terça-feira, 19 de setembro de 2023

The magical hot dog with GM Leo Imamura


Quando comecei a praticar Ving Tsun, pouco tempo depois parecia que todo o Núcleo estava voltado para aspectos de gestão. Naqueles tempos, o Sistema Ving Tsun por si só já era suficientemente exótico para um garoto de 15...16 anos como eu. E vendo tanta energia sendo colocada em melhoria de gestão e profissionalização, tornava tudo incompreensível para mim. Não ter parado de praticar por desmotivação, em parte, foi graças ao meu Si Fu e, em parte, um milagre. Muitos anos depois, eu me encontrava debruçado em uma mureta de um dos estacionamentos da primeira sede do Núcleo Méier, olhando os carros passando em câmera lenta lá na Rua Medina. "Do dia para a noite", quase todos os alunos abandonaram a prática, e sobraram seis. Como eu sabia tão pouco sobre como precificar o trabalho que oferecia, a conta não fechava. Conversava com Si Fu ao telefone, e ao final da conversa percebi algo muito importante: Eu ainda estava brincando de ser Diretor de Núcleo, mesmo um ano depois da sala alugada. Eu usava o tempo livre no Mo Gun para ler livros que não agregavam ao trabalho que eu realizava, apenas para matar o tempo até a chegada dos poucos alunos do horário da noite. Quando na verdade, não estava considerando me preparar melhor para quando um novo ciclo se iniciasse. Porém, minha "brincadeira" não pararia ali no ano de 2012. Apesar de me dedicar mais aos estudos e fazer questão de estar em todos os seminários possíveis nos anos seguintes, a quantidade de alunos subira vertiginosamente, mas minha falta de compreensão de como administrar o Núcleo seguia a mesma. Com isso, fazendo quase que um trabalho de filantropia ao deixar muitos praticantes frequentarem as aulas sem fazer qualquer tipo de acerto, em 2017 fomos obrigados a fechar as portas na Rua Medina. Enquanto assistia a um episódio de uma série com meu discípulo Cayo em meu Notebook, enquanto descansávamos com os últimos itens prontos para serem retirados e a sala entregue. Lembrei-me dos tempos de altas aventuras quando comecei e de todo o foco em gestão. Porém, não me culpei. Eu era jovem demais para entender o valor daquele processo e nada garantia que eu fosse capaz de contribuir com algo se fosse mais velho. Porém, me sentindo um tanto derrotado olhando a sala vazia, permiti-me ter aqueles devaneios.

When I began practicing Ving Tsun, shortly thereafter, it seemed like the entire School was focused on management aspects. In those times, the Ving Tsun System itself was exotic enough for a young lad of 15...16 years old like me. And seeing so much energy being devoted to management improvement and professionalization made it all incomprehensible to me. Not having stopped practicing due to demotivation was partly thanks to my Si Fu and partly a miracle. Many years later, I found myself leaning against a wall in one of the car parks at the first headquarters of the Méier School in wild Meier neighborhood, watching the cars pass in slow motion on Medina Street. 'Almost overnight,' nearly all the students abandoned the practice, and only six remained. Since I knew so little about how to price the work I offered, the math didn't add up. I would talk to Si Fu on the phone, and at the end of the conversation, I realized something very important: I was still playing at being a School Director, even a year after renting the room. I used my free time in Mo Gun to read books that didn't contribute to the work I was doing, just to pass the time until the few evening students arrived. When in fact, I wasn't considering preparing myself better for when a new cycle began. However, my 'play' didn't stop there in 2012. Despite dedicating myself more to studies and making it a point to attend all possible seminars in the following years, the number of students rose steeply, but my lack of understanding of how to manage the school remained the same. Consequently, almost like an act of philanthropy, allowing practitioners to attend classes without making any kind of payment in the face of the first difficulty, in 2017, we were forced to close the doors on Medina Street. While watching an episode of a series with my disciple Cayo on my notebook, as we rested with the last items ready to be removed and the room handed over, I remembered the times of high adventures when I started and all the focus on management. However, I did not blame myself. I was too young to understand the value of that process, and nothing guaranteed that I would be able to contribute anything if I were older. However, feeling somewhat defeated as I looked at the empty room, I allowed myself those reveries.
Me vi sentado em uma praça de Brasília para comer o famoso 'cachorro-quente da igrejinha' com Si Gung, Si Suk Vede e dois dos meus discípulos. Lembro-me bem da primeira vez que comi cachorro-quente na rua, em frente ao Cine Guaraci, no bairro de Rocha Miranda. Cheguei em casa contando ao meu avô como era incrível que tantas coisas pudessem caber em um cachorro-quente... Também fiz muitos lanches com meu Si Fu em lugares incríveis, como quando o levei para beber Tobi no Mercadão de Madureira, enquanto ele estava pelo bairro resolvendo questões pessoais. No entanto, estar sentado ali com o Si Fu do meu Si Fu era, por si só, uma situação completamente inédita para mim.
Si Gung permanecia calado, disponível, mas em silêncio. Ele não costuma dar continuidade a assuntos triviais. Se você tentar três vezes, ele aborda o tema a partir de uma 'Perspectiva Kung Fu' e o relaciona a algum tópico relevante para a preservação do Sistema Ving Tsun. Era o final do dia, no qual ele tinha dedicado toda a sua energia aos 'To Dai' do Mestre Thiago Quintela, mas reservou um tempo para estar comigo, meus discípulos e meu Si Suk sentados ali.
Apesar de não saber como aproveitar melhor aquele momento com meu Si Gung, senti que todos que estavam com ele ali estavam de alguma forma tocados pelas circunstâncias do momento. Simplesmente é impossível, depois de tantos anos, estar com discípulos de diferentes gerações em uma praça quase à meia-noite, se você não ama o que faz. Desde o episódio em que o Núcleo Méier passou a ter apenas seis alunos e quase fechou em 2012, passei a acreditar que tudo diz respeito ao compromisso, mas também estava enganado.

