terça-feira, 29 de setembro de 2020

A perspective on the ideogram Fu [父] from Si Fu [師父]


 A foto acima, mostra o momento em que Si Fu e Si Mo apreciam o espaço alugado naquela mesma manhã, que se tornaria a Casa da Família Moy Fat Lei. Si Fu tem uma habilidade muito especial, de enxergar a melhor harmonização da ambiencia objetiva e subjetiva de um Mo Gun. E neste dia não foi diferente: Imediatamente ao adentrar o local, ele teceu alguns comentários a respeito de como montar esta casa e de possibilidades a respeito da disposição dos objetos. Como vi ele fazendo isso por muitas e muitas vezes, não imaginaria que fosse diferente. 

The photo above shows the moment when Si Fu and Si Mo appreciate the  house we rented that same morning, which would become the Moy Fat Lei Family Mo Gun. Si Fu has a very special ability, to see the best harmonization of the objective and subjective ambience of a Mo Gun. And this day was no different: Immediately upon entering the place, he made some comments about how to set up this house and possibilities regarding the arrangement of objects. Since I saw him doing this over and over again, I wouldn't have thought it was any different.



Estavamos em Agosto de 2018, minha discípula Jaqueline Tergolina nos convidou a usar as dependencias de seu condomínio e apartamento[foto abaixo], para que as práticas pudessem acontecer. Aos Sábados, eu gostava de chegar mais cedo e fazer uma caminhada no estacionamento do Power Center que fica na esquina do prédio dela[foto acima]. Meu discípulo Cayo costumava me acompanhar e depois tomávamos café da manhã sentados num banco de pedra. 
Ficamos nessa situação por dois meses que pareceram passar voando, e confesso que me era uma situação muito confortável. Eu estava saindo de um ciclo muito pesado e entrando em outro com o falecimento do meu pai. Porém, escolhi exercer uma função que não tem paralelos em nossa sociedade ocidental: A função de Si Fu [師父].  E esta função é muito especial, inclusive para quem a desempenha, porque em muitos momentos ela me deixa mais forte ou mais maduro. 
É muito comum termos uma voz que nos diz que é hora de descansar: “Ei cara! Voce já fez o bastante! Por que não descansa? “ - Como de todas as pessoas que conhecemos, somos aquelas as quais nos enganamos com mais facilidade. A função de Si Fu [師父], me ajuda a lembrar que a minha vida não é mais só minha. E talvez por isso, eu tenha tentado de todas as maneiras ao longo destes dois meses de 2018, alugar a casa que viria a ser nosso Mo Gun. E mesmo num momento de crise particular, me propor a um novo desafio. Pois um Si Fu [師父] precisar ter estomago. 

It was August 2018, my disciple Jaqueline Tergolina invited us to use the facilities of her condo and apartment [photo below], so that the practices could happen. On Saturdays, I would like to arrive early and take a walk in the Power Center parking lot on the corner of her building [photo above]. My disciple Cayo used to accompany me and then we would have breakfast sitting on a stone bench.
We were in this situation for two months that seemed to fly by, and I confess that it was a very comfortable situation for me. I was coming out of a very heavy cycle and entering another with my father's death. However, I chose to perform a function that is unparalleled in our western society: The Si Fu  [師父]function. And this function is very special, even for those who perform it, because in many moments it makes me stronger or more mature.
It is very common to have a voice that tells us that it is time to rest a little bit: “Hey man! You've done enough! Why don't you rest? “- As with all the people we know, we are the ones who are most easily mistaken. The Si Fu [師父] function helps me to remember that my life is no longer just my own. And maybe because of that, I tried in every way during these two months in 2018, to rent the house that would become our Mo Gun. And even in a moment of particular crisis, I propose myself to a new challenge. For a Si Fu [師父] must have a stomach.


Costumo ponderar muito sobre cada decisão que tomo, e as vezes me percebo muito precavido. Meu Si Fu, fala muito de precisão. Para ele, se você faz mais ou menos que o necessário, você está sendo impreciso. Então esta função de Si Fu [師父], me ajuda a ir além das limitações do 'Thiago Pereira' todos os dias. E com essa casa não foi diferente. Pois de uma sala de 30mx30m, alçávamos um voo maior agora. Porém, acreditava verdadeiramente em meu interior, que minha Família Kung Fu merecia isso. Nós fizemos um ótimo trabalho, mesmo diante de momentos adversos. E por alguma razão, eu enxergava que apenas nessa casa, o tamanho de nossa Família iria caber. 

I tend to ponder a lot about each decision I make, and sometimes I feel very cautious. My Si Fu, speaks a lot of precision. For him, if you do more or less than necessary, you are being inaccurate. So this function of Si Fu [師父], helps me to go beyond the limitations of the  'Thiago Pereira' every day. And this house was no different. Because from a 30mx30m room, we were taking a bigger flight now. However, I truly believed within myself, that my Kung Fu Family deserved this. We did a great job, even in the face of adverse moments. And for some reason, I saw that just in this house, the size of our Family would fit.

Eu sempre me perguntava com a cabeça encostada na janela do 636 voltando da faculdade, se a minha habilidade de luta realmente condizia com o tempo de prática que eu já tinha. Esses eram delírios infantis. Com o tempo e com essa nova função de Si Fu [師父], percebi que ver esse Mo Gun montado, é uma manifestação muito mais poderosa daquilo que meu Si Fu me passou, do que qualquer habilidade de luta. Entendo também, que se parece difícil acordar no Domingo e fazer todas as sequencias, do Siu Nim Tau ao Baaat Jaam Do, sem parar e sem travar, encadeando cada Jiu Sik do início até o final. Manter esse Mo Gun durante este período de pandemia, e o dia que veio antes com o dia que vem depois, é algo que me emociona profundamente. 
Todos nós temos duas vozes dentro de nós, uma voz 'fácil' e uma voz 'difícil'. A voz fácil, é como a voz de nossas mães dizendo: “Vai ficar tudo bem!“ -E é por essa voz, que costumamos ser levados. Mas tem essa outra voz, aquela que não queremos ouvir, que costuma nos dizer: “Ei cara! Voce ainda não fez nada demais! Você nem começou!“ - E não é que essa voz te coloque para baixo, ela apenas te leva ao desafio. 

