockstar," and smiled. He concluded it wasn't a matter of having short hair, but that I should be attentive to my personal presentation and what I wanted to convey with it.
"Did you know that the watch a person wears tells his/hers story?" - he asked once while we were walking in a shopping mall. Si Gung talked about different possibilities when wearing a watch and the significance it carries, always from a Kung Fu Dimension perspective. "That's why, if you don't know how to wear a watch, it's best not to wear one," he would have concluded.
Being in Si Gung's company is the real manifestation of what I heard from Patriarch Moy Yat in one of the videos presented in the Moy Yat Lineage Studies, which are part of the Safeguard Program, where Patriarch Moy Yat spoke about how living with Ip Man was to live with someone who had a life with Kung Fu. And I continue to be impressed by Si Gung's ability to remain and keep those around him completely immersed in the Kung Fu Dimension at all times, where nothing is as it seems.



A DISCIPLE OF MASTER JULIO CAMACHO
Master Thiago Pereira
Leader of  Moy Fat Lei Family
moyfatlei.myvt@gmail.com
@thiago_moy