quarta-feira, 9 de novembro de 2022

BLADE RUNNER dinner style w/ Carlos Antunes


Numa noite de Sexta, saí do Méier para ir ao encontro do meu irmão Kung Fu Carlos Antunes. Ele havia me convidado para jantarmos juntos. Como nos encontramos com certa frequência, não vi nada demais, porém estranhei o bairro que ele escolheu. Ainda tentei argumentar sugerindo que escolhêssemos algum local em Ipanema, onde ele reside, mas ele estava firme em sua decisão. Cheguei mais cedo, como de costume, e fui até um McCafé para tomar um espresso e carregar meu telefone. Passados alguns minutos, Carlos avisou que havia chegado, nos encontramos então no Largo que dá nome ao bairro. Muito animado como sempre, Carlos me cumprimentou com seu forte abraço que lhe é característico. A energia do Carlos sempre está lá no alto, e quando não está, ele faz com que esteja. Isso é algo que admiro nele, pois eu não consegui desenvolver essa habilidade até hoje. 
Carlos sabia exatamente para onde estava indo, e enquanto desviávamos de pessoas que andavam apressadas para chegar a estação do metro e irem para casa, finalmente passamos por um misterioso portão de grade que parecia não levar a lugar nenhum. Ele ficava espremido entre duas construções, e mesmo passando ali de bicicleta pelos últimos quatro anos, nunca havia reparado. Foi quando reparei algumas mesas, pessoas comendo comida chinesa, e um restaurante de Dim Sum. 
O vapor com cheiro de óleo e gordura, impregnava o ar, e conseguíamos ver ele lentamente se movendo enquanto escolhíamos uma mesa. Era possível ver a cozinha ao passar por ela, e todos estavam agitados lá dentro, enquanto as pessoas comiam calmamente. Finalmente escolhemos nossa mesa. Eu ainda estava me situando, ainda estava tentando acreditar que aquele local estava ali por tanto tempo, e eu nem havia percebido. Lembrei-me da passagem 'O caminho do surf', que Si Fu descreveu logo no início do seu livro 'O Tao do Surf' [Camacho, Julio. 2002]. Enquanto eu divagava, meus olhos cruzaram com os de Carlos Antunes, que com um grande sorriso, parecia muito feliz. 

One Friday night, I left Méier wild neighborhood to meet my Kung Fu brother Carlos Antunes. He had invited me to have dinner together. As we meet quite often, I didn't see anything special, but I was surprised by the neighborhood he chose. I even tried to argue by suggesting that we choose a location in Ipanema, where he lives, but he was firm in his decision. I arrived early, as usual, and went to a McCafé to get an espresso and charge my phone. After a few minutes, Carlos announced that he had arrived, so we found ourselves in the Plaza that gives the neighborhood its name. Very excited as always, Carlos greeted me with his characteristic strong hug. Carlos' energy is always up there, and when he's not, he makes it so. That's something I admire about him, as I haven't been able to develop that skill until today.
Carlos knew exactly where he was going, and as we dodged people rushing to the subway station and heading home, we finally passed a mysterious grid gate that seemed to lead nowhere. It was wedged between two buildings, and even though I'd been cycling there for the past four years, I'd never noticed. That's when I noticed some tables, people eating Chinese food, and a Dim Sum restaurant.
The steam, smelling of oil and grease, permeated the air, and we could see it slowly moving as we chose a table. You could see the kitchen as you passed it, and everyone was bustling inside as people ate quietly. We finally chose our table. I was still positioning myself, I was still trying to believe that this place had been there for so long, and I hadn't even noticed. I remembered the passage 'The way to surf', which Si Fu described at the beginning of his book 'The Tao of Surf' [Camacho, Julio. 2002]. As I rambled on, my eyes met those of Carlos Antunes, who with a big smile, looked very happy.
Eu resolvi fazer uma brincadeira com Carlos, assim que descobri que infelizmente não havia cerveja Tsing Tao no estabelecimento. Resolvi pedir uma cachaça chinesa, pois já a conhecia de três anos antes. Essa bebida alcóolica tem mais teor alcoólico do que álcool ao que parece. A bebida veio em dois recipientes de cerâmica [FOTO], e após brindarmos, Carlos virou de uma vez todo o conteúdo do copo enquanto eu apenas mal molhei os lábios já querendo rir. Carlos ao colocar o copo na mesa, já era outra pessoa[risos]. E em um impulso, ele se aproximou de mim, segurou firme em um dos meus ombros e disse com um grande sorriso e em um volume mais alto do que ele se lembra - “Si Hing! Eu gosto de você pra caramba, cara!” - Eu comecei a rir e Carlos continuou - “Eu já vim aqui com uma galera, mas eu falei que tinha que te trazer! Eu gosto de você pra caramba, cara! Isso aqui é muito 'Blade Runner! É a sua cara!'”- Carlos disse outras coisas mais engraçadas ainda, mas fica para um outro artigo... risos.