I always wondered with my head against the 636 Bus window coming back from college, if my fighting skills really matched the practice time I already had. These were childish delusions. Over time and with this new Si Fu [師父] function, I realized that seeing this Mo Gun , is a much more powerful manifestation of what my Si Fu gave me, than any fighting ability. I also understand that if it seems difficult to wake up on Sunday and do all the sequences, from Siu Nim Tau to Baaat Jaam Do, without stopping , chaining each Jiu Sik from beginning to end. Keeping that Mo Gun during this pandemic period, and the day that came before with the day after, is something that deeply touches me.
We all have two voices within us, an 'easy' voice and a 'difficult' voice. The easy voice is like the voice of our mothers saying, "It will be all right!" But there is this other voice, the one we don't want to hear, that usually says to us: “Hey man! You haven't done anything too much yet! You haven't even started! ”- And it's not that this voice puts you down, it just takes you to the challenge.
[Caligrafia de Si Taai Gung Moy Yat disposta no Mo Gun. 
Si Fu me deu de presente em meu anoversário de 2016]

[Si Taai Gung Moy Yat's handwriting displayed on Mo Gun.
Si Fu gave it to me in my 2016 anniversary.]


Então o ideograma Fu [父], que representa uma pessoa segurando duas armas com os braços erguidos, como se protegesse algo ou alguém, aparece no termo Si Fu [師父]. E isso é muito especial, pois entendo cada vez mais, a importância de um Si Fu [師父], proteger sua Família Kung Fu de si mesmo. De sempre buscar se aprofundar, não se ater as suas limitações e estudar bastante. E se muitas vezes, não for capaz de fazer isso por si mesmo, que o faça pela função que desempenha. 
Como no dia 28 de Setembro, completaram-se dois anos desde que pegamos as chaves, me veio essa reflexão que agora compartilho aqui. 

Then the ideogram Fu [父], which represents a person holding two weapons with his arms raised, as if protecting something or someone, appears in the term Si Fu [師父]. And this is very special, because I understand more and more, the importance of a Si Fu [師父], to protect his Kung Fu Family from himself. Always seeking to deepen, not stick to his own limitations and study hard. And if he is often unable to do it by himself, he can do it for the role he plays.
As on the 28th of September, two years have passed since we took the keys, this reflection came to me that I now share here.


The Disciple of Master Julio Camacho
Thiago Pereira 'Moy Fat Lei'
moyfatlei.myvt@gmail.com

sábado, 26 de setembro de 2020

An essay on bow and arrow in Chinese strategy & Kung Fu Life

 

Na bandeira chinesa, estão representados alguns povos em cada uma das estrelas. Uma destas estrelas, representa o povo mongol e nesta cultura, onde existem tendas ou cabanas circulares chamadas de "Ger" nos dialetos mongóis. É costume pendurar um arco e flecha sobre a porta, para proteger o local de espíritos malignos (John Man, Genghis khan: Life, Death and Resurrection, Londres: Bantam Press, 2005, p. 85). 
Outra destas estrelas na bandeira chinesa, a maior delas, representa o povo "Han"汉 (ou "Hon"漢 em cantonês). E é atribuído ao simbolismo desta cultura, associar o arco e a flecha, ao nascimento de um filho.(Bernhard Karlgren, "Some Fecundity Symbols in Ancient China", Boletim nº 2, Stockholm: Museu de Antiguidades do extremo oriente, 1930). Também seria costume, atirar flechas para o alto no terceiro dia após o nascimento de uma criança.(Fang Ji Pei, Symbols and Rebuses in Chinese Art: Figures, Bugs,Beasts and Flowers, Berkley, California: Ten Speed Press, 204, p. 28). 
Porém o símbolo do  "Arco e Flecha" na estratégia chinesa tem um local de destaque: A da ferramenta que melhor simboliza o Pensamento Estratégico Chinês no que tange à guerra. 

On the Chinese flag, some cultures are represented in each of the stars. One of these stars, represents the Mongolian people and in this culture, where there are tents or circular huts called "Ger" in the Mongolian dialects. It is customary to hang a bow and arrow over the door to protect the place from evil spirits (John Man, Genghis khan: Life, Death and Resurrection, London: Bantam Press, 2005, p. 85).
Another of these stars on the Chinese flag, the largest of them, represents the "Han"汉  (or "Hon" in Cantonese). And it is attributed to the symbolism of this culture, to associate the bow and the arrow, to the birth of a child. (Bernhard Karlgren, "Some Symbols of Fertility in Ancient China", Bulletin 2, Stockholm: Museum of Antiquities of the Far East, 1930). It would also be a costume, shooting arrows into the air on the third day after the birth of a child. (Fang Ji Pei, Symbols and Rebuses in Chinese Art: Figures, Bugs, Beasts and Flowers, Berkley, California: Ten Speed ​​Press, 204, p. 28).
However, the "Bow and Arrow" symbol in Chinese strategy has a prominent place: The tool that best symbolizes Chinese Strategic Thinking in terms of war.

"...Em momentos de crise, tendemos a ficarmos tensos ou nos tornamos reclusos. Quando fazemos isso, desconectamos e quando desconectamos, perdemos a 'humanidade'..." - Teria dito meu Si Fu em alguma de nossas muitas conversas. E foi com isso em mente, que decidi doze anos depois do primeiro momento que cogitei, qual seria afinal minha primeira tatuagem: Os ideogramas de "arco e flecha" com a caligrafia de meu Si Fu. 
Foi então que durante um jantar de celebração, após a admissão de novos membros na Família Kung Fu, que Si Fu escreveu em um guardanapo(FOTO), o que viria a se tornar minha primeira tatuagem.

... In times of crisis, we tend to become tense.. When we do that, we disconnect and when we disconnect, we lose 'humanity' ..." - My Si Fu would have said in one of our many conversations. And it was with this in mind, that I decided twelve years after the first moment I considered, what would be my first tattoo after all: The "bow and arrow" characters with my Si Fu's calligraphy.
It was then that during a celebration dinner, after the admission of new members to the Kung Fu Family, that Si Fu wrote on a napkin (PHOTO), which would become my first tattoo.

No Sistema Ving Tsun, não temos um "Faat"(法) para armas projéteis. Temos um para armas de madeira e outro para armas com laminas, mas não para armas que disparam. Diz meu autor favorito sobre estratégia chinesa: "...O estrategista chinês, com efeito, evita projetar sobre o desenvolvimento vindouro algum dever ser, que ele teria concebido pessoalmente e gostaria de lhe impor, já que é desse próprio desenvolvimento, tal como é levado logicamente a se processar, que ele pretende tirar vantagem...". Portanto, quando pensamos no arco e na flecha nesses termos, entendemos a importância de um disparo único. Resultado de uma avaliação de cenário e posterior validação. Porém, mais importante ainda, é a ideia de que esta arma, alcança o máximo de seu potencial exatamente quando "relaxa" após ter-se tensionado ao máximo. Como numa espécie de "inversão compensatória".