I found myself seated in a square in Brasilia, having the famous 'lil' church's hot dog' with Si Gung, Si Suk Vede, and two of my disciples. I vividly remember when I ate a street hot dog for the first time in front of the Guaraci Cinema in the Rocha Miranda neighborhood. I came home, telling my grandfather how incredible it was to fit so much into a hot dog... I've also had many snacks with my Si Fu in amazing places, like when I took him for a  north zone folk drink at the Madureira Market in North Zone of Rio while he was in the neighborhood dealing with personal matters. However, sitting there with my Si Fu's Si Fu was in itself a completely unprecedented situation for me.
Si Gung remained quiet, available but silent. He doesn't usually continue with trivial matters. If you try three times, he approaches the subject from a 'Kung Fu perspective' and links it to some relevant topic related to the preservation of the Ving Tsun System. It was the end of the day when he had devoted all his energy to the 'To Dai' of Master Thiago Quintela but had set aside some time to be with me, my disciples, and my Si Suk sitting there.
Although I didn't know how to make the most of that moment with my Si Gung, I felt that everyone who was there with him was deeply moved by the circumstances of the moment to some extent. It's simply impossible, after so many years, to be sitting in a square with disciples from different generations  near midnight if you don't love what you do. Since the episode when the Méier School had only six students and almost closed in 2012, I came to believe that it was all about commitment, but I was also mistaken


Foi apenas no final do ano passado que comecei a perceber isso... Sabe, quando achava que tudo girava em torno do compromisso com meu trabalho, eu parecia sempre cansado e tenso. Então passei a ter contato com praticantes da minha faixa etária de diferentes gerações como meus Si Suk Thiago Quintela e Felipe Soares e também com o Gabriel Mendes, que buscam um aprofundamento de entendimento do Sistema Ving Tsun que se comunica bem com o meu momento. É bem especial e inspirador ver pessoas que começaram no mesmo período que você, falando com tanta qualidade sobre o Sistema Ving Tsun.
É verdade que a 'Vida Kung Fu' não pode ser programada, inclusive o seu horário de término. Pois, sentado ali naquela hora da noite, me peguei pensando em quanto ainda me apoio no tempo cronológico para prover experiências.
Por fim, depois desse cachorro-quente tão marcante quanto o primeiro que comi nos anos 80 em Rocha Miranda, lembrei que já estou prestes a completar 40 anos de idade. O que fiz com o tempo que dediquei desde os 15, não dá para saber muito bem. Porém, espero poder manter a energia suficiente para um dia estar sentado não só com discípulos de diferentes gerações, mas também com alunos iniciantes tendo a determinação para nada falar e esperar que a abordagem correta aconteça. Com ou sem um Mo Gun. E talvez eu nunca chegue lá, mas se apenas me disponibilizar para o processo de tentar com um espírito de iniciante, quem sabe?

It was only at the end of last year that I began to realize this... You know, when I used to think that everything revolved around my commitment to my work, I always seemed tired and tense. Then I started to have contact with practitioners of my age group from different generations, such as my Si Suk Thiago Quintela and Felipe Soares, and also Gabriel Mendes, who seek a deeper understanding of the Ving Tsun System that resonates well with my current phase. It's quite special and inspiring to see people who started at the same time as you, speaking with such quality about the Ving Tsun System.
It's true that a 'Kung Fu Life' cannot be programmed, including its ending time. Because, sitting there at that late hour, I found myself thinking about how much I still rely on chronological time to provide experiences.
Finally, after that hot dog, as memorable as the first one I had in the 80s in Rocha Miranda, I remembered that I'm about to turn 40 years old. What I did with the time I dedicated since I was 15, it's hard to say. However, I hope to maintain enough energy to one day be seated not only with disciples from different generations but also with beginner students, having the determination to say nothing and wait for the right approach to happen. With or without a Mo Gun. And maybe I'll never get there, but if I simply make myself available for the process of trying with a beginner's spirit, who knows?

The Disciple of Master Julio Camacho
Thiago Pereira "Moy Fat Lei"
moyfatlei.myvt@Gmail.com


sábado, 9 de setembro de 2023

Visiting Master Quintela from Brasília.

Em uma tarde qualquer, desci de um carro alugado com dois discípulos em uma rua de Brasília. Procurávamos um Mo Gun com um nome que me chamou a atenção desde o primeiro momento - "Flor de Lótus". Subindo a rua com passos inseguros, procurávamos uma fachada que se assemelhasse a um Núcleo da Moy Yat Ving Tsun, e, no meu campo de visão, uma loja com o mesmo nome apareceu. Si Suk Quintela [foto acima] disse que seu Mo Gun ficava embaixo da loja de sua família. Acontece que a loja era no térreo! Então, atravessamos a rua. Meu discípulo Daniel achou que a entrada fosse por detrás, mas também não era. Finalmente, Daniel entrou na loja, e a esposa do Si Suk, a Sra. Gabriely, e uma To Dai chamada Nathalia nos receberam e mostraram uma singela porta que levava ao subsolo da loja. Quando a porta abriu, vi uma escada que levava até o subsolo, na parede direita, fotos da Linhagem Moy Yat de tempos remotos em Hong Kong, e um sorriso tomou meu rosto involuntariamente. Era como se estivesse adentrando um Mo Gun completamente diferente do usual, daqueles que meu Si Fu contava sobre suas viagens aos EUA.
Imagine você estar vinculado a um grupo por mais de vinte anos e nunca ter tido a oportunidade de passar um tempo que fosse com uma das pessoas mais queridas, com bom coração e dedicadas? Pois é, foram necessários exatos vinte e quatro anos na Família Kung Fu para finalmente poder conversar com calma com o Mestre Thiago Quintela [foto acima], um discípulo do meu Si Gung, o Grão Mestre Leo Imamura [foto acima].