I decided to play a prank on Carlos, as soon as I found out that unfortunately there was no Tsing Tao beer in the establishment. I decided to order a Chinese liquor very heavy on alcohool, as I had already known it for three years. This alcoholic drink has more alcohol content than alcohol iself apparently. The drink came in two ceramic containers [PHOTO], and after we toasted, Carlos drained the entire content of the glass at once while I barely wet my lips, wanting to laugh. When Carlos put the glass on the table, he was already a different person [laughs]. And on impulse, he approached me, took a firm hold on one of my shoulders and said with a big smile and in a louder volume than he remembers - “Si Hing! I really like you, man!” - I started to laugh and Carlos continued - “I already came here with other friends, but I said it! I really like you, man! This is very 'Blade Runner! It's just like you!'”- Carlos said other even funnier things, but that's for another article... laughs.


Quando Carlos comentou sobre “Blade Runner”[1982], eu fiquei mais feliz ainda. Todo aquele ambiente me era familiar, mas eu não estava lembrando a razão. De fato, “Blade Runner”[1982] é um dos meus filmes favoritos, e me lembrei de quando o Deckard[Harrison Ford] é apresentado ao público comendo comida chinesa em um ambiente com muito Neon e chuva.- “Faltou só chover...” - Ponderei.

When Carlos still commented on “Blade Runner” [1982], I was happier. The whole environment was familiar to me, but I couldn't remember why. In fact, “Blade Runner” [1982] is one of my favorite movies, and the place reminded me of when Deckard [Harrison Ford] is introduced to the audience, eating Chinese food in a very neon and rainy environment. - “It could rain now. ..” - I pondered.


Conversamos sobre muitas coisas, e Carlos usou todo o seu conhecimento adquirido em muitas horas e momentos de Vida-Kung Fu para pedir a comida adequada na ordem adequada. Enquanto isso, bebíamos cada vez mais cachça chinesa. Em determinado momento, a garçonete veio com a garrafa quase vazia lá de dentro mostrando o teor alcoólico - “Gente, é isso aqui que vocês estão bebendo!” - Pedimos uma última rodada, apesar de sua preocupação[risos]. Outros clientes, perguntavam ao Carlos o que ele estava pedindo, curiosos com sua precisão nas escolhas. Por fim, nos foi dito que o cozinheiro queria nos conhecer. Carlos me acompanhou até um ponto em que pedi o UBER, e enquanto caminhávamos ele estava bem concentrado em descobrir a razão do cozinheiro querer nos conhecer. - “O que você acha que ele viu na gente?” - Ele me indagou. Bem, isso nunca saberemos. Podem ter sido as escolhas no cardápio... Pode ter sido a quantidade colossal de álcool que ingerimos ou pode ter sido a capacidade de escolher adequadamente apesar do álcool...  Risos. Mas estes são apenas fragmentos de memória, de uma noite noar em pleno Rio de Janeiro. 

We talked about many things, and Carlos used all his knowledge gained from many hours and moments of Kung Fu- Life to order the proper food in the proper order. Meanwhile, we drank more and more Chinese liquor. At one point, the waitress came with the almost empty bottle inside showing the alcohol content - "Guys, this is what you're drinking!" - We asked for one last round, despite her concern [laughs]. Other customers asked Carlos what he was ordering, curious about his precision in his choices. Finally, we were told that the chef wanted to meet us. Carlos accompanied me to a point where I asked for the UBER, and as we walked he was very focused on finding out why the chef wanted to meet us. - “What do you think he saw in us?” - He asked me. Well, that we'll never know. It could have been the choices on the menu... It could have been the colossal amount of alcohol we ingested or it could have been the ability to choose properly despite the alcohol... Laughter. But these are just fragments of memory, of a night in the middle of Rio de Janeiro.


A Disciple of Master Julio Camacho
Thiago Pereira "Moy Fat Lei"
moyfatlei.myvt@gmail.com