In the Ving Tsun System, we don't have a "Faat" (法) for projectile weapons. We have one for wooden weapons and another for bladed weapons, but not for bow and arrow. My favorite author on Chinese strategy says: "... The Chinese strategist, in fact, avoids projecting on the development to come some sort of being, which he would have personally conceived and would like to impose on it, since it is from this development, as logically led to sue, that he intends to take advantage ... ". Therefore, when we think of the bow and arrow in these terms, we understand the importance of a single shot. Result of a scenario assessment and subsequent validation. However, more importantly, it is the idea that this weapon reaches its maximum potential exactly when it "relaxes" after having tensioned to the maximum. As in a kind of "compensatory inversion".
Portanto, foi pensando numa tatuagem que simbolizasse meu compromisso em estudar mais o conceito de "espera estratégica" e assim como com o arco e flecha, agir apenas com movimentos precisos e únicos, que tomei essa decisão. Além disso, pesou muito a minha vontade de entender mais sobre o poder da "inversão compensatória". Ou seja: A habilidade de num momento de tensão, ao constatar que nada posso fazer para mudar o cenário, cultivar ainda mais essa tensão. Até que ela, pelo seu próprio efeito e não por ativismo meu, se torne um processo de relaxamento.

So, it was thinking about a tattoo that symbolized my commitment to further study the concept of "strategic waiting" and just like with the bow and arrow, to act only with precise and unique movements, that I made this decision. In addition, my desire to understand more about the power of "compensatory inversion" weighed heavily. In other words: The ability of during a moment of tension, when realizing that I can do nothing to change the scenario, cultivate that tension even more. Until it, by its own effect and not by my activism, becomes a process of relaxation.


The Disicple of Master Julio Camacho
Thiago Pereira "Moy Fat Lei"
moyfatei.myvt@gmail.com


quinta-feira, 24 de setembro de 2020

Series of remote meetings with Master Julio Camacho on “Cham Kiu'“.


 Iniciou-se na noite da última Quarta[dia 23.09.20], uma série de novos encontros remotos com meu Mestre Julio Camacho. Desta vez, será abordado o 'Cham Kiu', segundo Domínio do Sistema Ving Tsun. 
Para mim em particular, continua sendo um processo de atualização muito forte, este tipo de encontro. Sempre tive meu Si Fu muito próximo e muito acessível, e esse distanciamento forçado, vem me fazendo repensar toda a relação. 
Antes, encontrava Si Fu nos mais diversos locais e nas mais diversas situações. Fosse buscando ele no aeroporto ou almoçando juntos em algum shopping da Barra da Tijuca, os cenários estavam sempre mudando. Por conta dos encontros remotos, geralmente os cenários são apenas três: Quando ele faz uma chamada de vídeo de dentro do carro, quando ele está sentado em seu quarto ou diante da mesa da sala, com uma pequena estante atrás dele. - “...Pergunta a Si Mo! Eu tenho passado de 22 a 23 horas em casa...Eu que quase não parava em casa...Tem oito meses que fico de 22 a 23 horas em casa...“
Em 2008, comecei a frequentar uma casa em que Si Fu viveu devido a convites seus, para praticarmos[FOTO]. Geralmente Vladimir ou Thiago Silva estariam comigo nessas horas. E o fato de ter dentro de mim o registro de que a prática deveria ser no Mo Gun, fazia do momento algo único. Pois na foto acima, já haviam se passado sete anos desde que havia acessado o “Cham Kiu“, mas praticar com Si Fu em sua varanda de casa, sem hora marcada, era algo que tornava o momento especial. 

Last Wednesday's night, a series of new remote meetings with my Master Julio Camacho began. This time, the 'Cham Kiu'  Domain will be approached.
For me in particular, it remains a very strong updating process, this type of meeting. I always had my Si Fu very close and very accessible, and this forced distance has been making me rethink the whole relationship.
Before, I used to meet Si Fu in the most diverse places and in the most diverse situations. Whether I was looking for him at the airport or having lunch together in some shopping mall in Barra da Tijuca, the scenarios were always changing. Because of the remote meetings, there are usually only three scenarios: When he makes a video call from inside the car, when he is sitting in his room or in front of the living room table, with a small bookcase behind him. - “... Ask Si Mo! I have spent 22 to 23 hours at home ... I hardly used to stop at home ... I have spent 22 to 23 hours at home for eight months ... "
In 2008, I started going to a house where Si Fu lived due to his invitations, to practice [PHOTO]. Usually Vladimir or Thiago Silva would be with me at those times. And the fact that I had the record that the practice should be at Mo Gun, made those moments unique ones. Because in the photo above, it had been seven years since I had accessed “Cham Kiu“, but practicing with Si Fu at his home balcony, without an appointment, was something that made the moment special.

Me tomando como referencia, as vezes imagino que Si Fu, assim como Jeff Bridges no filme “Tron“ de 1982. Ficara preso dentro de uma máquina. A diferença é que a máquina é um celular e não um fliperama. Então penso que poderia ser pior...Poderíamos estar ainda na era do ICQ ou quando as câmeras tinham aquela imagem “pixelada“ em que a pessoa ficava com movimentos “picotados“ do outro lado da tela.... 
Então, logo ontem, Si Fu falou da importância de se praticar o Cham Kiu em diferentes terrenos, com diferentes inclinações e superfícies. Essa fala me tocou muito, pois me remeteu aos momentos em sua varanda no final dos anos 2000 em Jacarepaguá, e o quanto aquelas práticas marcaram minha jornada. 
Essa sugestão aparentemente tão simples, me provocou uma tomada de consciência. Pois ao invés de lamentar a distancia e me entregar a nostalgia. Desta vez posso experimentar um novo tipo de conexão...Seja comigo mesmo ao me propor a viver a viver a aventura do Cham Kiu em diferentes terrenos aos trinta e seis anos de idade. Ou de pensar em como estar conectado com Si Fu mesmo a distancia. Pois chegará um dia, em que nem na tela do celular um de nós dois vai mais estar. E só o que sobrará é a conexão de coração com coração.

Taking me as a reference, I sometimes imagine that Si Fu, like Jeff Bridges in the 1982 film “Tron”, had been trapped inside a machine. The difference is that the machine is a cell phone and not an arcade. So I think it could be worse ... We could still be in the ICQ era or when the cameras had that “pixelated” image  on the other side of the screen ....
Then, just yesterday, Si Fu spoke of the importance of practicing Cham Kiu on different terrains, with different slopes and surfaces. This speech touched me a lot, because it reminded me of the moments on your balcony in the late 2000s in Jacarepaguá neighborhood, and how much those practices marked my journey.
This seemingly simple suggestion made me renew my awareness. For instead of regretting the distance and giving me nostalgia. This time I can experience a new type of connection ... Be with me when I propose to live the Cham Kiu adventure in different grounds at thirty-six years old. Or to think about how to be connected with Si Fu even from a distance. For a day will come when neither of us will be together in the same place or on the phone screen. And all that is left is the heart-to-heart connection.



