(Rindo com Si Fu após demonstrar a sequência do Muk Yan Jong
na antiga residência da Si Suk Ines Braconnot)
(Laughing with Si Fu after a demo on Muk Yan Jong
at the former residence of Si Suk Ines Braconnot)
A primeira vez que ouvi Si Fu falar sobre “aproveitar o vazio”, estava sentado junto dele, da minha irmã Kung Fu Paula Gama e de outra irmã Kung Fu numa padaria no Parque das Rosas na Barra em alguma tarde de 2007.
Esta outra irmã Kung Fu havia passado por um revés profissional e de vida, e Si Fu naquele período a ajudava a se reerguer. Naquela tarde, ele falou sobre a importância daquele momento de forma muito otimista e sincera. Esta minha irmã Kung Fu riu sem parecer acreditar na tranquilidade da fala de Si Fu e olhou pra Paula como quem diz: “Não acredito que ele está falando isso!” . – Si Fu parecendo ler seu olhar complementou com algo como: “Esse momento de vazio é o mais importante. É nele em que a gente trabalha para que quando a coisa comece a acontecer novamente já estejamos em condições. “
The first time I heard Si Fu talk about "take advantage of the emptiness," I was sitting next to him, my Kung Fu sister Paula Gama and another Kung Fu sister at the bakery in Rosas Park in Barra in 2007.
This last Kung Fu sister went through a professional and life setback, and Si Fu at that time was supporting her to get on track again. That afternoon, he talked about the importance of that moment in a very optimistic and sincere way. This Kung Fu sis laughed without seeming to believe in the tranquility of Si Fu's speech and looked at Paula as if to say, "I can not believe he's saying this!" - More information: "This moment of emptiness is the more important one, it is in it that we work so that when something begins to happen again we are already in conditions."
(Foto "Si-To" de Paula com Si Fu no antigo Núcleo Jacarepaguá)
("Si-To" photo of Paula with Si Fu at the former MYVT Jacarepaguá School)
No Kung Fu, acreditamos que você constrói sua habilidade. Por isso, você pode começar a praticar hoje mesmo ou a qualquer tempo. Independente de idade, sexo, estrutura corporal ou qualquer outra estereotipia de limitação relacionada ao Ving Tsun.
Acontece que esta construção de habilidade se refere também à nossa habilidade de pensar o nosso próprio pensamento e consequentemente, experimentar uma mudança significativa do nosso olhar sobre a vida.
In Kung Fu, we believe that you build your ability. So you can start practicing today or anytime. Regardless of age, sex, body structure or any other stereotyping limitation related to Ving Tsun. It turns out that this skill building also refers to our ability to think our own thinking and consequently to experience a significant change in our vision on our life.
(Si Fu com Si Gung no Núcleo Barra durante sua visita de 2017)
(Si Fu with Si gung at MYVT Barra School during his visit in 2017)
Já ouvi Si Fu contando, que por morar no Rio de Janeiro, em determinada época ia uma vez por semana a São Paulo para estar com Si Gung e fazer sua prática. Si Fu disse que por muitas vezes chegava ao Mo Gun mesmo tendo avisado que iria, e não encontrava Si Gung. Para piorar, alguém comunicava que ele tinha ido fazer uma coisa aparentemente trivial: “Si Fu foi ao cinema.” - Si Fu diz que num primeiro momento não lidou muito bem com isso, pois acabava coordenando e ajudando práticas dos membros mais novos, ficando a sua sempre para segundo plano ou mesmo nem acontecendo. – “Talvez o Si Gung tenha percebido uma dificuldade minha em lidar com aquele vazio.” – Teria dito ele para mim anos mais tarde. Si Fu refletindo sobre aquele período tempos depois, percebeu que Si Gung estava proporcionando a ele a mesma experiência de alguém que morava ao lado do Mo Gun em São Paulo, não artificializando seu processo por ser do Rio. Algo que o próprio Si Taai Gung Moy Yat fez por ele nos E.U.A.