On any given afternoon, I alighted from a rented car with two disciples on a street in Brasília[Brazil´s capital]. We were in search of a Mo Gun with a name that had caught my attention from the very beginning - "Lotus Flower". Ascending the street with uncertain steps, we looked for a facade that resembled a Moy Yat Ving Tsun School, and, within my field of vision, a shop bearing the same name came into view. Si Suk Quintela [photo above] mentioned that his Mo Gun was situated beneath his family's shop. As it turned out, the shop was on the ground floor! So, we crossed the street. My disciple, Daniel, thought the entrance might be at the back, but it wasn't there either. Finally, Daniel entered the shop, and Si Suk's wife, Mrs. Gabriely, and a To Dai named Nathalia received us and showed us a simple door leading to the shop's basement. When the door opened, I saw a staircase descending to the basement, on the right wall, pictures of the Moy Yat lineage from bygone times in Hong Kong, and a smile involuntarily graced my face. It felt as if I were entering a Mo Gun entirely different from the usual ones, the ones my Si Fu used to tell me about from his trips to the USA.
Can you imagine being affiliated with a group for over twenty years and never having had the opportunity to spend even a moment with one of the dearest, most kind-hearted, and dedicated individuals? Well, it took precisely twenty-four years in the Kung Fu family to finally be able to converse calmly with Master Thiago Quintela [photo above], a disciple of my Si Gung, Grandmaster Leo Imamura [photo above].
O dia havia começado bem mais cedo quando eu e meus discípulos estávamos envolvidos em um dos pré-eventos da viagem [Foto acima]. Tinha conversado com Si Fu duas vezes sobre essa viagem e, com sua aprovação, me dediquei a organizá-la. Passaríamos cinco dias em Brasília, convivendo com Famílias Kung Fu com as quais nunca havia interagido, exceto em ocasiões de celebrações de aniversários do Si Gung. Com isso, me deparei com um território desconhecido depois de muito tempo. Conversei com Si Fu pedindo orientações para não cometer gafes, mas uma delas se resumia bem - "Esteja atento".

The day had started much earlier when my disciples and I were involved in one of the pre-events before the trip [Photo above]. I had talked to Si Fu twice about this journey, and with his approval, I dedicated myself to organizing it. We would spend five days in Brasília, interacting with Kung Fu families with whom I had never engaged, except on occasions celebrating Si Gung's birthdays. With that, I found myself in unfamiliar territory after a long time. I spoke to Si Fu, seeking guidance to avoid making mistakes, but one piece of advice summed it up well - "Be aware."
Quando chegamos ao Mo Gun do Si Suk Quintela, estava ocorrendo uma prática do Si Suk Vede Carvalho, que vai a Brasília uma vez por mês, dirigindo por 800 km, para poder estar com meu Si Gung. Nessas viagens, todas as Famílias de Brasília se mobilizam para ajudá-lo. Si Gung permanecia calado enquanto Si Suk Quintela dava algumas orientações. Após uma breve apresentação do Mo Gun, meus discípulos começaram a participar. Sentei-me próximo ao Si Suk e ao Si Gung para acompanhar a prática, e depois de tantos anos acompanhando meu Si Fu, algumas situações são novidade. Em casos assim, procuro ficar quieto e só falar o indispensável.
Como toda essa viagem surgiu de uma missão que tinha para com o Si Gung, meu contato com o Si Suk e sua To Dai Nathalia já vinha ocorrendo ao longo do mês, para que pudesse enviar meu equipamento e acertar a participação da minha Família Kung Fu na "Visita Oficial" que ocorreria dois dias depois de nossa chegada. E sobre essa visita, publicamente quero dizer o quanto fiquei entusiasmado com a hospitalidade do Thiago [Foto acima], da Ana, do Rodolfo e da Nathalia, que são os membros da Família Kung Fu liderada pelo Si Suk Quintela e sua esposa, a Sra. Gabriely. Particularmente me marcou muito ver a Ana se divertindo com a prática do bastão já no último dia, e o abraço apertado que recebi do Thiago, como se fosse um velho amigo. Essa boa energia ao final de uma "Visita Oficial" foi para mim uma grande lição do conceito de "transformar o difícil em fácil", que acredito ser de autoria do Professor François Jullien.

When we arrived at Si Suk Quintela's Mo Gun, a practice for Si Suk Vede Carvalho was in progress. He travels to Brasília once a month, driving 800 km to be with my Si Gung. During these journeys, all the Kung Fu families in Brasília mobilize to assist him. Si Gung remained silent while Si Suk Quintela provided some guidance. After a brief introduction to the Mo Gun, my disciples began to participate. I sat near Si Suk and Si Gung to observe the practice, and after so many years of accompanying my Si Fu, some situations are still new to me. In cases like these, I aim to remain quiet and only speak when necessary.
Since this entire trip arose from a mission I had towards Si Gung, my contact with Si Suk and his To Dai Nathalia had already been occurring throughout the month, so I could send my equipment and arrange for my Kung Fu Family's participation in the "Official Visit" that would take place two days after our arrival. Regarding this visit, I publicly want to express how enthusiastic I was about the hospitality of Thiago [Photo above], Ana, Rodolfo, and Nathalia, who are the members of the Kung Fu Family led by Si Suk Quintela and his wife, Mrs. Gabriely. It particularly touched me to see Ana enjoying the staff practice on the last day and the warm embrace I received from Thiago, as if we were old friends. This positive energy at the end of an "Official Visit" was, for me, a great lesson in the concept of "turning the difficult into the easy," which I believe to be attributed to Professor François Jullien.