The disciple of Master Julio Camacho
Thiago Pereira “Moy Fat Lei“
moyfatlei.myvt@gmail.com



terça-feira, 22 de setembro de 2020

Saam Baai Faat[三拜佛]: A new lesson by Master Julio Camacho

 

No próximo dia 25 de Outubro, serão completados vinte e um anos, que sigo meu Si Fu Julio Camacho ininterruptamente.  Si Fu nunca deixou de me impressionar, fosse de um jeito ou de outro, desde o primeiro dia em que o vi. Com apenas uma de suas pernas, ele aparou um chute semi-circular meu redirecionando-o e fazendo com que eu caísse com a nuca exposta para ele. Aquilo foi muito impressionante. Era Abril de 1999, e não desisti de insistir com a minha mãe, para que fizesse minha matrícula. Em Setembro daquele mesmo ano, finalmente eu consegui. 
Nos momentos em que me sentia desmotivado, lembrava desse e de outros episódios em que presenciei ou vivi suas habilidades. Era realmente algo especial. 
Com o tempo, não precisava mais que Si Fu me impressionasse para que eu o seguisse. Na verdade, muitas das histórias que conto aqui, as rememoro apenas enquanto escrevo. Porque a relação se atualiza tão rapidamente, que não dá para viver no passado. 
Ontem, voltei a ter quinze anos de idade, pois Si Fu impressionou-me com sua capacidade técnica mais uma vez. Eu fiz uma pergunta pouco elaborada, ele a embrulhou para presente, e me devolveu algo para pensar: O misterioso “Saam Baai Faat[三拜佛]“ do Domínio “Biu Ji“.

On the 25th of October, twenty-one years will be completed, which I follow my Si Fu Julio Camacho without interruption. Si Fu never failed to impress me, in one way or another, from the first day I saw him. With just one of his legs, he parried a semi-circular kick from me redirecting it and causing me to fall with the back of my neck exposed to him. That was very impressive. It was April 1999, and I did not give up on insisting with my mother that I wanted to enroll. In September of that same year, I finally made it.
In the moments when I felt unmotivated, I remembered this and other episodes in which I witnessed or experienced his skills. It was really something special.
Over time, I no longer needed Si Fu to impress me for me to follow him. In fact, many of the stories I tell here, I remember them only as I write. Because the relationship is updated so quickly, you can't live in the past.
Yesterday, I was fifteen years old again, as Si Fu impressed me with his technical ability once again. I asked a poorly elaborated question, he wrapped it up as a gift, and gave me something to think about: The mysterious “Saam Baai Faat [三 拜佛]“ from the Domain “Biu Ji“.

A primeira vez que tive acesso a terceira parte do 'Biu Ji', eu tinha apenas dezessete anos. Naqueles tempos, fiquei fascinado pelos tres últimos movimentos da listagem chamado de Saam Baai Faat[三拜佛]. E nessa foto, já em 2007, voce me ve executando exatamente esse 'Jiu Sik' observado pelo meu Si Fu e pelo querido Si Baak Anderson Maia. 

The first time I had access to the third part of 'Biu Ji', I was only seventeen years old. In those days, I was fascinated by the last three movements of the listing called Saam Baai Faat [三 拜佛]. And in this photo, already in 2007, you see me executing exactly that 'Jiu Sik' observed by my Si Fu and the dear Si Baak Anderson Maia.


Saam Baai Faat[三拜佛], seria algo como “Três reverencias a Buda“. Acredito que seja em função a todo o gestual feito durante a execução deste 'Jiu Sik'. Já ouvi dizer que algumas linhagens chamam todo o 'Biu Ji' por esse nome, de tão emblemático que é. 
Ontem durante mais um encontro remoto com Si Fu sobre o Domínio “Baat Jaam Do“, aproveitei uma brecha para perguntar sobre o Saam Baai Faat[三拜佛] em razão de estarmos estudando, determinado movimento da segunda parte do Domínio Baat Jaam Do. 
A formulação da minha pergunta foi bem ruim, mas Si Fu tem a estranha habilidade, de tocar no cerne da sua pergunta. E as vezes nem mesmo você sabia o que estava por detrás da sua pergunta. No meu caso, geralmente está o Faat[法] da coisa. Mas não me refiro ao "Faat" de Saam Baai Faat[三拜佛]. Este significa "Buda"[佛]. Me refiro ao Faat[法] de "Método". - "Você costuma ter um formato em sua cabeça. Aí você pega o que lhe é dito, e compara. Se fizer sentido, você adere. Caso não faça, você descarta..." - Costuma me dizer Si Fu vez ou outra.- "Você precisa em algum momento vencer essa etapa. Não existe uma 'verdade', não precisa procurar por isso". - Costuma completar.

Saam Baai Faat [三 拜佛], would be something like "Three reverences to Buddha". I believe it is due to all the gestures made during the execution of this 'Jiu Sik'. I've heard that some Lineages call all the 'Biu Ji' by that name, so emblematic that it is.
Yesterday, during another remote meeting with Si Fu about the “Baat Jaam Do” Domain, I took advantage to ask about Saam Baai Faat [三 拜佛] because we are studying, a certain movement in the second part of the Baat Jaam Do Domain.
The formulation of my question was very bad, but Si Fu has the strange ability to touch the heart of your question. And sometimes you didn't even know what was behind your question. In my case, it's usually the Faat [] of the thing. But I don't mean Saam Baai Faat's "Faat" [佛]. This means "Buddha" [佛]. I mean Faat [法] wich means "Method". - "You usually have a shape in your head. Then you take what you are told, and compare. If it makes sense, you stick. If you don't, you discard ..." - Si Fu always tell me. And he also say. - "You need to win this stage at some point. There is no 'truth', you don't have to look for it".
Si Fu me chamou a atenção para o fato de que não existe razão para "testar" o que você está praticando: "...Se você ainda não amadureceu num determinado processo, não tem porque testar. Se você já está amadurecido, não faz mais sentido testar..." - Essa fala paradoxal, veio depois de Si Fu ter me perguntado: "Fala pra mim: Pra que fazemos um 'teste' ?".
Si Fu sabia que por debaixo do meu tema, estava uma tentativa minha, de averiguar se a maneira que ele havia transmitido o "Baat Jaam Do" para mim a doze anos atrás, seguia a mesma. E sem que eu perguntasse ele disse: "...Você vê... Alguns Si Fu, transmitiram o Do para poucos por muito tempo. Outros tiveram a oportunidade de transmitir para muitos por pouco tempo. No meu caso... Você lembra, ainda lá em Jacarepaguá?"- Indagou ele se referindo ao antigo Núcleo Jacarepaguá: "...Inês, Seabra, Felipe, Nanda, Wesley, Diego, Ursula, André.... Olha quanta gente e quanto tempo..." - Ele fez uma pausa e disse: "...A gente acaba amadurecendo..."