I've heard Si Fu telling me that because he as he lives in Rio de Janeiro, he used to go to São Paulo once a week to be with Si Gung and to do his practice. Si Fu said that he often went to Mo Gun even though he had warned that he would, and did not find Si Gung. To make matters worse, someone reported that he had gone to do something seemingly trivial: "Si Fu went to the movies." - Si Fu says that at first he did not deal very well with this, since he ended up coordinating and helping practices of the younger members, his own practice was always in the background or not even happening. "Perhaps Si Gung has noticed my difficulty in dealing with that emptiness," he would have said to me years later. Si Fu reflecting on that period some time later, realized that Si Gung was giving him the same experience of someone who lived next to the Mo Gun in Sao Paulo, not artificializing his process for being from Rio. Something that the Si Taai Gung Moy Yat himself did it for him in the USA
(Com meu avô após acessar o Domínio Cham Kiu em Julho de 2000)
(With my grandfather after my access to Cham Kiu in July,2000)
Apesar de gostar muito do meu avô , sua referência para mim é a do trabalhador braçal. Aquela pessoa operacional que pegava, fazia , acontecia e resolvia tudo sozinha. Já meu pai, parece sempre estar em atividade, para ele que também funciona de forma muito operacional, estar trabalhando é estar fazendo algo objetivamente.
Si Fu parece ter reparado essas influências em mim ao longo dos anos, por isso, com muita paciência vem fazendo um trabalho comigo para me ajudar a deixar mais espaços vazios, para que outras pessoas possam ocupar. Ele tenta de forma muito perseverante, me mostrar que o Líder, não é necessariamente operacional. – “A vida pode ser simples Pereira.” – Disse ele certa vez.
Although I really like my grandfather, his reference to me is that of the handyman. That operational person who could solve everything by himself with his own hands . Already my father, seems always to be in activity, for him that also works very operationally, to be working is to be doing something objectively.
Si Fu seems to have repaired these influences on me over the years, so with much patience he has been doing a job with me to help me leave more empty spaces for other people to occupy. He tries very perseveringly, to show me that the a leader is not necessarily operational. "Life can be simple Pereira" he said once.
(Com Si Fu na magnífica Paris em Maio de 2017)
(With Si Fu in the wonderful Paris in May, 2017)
Ao contrário do que possa parecer, Si Fu não senta comigo e me dá uma aula sobre lógica chinesa. Meu aprendizado com ele ocorre muito mais por inspiração a partir das minhas interpretações de suas ações. Por exemplo: Certa vez tomamos café juntos, nesse café, tomei conhecimento de que ele enfrentava uma situação dificílima e tinha dois dias para resolvê-la. Fiquei tenso ao ouvir, e ele parecia compenetrado na resolução com a ajuda de um irmão Kung Fu meu. Acontece que momento depois, ele estava no Mo Gun já com outras pessoas, contando histórias engraçadas e morrendo de rir. Aquilo me chamou a atenção. Perguntei para mim mesmo, o quanto meu dia estaria perdido se eu estivesse no lugar dele. E mais: Ele, em questão de minutos, parecia curtir o momento como se nada estivesse acontecendo.
Contrary to what may seem, Si Fu does not sit with me and gives me a class on Chinese logic. My learning with him occurs much more by inspiration from my interpretations of his actions. For example: I once had breakfast together in some cafe, I learned that he was facing a difficult situation and had two days to solve it. I tensed as I listened, and he seemed to be engrossed in resolution with the help of a Kung Fu brother of mine. It turns out that later, he was in the Mo Gun with other people, telling funny stories and laughing. That caught my eye. I asked myself, how much my day would be lost if I were in his place. And more: He, in a matter of minutes, seemed to enjoy the moment as if nothing was happening.
Si Fu parece viver na vida real o paradoxo zen desta história do monge e do tigre. Ele costuma dizer sobre dificuldades financeiras: “Se eu estou com muito, com pouco ou nenhum dinheiro, você não vai notar uma diferença em mim por conta disso. Eu não me excito e nem me afeto com isso.”
"A monk was once walking on the edge of a cliff ..."- Si Fu told me once: "Then he saw that a tiger was chasing him. When he tried to escape, he slipped and fell, and there he was able to catch himself on a very fine branch. But if he climbed back, the tiger would kill him, and if he stayed there, the branch would break and he would die. Then he realized there was a fruit at the end of the branch. He took the fruit and ate it. "
Si Fu seems to live in real life the Zen paradox of this monk and tiger story. He often says about financial hardships: "If I have too much, little or no money, you will not notice a difference in me because of that. I do not get excited or sad about it. "
(Si Fu durante reunião de cúpula em São Paulo)
(Si Fu during directors board meeting in Sao Paulo)
Por outro lado, às vezes o vazio ocorre de forma inesperada, porque não o percebemos acontecendo ainda no plano imanente. Podemos estar acostumados a uma rotina de vida, e de repente aquilo parece ser arrancado de nós. Então nos vemos num grande vazio, sem saber o que fazer.
