sábado, 9 de setembro de 2023

Visiting Master Quintela from Brasília.

Em uma tarde qualquer, desci de um carro alugado com dois discípulos em uma rua de Brasília. Procurávamos um Mo Gun com um nome que me chamou a atenção desde o primeiro momento - "Flor de Lótus". Subindo a rua com passos inseguros, procurávamos uma fachada que se assemelhasse a um Núcleo da Moy Yat Ving Tsun, e, no meu campo de visão, uma loja com o mesmo nome apareceu. Si Suk Quintela [foto acima] disse que seu Mo Gun ficava embaixo da loja de sua família. Acontece que a loja era no térreo! Então, atravessamos a rua. Meu discípulo Daniel achou que a entrada fosse por detrás, mas também não era. Finalmente, Daniel entrou na loja, e a esposa do Si Suk, a Sra. Gabriely, e uma To Dai chamada Nathalia nos receberam e mostraram uma singela porta que levava ao subsolo da loja. Quando a porta abriu, vi uma escada que levava até o subsolo, na parede direita, fotos da Linhagem Moy Yat de tempos remotos em Hong Kong, e um sorriso tomou meu rosto involuntariamente. Era como se estivesse adentrando um Mo Gun completamente diferente do usual, daqueles que meu Si Fu contava sobre suas viagens aos EUA.
Imagine você estar vinculado a um grupo por mais de vinte anos e nunca ter tido a oportunidade de passar um tempo que fosse com uma das pessoas mais queridas, com bom coração e dedicadas? Pois é, foram necessários exatos vinte e quatro anos na Família Kung Fu para finalmente poder conversar com calma com o Mestre Thiago Quintela [foto acima], um discípulo do meu Si Gung, o Grão Mestre Leo Imamura [foto acima].

On any given afternoon, I alighted from a rented car with two disciples on a street in Brasília[Brazil´s capital]. We were in search of a Mo Gun with a name that had caught my attention from the very beginning - "Lotus Flower". Ascending the street with uncertain steps, we looked for a facade that resembled a Moy Yat Ving Tsun School, and, within my field of vision, a shop bearing the same name came into view. Si Suk Quintela [photo above] mentioned that his Mo Gun was situated beneath his family's shop. As it turned out, the shop was on the ground floor! So, we crossed the street. My disciple, Daniel, thought the entrance might be at the back, but it wasn't there either. Finally, Daniel entered the shop, and Si Suk's wife, Mrs. Gabriely, and a To Dai named Nathalia received us and showed us a simple door leading to the shop's basement. When the door opened, I saw a staircase descending to the basement, on the right wall, pictures of the Moy Yat lineage from bygone times in Hong Kong, and a smile involuntarily graced my face. It felt as if I were entering a Mo Gun entirely different from the usual ones, the ones my Si Fu used to tell me about from his trips to the USA.
Can you imagine being affiliated with a group for over twenty years and never having had the opportunity to spend even a moment with one of the dearest, most kind-hearted, and dedicated individuals? Well, it took precisely twenty-four years in the Kung Fu family to finally be able to converse calmly with Master Thiago Quintela [photo above], a disciple of my Si Gung, Grandmaster Leo Imamura [photo above].
O dia havia começado bem mais cedo quando eu e meus discípulos estávamos envolvidos em um dos pré-eventos da viagem [Foto acima]. Tinha conversado com Si Fu duas vezes sobre essa viagem e, com sua aprovação, me dediquei a organizá-la. Passaríamos cinco dias em Brasília, convivendo com Famílias Kung Fu com as quais nunca havia interagido, exceto em ocasiões de celebrações de aniversários do Si Gung. Com isso, me deparei com um território desconhecido depois de muito tempo. Conversei com Si Fu pedindo orientações para não cometer gafes, mas uma delas se resumia bem - "Esteja atento".

The day had started much earlier when my disciples and I were involved in one of the pre-events before the trip [Photo above]. I had talked to Si Fu twice about this journey, and with his approval, I dedicated myself to organizing it. We would spend five days in Brasília, interacting with Kung Fu families with whom I had never engaged, except on occasions celebrating Si Gung's birthdays. With that, I found myself in unfamiliar territory after a long time. I spoke to Si Fu, seeking guidance to avoid making mistakes, but one piece of advice summed it up well - "Be aware."
Quando chegamos ao Mo Gun do Si Suk Quintela, estava ocorrendo uma prática do Si Suk Vede Carvalho, que vai a Brasília uma vez por mês, dirigindo por 800 km, para poder estar com meu Si Gung. Nessas viagens, todas as Famílias de Brasília se mobilizam para ajudá-lo. Si Gung permanecia calado enquanto Si Suk Quintela dava algumas orientações. Após uma breve apresentação do Mo Gun, meus discípulos começaram a participar. Sentei-me próximo ao Si Suk e ao Si Gung para acompanhar a prática, e depois de tantos anos acompanhando meu Si Fu, algumas situações são novidade. Em casos assim, procuro ficar quieto e só falar o indispensável.
Como toda essa viagem surgiu de uma missão que tinha para com o Si Gung, meu contato com o Si Suk e sua To Dai Nathalia já vinha ocorrendo ao longo do mês, para que pudesse enviar meu equipamento e acertar a participação da minha Família Kung Fu na "Visita Oficial" que ocorreria dois dias depois de nossa chegada. E sobre essa visita, publicamente quero dizer o quanto fiquei entusiasmado com a hospitalidade do Thiago [Foto acima], da Ana, do Rodolfo e da Nathalia, que são os membros da Família Kung Fu liderada pelo Si Suk Quintela e sua esposa, a Sra. Gabriely. Particularmente me marcou muito ver a Ana se divertindo com a prática do bastão já no último dia, e o abraço apertado que recebi do Thiago, como se fosse um velho amigo. Essa boa energia ao final de uma "Visita Oficial" foi para mim uma grande lição do conceito de "transformar o difícil em fácil", que acredito ser de autoria do Professor François Jullien.