Durante a Visita Oficial organizada pela sua Família, ocasionalmente conversava com Si Suk Quintela durante algum intervalo. Ele comentava comigo o quanto gosta de morar em Brasília e o quanto a dinâmica entre ele e meu Si Baak Nataniel é benéfica para todos. Costuma brincar sobre "deixar o Si Gung trabalhar para ele". Então, não pude deixar de pensar em quão bacana seria meus To Dai passarem pelo mesmo processo com meu Si Fu. Ali, naqueles dias de grandes aventuras, pude perceber na prática o quão válido é poder compartilhar a responsabilidade da transmissão. Na tarde em que cheguei ao Mo Gun do Si Suk, apenas o Si Suk Vede e meus discípulos estavam praticando, e três gerações de Mestres da Linhagem Moy Yat estavam sentados. Si Suk Quintela transmite uma leveza. E falando em leveza, foi essa a principal impressão que tive do Si Suk Quintela [foto acima]: Um Líder de Família "leve".
Foram momentos muito impressionantes naquele Mo Gun, com os membros da Família Kung Fu entrando um a um, parecendo não ter hora marcada. Se tinham, não percebi. A filha do Si Suk ficava andando por lá, e apenas ela foi capaz de tirar o Si Gung de uma expressão séria para uma mais divertida. Observar a interação deles foi bem divertido. Si Gung, porém, não deixou de pontuar ao Si Suk Vede a importância da conduta marcial, ao não permitir que perdesse a atenção com as pessoas que entravam e saíam do recinto. Ele fez uma associação com um episódio no trânsito que o Si Suk tinha vivenciado. Apesar do ambiente descontraído, ninguém ali estava brincando.
No final, percebi a importância de tratar os temas do Mo Lam com a "Conduta Feminina", pois vi que mesmo quando exigidos, os praticantes continuam com energia e atentos.
Agradeço ao Si Suk, à sua esposa e aos membros dessa Família Kung Fu, que estão começando da maneira certa, pela oportunidade.

During the Official Visit organized by your Family, I occasionally found myself in conversation with Si Suk Quintela during breaks. He would remark to me how much he enjoys living in Brasília and how beneficial the dynamic between him and my Si Baak Nataniel is for everyone. He often jokes about "letting Si Gung work for him." So, I couldn't help but think about how wonderful it would be for my To Dai to go through the same process with my Si Fu. There, in those days of great adventures, I could see in practice how valuable it is to share the responsibility of transmission. On the afternoon when I arrived at Si Suk's Mo Gun, only Si Suk Vede and my disciples were practicing, and three generations of the Moy Yat lineage were sitting there. Si Suk Quintela exudes a sense of lightness. Speaking of lightness, that was the main impression I had of Si Suk Quintela [photo above]: a "light" Family Leader.

There were very impressive moments in that Mo Gun, with the members of the Kung Fu Family entering one by one, seemingly without a scheduled time. If there was a schedule, I didn't notice it. Si Suk's daughter was walking around, and only she was able to shift Si Gung from a serious expression to a more jovial one. Observing their interaction was quite enjoyable. However, Si Gung didn't fail to emphasize to Si Suk Vede the importance of martial conduct by not allowing himself to lose focus on the people coming and going from the premises. He drew an analogy with a traffic incident Si Suk had experienced. Despite the relaxed atmosphere, nobody there was playing around.
In the end, I realized the importance of addressing Mo Lam topics with a "Feminine Conduct," as I saw that even when challenged, practitioners remained energetic and attentive.
I would like to express my gratitude to Si Suk, his wife, and the members of this Kung Fu Family, who are starting off on the right foot, for the opportunity.

The Disciple of Master Julio Camacho
Thiago Pereira "Moy Fat Lei"
moyfatlei.myvt@Gmail.com


 

sexta-feira, 8 de setembro de 2023

A coffee with Master Julio Camacho during the morning breeze

Durante a Visita Oficial do meu Si Fu, combinamos um café da manhã reservado para membros seniores de nossa Família Kung Fu. Apesar de apenas eu e Roberto Viana estarmos  com Si Fu nas fotos, Claudio Teixeira e meu Si Hing Leonardo Reis também estiveram presentes. Eu havia sugerido um tema previamente, mas Si Fu preferiu abrir para os demais que também estavam presentes. De alguma maneira, todos tinham dúvidas a respeito da transmissão e preservação do Sistema Ving Tsun no futuro. Si Fu, que naquela manhã trajava o uniforme completo do "Instituto Julio Camacho" (Instituição que leva seu nome), parecia já, pela própria vestimenta, bem animado com as possibilidades desta nova fase de sua carreira. Quem sabe até mesmo um último ato na sua carreira antes de sua aposentadoria. Com isso, Si Fu falava com muita animação sobre seu novo momento, seu olhar atualizado sobre como a transmissão e preservação do Ving Tsun pode ocorrer, respeitando as características pessoais de cada Líder de Família que possa surgir a partir da Família Moy Jo Lei Ou. Mesmo com uma pergunta que meu Si Hing tomou todo o cuidado para fazer, a respeito de como ele pensava em conduzir sua Família no futuro, Si Fu foi totalmente a favor. Acho que vi o Si Hing se surpreender, ou talvez tenha apenas imaginado coisas... Porém, independentemente do que foi dito, chamou-me a atenção, de fato, a animação do Si Fu enquanto falava. Era uma fala com muita energia e extremamente contagiante. A impressão, em momentos assim, é que, independentemente do quão difícil o final de um ciclo tenha sido, o olhar ávido do Si Fu para a próxima etapa é tão impressionantemente energético que parece que tudo eram etapas pensadas para se chegar exatamente naquele ponto...

During the Official Visit of my Si Fu, we arranged a reserved breakfast for senior members of our Kung Fu Family. Although only Roberto Viana and I were with Si Fu in the photos, Claudio Teixeira and my Si Hing Leonardo Reis were also there. I had suggested a topic beforehand, but Si Fu preferred to open it up to the others who were present. Somehow, everyone had questions regarding the transmission and preservation of the Ving Tsun System in the future. Si Fu, who that morning was wearing the complete uniform of the ' Julio Camacho Institute' (an institution named after him), seemed already, by his attire alone, quite enthusiastic about the possibilities of this new phase in his career. Perhaps even a final act before his retirement. With this, Si Fu spoke with great animation about his new moment, his updated perspective on how the transmission and preservation of Ving Tsun can occur, respecting the personal characteristics of each Family Leader that may emerge from the Moy Jo Lei Ou Family. Even with a question that my Si Hing took great care to ask regarding how he envisioned leading his Family in the future, Si Fu was entirely supportive. I think I saw Si Hing being surprised, or maybe I just imagined things... Nevertheless, regardless of what was said, it truly caught my attention, the enthusiasm of Si Fu as he spoke. It was a speech full of energy and extremely optimisc. The impression in moments like these is that, regardless of how challenging the end of a cycle may have been, Si Fu's eager gaze towards the next stage is so impressively energetic that it seems as if everything were steps designed to lead to that exact point.

