- The photos today are by Raffy Carvalheira.
- In the photos, I appear with Si Suk Morioka, although the text refers to practising with Si Suk Leonardo Pimenta.
Nunca imaginaria viver o que estou vivendo aos 40 anos de idade: a possibilidade de imergir de maneira tão intensa na Vida Kung Fu como nunca antes. Hoje, por exemplo, comecei às 4 da manhã sozinho no Instituto Moy Yat, revisando o que venho aprendendo antes de encontrar meu discípulo Lucas às 7h50 na nossa padaria de sempre. Às 8h30, chegou o Si Gung (Grão-Mestre Leo Imamura) e logo depois o Si Suk Leonardo Pimenta. O café da manhã, então, se torna um grande aprendizado, não apenas em sua camada mais superficial, que são os temas em si. A conduta adequada e a abordagem mais apropriada para tratar deles são pontuadas pelo Si Gung.
Para falar a verdade, de todas as agora já inúmeras viagens feitas para passar um tempo com Si Gung, esta é, de longe, a em que me encontro mais distraído e talvez até lerdo para as coisas mais simples possíveis. Tanto a Si Taai, a Professora Vanise Almeida, quanto o Si Gung, têm pontuado a minha intensa vontade de ser eficiente a todo momento. Nesses dias, isso tem me mostrado o quanto gasto energia tentando antecipar situações para as quais minha ajuda ou participação não foram requisitadas. Com isso, acabo por fazer movimentos que atrapalham mais do que ajudam. Acredite: desde tentar pegar a mala do Si Gung para levar para ele até o momento de entregar-lhe um Hung Baau, tudo foi feito da pior maneira possível. Obviamente, isso também se manifesta na experiência marcial.
I never imagined I would experience what I’m living at the age of 40: the opportunity to immerse myself so intensely in the Kung Fu Life as never before. Today, for example, I started at 4 a.m. alone at the Moy Yat Institute, reviewing what I have been learning before meeting my disciple Lucas at 7:50 a.m. at our usual bakery. At 8:30 a.m., Si Gung (Grandmaster Leo Imamura) arrived, followed shortly by Si Suk Leonardo Pimenta. Breakfast, then, becomes a great learning experience, not just in its most superficial layer, which is the topics themselves. The proper conduct and the most appropriate approach to address them are highlighted by Si Gung.
To be honest, of all the now numerous trips I have made to spend time with Si Gung, this is by far the one in which I feel most distracted and perhaps even slow with the simplest of tasks. Both Si Taai, Professor Vanise Almeida, and Si Gung have pointed out my intense desire to be efficient at all times. Recently, this has shown me how much energy I expend trying to anticipate situations where my help or involvement was not requested. Consequently, I end up making movements that hinder more than help. Believe me: from trying to take Si Gung’s bag to carry it for him, to handing him a Hung Baau, everything has been done in the worst possible way. Obviously, this also manifests in the martial experience.
Sentado à frente do Si Gung ainda no café da manhã, senti minha energia despencando. Eram apenas 9h da manhã e sentia minha mente com a mesma energia de um final de dia desgastante. Essa atitude mental, uma hora depois, rendeu uma boa chamada de atenção do Si Gung durante o MPA do Si Suk Leonardo Pimenta, no qual eu seria assistente. “... Você quase arranca minha mão para pegar a bolsa e agora que eu preciso de ajuda, você está aí dormindo com os braços cruzados...” — disse ele com razoável veemência. “... Você precisa pensar com minha cabeça; quando eu precisar, você já está pronto...”
As chamadas de atenção do Si Gung sempre parecem ser pedaços de uma história maior que o levam de volta à natureza da prática que você está estudando. Então, por mais que ele chame a atenção com frequência, como foi hoje, não me sinto travado por dentro. Sei que, lá na frente, tudo vai se encaixar. “... Tudo o que queremos é não usar o instinto...” — comentou ele para nós dois em um dos intervalos, sentado ao lado do bule de chá e do seu copo. E prosseguiu: “... O instinto está ali para quando deixamos passar todo o resto. Por isso a atitude mental precisa ser apropriada; se não, você atrapalha ele...” — disse para mim se referindo a minha perfomance ao praticar com o Si Suk Leonardo.