Si Fu drew my attention to the fact that there is no reason to "test" what you are practicing: "... If you have not yet matured in a certain process, there is no point in testing. If you are already mature, there is no more sense to test ... "- This paradoxical speech came after Si Fu asked me:" Tell me: Why do we do a 'test'? ".
Si Fu knew that under my theme, there was an attempt by me, to find out if the way he had transmitted "Baat Jaam Do" to me twelve years ago, followed the same. And without me asking, he said: "... You see ... Some Si Fu, passed down the Do to a few for a long time. Others had the opportunity to passed down to many for a short time. In my case ... Do you remember , still there in Jacarepaguá neighborhood? "- he asked, referring to the old Jacarepaguá School:" ... Inês, Seabra, Felipe, Nanda, Wesley, Diego, Ursula, André .... Look how many people and how long ... " - He paused and said: "... We end up maturing ..."


"Nunca existiu uma 'aplicação', Thiago" - Lembrou-me Si Fu.- "Mas olha que interessante: O que você abre mão pela primeira vez no Saam Baai Faat[三拜佛]?" - Indagou-me ele. - "O quadril né? Você abre mão do quadril. E o que mais?"- Seguiu-se um silêncio e ele completou: "Os cotovelos""- Então Si Fu mostrou-nos como o braço sobe a ponta de perder os cotovelos(FOTO). 
Essas são colocações de certa forma, basais para muitas pessoas com meu tempo de prática. Mas eu não me importo de falar delas aqui. Afinal, acredito que seja disso que se tratam os "Momentos Programados de Acesso": Um momento com potencial de ressignificação. Considerei essas palavras, como um grande momento oportuno. Afinal, devido à presença dos componentes associados do "Biu Ji" como "Chi Sau" e "Chi Geuk", percebi que havia parado de buscar um entendimento mais amadurecido do Saam Baai Faat[三拜佛]. Contentei-me com o que absorvera aos dezessete anos. E pior: Pela falta de Componentes Associados no Domínio "Baat Jaam Do", me vi em busca de um método [Faat(法)].

"There was never an 'application', Thiago" - Si Fu reminded me.- "But look how interesting: What do you give up for the first time in Saam Baai Faat [三 拜佛]?" - He asked me. - "The hips, right? You give up the hips. And what else?" - There was a silence and he added: "The elbows" - Then Si Fu showed us how the arm goes up the tip of losing the elbows (PHOTOGRAPH).
These are, in a way, basic statements for many people with my time of practice. But I don't mind talking about them here. After all, I believe that this is what "Programmed Access Moments" are all about: a moment with the potential for new meaning. I considered these words as a great opportune moment. After all, due to the presence of the associated components of "Biu Ji" like "Chi Sau" and "Chi Geuk", I realized that I had stopped looking for a more mature understanding of Saam Baai Faat [三 拜佛]. I was content with what I had absorbed when I was seventeen years old. And worse: Due to the lack of Associated Components in the "Baat Jaam Do" Domain, I found myself looking for a method [Faat (法)].

(Momento em que entrego o "Hung Baau" para meu Si Fu ao ser 
admitido na Família Kung Fu em Outubro de 1999)

(Moment when I deliver the "Hung Baau" to my Si Fu when
admitted to the Kung Fu Family in October 1999)

Se ao encontrar Si Fu pela primeira vez aos quinze anos, eu era uma criança que se encantou com um homem e resolveu segui-lo como praticante. Perguntei-me ao fim da noite de ontem, o quanto ainda preciso amadurecer como "Mestre". É um longo caminho, sem dúvidas... Mas fiquei feliz mesmo assim. Por alguns minutos ouvindo Si fu falar, me senti voltando àquele antigo Mo Gun da Estrada do Tindiba, o encontrando pela primeira vez, e me encantando com sua habilidade...

If, when I met Si Fu for the first time at the age of fifteen, I was a child who was enchant by  a man and decided to follow him as a practitioner. I wondered at the end of last night, how much I still need to mature as "Master". It's a long way, no doubt ... But I was happy. For a few minutes listening to Si fu speak, I felt myself returning to that old Mo Gun in Tindiba's Road in 1999, meeting him for the first time, and enchanting me with his ability ...



The Disicple of Master Julio Camacho
Thiago Pereira "Moy Fat Lei"
moyfatlei.myvt@gmail.com


segunda-feira, 14 de setembro de 2020

An essay on Biu Do [標刀] Vs Biu Gwan[標棍]

[Prática de Biu Gwan 標棍]
[Biu Gwan 標棍 practice]
 

Muita gente pode se perguntar, a razão de se praticar usando armas nos dias de hoje. Bem, a ideia nunca foi usá-las em qualquer outra situação que não durante a prática. Com o tempo, percebi que isso não é de hoje. Mesmo na época do Patriarca Ip Man em Hong Kong, a simples prática de uma arte marcial usando uma arma era proibida. Nem mesmo associações eram permitidas. Daí, veio a proposta de chamar a primeira associação de Ving Tsun naquele local de 'Athletic Association'. Uma maneira inteligente encontrada pelo Patriarca, para fundar a primeira associação de artes marciais do século 20 em Hong Kong. 
Mas, se as armas não são para nos ajudar a nos defendermos, para que servem então? Eu acredito que como qualquer outro elemento presente num Sistema de artes marciais, sirva para nos ajudar a ressignificar nossa jornada nesse mundo como seres humanos que vivem em sociedade, e refinar nossas ações trazendo assim benefícios para nós e aqueles ao nosso redor. 

