quarta-feira, 18 de outubro de 2023

15 years of "Baat Jaam Do", what has changed?


Em 1998, minha família estava em uma condição de vida melhor, e minha mãe decidiu que era hora de me matricular em um curso de inglês. Eu recusei, afinal, com 14 anos de idade, ficar "enfurnado" dentro de um curso por duas horas, duas vezes por semana, atrapalharia meus planos de ócio à tarde. Minha mãe então simplesmente me matriculou, e uma semana depois você podia me ver ali, sentado em um banco no pátio de um famoso curso de inglês da Taquara, Zona Oeste do Rio. Enquanto as pessoas chegavam, eu tentava intuir quem seria da minha turma. Mais tarde naquele dia, me senti orgulhoso de ter acertado três pessoas que seriam meus companheiros. Uma delas era um rapaz que aqui vou chamar de D. Ele parecia ter todo o comportamento daqueles alunos que sentam na primeira fileira, que fazem questão de acertar tudo e vivem das boas notas que tiram... Não sei se ainda é assim, mas naqueles tempos existiam várias pessoas que eram desse jeito.
Conforme as semanas passavam, percebi duas coisas: a primeira, que eu ia bem e junto com esse aluno, nos destacávamos na turma. A segunda coisa era que mesmo que faltasse para ir jogar fliperama em Madureira, nada acontecia. Isso ocorria porque a matéria parecia realmente fácil, e eles não contabilizavam as faltas. Além disso, percebi que, na maioria das vezes, mesmo faltando tanto, minhas notas eram maiores do que as de D., mesmo com ele sempre dando o seu melhor. Aquilo o deixava bem chateado. Parecia que quanto mais tenso ele ficava, pior era o resultado na prova seguinte. Enquanto isso, eu nem queria estar lá, e talvez a maneira com a qual ele me via tratando o curso o deixasse ainda mais revoltado... Então eu me divertia: Geralmente eu pegava minha prova e perguntava diretamente para ele - ' ...Tirou quanto D?...'

In 1998, my family was in a better living condition, and my mother decided it was time to enroll me in an English course. I declined, after all, at the age of 14, being "trapped" in a course for two hours, twice a week, would disrupt my plans for leisure in the afternoon. My mother then simply enrolled me, and a week later, you could see me there, sitting on a bench in the courtyard of a renowned English course in Taquara, West Zone of Rio. As people arrived, I tried to intuit who would be in my class. Later that day, I felt proud to have correctly identified three people who would be my classmates. One of them was a young man whom I'll call D. He seemed to exhibit all the behavior of those students who sit in the front row, make sure to get everything right, and thrive on the good grades they achieve... I'm not sure if it's still the same, but in those days, there were several people like that.
As the weeks passed, I noticed two things: firstly, that I was doing well, and along with this student, we excelled in the class. The second thing was that even if I skipped class to play arcade games in Madureira neighborhood[North Zone], nothing happened. This was because the course seemed really easy, and they didn't count absences. Furthermore, I noticed that most of the time, even with so many absences, my grades were higher than D.'s, even though he always gave his best. This made him quite upset. It seemed that the tenser he became, the worse his performance on the next test. Meanwhile, I didn't even want to be there, and perhaps the way he saw me treating the course made him even more frustrated... So, I had fun: Usually, I would take my test and ask him directly - '...What did you score, D?...'


Neste ano, completam-se quinze anos desde que acessei o Domínio "Baat Jaam Do". Chamamos de "Domínio" porque é uma espécie de "território" com uma lógica própria. Quando acessei o Domínio anterior, o "Luk Dim Bun Gwan", meu Si Fu [FOTO acima] disse a mim e ao meu irmão Kung Fu, Vladimir, que se houvesse um Domínio que quase o fez desistir, teria sido aquele. Como ele não me deu muitos detalhes, fiquei com grande expectativa. Afinal, era difícil visualizar meu Si Fu cogitando desistir. Atravessei o Domínio "Luk Dim Bun Gwan" e nada de relevante aconteceu que me fizesse pensar em desistir. De fato, ele se tornou o meu estudo favorito em todo o Sistema Ving Tsun. No entanto, em julho de 2008, eu não imaginava o inferno que estava adentrando junto com meu acesso ao Domínio "Baat Jaam Do". Anos depois, após um almoço no shopping Barra Garden com meu Si Gung e outros irmãos Kung Fu, meu Si Gung teria dito que, por ser composto de diferentes naturezas, pode ser que você se identifique mais com um determinado Domínio do Sistema Ving Tsun e com outros você tenha maiores dificuldades. Eu ouvia aquilo com atenção, mais perto da ponta da mesa, Carlos Antunes estava de frente para o Si Gung. Não sei bem o que ele pensava, mas eu pensei no "Baat Jaam Do".