Acontece que aquele café da manhã me fez pensar muito em uma vez em que eu e Si Fu entramos juntos em um dos grandes elevadores do CEO Offices na Zona Oeste do Rio. Si Fu apoiou-se em uma barra de ferro em uma das extremidades do elevador, e eu me apoiei na outra. Ficamos em silêncio, e Si Fu começou a falar comigo. O assunto girava em torno de um irmão Kung Fu muito querido que havia se afastado dois anos antes de maneira não tão bacana e havia retomado o contato no café da manhã poucos minutos antes. Como sempre fomos muito próximos, Si Fu talvez tenha achado válido me alertar. Do que acredito ter ouvido, ele teria dito o seguinte: 'Pereira, evita entrar em qualquer tipo de assunto com ele relacionado ao que aconteceu... Evita chamar a atenção ou tentar dar lição de moral, sabe?' - Si Fu me olhou e prosseguiu - 'Não deve ter sido fácil para ele retomar o contato; ele já deve estar com muita coisa na cabeça... É importante ele ter espaço para respirar. Evita tocar em qualquer tema, e se vir alguém fazendo, neutraliza... Na hora certa, eu converso com ele...' Eu concordei e nunca falei com esse irmão Kung Fu. Porém, não deixei de refletir sobre o quanto, muitas vezes, mesmo tendo tido prejuízos de diferentes formas, Si Fu para preservar a relação não tocava no assunto, pois a própria pessoa que causou a situação não estaria em condições de tratar do tema antes que certo tempo tivesse passado.

That breakfast made me reflect on a time when Si Fu and I once entered one of the large elevators at the CEO Offices in the Western Zone of Rio together. Si Fu leaned against an iron bar at one end of the elevator, and I leaned against the other. We remained in silence, and Si Fu began to speak to me. The topic revolved around a much-loved Kung Fu brother who had distanced himself not so amicably two years earlier but had re-established contact just minutes before during the breakfast. Since we had always been very close, Si Fu perhaps found it worthwhile to alert me. From what I believe I heard, he said the following - 'Pereira, avoid getting into any kind of conversation with him related to what happened... Refrain from drawing attention or attempting to say anything, you know?' - Si Fu looked at me and continued - 'It must not have been easy for him to re-establish contact; he must already have a lot on his mind... It's important for him to have breathing space. Avoid touching on any topic, and if you see anyone doing so, neutralize it... At the right time, I will talk to him...' I agreed and never spoke with that Kung Fu brother about anything related. However, I couldn't help but reflect on how often, even though there had been losses in various forms, Si Fu refrained from discussing the matter in order to preserve the relationship, as the person who caused the situation would not be in a position to address the issue until some time had passed
Naquele café da manhã do último domingo, essa história voltava à minha mente diversas vezes... 
Quero terminar com uma frase desconexa em relação ao que foi escrito antes,mas que me ocorreu por estar no fundo de todo o texto,  e que ouvi de Si Fu quando tinha 17 anos e estava prestes a desistir - 'Thiago, sabe qual é a diferença entre um teimoso e um perseverante?' - Balancei a cabeça negativamente, e ele continuou - 'O teimoso tenta, mas desiste no meio; o perseverante vai até o final...' Lembro de ter aberto um sorriso, e Si Fu também sorriu enquanto prosseguia - 'Thiago, quando desistimos, sentimos um grande alívio... Mas quando vamos até o fim do que nos propomos... É uma sensação incomparável...' - Disse Si Fu em uma tarde qualquer de 2002 na recepção do Núcleo Jacarepaguá. Aqueles eram os tempos de altas aventuras.

At that last Sunday's breakfast, this story kept coming back to my mind several times... 
I want to conclude with a disconnected quote from what was written before, but that occurred to me now, which I heard from Si Fu when I was 17 years old and was about to give up - 'Thiago, do you know the difference between being stubborn and being persevering?' - I shook my head negatively, and he continued - 'The stubborn one tries but gives up halfway; the persevering one goes all the way...' I remember smiling, and Si Fu also smiled as he continued - 'Thiago, when we give up, we feel great relief... But when we go all the way with what we set out to do... It's an incomparable feeling...' - Si Fu said one afternoon in 2002 at the reception of the Jacarepaguá Centre. Those were the times of high adventures

The Disciple of Master Julio Camacho
Thiago Pereira "Moy Fat Lei"
moyfatlei.myvt@Gmail.com






quinta-feira, 7 de setembro de 2023

An essay on Master Nataniel Rosa


Já fazia algum tempo que via o meu Si Baak Nataniel Rosa sempre com uma garrafa em mãos durante os estudos que promovemos pelo Instituto Moy Yat. Ele estava ali na câmera e, de repente, bebia alguma coisa... Finalmente, pude estar com ele e perguntar do que se tratava. Com muita tranquilidade, ele disse: "É água."- Fiquei um tanto quanto frustrado e insisti se era apenas água mesmo, e ele confirmou: "Sim, bebo duas dessas por dia."-  Eu achava que fosse alguma receita, mas era só água mesmo. Acho que, de certa forma, a simplicidade com que o Si Baak leva a vida deixa os sonhadores como eu sem entender muito bem qual é o seu segredo.
Lembro que eu era um fã do Mestre Fábio Campi, e quando Si Baak Nataniel apareceu no antigo Núcleo Central e os dois começaram a praticar, mesmo o Si Suk Fábio Campi sorria, conforme o Si Baak parecia brincar com ele como se fosse um novato. Na ocasião, pensei que ele deveria ser realmente muito bom, para praticar com tanta facilidade com uma pessoa que eu admirava tanto. Recentemente, quando perguntado sobre a razão de ter sido reconhecido com um prêmio da International Wushu Kung Fu Hall of Fame em reconhecimento pelas suas conquistas e excelência, ele disse apenas: "...Porque eu mantive a relação com meu Si Fu..." E prosseguiu: "...Eu não me considero alguém muito inteligente, então por que abriria mão de fazer uso da inteligência dele a meu favor?" - Concluiu como quem diz o óbvio.