No entanto, o pior ainda estava por vir: ao me pedir para mostrar alguns socos, nos quais a mão de retaguarda deveria se posicionar antes da mão de vanguarda ir até a extensão máxima, eu simplesmente não conseguia fazer. “Você consegue ver que está muito ruim?” — Indagou ele com um sorriso que era como alguém que não acredita no quão ruim está aquilo que seus olhos veem, enquanto apoiava a cabeça em uma das mãos com o braço apoiado em uma de suas pernas cruzadas.
.Sitting in front of Si Gung still at breakfast, I felt my energy plummeting. It was only 9 a.m., and my mind felt as drained as it would at the end of a long day. This mental state, an hour later, earned me a stern reprimand from Si Gung during the MPA of Si Suk Leonardo Pimenta, for which I was to be the assistant. “... You nearly ripped my hand off to grab the bag, and now that I need help, you’re just sitting there with your arms crossed...” — he said with considerable vehemence. “... You need to think with my head; when I need you, you should already be ready...”
Si Gung’s reprimands always seem to be fragments of a larger story that bring him back to the nature of the practice you are studying. So, even though he frequently points things out, as he did today, I don’t feel internally blocked. I know that, in time, everything will fall into place. “... All we want is not to rely on instinct...” — he commented to us both during one of the breaks, sitting next to the teapot and his cup. He continued: “... Instinct is there for when we’ve let everything else go. That’s why the mental attitude needs to be right; otherwise, you disrupt it...” — he said to me, referring to my performance while practising with Si Suk Leonardo.
However, the worst was yet to come: when he asked me to demonstrate some punches, where the rear hand should be positioned before the lead hand extends fully, I simply couldn’t do it. “Can you see that it’s rubbish?” — he asked with a smile that was as if he couldn’t believe how bad it was, while resting his head on one hand with his arm propped up on one of his crossed legs.
Pensei sobre o quanto ainda me prendo ao protocolo das coisas. Isso me faz intuir que algo deve ser feito sem prestar atenção às circunstâncias. Isso parece e é bem básico, mas, de alguma maneira, esses tropeços triviais têm muito a nos ensinar. Pensei quando Si Gung chamou minha atenção por eu estar assumindo posicionamentos com o corpo sem ter sentido através do braço do Si Suk Leonardo Pimenta, como conformar o corpo à pressão que ele aplicava. Lá estava eu, apenas fazendo posicionamentos que já conheço sem prestar atenção.
Ao retornar ao Instituto, dei prosseguimento à mesma prática que tinha feito às 4 da manhã. Estava bem mais tranquilo. Continuei cometendo erros ao longo do dia, não tantos quanto de manhã, mas ainda mais do que gostaria. Si Gung continuou chamando minha atenção, menos do que no período da manhã, mas ainda havia situações para isso. “... Você não pode me fazer mostrar uma coisa duas vezes...” — comentou ele em outra ocasião nesta mesma semana.
Terminamos a noite com um agradável jantar com o Si Suk Dorival, o Sensei Ricardo, Si Gung e sua esposa, Maria. Conversamos sobre cinema, animação, artes marciais, meditação, budismo tibetano e uma variedade de outros assuntos. Tudo para começar novamente às 4 da manhã.
O importante desse processo é conseguir sorrir. “... Você vai reparar que os artistas marciais costumam brincar em ambientes distintos, exatamente para descomprimir a seriedade exigida na experiência marcial...” — disse o Si Gung mais cedo.
I reflected on how much I still cling to protocol. This makes me sense that something should be done without paying attention to the circumstances. Although it seems and is quite basic, in some way, these trivial missteps have a lot to teach us. I thought about when Si Gung drew my attention to my body positioning without sensing through Si Suk Leonardo Pimenta’s arm how to adjust the body to the pressure he was applying. There I was, simply making positions I already knew without paying attention.
Upon returning to the Institute, I continued with the same practice I had started at 4am. I was much calmer. I continued making mistakes throughout the day, not as many as in the morning, but still more than I would have liked. Si Gung continued to call my attention, less than in the morning, but there were still situations where it was necessary. “... You can’t make me show something twice...” — he commented on another occasion earlier this week.
We ended the evening with a pleasant dinner with Si Suk Dorival, Sensei Ricardo, Si Gung, and his wife, Maria. We talked about cinema, animation, martial arts, meditation, Tibetan Buddhism, and a variety of other topics. All to start again at 4am.
The important part of this process is to manage to smile. “... You’ll notice that martial artists often play in different environments precisely to relieve the seriousness required in martial practice...” — Si Gung said earlier. For challenging days, it seems that having a corn ice lolly also helps.