[Em uma de suas viagens, meu Mestre voltou contando o quão curioso era observar os chineses em Nova York, lendo jornal com tranquilidade de manhã com terno e gravata, quando os demais corriam para o trabalho. Achei aquela história curiosa, mais tarde, aprendi a importância de trabalhar quando ninguém está olhando, seja a hora que for, deixando tudo preparado, para fazer pequenos ajustes depois. Quando as pessoas veem você, parece que sua vida é fácil.
Na foto acima, preparo as aulas de chinês].
[On one of his trips, my Master came back telling how curious it was to observe the Chinese people in New York, calmly reading the newspaper in the morning with a suit, when the others were running to work. I found that story curious, later on, I learned the importance of working when no one is looking, whatever the time, leaving everything prepared, to make small adjustments later. When people see you, it seems like your life is easy.
In the photo above, I prepare the Chinese lessons].
Foi um longo caminho... Acredite, mas posso lembrar com clareza de uma noite qualquer em 1993 na casa de uma das minhas tias. Colocaram um VHS das minhas primas em sua viagem para a Disney. Eu morava em Rocha Miranda[Zona Norte do Rio], não havia internet, e muita coisa que eu via e vivia graças aos meus parentes, pareciam mentiras que eu estava contando. Para se ter uma ideia, o simples fato de eu dizer que tinha primos que já haviam ido aos EUA, era difícil de acreditar ali em nosso bairro... Anos depois, conheci meu Mestre. Ele ia aos EUA ano após ano, as vezes duas vezes ou mais por ano devido a algum compromisso acompanhando seu próprio Mestre, GM Leo Imamura. Quando desenvolvemos maior proximidade, eu comecei a levá-lo e a buscá-lo no aeroporto. Ele chegava sempre contando muitas histórias e estava sempre bem empolgado. Apesar de que em seu retorno da viagem de 2016,eu ter sabido em primeiro mão num engarrafamento de uma das principais vias expressas de nossa cidade , que havia uma possibilidade a partir daquele momento dele se mudar para os EUA. Meu momento favorito nessas voltas dele dos EUA, foi na viagem em 2011... Eu estava recomeçando minha vida, acho que era Janeiro, e ele me contou muito entusiasmado sobre suas descobertas a respeito de 'Feng Shui' naquela viagem.
It's been a long road... Believe me, but I can clearly remember a random night in 1993 at one of my aunts' house. They played a VHS of my cousins on their trip to Disney. I used to live in Rocha Miranda[a small tough and poor neighborhood in Rio], there was no internet, and a lot of things I saw and experienced thanks to my relatives seemed like lies I was telling. To give you an idea, the simple fact that I said that I had cousins who had already been to the USA, it was hard to believe there in our neighborhood... Years later, I met my Master. He went to the USA year after year, sometimes twice or more a year due to some commitment accompanying his own Master, GM Leo Imamura. As we developed closer together, I started taking him and picking him up at the airport. He always arrived telling many stories and was always very excited. Despite the fact that on his return from the 2016 trip, I knew firsthand in a traffic jam on one of the main expressways of our city on the way back from the airport, that there was a possibility from that moment on he would move to the USA. My favorite moment of his US trips was on the trip in 2011... I was starting my life over, I think it was January, and he told me very enthusiastically about his discoveries about 'Feng Shui' on that trip.
[Meu Mestre Julio Camacho talvez tenha mais de
quarenta entradas em NY por conta do Kung Fu]
[My Master Julio Camacho is perhaps more than
forty entries to NY on account of Kung Fu]
Ao longo desses muitos anos, meu Mestre insistiu muito para que eu tirasse um 'visto' para os EUA e me organizasse para acompanhá-lo. Nunca me movimentei para faze-lo, mas não era o caso de não dar importância, eu simplesmente não entendia como isso seria possível.
Em 2015, alguns dos meus irmãos-Kung Fu mais próximos fizeram a viagem junto do meu Mestre. Foi uma viagem muito especial, mas eu em nenhum momento, me senti perdendo algo. Eu simplesmente tinha certeza que não era para mim. Não conseguiria. Naquele ano, alguns membros da Linhagem Moy Yat que acompanham os artigos deste site e que acabaram desenvolvendo uma relação comigo, perguntaram quando eu iria. De fato, muitos já perguntaram isso para mim.
Over these many years, my Master was very insistent that I get a 'visa' for the USA and organize myself to accompany him. I never moved to do it, but it wasn't a case of not caring, I just didn't understand how that was possible.
In 2015, some of my closest Kung Fu brothers made the trip with my Master. It was a very special trip, but I never felt like I was missing something. I was just sure it wasn't for me. I couldn't. That year, some members of the Moy Yat Lineage who reads the articles on this site and who ended up developing a relationship with me, asked when I would go. In fact, many have already asked me that.
[Quando se é um Líder de Família Kung Fu, ou quando estamos a frente de um trabalho,
representando nosso próprio Mestre. Precisamos sempre dar o exemplo.
Não podemos ficar presos em nossa própria limitação.
Representamos muito mais do que nós mesmos.]
[When you are a Kung Fu Family Leader, or when you are in charge of a work,
representing your own Master. We always need to lead by example.