It had been some time since I saw my Si Baak Nataniel Rosa always with a bottle in hand during the studies we promote at the Moy Yat Institute. He was there on camera, and suddenly he would drink something... Finally, I was able to be with him and ask what it was. With great calmness, he said, 'It's water.' I was somewhat frustrated and insisted if it was just water, and he confirmed, 'Yes, I drink two of these a day.' I thought it was some recipe, but it was just water. I think that, in a way, the simplicity with which Si Baak approaches life leaves dreamers like me not quite understanding what his secret is.
I remember being a fan of Master Fabio Campi, and when Si Baak Nataniel appeared at the old MYVT Central School in Sao Paulo and they began to practice, even Si Suk Fabio Campi smiled as Si Baak seemed to play with him as if he were a rookie. At the time, I thought he must be really good to practice with such ease with someone I admired so much. Recently, when asked about the reason for being recognized with an award from the International Wushu Kung Fu Hall of Fame in recognition of his achievements and excellence, he simply said, '...Because I maintained my relationship with my Si Fu...' And he continued, '...I don't consider myself very intelligent, so why would I not make use of his intelligence to my advantage?' He concluded as if stating the obvious

Si Baak circula pelo seu Mo Gun com sua garrafa enorme de água... Ele está sempre rindo e conversando com alguns de seus discípulos como se fossem velhos amigos. Apesar de seu tamanho e presença, ele consegue desaparecer entre as pessoas sem nunca chamar a atenção para si. Enquanto isso, meu Si Gung, o Grão-Mestre Leo Imamura, passa a maior parte do tempo sentado na cadeira do escritório do Si Baak ou em uma das "Gau Yi" ao lado do Sam Toi. Si Gung interrompe a prática, faz comentários e conversa com os praticantes, enquanto Si Baak fica misturado no meio deles como se fosse mais um. Comportamento bem diferente do esperado de alguém que recebeu um prêmio tão importante, assistido por mais de dois milhões de pessoas que acompanhavam ao vivo pela internet o evento que ocorria no Canadá. Sobre o fato de que já é um Líder de Família veterano com o título de Mestre Sênior e ainda assim, está sempre com seu Si Fu com um espírito de iniciante, ele comenta - "...Esse é o nosso diferencial. Existe toda uma movimentação ocorrendo, e precisamos permanecer unidos..." - Diz Si Baak.

Si Baak moves around his Mo Gun with his enormous water bottle... He's always laughing and chatting with some of his disciples as if they were old friends. Despite his size and presence, he manages to blend in among the people without ever drawing attention to himself. Meanwhile, my Si Gung, Grandmaster Leo Imamura, spends most of his time sitting in Si Baak's office chair or in one of the 'Gau Yi' next to the Sam Toi. Si Gung interrupts the practice, makes comments, and talks to the practitioners, while Si Baak mingles among them as if he were just one of them. This behavior is quite different from what you would expect from someone who received such an important award, watched by over two million people who were tuning in live via the internet to the event happening in Canada. Regarding the fact that he is already a veteran Family Leader with the title of Senior Master and still maintains a beginner's spirit with his Si Fu, he comments, '...That's our differentiating factor. There's a whole movement happening, and we need to stay united...' - says Si Baak.
Quando perguntei ao Si Baak sobre como estava a sua agenda, ele respondeu: "Neste período, minha agenda será a do seu Si Gung." Essa resposta me tocou profundamente, pois fiquei alguns minutos lembrando de quando saía correndo da faculdade para tentar pegar um ônibus que me levasse a tempo de almoçar com o Si Fu e a Paula Gama do outro lado da cidade. Logo depois, comecei a trabalhar com Ving Tsun no bairro do Méier, e me perguntei, ao ler aquela mensagem, quantos anos haviam se passado desde que eu corria pra almoçar com meu Si Fu. Então, pude ver o Si Baak atuando como um assistente do Si Gung em várias oportunidades, inclusive com meus discípulos [foto acima] que estavam comigo. Si Gung permite-se não olhar diretamente enquanto trata de outros assuntos, já que Si Baak pontua como se fosse o próprio Si Gung falando. Isso é bastante curioso, pois ouvi dizer que o Si Taai Gung Moy Yat abriu seu primeiro Mo Gun próximo ao Mo Gun do Si Jo Ip Man para continuar próximo ao seu Si Fu. Portanto, como o Si Baak, que às vezes parece ter um comportamento de coadjuvante em seu próprio Mo Gun, tem discípulos tão afiados, ainda que tão diferentes dele? Si Baak diz que não concorda o tempo todo com o Si Gung, mas se apresenta para ter conversas difíceis sempre que necessário. E eu acredito nisso, pois ele consegue variar sua abordagem de algo completamente descontraído para um comentário muito sério e assertivo em instantes.