A lot of people may wonder, the reason to practice using weapons these days. Well, the idea was never to use them in any situation other than during practice. Over time, I realized that this is not just for nowadays. Even in the days of Patriarch Ip Man in Hong Kong, the simple practice of a martial art using a weapon was prohibited. Even associations were not allowed. Hence, the proposal came to call Ving Tsun's first association at that location as 'Athletic Association'. A clever way found by the Patriarch, to found the first martial arts association of the 20th century in Hong Kong.
But if the weapons are not to help us defend ourselves, what are they for? I believe that like any other element present in a Martial Arts System, it serves to help us to reframe our journey in this world as human beings living in society, and to refine our actions thus bringing benefits to us and those around us.
[Em 1991 aos sete anos de idade]
[In 1991 at the age of seven]

Apesar de ter uma irmã mais nova, oito anos de diferença nos separam. Por conta disso, pude viver como um filho único por muitos anos. Talvez você se pergunte: “Ei! E qual o problema disso?“ - Bem, talvez eu tenha recebido tanta atenção, que tenha acreditado de verdade que eu era a peça central dos acontecimentos. Uma espécie de personagem principal de uma série, com todos ao meu redor, sendo figurantes, antagonistas ou elenco de apoio. Não estamos conscientes desse nosso comportamento, percebemos ele com muito custo, quando por exemplo perdemos alguma coisa ou alguém. Não podemos acreditar em algo assim quando acontece. Afinal, sempre que pedíamos desculpas, tudo se resolvia. Talvez fossemos repreendidos, mas no fundo, sabíamos que tudo já estava bem. Mas o mundo não é a nossa casa. 
E então, Biu Gwan[標棍] é um disparo único. Você usa toda a sua precisão, fator tão importante para um artista marcial, para um único movimento. Você percebe que se errar a pontaria, não haverá segunda chance. Voce não dispara na hora que quer, você dispara na hora em que o outro oferece a abertura. E para perceber isso, você precisa estar conectado ao outro e ao mesmo tempo, pronto para o disparo. E nesses singelos segundos que separam a posição de guarda e o disparo. Não existe “Eu“ ou “você“. Existe apenas, o resultado da nossa relação. E essa terceira coisa, a nossa relação, é impessoal. 
Bom, se eu tivesse percebido isso antes, teria sido mais atento e não teria perdido tantas boas oportunidades que a vida me deu, por achar que sempre teria outra chance...

Despite having a younger sister, eight years apart separates us. Because of that, I was able to live as an only child for many years. You may ask yourself, “Hey! And what's the problem with that? ”- Well, maybe I got so much attention that I really believed that I was the centerpiece of events. A kind of main character in a series, with everyone around me, being extras, antagonists or supporting cast. We are not aware of our behavior, we perceive it with great cost, when for example we lose something or someone. We can't believe something like that when it happens. After all, whenever we apologized, everything was resolved. Perhaps we were scolded, but deep down, we knew that everything was already fine. But the world is not our home.
And then, Biu Gwan [標 棍] is a single shot. You use all your precision, a factor so important for a martial artist, for a single movement. You realize that if you miss, there will be no second chance. You don't shoot when you want, you shoot when the other person offers the opening. And to realize this, you need to be connected to the other and at the same time, ready to fire. And in those simple seconds that separate the guard position and the shot. There is no "me" or "you". There is only the result of our relationship. And this third thing, our relationship, is impersonal.
Well, if I had realized this before, I would have been more attentive and would not have missed so many good opportunities that life has given me, because I used to think I would always have another chance ...
[Prática de Biu Do 標刀]
[Biu Do 標 刀 practice]

O Biu Do [標刀]faz uso de uma ferramenta que é como se fosse uma única faca dividida em duas. Portanto, não fazemos movimentos separados. Elas atuam como algo único- “São duas facas que fazem um gesto único“. - Diria meu Si Fu. E como são duas facas, enquanto uma avança a outra retorna. Só que para quem as está segurando, a ideia é que uma avance com potencial de perfurar ou cortar[simbolicamente] e a outra retorne “cheia“[ou “viva“ se preferir]. É como se você estivesse presente no momento, mas ao mesmo tempo, preparando o próximo ciclo num nível de refinamento que parece impossível num relance.
As vezes escuto “Purple Rain“ do Prince, e lembro do que já passou, do que perdi e do que deixei ir... Coisas de outros ciclos da minha vida. Esse é um lado cruel da vida do artista marcial: Nós praticamos incansavelmente viver no momento presente e sempre perceber o próximo ciclo. Por isso, as músicas românticas trazem um afago momentâneo, mas no fundo sabemos que somos responsáveis por nossas escolhas. Afinal, um sinal de maturidade, é se enxergar como responsável pelo que nos acontece. 
Por isso, o Biu Do [標刀], deixa a dura lição através das palavras de meu Si Fu: “Para quem 'vai com tudo', não sobra nada“. 
Bom, parece que o Prince não escreveu nada sobre isso afinal...

Biu Do [標 刀] makes use of a tool that is like a single knife divided into two. Therefore, we do not make separate movements. They act as something unique- "They are two knives that make a unique gesture". - My Si Fu would say. And as they are two knives, while one advances the other returns. But for those who are holding them, the idea is that one advances with the potential to pierce or to cut [symbolically] and the other returns "full" [or "alive" if you prefer]. It is as if you are present at the moment, but at the same time, preparing yourself for the next cycle at a level of refinement that seems impossible at a glance.
Sometimes I hear Prince's “Purple Rain”, and I remember what has passed, what I lost and what I let go ... Things from other cycles of my life. This is a cruel side of the martial artist's life: We tirelessly practice living in the present moment and always perceiving the next cycle. Therefore, romantic songs bring a momentary cuddle, but deep down we know that we are responsible for our choices. After all, a sign of maturity is to see yourself as responsible for what happens to us.
For this reason, Biu Do [標 刀], leaves the hard lesson through the words of my Si Fu: “For those who 'go with everything', there is nothing left”.
Well, it looks like Prince didn't write anything about it after all ...



The disciple of Master Julio Camacho
Thiago Pereira “Moy Fat Lei“
moyfatlei.myvt@gmail.com

domingo, 13 de setembro de 2020

MY STORY WITH THE "VING TSUN GEUK JONG"

 

(Com meus Dai Ji Vitor Sá e Keith Markus,durante café da 
manhã que precedeu sua primeira prática com o "Geuk Jong")

(With my Dai Ji Vitor Sá and Keith Markus, during breakfast
morning that preceded his first practice with "Geuk Jong")

Ainda em 2003, tivemos um almoço na antiga casa da Si Suk Ines Braconnot, numa manhã de Domingo. Ao chegar lá, percebi que havia um "Geuk Jong" em um ponto reservado de seu quintal. Enquanto o almoço era preparado e as pessoas confraternizavam, Si Fu me chamou, e perguntou-me se eu já havia trabalhado no "Geuk Jong". Respondi que já havia visto o que existia no antigo Núcleo Central em São Paulo, mas que nunca havia trabalhado nele.
Si Fu passou-me algumas poucas diretrizes sobre como realizar o trabalho. Eu fiquei parado esperando que ele me mostrasse a sequência de movimentos que deveria tentar executar a seguir. Afinal, tinha sido assim durante toda a jornada até ali. Então Si Fu disse-me, que não existia uma sequencia, mas que havia apenas um jeito "certo" de fazer.

