domingo, 29 de setembro de 2024

"Am I too Nice for 'Baat Jaam Do' "?

Você podia me ver ali de pé, tentando fazer a energia chegar no local apropriado para o corte... - "Essas facas são uma bo..."-  Antes que eu pudesse completar a palavra mentalmente, era como se pudesse ouvir novamente o que Si Gung disse certa vez: "Não coloca a culpa nas facas!" - O próprio ato de estar ali de pé praticando foi algo que reconquistei recentemente, a partir do contato com o Si Gung. Ele parece levar ao extremo um conceito que prezo muito, que é o da "transmissão silenciosa". Ele fica sentado ali com seu notebook trabalhando, enquanto praticamos. Às vezes, ele para e olha; outras vezes, sai da sala, vai a um compromisso e volta depois. Também há momentos em que ele levanta para fazer uma provocação sobre o que consegui... Seja lá o que ele esteja fazendo, eu me sinto conectado a ele a todo momento.
Foi então que percebi que, mesmo retornando para o Rio, a conexão continuava. Eu me pegava pedindo um Uber e indo até o Mo Gun ou subindo no meu terraço para continuar praticando, mas não tinha noção do quanto ainda praticava de forma desleixada e pouco assertiva. "Thiago, você tem noção de que essa é sua última chance?"-  Bom, depois de dois anos com as mais variadas abordagens, essa me pegou de jeito. Por quê? Não sei dizer. Quando percebi, estava sentado no chão, refletindo.-  "O que você está fazendo aí? Não temos tempo para isso!"-  Bradou Si Gung.
Algumas semanas se passaram e lá estava eu em meu novo momento como praticante: uma espécie de lugar nenhum entre o que não quero mais e onde ainda não consigo chegar. Afinal, quando você começa a trabalhar em cima das condicionantes, não importa muito sua força, cara feia, determinação ou mesmo intenção... Uma etapa sequer que não for considerada e nada sai.

 You could see me standing there, trying to make the energy reach the right place for the cut... "These knives are two piece of shi..." - Before I could complete the word in my mind, it was as if I could hear once again what Si Gung had said one day: "Don’t blame the knives!" - The very act of standing there practising was something I had recently regained through my contact with Si Gung. He seems to take to the extreme a concept I value greatly, which is that of "silent transmission." He sits there with his laptop, working while we practise. Sometimes he stops and watches; other times he leaves the room, goes to an appointment, and returns later. There are also moments when he stands up to make a provocation about what I’ve managed to do... Whatever he is doing, I feel connected to him at all times.
It was then that I realised that, even after returning to Rio, the connection continued. I found myself ordering an Uber and heading to the Mo Gun or going up to my rooftop to keep practising, but I had no idea how much I was still practising in a careless and unassertive manner. "Thiago, do you realise this is your last chance?"-  Well, after two years with various approaches, this one hit me hard. Why? I can’t say. When I noticed, I was sitting on the floor, reflecting. "What are you doing there? We don’t have time for this!" - Si Gung shouted.
Weeks went by, and there I was in my new moment as a practitioner: a sort of nowhere land between what I no longer want and where I still can’t reach. After all, when you start to work on the conditions, it doesn’t matter much your strength, grim face, determination, or even intention... One single strategic step not taken into account, and nothing comes of it.


Eu me lembrei de conversas recentes com os Mestres Quintela e Felipe, das intervenções do Si Gung durante os estudos do Programa e das sempre inteligentes palavras do Mestre Gabriel sobre as interconexões no Sistema Ving Tsun. Percebi que estava praticando de uma forma pouco inteligente. Resolvi guardar as facas e praticar o "Jing Choei". Na minha mente, se o problema era o movimento conter a energia adequada, poderia testar isso no "Biu Gwan", mas antes faria o mesmo estudo no "Jing Choei".
A primeira sensação foi de muita felicidade ao constatar que meu corpo parecia finalmente ter entendido o "Jin Ma" de forma não tão exótica, dezessete anos depois. Estava satisfeito, mas percebi que meus socos saíam fracos, não importava o que eu fizesse... Pareciam socos de uma criança, de tão fracos. Foi um sentimento estranho: por um lado, o bom posicionamento não me permitia mais usar força bruta; por outro, eu não sabia como aproveitá-lo.
Certa vez, conversando com Si Gung alguns anos atrás, ele falou sobre como começamos a desenvolver a nossa humanidade e as camadas vão se desfazendo. Talvez surja alguém que desconhecemos e que não seja quem esperamos. "Será que sou muito bonzinho para o Jin Choei e o Baat Jaam Do?" - Pensei.
Levantei-me mais uma vez e peguei o bastão, meio inseguro. Iria tentar o "Biu Gwan". No fundo, eu já sabia o resultado; ainda assim, estava ali, pagando para ver... Obviamente, a energia não chegava à ponta; eu ainda não conseguia lançar o bastão e ir atrás dele...