When I asked Si Baak about his schedule, he replied, 'During this period, my schedule will be the same as your Si Gung's.' This response touched me deeply, as I spent a few minutes reminiscing about the times when I used to rush from college to catch a bus that would take me in time for lunch with Si Fu and Paula Gama on the other side of the city. Later, I began working in Méier, and when I read that message, I wondered how many years had passed. Then, I could see Si Baak acting as an assistant to Si Gung on various occasions, even with my disciples [pictured above] who were with me. Si Gung allows himself not to look directly while dealing with other matters, as Si Baak punctuates as if it were Si Gung himself speaking. This is quite curious, as I heard that Si Taai Gung Moy Yat opened his first Mo Gun near Si Jo Ip Man's Mo Gun to remain close to his Si Fu. So, how does Si Baak, who sometimes appears to have a supporting role in his own Mo Gun, have disciples who are so sharp, albeit so different from him?
Si Baak says he doesn't agree with Si Gung all the time but is always ready to engage in difficult conversations when needed. And I believe that, as he can transition from a completely relaxed approach to a very serious and assertive comment in an instant
Ao final de cinco dias com Si Baak, pude ouvir dele sobre como meu Si Fu havia participado de vários momentos de sua jornada, seja ligados à carreira ou à Vida Kung Fu em viagens. Porém, de alguma maneira, foi no penúltimo dia da viagem, no encerramento da Visita Oficial do Núcleo Flor de Lótus, que meus discípulos ficaram muito impressionados com ele.
Si Baak havia passado o dia ali pelos cantos durante o evento de seu irmão Kung Fu mais novo. Pouco falava, às vezes gargalhava e em outros momentos mostrava vídeos de motores para o Si Gung nos intervalos. - "...Ele poderia nem ter ido, mas ele fez questão de vir nos dois dias." - Pontuou Si Gung em outro momento, evidenciando a escolha do Si Baak em estar presente. Então, quando as palavras foram passadas a ele, toda aquela brincadeira deu lugar a comentários muito sérios e importantes sobre vários pontos que ocorreram ao longo do dia. Meus discípulos ficaram muito impressionados, não apenas com a mudança de tom em sua fala, mas também com a qualidade do que dizia, mesmo aparentando não estar prestando atenção ao longo do dia. Foi uma verdadeira aula de Mestre naquele momento. Ao passar por ele enquanto todos se despediam, Si Gung disse para ele apenas o seguinte: "Muito boa a sua fala."
Apesar disso, o que mais me marcou ocorreu em nosso último abraço. Si Baak disse: "Volte sempre que quiser... É sério... Somos todos uma grande família."

At the end of five days with Si Baak, I could hear from him about how my Si Fu had participated in various moments of his journey, whether related to his career or the Kung Fu Life during travels. However, in some way, it was on the penultimate day of the trip, at the conclusion of the Official Visit to the Lotus Flower MYVT School, that my disciples were greatly impressed by him.
Si Baak had spent the day in the corners during the event of his younger Kung Fu brother. He spoke little, sometimes laughed, and at other times showed videos of engines to Si Gung during breaks. - '...He didn't have to come at all, but he made a point of being there for both days.' - Si Gung pointed out at another moment, highlighting Si Baak's choice to be present. Then, when the words were passed to him, all that playfulness gave way to very serious and important comments about various points that had occurred throughout the day. My disciples were deeply impressed not only by the change in tone in his speech but also by the quality of what he said, even though he seemed not to be paying attention. It was a true Masterclass at that moment. As I passed by him while everyone said their goodbyes, Si Gung said to him only the following: 'Your speech was very good.'
Despite this, what struck me the most happened in our last embrace. Si Baak said, 'Come back anytime you want... Seriously... We are all one big family'

The Disciple of Master Julio Camacho
Thiago Pereira "Moy Fat Lei"
moyfatlei.myvt@Gmail.com







quarta-feira, 6 de setembro de 2023

A historic visit by Master Julio Camacho: A rookies heart.


Mais de setenta dias atrás, meu Si Fu Julio Camacho ofereceu a possibilidade de organizar uma visita sua no mês de setembro. Seria então a primeira vez que minha Família Kung Fu cuidaria de sua vinda. Para mim, essa visita oficial era importante por outras razões, e por que não beneficiar a todos no processo? Com isso, pensamos em uma programação que fosse a mais abrangente possível. Não importaria se você era um praticante veterano, alguém que está afastado das práticas ou apenas um convidado. Meus discípulos convidaram os membros de todo o Clã Moy Jo Lei Ou, e para os que se fizeram presentes, tenho certeza que foi um evento histórico. Porém, nada disso seria possível sem a inabalável vontade de Si Fu em estar presente...

Over seventy days ago, my Si Fu Julio Camacho offered the possibility of arranging his visit to Brazil in the month of September. It would be the first time that my Kung Fu Family alone would take care of your visit. For me, this official visit was significant for other reasons, and why not benefit everyone in the process? With that in mind, we devised a schedule that would be as comprehensive as possible. It wouldn't matter if you were a seasoned practitioner, someone who has been away from the practice, or simply a guest. My disciples extended invitations to members from the entire Moy Jo Lei Ou Clan, and for those who attended, I'm sure it was a historic event. However, none of this would have been possible without Si Fu's unwavering determination to be present

Si Fu havia saído de casa na sexta-feira pela manhã em um longínquo lugar chamado Sarasota, na Flórida. Antes disso, ele havia ficado em um abrigo devido a um furacão por quatro dias. Naquela sexta-feira, ele trabalhou, alugou um carro, pegou dois aviões e apareceu sorrindo no Aeroporto Internacional do Rio no dia seguinte, às 7h da manhã. Eu o aguardava e pude ver seu sorriso de frente. Mais tarde, naquele mesmo dia, enquanto tomávamos café em um canto escondido de um shopping da Zona Oeste do Rio, ele teria dito: "... Você não faz ideia do que eu fiz para estar aqui. Se isso não for o suficiente para demonstrar o meu desejo de estar aqui com você..." - Aquelas palavras estavam envoltas em um incrível exemplo, pois durante todo o dia, Si Fu conversou, interagiu, demonstrou movimentos, palestrou, e tudo isso com um grande sorriso no rosto, seguido de um semblante como se fosse a pessoa mais descansada da sala, quando na verdade estava em trânsito há mais de 24 horas.