 Still in 2003, we had lunch at Si Suk Ines Braconnot's former house, on a Sunday morning. Upon arriving there, I realized that there was a "Geuk Jong" in a reserved spot in her yard. While lunch was being prepared and people were socializing, Si Fu called me, and asked me if I had ever worked at "Geuk Jong". I replied that I had already seen one  in São Paulo, but that I had never worked on it.
Si Fu gave me a few guidelines on how to do the work. I stood waiting for him to show me the sequence of movements I should try to perform next. After all, it had been that way throughout the journey there. Then Si Fu told me, that there was no sequence, but that there was only one "right" way to do it.

(Os participantes do evento de integração do Núcleo Jacarepaguá,
sentam-se em mesas num ambiente agradabilíssimo proporcionado pela Si Suk Ines.
Enquanto isso, eu estava praticando no "Geuk Jong")

Participants at the Jacarepaguá School integration event,
they sit at tables in a very pleasant environment provided by Si Suk Ines. Meanwhile,
 I was practicing at "Geuk Jong")


Fiquei lá sozinho tentando entender o que deveria ser feito enquanto todos confraternizavam. Existia um sentimento de vazio muito grande, que me fazia olhar de soslaio para a área da varanda onde estavam as mesas vez ou outra. Queria saber se Si Fu ao menos checava de vez em quando. Porém, ele ria e conversava como todos os demais.

Não havia experimentado um sentimento como aquele até então: Uma espécie de solidão e de dúvida muito grandes. Não sabia se o que estava fazendo era o que deveria ser feito. Em outros momentos pensava em parar, mas aí considerava que isso era uma espécie de desistência e eu não queria desistir ali naquele momento.
Em determinado momento acabei parando porque já não sabia mais o que fazer, Si Fu pareceu finalmente me notar e perguntou em tom provocador: "Cansou?" – Respondi que "Não" com veemência, e voltei a praticar seja lá o que estivesse praticando.
Muitos minutos se passaram até que Si Fu finalmente disse: "Chega... Já deu já".

I stood there alone trying to understand what should be done while everyone was fraternizing. There was a feeling of emptiness that made me look sideways at the porch area where the tables were at times. I was wondering if Si Fu payed some attention on me. However, he  was just laughing and talking like everyone else, in some fun conversation.
I had not experienced a feeling like that until then: A kind of loneliness and very great doubt. I didn't know if what I was doing was what should be done. At other times I thought about stopping, but then I considered that this would be giving up, and I didn't want to give up there at that moment.
At a certain point I ended up stopping because I no longer knew what to do, Si Fu finally seemed to notice me and asked in a provocative tone: "Already Tired?"- I replied  'No' vehemently, and went back to practicing whatever I was practicing.
Many minutes passed before Si Fu finally said: 'That´s enough ... It's done already'.
( O "Rei do Bastão" da Família Moy Jo Lei Ou Carlos Antunes. Usa suas habilidades com o Ving Tsun Gwan, para que o Daai Si Hing da Família, Leonardo Reis, pudesse trabalhar o "Baat Jaam Do". 
Em primeiro plano, é possível observar os "Geuk Jong")

(The "King of the Gwan" of the Moy Jo Lei Ou Family Carlos Antunes. He uses his skills with the Ving Tsun Gwan, so that the Family's Daai Si Hing, Leonardo Reis, could work the "Baat Jaam Do".
In the foreground, it is possible to observe the "Geuk Jong")

Passaram-se nove anos até que pudesse ter uma nova oportunidade no ‘Geuk Jong’. Desta vez, estávamos no Mo Gun que ficava no Condomínio Interlagos de Itaúna. Era o ano de 2012, e um ‘Geuk Jong’ fora montado. Já não me incomodava mais em praticar sozinho. Como numa estranha coincidência, sempre que Si Fu dedicava tempo a sentar-se na escadaria para conduzir uma prática de ‘Geuk Jong’, era justamente um dia em que eu não estaria no Mo Gun.
Às vezes, eu propunha desafios a mim mesmo: "O quão rápido consigo chutar os postes sem repeti-los, dentro e fora e sem parar para pensar? ", "Será que consigo fazer a mesma coisa usando ‘Jiu Sik’ em que os pés não saiam do chão?" , "Será que posso imaginar que estou lutando com vários adversários?" .... Porém, teve um dia em que algo especial aconteceu: Apesar de óbvio, eu me perguntei se os postes não poderiam representar apenas uma pessoa, e que seus pés estaria em movimento[três postes]. Naquele dia, comecei a perceber os troncos se movendo no chão. Mesmo sem saber o que fazer nove anos depois, comecei a perceber o que não deveria fazer.
Então finalmente numa manhã de Sábado, Si Fu pediu que Si Hing Leo trabalhasse o ‘Geuk Jong’ comigo. Não lembro de nada desse trabalho, a não ser uma pergunta do Si Hing que me marcaria para sempre: "...Deixa eu fazer uma pergunta pra você: Você... Consegue ver esses caras mexendo no chão?..."- Respondi energeticamente que sim. Ele riu, e começamos a compartilhar sobre essa estranha sensação de ver os troncos trocando de lugar no solo. Acho que foi um daqueles momentos mágicos da minha jornada. Afinal, mesmo praticando ‘no escuro’ e sem nunca termos conversado sobre, chegamos a uma conclusão parecida.

Nine years passed before I could have a new opportunity on "Geuk Jong". This time, we were at Mo Gun, which was at  Interlagos de Itaúna. It was 2012, and a ‘Geuk Jong’ was set up. I no longer bothered to practice alone. As if in a strange coincidence, whenever Si Fu spent time sitting on the steps to conduct a 'Geuk Jong' practice, it was just a day when I wouldn't be at Mo Gun.
Sometimes, I proposed challenges to myself: "How fast can I kick the posts without repeating them, in and out and without stopping to think? ","Can I do the same thing using some 'Geuk Faat' in which the feet do not leave the ground?","Can I imagine that I am fighting with several opponents?".... However, there was a day when something special happened: Although obvious, I wondered if the posts could not represent just one person, and that his feet would be moving [ three posts]. That day, I started to notice the trunks moving on the ground. Even without knowing what to do nine years later, I started to realize what I shouldn't do.
So finally on a Saturday morning, Si Fu asked Si Hing Leo Reis to work ‘Geuk Jong’ with me. I don't remember anything about this work, except a question from Si Hing that would mark me forever: "...  Can I ask you a question ... Can you see these guys moving on the floor? ..."- I replied energetically that yea. He laughed, and we started to share about this strange feeling of seeing the pillars changing places on the ground. I think it was one of those magical moments of my journey. After all, even practicing ‘in the dark’ and having never talked about it, we came to a similar conclusion.
(Na noite antes da inauguração do primeiro endereço do Núcleo Méier. 
Tivemos um Seminário de Titulação Tutorial do Domínio "Mui Fa Jong". Na foto, acabávamos de jantar com Si Gung e Si Fu antes do início do Seminário. Era 2012, 
mas Si Hing Leonardo ainda usava pochete)