This year marks fifteen years since I accessed the "Baat Jaam Do" Domain. We call it a "Domain" because it's a kind of territory with its own logic. When I accessed the previous Domain, "Luk Dim Bun Gwan," my Si Fu [PHOTO above] told me and my Kung Fu brother, Vladimir, that if there was a Domain that almost made him give up, it would have been that one. As he didn't provide many details, I was left with anticipation. After all, it was hard to imagine my Si Fu contemplating giving up. I went through the "Luk Dim Bun Gwan" Domain, and nothing significant happened that made me consider giving up. In fact, it became my favorite study in the entire Ving Tsun system. However, in July 2008, I couldn't have imagined the hell I was entering with my access to the "Baat Jaam Do" Domain. Years later, after a lunch at Barra Garden Mall with my Si Gung and other Kung Fu brothers, my Si Gung would have said that because Ving Tsun System is composed of different natures, it's possible that you may identify more with a particular Domain and have more difficulties with others. I listened attentively to that, closer to the end of the table, with Carlos Antunes seated across from Si Gung. I'm not quite sure what he was thinking, but I thought about "Baat Jaam Do."

Meu Si Fu recentemente falou-me sobre como ele se sente bem com a sua vida. Ele compartilhou a boa sensação que tem ao deitar-se ao final do dia, com um sorriso. Segundo ele, hoje em dia, ele não trocaria a sua vida pela de ninguém. Fiquei feliz em ouvi-lo, embora não tenha demonstrado nenhuma reação enquanto dirigia e estávamos quase chegando ao nosso destino.
O Domínio "Baat Jaam Do" parece muito árduo e implacável para pessoas como eu. Não adianta querer praticar mais, mostrar mais determinação... É como se você precisasse ficar mais inteligente para perceber algo que, com as "mãos livres," você desconsiderava através de um remendo grosseiro. Ou talvez porque seu irmão Kung Fu mais novo estivesse desatento e não percebeu que você estava forçando. Nesse momento, quando você está sozinho, as facas podem colocar você no chão. Você percebe que a sua falta de atenção aos detalhes criou um teto que não limitou apenas o seu desenvolvimento, mas também o de todos que tinham relação contigo tecnicamente. Talvez a melhor coisa a fazer nesse momento seja simplesmente não tocar nas facas. Se você tem alguma responsabilidade com a Família, não pode simplesmente desaparecer; assim, você simplesmente coloca isso de lado e esquece o assunto.
Mas naquele dia no carro, Si Fu falou sobre a boa sensação de deitar-se no travesseiro com a consciência tranquila. E o mesmo vale quando você não cumpriu a sua parte na sua jornada no Kung Fu. As facas vão junto onde você for. E quando o seu coração pergunta, qual desculpa você dá?

My Si Fu recently spoke to me about how content he is with his life. He shared the pleasant feeling he experiences when lying down at the end of the day, with a smile. According to him, these days, he wouldn't trade his life for anyone else's. I was pleased to hear that, even though I didn't show any reaction while driving, and we were nearly reaching our destination.
The "Baat Jaam Do" Domain seems very demanding and unyielding for people like me. There is no pointo to practice more, demonstrating greater determination... It's as if you needed to become more intelligent to perceive something that, with "free hands" you overlooked through a rough patch. Or maybe because your younger Kung Fu brother was inattentive and didn't realize you were using brute force on him. At that moment, when you're alone, the knives can bring you down. You realize that your lack of attention to details created a ceiling that didn't just limit your own development but that of all those who were technically associated with you. Perhaps the best thing to do at that moment is simply not to touch the knives. If you have responsibilities towards the Family, you can't just disappear; thus, you simply set it aside and forget the matter.
But on that day in the car, Si Fu talked about the pleasant feeling of lying down with a clear conscience. And the same applies when you haven't fulfilled your part in your Kung Fu journey. The knives go with you wherever you go. And when your heart asks, what excuse do you give?


No mundo do Kung Fu, só permanece quem decide permanecer. Não existem matrículas, faltas, provas, notas mais altas ou mais baixas. Existe apenas você e sua consciência com o que você promoveu com aquilo a que teve acesso. E neste ano, que completam-se 15 anos desde que acessei esse Domínio, percebo que tinha a mesma idade quando essa história do curso de inglês ocorreu. E venho fazendo uma reflexão muito profunda sobre o que desenvolvi com o uso das facas. Isso porque hoje esse entendimento influencia na jornada dos meus próprios alunos.
A conclusão a que chego é que devemos abrir mão de usar remendos, de entender apenas superficialmente, e não apenas tentar, mas nos aprofundar de coração. Um dia, alguém vai contar conosco assim como contamos com o nosso Si Fu, e entregar 100% para essa pessoa não será mais o suficiente. Esses 100% precisarão ser dignos de serem entregues. Caso contrário, nada feito.

In the world of Kung Fu, only those who choose to stay remain. There are no enrollments, absences, exams, higher or lower grades. There is only you and your conscience regarding what you have achieved with what you had access to. And in this year, marking 15 years since I accessed this Domain, I realize that I was the same age when this story of the English course took place. I've been reflecting deeply on what I've developed through the use of knives. This is because today, this understanding influences the journey of my own students.
The conclusion I arrive at is that we should let go of using patches, of only understanding superficially, and not just trying but delving deep with all our heart. One day, someone will rely on us, just as we rely on our Si Fu, and delivering 100% to that person won't be enough anymore. Those 100% will need to be worthy of being delivered. Otherwise, it's a no-go

The Disciple of Master Julio Camacho
Thiago Pereira "Moy Fat Lei"
moyfatlei.myvt@Gmail.com