Si Fu had left his home on Friday morning in a distant place called Sarasota, Florida. Prior to that, he had stayed in a shelter due to a hurricane for four days. On that Friday, he worked, rented a car, took two flights, and arrived with a smile at Rio International Airport the following day at 7 a.m. I awaited him and could see his smile up close. Later, on that same day, while we were having coffee in a secluded corner of Barra Shopping, he would have said, '...You have no idea what I did to be here. If this isn't enough to demonstrate my desire to be here with you...' Those words were wrapped in an incredible example because throughout the day, Si Fu conversed, interacted, demonstrated movements, lectured, all with a broad smile on his face, followed by an expression as if he were the most well-rested person in the room, when in fact he had been in transit for more than 24 hours.

Ao fundo a direita, observo meu Si Fu conduzir uma conversa sobre o boneco de madeira.
In the background on the right, I watch my Si Fu 
conduct a conversation about the wooden dummy.

Uma das razões fundamentais desta visita era aproximar o meu Si Fu da minha Família Kung Fu. Devido à sua ética, ele prefere relacionar-se com os meus discípulos através de mim ou na minha presença, evitando assim quaisquer mal-entendidos intergeracionais. Para mim, era fundamental que essa aproximação ocorresse, pois atribuo ao Si Fu tudo o que sei sobre Kung Fu. Mesmo quando não era ele quem dizia, mostrava ou comentava algo, foi através das oportunidades que ele me proporcionou que pude ter esse acesso. Eu diria até mesmo que desenvolvi a habilidade para compreender e aprender. Portanto, é natural o desejo de aproximá-lo dos meus discípulos, para que eles possam ter contato com essa pessoa tão importante para mim.
Mesmo com a presença de membros de outras Famílias, essa intencionalidade não foi em momento algum prejudicada, tendo em vista que nos preparamos muito para recebê-lo. Os erros ocorreram aqui e ali, mas ninguém foi capaz de duvidar do esforço inteligente empreendido pelos membros da Família Moy Fat Lei para receber não apenas o Si Fu, mas todos os que estiveram lá.

One of the fundamental reasons for this visit was to bring my Si Fu closer to my Kung Fu Family. Due to his ethics, he prefers to interact with my disciples through me or in my presence, thus avoiding any intergenerational misunderstandings. For me, it was essential that this connection took place because I attribute everything I know about Kung Fu to Si Fu. Even when it wasn't him who said, demonstrated, or commented on something, it was through the opportunities he provided me with that I could gain access. I would even say that I developed the ability to comprehend through him. Therefore, it is only natural for me to desire to bring him closer to my disciples so that they can have contact with this person who is so important to me.
Even with the presence of members from other families, this intentionality was never compromised, considering that we made extensive preparations to receive him. Errors occurred here and there, but no one was capable of doubting the intelligent effort undertaken by members of the Moy Fat Lei Family to welcome not only Si Fu but also everyone who was present.

Curiosamente, nos momentos mais importantes em que ocorreram conversas marcantes entre nós neste final de semana, esqueci de tirar fotos em todas elas. Em uma oportunidade, até mesmo Si Fu sugeriu que o registro fosse feito e, dez segundos depois, esqueci-me completamente. Acho que, de certa maneira, o que foi dito, ouvido e sentido foi tão importante que fiquei completamente imerso. "...A prova de que a decisão que tomei lá atrás foi acertada é nós estarmos aqui agora tendo essa conversa..." - Disse-me Si Fu em certo momento.
Para mim, a prova de que esta visita foi bem-sucedida foi o coração de novato com o qual levei Si Fu até o aeroporto em sua despedida: Não sabia se falava, se ficava em silêncio. Errei o estacionamento, a mala dele com o passaporte ficou presa dentro do carro e a chave não abria. Em todo o trajeto, parecia estar dirigindo um tanque de guerra cometendo erros básicos no trânsito... Tudo isso por conta da força do símbolo atribuído à relação, ou qualquer outro sentimento que não sei explicar.
Apesar dos esquecimentos, a foto mais importante dessa viagem eu acho que consegui tirar, que é esta no aeroporto que fecha esta postagem. Não me recordo de me posicionar tão formalmente para uma foto em um momento e local geralmente descontraídos, com Si Fu como nessa foto... Coração leve, missão cumprida, e o grande exemplo de que mesmo falando tanto de que o Kung Fu deve possibilitar você viver a vida de uma maneira leve, quando ela fica pesada, Si Fu parece saber lidar com ela de maneira muito inspiradora também, como fez com o pesado roteiro para se fazer presente.

Interestingly, in the most important moments when the most remarkable conversations occurred between us this weekend, I forgot to take photos in all of them. On one occasion, even Si Fu suggested that the recording be done, and ten seconds later, I completely forgot. I think that in a way, what was said, heard, and felt was so important that I became completely immersed. "...The proof that the decision I made back then was correct is us being here now having this conversation..." - Si Fu told me at a certain point.
For me, the proof that this visit was successful was the rookie's heart with which I took Si Fu to the airport upon his departure: I didn't know whether to speak or stay silent. I missed the parking, his suitcase with the passport got stuck inside the car, and the key wouldn't open it. Throughout the road, it seemed like I was driving a tank, making basic traffic errors... All of this, because of the strength of the symbol attributed to the relationship, or any other feeling that I can't explain.
Despite the forgetfulness, I think I managed to take the most important photo of this trip, which is the one at the airport that concludes this post. I don't recall ever positioning myself so formally for a photo in a usually relaxed moment and location, with Si Fu as in this photo... Light heart, mission accomplished, and a great example that even though he talks so much about Kung Fu enabling you to live life lightly, when it gets heavy, Si Fu seems to know how to handle it in a very inspiring way as well, as he did with the heavy script to be present.


The Disciple of Master Julio Camacho
Thiago Pereira "Moy Fat Lei"
moyfatlei.myvt@Gmail.com