I remembered recent conversations with Masters Quintela and Felipe, the interventions from Si Gung during the Programme studies, and the always insightful words of Master Gabriel about the interconnections within the Ving Tsun system. I realised that I was practising in a rather unwise way. I decided to put away the knives and practise "Jing Choei". In my mind, if the problem was that the movement needed to contain the appropriate energy, I could test this with "Biu Gwan", but first I would do the same study with "Jing Choei".
The first feeling was one of great happiness when I realised that my body seemed to have finally understood a little bit more "Jin Ma", seventeen years later. I was satisfied, but I noticed that my punches were weak, no matter what I did... They felt like punches from a child, they were so weak. It was a strange feeling: on one hand, the good positioning no longer allowed me to use brute force; on the other, I didn't know how to make the most of it.
Some years ago, during a conversation with Si Gung, he mentioned how we begin to develop our humanity and how the layers start to peel away. Perhaps someone emerges that we do not recognise and who is not who we expect. "Am I too nice for Jin Choei and Baat Jaam Do?"-  I thought.
I stood up once more and picked up the staff, feeling a bit unsure. I was going to try "Biu Gwan". Deep down, I already knew the outcome; still, I was there, willing to see... Obviously, the energy did not reach the tip; I still couldn’t throw the staff and go after it...


Depois de tentar algumas vezes, parei e fiquei pensando em como a necessidade de controlar o cenário estava me limitando. Refleti que isso ainda estava acontecendo em minha vida. Toda mudança é desafiadora... Bom, essa tomada de consciência não me ajudou muito naquele momento. Mesmo percebendo onde estava o problema, não conseguia agir de forma diferente. Abri um sorriso porque fazia tempo que não me dava conta do quanto me sobreponho às situações. Meu desrespeito pela natureza do "Luk Din Bun Gwan" estava sendo tão grande que, inconscientemente, me recusava a me submeter ao bastão e continuava querendo fazer do meu jeito. Na minha fantasia, não imaginava que ainda agia assim como praticante; provavelmente, como ser humano, também sou assim.
Fiquei refletindo sobre ser de uma única maneira a todo momento. "Por isso, você e o Si Hing estão em um bom momento para ousar",- Teria dito Si Gung ao Paternostro no carro em Brasília. Esses são os momentos mágicos da Vida Kung Fu.

After trying a few times, I stopped and thought about how the need to control the situation was limiting me. I reflected that this was still happening in my life. Every change is challenging... Well, this realisation didn’t help me much at that moment. Even recognising where the problem lay, I couldn’t act differently. I smiled because it had been a while since I realised how often I override situations. My disrespect for the nature of "Luk Din Bun Gwan" was so great that, unconsciously, I refused to submit to the Gwan and continued wanting to do things my way. In my fantasy, I hadn’t realised that I still acted like this as a practitioner; probably, as a human being, I am like this too.
I reflected on being the same way all the time. "That’s why you and Si Hing are in a good position to be bold," - Si Gung would have said to Paternostro in the car in Brasília. These are the magical moments of Kung Fu life.

Foi então que algo muito especial começou a se configurar nos dias que se seguiram... Em um dos meus momentos profissionais e de vida mais desafiadores, uma oportunidade incrível apareceu, e eu nem podia acreditar. Sabe uma coisa que voce sempre quis? Meu primeiro pensamento foi não aproveitar a oportunidade, mas decidi arriscar, e as coisas foram se desdobrando com tanta facilidade que cheguei a me perguntar: "Cara, isso está mesmo acontecendo?".  Foi então que recebi um convite do Mestre Fabio Gomes para participar, junto com o querido COMANDOS Marcelo Alves, de um workshop na Universidade Estácio de Sá para o curso de Psicologia.
Em determinado momento, Mestre Fabio me perguntou se eu queria contribuir com algo, e respondi que sim. Quando percebi, já estava caminhando para o centro... Queria mostrar que não se deve resistir a alguém com o braço tão forte quanto o do Marcelo(FOTO ACIMA). Acontece que, quando ele tocou em mim, meus braços reagiram de maneira espontânea, e as alunas vibraram. Queria rir na hora, mas me segurei. Nunca tinha sentido algo assim porque eu nem queria ter me movido daquele jeito. Fiquei parado no canto, muito emocionado. Já não prestava mais atenção no que o Mestre Fabio dizia... Porque me dei conta que a ousadia de fazer o que a situação pedia havia me permitido aproveitar aquela oportunidade tão especia dias antes, e também ali ao ter feito aquele movimento tão natural naquele momento... Nos dias que se seguiram, ainda não consegui levar a energia até o soco, nem à ponta do bastão, mas a vida, a vida pode ser boa.

It was then that something very special began to take shape in the days that followed... In one of my most challenging professional and personal moments, an incredible opportunity appeared, and I could hardly believe it. You know that thing you’ve always wanted? My first thought was to not seize the opportunity, but I decided to take a risk, and things unfolded so easily that I found myself asking, "Mate, is this really happening?"
It was then that I received an invitation from Master Fabio Gomes to participate, alongside the dear COMANDOS Marcelo Alves, in a workshop at the Estácio de Sá University for the Psychology course. At one point, Master Fabio asked me if I wanted to contribute something, and I replied that I did. Before I knew it, I was walking towards the centre... I wanted to show that one shouldn’t resist someone with a strong arm like Marcelo's (PHOTO ABOVE). However, when he touched me, my arms reacted spontaneously, and the students cheered. I wanted to laugh at that moment, but I held back. I had never felt anything like it, and I didn’t even want to move that way. I stood in the corner, very emotional. I was no longer paying attention to what Master Fabio was saying...
I realised that the audacity to do what the situation required had allowed me to seize that special opportunity, and also to perform that movement so naturally at that moment... In the days that followed, I still couldn’t channel the energy into my punch, nor to the tip of the Gwan, but life, life can be good.




A DISCIPLE OF MASTER JULIO CAMACHO
Master Thiago Pereira
Leader of  Moy Fat Lei Family
moyfatlei.myvt@gmail.com
@thiago_moy