(The night before the opening of the first address of  Méier School. We had a  Seminar of the Domain "Mui Fa Jong". In the photo, we had just had dinner with
 Si Gung and Si Fu before the Seminar started.)
(Depois de muito insistir, descemos pouco depois das 1h da manhã, para trabalhar o Componente Associado "Geuk Jong". Na foto, executo os movimentos observado por Si Gung e meus Si Suk)

(After much insistence, we went down shortly after 1 am to work on the Associated Component "Geuk Jong". In the photo, I perform the movements observed by Si Gung and my Si Suk)


Alguns meses depois, teríamos a inauguração do Núcleo Méier. Para aproveitar a vinda de Si Gung, que participaria do evento. Si Fu me deu a oportunidade de escolher qual instrumento trabalhar na noite da véspera. Escolhi o ‘Seminário de Titulação Tutorial do Domínio Mui Fa Jong’. Pois apesar de já te-lo feito em 2007 e 2009, nunca havia dado tempo de chegar no ‘Geuk Jong’.
A noite ia avançando, e quando estávamos próximos a 1 hora da manhã, Si Gung perguntou se poderíamos parar por ali. Eu perguntei: "Mas e o Geuk Jong?" – Todos os presentes riram e Si Gung resolveu descer as escadas e começamos a trabalhar esse componente associado. Ele pediu que eu fizesse, fez algumas observações e era isso. Uns dez minutos e acabou.

A few months later, we would have the inauguration of Meier School. To take advantage of the arrival of Si Gung, who would participate in the event. Si Fu gave me the opportunity to choose which instrument to work on the night before. I chose the ‘Mui Fa Jong Domain  Seminar’. Because despite having already done it in 2007 and 2009, we had never had time to reach ‘Geuk Jong’.
The night was progressing, and when we were close to 1 am, Si Gung asked if we could stop there. I asked: "But what about Geuk Jong?" - Everyone present laughed and Si Gung decided to go down the stairs and we started working on this associated component. He asked me to do it, made some observations and that was it. About ten minutes and it's over.

Oito anos mais tarde...
Eight years later ...

Com o tempo, passei a acreditar que quando alguém elogia seu "Kung Fu", na verdade é um elogio ao trabalho que seu Si Fu fez com você. E sentado numa cadeira observando Vitor e Keith, dois de meus discípulos, enroscarem o fabuloso "Geuk Jong" do Núcleo Ipanema para iniciarem sua primeira prática neste aparelho. Me perguntei que tipo de artistas marciais estava ajudando a formar. 
Era uma manhã agradável de Sábado, e usávamos o Núcleo Ipanema, dirigido pelo meu irmão Kung Fu Cláudio Teixeira. Ele gentilmente cedeu as chaves para que eu pudesse fazer esse trabalho com minha Família. 

Over time, I came to believe that when someone praises your "Kung Fu", it is actually a compliment to the work that your Si Fu did with you. And sitting in a chair watching Vitor and Keith, two of my disciples, preapring the fabulous "Geuk Jong" of the Ipanema School to start their first practice on this device. I wondered what kind of martial artists I was helping to form.
It was a pleasant Saturday morning, and we used the Ipanema School, run by my brother Kung Fu Cláudio Teixeira. He kindly handed over the keys so that I could do this practice with my Family.
Você pode não acreditar, mas foi um daqueles dias em que a conexão acontece. Eu realmente me concentrei muito em trazer a presença de meu Si Fu em minha mente. Eu estava fazendo isso, porque a experiência dele é muito mais vasta do que a minha como Si Fu. Então, é como usar um segundo cérebro a seu favor. Não me perguntei "O que o Si Fu faria?" - Eu simplesmente trouxe a presença dele. Às vezes eu tinha algo que pensava ser interessante de se dizer, mas pensava comigo, se era uma necessidade minha ou algo que o cenário pedia. Então ficava em silêncio. E ficava em mais silêncio. 
Misteriosamente, meus discípulos praticavam de forma concentrada sem esperar que eu intercedesse. Naquele momento, entendi o "silêncio" do Si Fu em 2003 na casa da Si Suk Inês. E pude perceber também, a vantagem que a maturidade traz no aprendizado do Ving Tsun. Pois naquele ano de 2003, eu ainda era muito imaturo. 

You may not believe it, but it was one of those days when the connection takes place. I really focused a lot on bringing the presence of my Si Fu to my mind. I was doing this, because his experience is much wider than mine as Si Fu. So, it's like using a second brain to your advantage. I didn't ask myself "What would Si Fu do?" - I just brought his presence. sometimes I had something that I thought was interesting to say, but I thought to myself, if it was my need or something that the scenario asked for. So I was silent. And it was more silent.
Mysteriously, my disciples practiced in a concentrated way without waiting for me to intercede. At that moment, I understood Si Fu's "silence" in 2003 at Si Suk Inês' house. And I could also see, the advantage that maturity brings in learning Ving Tsun. In that year 2003, I was still very immature.
Ficamos ali duas horas sem descanso. Não porque decidimos, mas porque o fluxo nos levou até o momento em que me veio a clara voz de Si Fu daquele mesmo Domingo de 2003 dizendo: "Chega! Já deu já!". Era como se uma espécie de "Tetris" infernal tivesse sido montado por duas horas. Cada palavra, cada nova abordagem a ser trabalhada, tudo pareceu se encaixar. Foi uma manhã e tanto. 
Então, acho que meu papel na maioria dos casos, deve ser só não manipular a experiência do meu descendente. Por mais que seja com uma boa intenção. Saber ficar em silêncio, parece-me agora ser também  uma arte. 

We stayed there for two hours without rest. Not because we decided, but because the flow took us to the moment when Si Fu's clear voice came to me on that same Sunday in 2003 saying: "That´s enough! It's done!" It was as if a kind of hellish "Tetris" had been put together for two hours. Each word, each new approach to be worked on, everything seemed to fit together. It was quite a morning.
So, I think my role in most cases should be just not to manipulate my descendant's experience. As much as it is with a good intention. Knowing how to be silent now seems to me to be an art as well.



The Disciple of Master Julio Camacho
Thiago Pereira "Moy Fat Lei"
moyfatlei.myvt@gmail.com