When we arrived at Si Suk Quintela's Mo Gun, a practice for Si Suk Vede Carvalho was in progress. He travels to Brasília once a month, driving 800 km to be with my Si Gung. During these journeys, all the Kung Fu families in Brasília mobilize to assist him. Si Gung remained silent while Si Suk Quintela provided some guidance. After a brief introduction to the Mo Gun, my disciples began to participate. I sat near Si Suk and Si Gung to observe the practice, and after so many years of accompanying my Si Fu, some situations are still new to me. In cases like these, I aim to remain quiet and only speak when necessary.
Since this entire trip arose from a mission I had towards Si Gung, my contact with Si Suk and his To Dai Nathalia had already been occurring throughout the month, so I could send my equipment and arrange for my Kung Fu Family's participation in the "Official Visit" that would take place two days after our arrival. Regarding this visit, I publicly want to express how enthusiastic I was about the hospitality of Thiago [Photo above], Ana, Rodolfo, and Nathalia, who are the members of the Kung Fu Family led by Si Suk Quintela and his wife, Mrs. Gabriely. It particularly touched me to see Ana enjoying the staff practice on the last day and the warm embrace I received from Thiago, as if we were old friends. This positive energy at the end of an "Official Visit" was, for me, a great lesson in the concept of "turning the difficult into the easy," which I believe to be attributed to Professor François Jullien.

Durante a Visita Oficial organizada pela sua Família, ocasionalmente conversava com Si Suk Quintela durante algum intervalo. Ele comentava comigo o quanto gosta de morar em Brasília e o quanto a dinâmica entre ele e meu Si Baak Nataniel é benéfica para todos. Costuma brincar sobre "deixar o Si Gung trabalhar para ele". Então, não pude deixar de pensar em quão bacana seria meus To Dai passarem pelo mesmo processo com meu Si Fu. Ali, naqueles dias de grandes aventuras, pude perceber na prática o quão válido é poder compartilhar a responsabilidade da transmissão. Na tarde em que cheguei ao Mo Gun do Si Suk, apenas o Si Suk Vede e meus discípulos estavam praticando, e três gerações de Mestres da Linhagem Moy Yat estavam sentados. Si Suk Quintela transmite uma leveza. E falando em leveza, foi essa a principal impressão que tive do Si Suk Quintela [foto acima]: Um Líder de Família "leve".
Foram momentos muito impressionantes naquele Mo Gun, com os membros da Família Kung Fu entrando um a um, parecendo não ter hora marcada. Se tinham, não percebi. A filha do Si Suk ficava andando por lá, e apenas ela foi capaz de tirar o Si Gung de uma expressão séria para uma mais divertida. Observar a interação deles foi bem divertido. Si Gung, porém, não deixou de pontuar ao Si Suk Vede a importância da conduta marcial, ao não permitir que perdesse a atenção com as pessoas que entravam e saíam do recinto. Ele fez uma associação com um episódio no trânsito que o Si Suk tinha vivenciado. Apesar do ambiente descontraído, ninguém ali estava brincando.
No final, percebi a importância de tratar os temas do Mo Lam com a "Conduta Feminina", pois vi que mesmo quando exigidos, os praticantes continuam com energia e atentos.
Agradeço ao Si Suk, à sua esposa e aos membros dessa Família Kung Fu, que estão começando da maneira certa, pela oportunidade.

During the Official Visit organized by your Family, I occasionally found myself in conversation with Si Suk Quintela during breaks. He would remark to me how much he enjoys living in Brasília and how beneficial the dynamic between him and my Si Baak Nataniel is for everyone. He often jokes about "letting Si Gung work for him." So, I couldn't help but think about how wonderful it would be for my To Dai to go through the same process with my Si Fu. There, in those days of great adventures, I could see in practice how valuable it is to share the responsibility of transmission. On the afternoon when I arrived at Si Suk's Mo Gun, only Si Suk Vede and my disciples were practicing, and three generations of the Moy Yat lineage were sitting there. Si Suk Quintela exudes a sense of lightness. Speaking of lightness, that was the main impression I had of Si Suk Quintela [photo above]: a "light" Family Leader.

There were very impressive moments in that Mo Gun, with the members of the Kung Fu Family entering one by one, seemingly without a scheduled time. If there was a schedule, I didn't notice it. Si Suk's daughter was walking around, and only she was able to shift Si Gung from a serious expression to a more jovial one. Observing their interaction was quite enjoyable. However, Si Gung didn't fail to emphasize to Si Suk Vede the importance of martial conduct by not allowing himself to lose focus on the people coming and going from the premises. He drew an analogy with a traffic incident Si Suk had experienced. Despite the relaxed atmosphere, nobody there was playing around.
In the end, I realized the importance of addressing Mo Lam topics with a "Feminine Conduct," as I saw that even when challenged, practitioners remained energetic and attentive.
I would like to express my gratitude to Si Suk, his wife, and the members of this Kung Fu Family, who are starting off on the right foot, for the opportunity.

The Disciple of Master Julio Camacho
Thiago Pereira "Moy Fat Lei"
moyfatlei.myvt@Gmail.com