Eu já estava auxiliando o Painel por muitas horas, ansiosamente aguardando para ouvir o Grão-Mestre William Moy falar sobre 'Luk Dim Bun Gwan'. Acontece que quando era bem mais jovem, meu Mestre Julio Camacho teria me dito que, ao conversar com o Grão-Mestre William Moy em São Paulo certa vez, ele teria compartilhado que quando se tem uma consciência clara da linha do ombro ao praticar o 'Luk Dim Bun Gwan', você dificilmente precisaria olhar. Pois o bastão seguiria a linha naturalmente em direção ao do adversário. Aquela história me fascinou tanto pela minha pouca idade quanto pelo fato de que naqueles tempos não era permitido assistir à prática de 'Luk Dim Bun Gwan'. Então, imaginar o filho do Patriarca Moy Yat praticando sem precisar olhar o adversário era quase mágico. Num piscar de olhos, 22 anos se passaram e eu estava ali de pé, segurando o microfone para que o Grão-Mestre William, em pessoa, pudesse falar exatamente sobre o 'Luk Dim Bun Gwan'. Nestes momentos, eu fico muito emocionado com a vida, é algo quase mágico, e eu estava muito concentrado para não sorrir, pois era quase involuntário. Afinal, uma parte minha pensou: 'Será que ele faria a demonstração sem olhar para o adversário?'.
I had been assisting the Panel for many hours, eagerly anticipating Grand Master William Moy's discussion on 'Luk Dim Bun Gwan'. It so happened that when I was much younger, my Master Julio Camacho allegedly told me that during a conversation with Grand Master William Moy in São Paulo on a certain occasion, he shared that when you have a clear awareness of the shoulder line while practicing 'Luk Dim Bun Gwan', you hardly need to look. As the staff would naturally follow the line towards the opponent. That story fascinated me both because of my young age and the fact that in those days, it wasn't allowed to watch 'Luk Dim Bun Gwan' practice. So, imagining the son of Patriarch Moy Yat practicing without looking was almost magical. In the blink of an eye, 22 years had passed and there I was standing, holding the microphone so that Grand Master William himself could speak precisely about 'Luk Dim Bun Gwan'. In these moments, I become very emotional about life; it's almost magical, and I was very focused not to smile, as it was almost involuntary. After all, a part of me wondered - 'Would he demonstrate without looking to his oponnent?'
Naquele dia, saí do hotel com meu discípulo Daniel e o aluno do Mestre Felipe Soares às 6h da manhã para ajudar na montagem. Amo as manhãs de sábado e especialmente aquela, que tinha tudo para ser um grande dia, e eu simplesmente não imaginava que o Grão-Mestre William me pediria para ajudar na demonstração. Estava emocionado, parecia não haver motivo para isso, mas era algo que carregava no coração. Talvez por isso, quando ele disse - 'Pega o bastão' - segurei o bastão dele e não o outro. Assim, por uns 3 segundos, éramos nós dois, cada um segurando a ponta do mesmo bastão, com ele me olhando talvez tentando entender o que eu estava fazendo, até que ele disse - 'Não esse, o outro bastão'.On that day, I left the hotel with my disciple Daniel and Master Felipe Soares's student at 6 a.m. to assist with the setup. I love Saturday mornings, especially that one, which had all the makings of a great day, and I simply didn't imagine that Grand Master William would ask me to help with the demonstration. I was moved, it seemed there was no reason for it, but it was something I carried in my heart. Perhaps that's why when he said - 'Pick up the pole' - I grabbed his staff and not the other. So, for about 3 seconds, it was just the two of us, each holding one end of the same staff, with him looking at me, perhaps trying to understand what I was doing, until he said - 'Not this one, the other pole'.
"Ok, você pode disparar" - disse ele. E eu dei o meu melhor disparo.
Assim, você poderia me ver ali na demonstração.
"Okay, now, go ahead." he said. And I took my best shot.
So, you could see me there in the demonstration.
Quando abrimos um "Mo Gun", devemos ter claro a razão de fazermos isso dentro do contexto em que estivermos, é o que eu acho. Se você perder de vista que seu trabalho é a salvaguarda do Sistema Ving Tsun, talvez você faça coisas pelo dinheiro, pelo poder que a posição de liderança proporciona (ainda que dentro de uma pequena "bolha" das pessoas do seu convívio), pode ser que você se permita não cumprir o que foi combinado seja com um único aluno ou com um grupo inteiro. Ou talvez, por inocência, você não dimensione a responsabilidade que esse ato exigirá de você. Da mesma maneira, acredito que conforme os anos vão passando para um profissional ou simplesmente alguém que conduz um trabalho nesse ramo, se perdermos de vista o encantamento e o colorido que as artes marciais nos proporcionaram quando começamos a jornada, nós perdemos as forças e desistimos. Você pode até dizer: "Ei, eu estou focando nisso agora, ou naquilo..." - Mas no fundo, você já não consegue mais priorizar. E como diz o adágio citado por Yamamoto Tsunetomo no livro "Hagakure" (Ed. Conrad, 2004) - "Quando seu coração pergunta, o que você responde?" - Por isso, momentos como esse com o Grão Mestre William Moy significam muito para mim. Existem aqueles objetivos iniciais de quando você começou, e cada vez que você passa por eles mais amadurecido, você se pergunta: "Eu cheguei lá?" - Naquele momento, por alguns singelos minutos, existe um Thiago de 18 anos em algum lugar aqui dentro que, 22 anos depois, não só presenciou a tão sonhada demonstração de bastão do Grão Mestre William, quanto participou com ele. Se isso não for o máximo para um artista marcial, não sei mais o que é. Eu nunca desisti.
When we open a 'Mo Gun', we must have clear the reason for doing so within the context in which we find ourselves, that's what I believe. If you lose sight that your job is to safeguard the Ving Tsun System, perhaps you may do things for money, for the power that the leadership position provides (even within a small 'bubble' of the people in your circle), you may allow yourself not to fulfill what was agreed upon with a single student or with an entire group. Or perhaps, out of innocence, you may not fully grasp the responsibility that this act will demand of you. Similarly, I believe that as the years go by for a professional or simply someone who conducts work in this field, if we lose sight of the enchantment and colour that martial arts provided us when we began the journey, we lose strength and give up. You might even say: 'Hey, I'm focusing on this now, or on that...' - But deep down, you can no longer prioritize. And as the saying goes, as quoted by Yamamoto Tsunetomo in the book 'Hagakure' (Ed. Conrad, 2004) - 'When your heart asks, what do you answer?' - That's why moments like these with Grand Master William Moy mean a lot to me. There are those initial objectives from when you started, and each time you pass through them more mature, you ask yourself: 'Have I made it?' - At that moment, for a few simple minutes, there is an 18-year-old Thiago somewhere inside who, 22 years later, not only witnessed the long-awaited demonstration of Grand Master William's staff, but also took part in it. If that isn't the ultimate for a martial artist, I don't know what is. I never gave up