
(Com Mestre Senior Leandro Godoy e Mestre Senior Fabio Gomes)
Quando tive acesso ao domínio "Baat Jaam Do" era julho de 2008. Minha mente estava em outras questões e eu não sabia o que aquilo significava. Você então poderia me ver, um ano depois, decidindo se comprava ou não um par de Baat Jaam Do que viriam da China. A oportunidade estava ali, mas eu não via muita razão para fazê-lo. Meu sentimento ao praticar o "Baat Jaam Do" naquele período era o de que eu precisava me forçar a fazê‑lo. O "Baat Jaam Do" é um ápice em vários sentidos, e um deles é a de exploração do Sistema Ving Tsun. Em casos como o meu, você acaba fazendo uso de recursos fora da "dimensão Kung Fu" porque não construiu de fato uma mentalidade que lhe permita simplesmente estudar. Com isso, algo muito simples para mim passava completamente despercebido: Os aspectos estratégicos da configuração do Baat Jaam Do.
Nunca me passou pela cabeça, depois de um ano, que o entendimento de sua configuração poderia contribuir para o estudo. Acabei adquirindo o par vindo da China por incentivo do meu irmão de Kung Fu, Vlaidmir Anchieta. Com seu carinho costumeiro para comigo, ele me disse que não sabíamos quando teríamos outra oportunidade de adquirir um par como aquele para praticar. Por não saber nem como começar a explorar a configuração, aquele primeiro par parecia grande demais para mim e, rapidamente, meus pulsos doíam devido à força que eu empregava.
Aquilo me irritava profundamente; a cada prática eu me sentia mais burro. Era como se você pegasse um espelho que amplificasse todas as suas falhas em determinado processo. Não é fácil lidar com isso. Eu também não queria reclamar do Baat Jaam Do — não ouvia ninguém reclamar — e não queria que parecesse que eu não sabia como usá‑lo. Foi apenas em 2013, durante um estudo promovido pelo Grão‑Mestre Leo Imamura em uma das casas onde meu mestre morou, que eu vi, pela primeira vez, um slide com as diferentes partes da faca e seus nomes.

(Grão-Mestre Leo Imamura fala da configuração do "Baat Jaam Do", 2013)
Existe um potencial nas coisas, mas não será todo o potencial que vamos usar. Outra coisa importante, é que mesmo que a disposição de algo seja potencialmente estratégica, isso pode estar diante de nós que se não estivermos preparados, não vamos conseguir enxergar nada. E foi o que aconteceu comigo naquela manhã de Domingo. O slide apesar de estar sendo mostrado, em termos práticos não iria querer dizer muita coisa para mim nos anos que se seguiram.

(Da esquerda para a direita, o par vindo da China em 2009 e os dois feitos pelo Mestre Senior Godoy)
Meus pares seguintes de Baat Jaam Do, foram feitas pelo Mestre Sênior Leandro Godoy, sendo a segunda delas a faca do meio na foto acima. Apesar da lâmina escurecida e do cabo de madeira — ambos muito bem feitos — o shape da lâmina era enviesado. Já estávamos em 2021, e eu ainda não conseguia compreender como me utilizar da configuração do Baat Jaam Do.
Era como se o sistema Ving Tsun tivesse uma espécie de dispositivo de segurança: para certas coisas, não importa o quanto você tente, você simplesmente não conseguirá ir além de um certo ponto se não souber como estudar. Eu já não me martirizava mais ao praticar, mas estava estagnado.
Até que, um dia, a configuração da faca começou a se tornar um pouco mais clara. Eu já havia acessado o domínio "Baat Jaam Do" há dezesseis anos. Foi então que, aproveitando uma oportunidade, conversei com o Mestre Sênior Leandro Godoy, pouco antes da entrevista que faria com ele para o meu podcast Vida Kung Fu, sobre o que ele achava da ideia de personalizar um Baat Jaam Do.
Meu irmão Kung Fu, Thiago Silva, atendia a uma demanda de trabalho em seu tablet, e eu, sentado com ele numa cafeteria no Largo do Machado, pude ouvir as considerações do Mestre Godoy sobre minha pergunta. Como sempre, muito inteligentes.
Um ano e meio depois daquela conversa em uma cafeteria, em São Paulo — na presença do também Mestre Sênior Fabio Gomes e da designer e cinegrafista Nan Satornlug(foto acima) — recebi meu terceiro par de Baat Jaam Do, das mãos do Mestre Sênior Godoy, que o havia encomendado no início do ano.
Meu entendimento sobre como tirar proveito da configuração do Baat Jaam Do vem se tornando mais claro gradualmente, após dezessete anos daquele julho de 2008. E isso fez surgir a necessidade de um novo par, sem nenhum enviesamento e pensado exclusivamente para o estudo.
O Programa de Salvaguarda é fundamental para que, gradualmente, a pessoa tenha seu Kung Fu construído de forma a ter a chance de apreciar os diferentes momentos do Sistema Ving Tsun.
Eu nunca desisti.