We cannot get stuck in our own limitations.
We represent much more than ourselves.]
Finalmente, um dia estava saindo do metro em uma estação da Zona Norte da cidade. Troquei algumas mensagens com meu Mestre que estava visitando o Brasil. Devido a tudo o que ele já fez por mim, resolvi perguntar se ele não aceitaria ficar mais uma semana, para ter tempo de ficar com suas filhas. Ofereci uma passagem de volta para ele e sua esposa, para dali a uma semana. Ele aceitou, e lhe foi possível aproveitar com sua família.
Naquele mesmo dia, saíamos juntos da Casa-Kung Fu que fica situada no Downtown na Barra da Tijuca, e ele mais uma vez perguntou sobre meu “visto”. Disse que “estava vendo”, como sempre quando entrávamos nesse assunto. Meu Mestre comentou - “Você percebeu o que você fez hoje?”- Pensei bem em que tinha errado, mas ele prosseguiu - “ Você comprou duas passagens para os EUA e nem percebeu.” - Eu já havia viajado por toda a Europa com meu Mestre em duas diferentes oportunidades, não era sobre a passagem, era sobre uma “trava” que eu tinha, de não acreditar que eu conseguiria ir para os EUA. - “Você cometeu um erro comprando essas passagens, porque agora você não vai ter mais a desculpa de ser o cara de Rocha Miranda que não consegue fazer uma viagem para os EUA.”- Nesse momento eu estava bem emocionado enquanto dirigia, e dentre outras falas, meu Mestre concluiu - “Sabe o que significam essas duas passagens? Uma ida e uma volta. Você nem pensou pra comprar porque era para mim, agora você não tem mais desculpa, tira logo essa porcaria de 'visto'...”
Finally, one day I was getting off the subway at a station in the North Zone of the city. I exchanged some messages with my Master who was visiting Brazil. Because of everything he's done for me, I decided to ask him if he wouldn't agree to stay another week, so he could spend time with his daughters. I offered him and his wife a new airplane ticket a week later. He accepted, and he was able to enjoy it with his family.
That same day, we were leaving the Kung Fu School which is located in West Zone together, and he once again asked about my “visa”. I said to him a brazilian expression for when you are doing nothing about something, but you dont want to say it - “Im watching it , Si Fu” . My Master commented - "Did you realize what you did today?" - I thought about what I had wrong, but he continued - " You bought two tickets to the USA and didn't even realize it." - I had already traveled all over Europe with my Master on two different occasions, it was not about the tickets, it was about a “limitation belief” I had, of not believing that I would be able to go to the USA. - “You made a mistake buying these tickets, because now you won't have the excuse of being the Rocha Miranda neighbourhood's guy who can't make a trip to the USA.”- At that moment I was very emotional while driving, and among others words, my Master concluded - “Do you know what these two tickets mean? A round trip. You didn't even think about buying it because it was for me, now you have no more excuses, get that crap 'visa' right away...”
Dois meses depois, eu tirei a foto acima. Sei que para quem leu até aqui, a pergunta que fica, é sobre qual a dificuldade em fazer isso... Bem, você precisa lembrar daquela noite em 1993... Você podia me ver ali, vendo aquele VHS da viagem das minhas primas... Os EUA não deveriam ser para mim... E de fato, eu acreditei nisso. Foi necessária uma ação de gratidão para com meu Mestre, para que tivéssemos aquela conversa naquele fim de tarde voltando para a casa da sua mãe onde ele estava hospedado. Para que depois de tantas vezes com ele perguntando sobre o “visto” eu me movesse para tirá-lo.
Então, com muito alegria poderei compor a comitiva para os EUA desse ano... Começaremos pelo estado onde meu Mestre vive e os anos '80 nasceram, e depois iremos para Nova York encontrar praticantes de várias partes do mundo, culminando na celebração do aniversário da Matriarca da Linhagem Moy Yat, a querida Sra Helen Moy.
Serão dias de altas aventuras com muito neon, Chinatown, práticas intermináveis e muita Vida-Kung Fu principalmente! Mas voce já pode me imaginar dirigindo o carro que vamos alugar na John Ringling Boulevard em Sarasota, enquanto toca o refrão de “Africa” da banda Toto...
Two months later, I took the photo above. I know that for those who have read this far, the question that remains is how difficult it is to do this... Well, you have to remember that night in 1993... You could see me there, watching that VHS of my cousins' trip ... The US shouldn't be for me... And indeed, I believed it. It took an action of gratitude towards my Master, for us to have that conversation that late afternoon on our way back to his mother's house where he was staying. So that after so many times with him asking about the “visa” I would move to get it.
So, with great joy I will be able to compose the delegation to the USA this year... We will start with the state where my Master lives and the '80s were born, and then we will go to New York to meet practitioners from various parts of the world, culminating in the celebration of the anniversary of the Moy Yat Lineage Matriarch , dear Mrs Helen Moy.
It will be days of high adventures with a lot of neon, Chinatown, endless practices and a lot of Kung Fu Life mainly! But you can already imagine me driving the car we are going to rent on John Ringling Boulevard in Sarasota, while playing the chorus of “Africa” by the band Toto...