Por isso, quando nos deparamos com esse tipo de “vazio”, temos uma tendência imediata a tentar preenche-lo a qualquer custo sem respeitar o tempo das coisas se reconfigurarem e sem deixar com que este novo ciclo nos diga a ação a ser tomada.
On the other hand, sometimes emptiness occurs unexpectedly, because we do not perceive it happening still in the immanent plane. We may be accustomed to a routine of life, and suddenly it seems to be torn from us. Then we see ourselves in a great emptiness, not knowing what to do.
So when we come across this kind of "emptiness," we have an immediate tendency to try to fill it at any cost without respecting the time of things to reconfigure and without letting this new cycle tell us the action to be taken.
(Si Fu sozinho pratica no Muk Yan Jong na antiga sede central da MYVT em Nova Iorque)
(Si Fu practices alone at the former MYVT headquarters in NY)
Por isso, Si Fu falou comigo há muitos anos atrás o seguinte: “Thiago, por mais que alguém goste de você, se você estiver com febre, essa pessoa vai até poder cuidar de você, tirar sua temperatura, te dar a medicação, mas ela não vai poder pegar a febre pra ela e tirar de você. Veja: Eu posso esfregar meu braço no seu, mas a febre não vai sair de você pra mim. Você vai ter que lidar com ela sozinho, assim como a maioria das coisas na vida. “ – Como me emocionei, Si Fu parou e pareceu aguardar por uns momentos. Então ele prosseguiu: “Por isso, que eu vejo muito mais como uma questão de alianças. Você encontra pessoas ao longo da sua vida com quem vai estabelecendo alianças. Algumas duram mais, outras menos. Algumas alianças podem até durar a vida toda. Mas uma coisa não muda: Você nasce sozinho e você morre sozinho.” – Depois de mais uma pausa, Si Fu que não tem nenhum viés religioso, citou o budismo chinês: “Sabe o budismo chinês? Quais são as três premissas? “- Indagou ele – “ A impermanência das coisas é uma delas. “ – Complementou.
That is why Si Fu spoke to me many years ago: "Thiago, as much as someone likes you, if you have a fever, that person will even take care of you, take your temperature, give you the medication, but she will not be able to get the fever for her and get it from you. See: I can rub my arm in yours, but the fever will not leave you for me. You will have to deal with it alone, just like most things in life. "As I got emotional, Si Fu stopped and seemed to wait for a few moments. Then he went on: "So I see a lot more as a matter of alliances. You meet people throughout your life with whom you are making alliances. Some last longer, some less. Some alliances can last a lifetime. But one thing does not change: You are born alone and you die alone. "- After another pause, Si Fu who has no religious bias, quoted Chinese Buddhism:" Do you know Chinese Buddhism? What are the three premises? "- He asked -" The impermanence of things is one of them. "- He said.
(Foto minha descansando após um longo percurso de patins em Outubro de 2017)
(Photo by myself resting after a longrun ride on roller-blades in Oct,2017)
Em 2015, me vi numa situação inédita e dificílima. E mesmo tendo me abatido, foi naquele ano que surgiram projetos como “Cultura Kung Fu” e que eu fui titulado como Mestre Qualificado. E eu tinha comigo essa ideia de trabalhar no vazio. Porém, me via fazendo força para curtir essa impermanência das coisas, e assim, parecia exausto. Hoje, mesmo em um dos momentos mais difíceis da minha vida, nunca estive tão confiante. Vejo-me curtindo os pequenos detalhes, os pequenos momentos, aproveitando coisas que na correria passam despercebidas. Passei a caminhar mais, a sentar embaixo de uma palmeira para fazer minha agenda, quando antes fazia numa mesa fria e sem vida. Passei a melhorar minhas relações, e me sinto até mesmo mais radiante. E quando você muda essa chave, você também se torna disponível para que mais coisas boas possam acontecer. Não por mágica, mas porque você entra na sintonia de fazer dar certo, e não de se lamentar.
E talvez, nesse momento, você nem sequer se reconheça mais. E talvez, nesse momento, você descubra mais uma vez, que aprendeu Kung Fu.
In 2015, I found myself in an unprecedented and difficult situation. And even though it took me down, it was in that year that projects like "Culture Kung Fu" appeared and that I was titled as Qualified Master. And I had this idea of working on the emptiness. But I found myself struggling to enjoy this impermanence of things, and so I looked exhausted. Today, even in one of the most difficult times of my life, I've never been so confident. I see myself enjoying the small details, the small moments, enjoying things that in the run would be unnoticed. I started to walk more, to sit under a palm tree to make my schedule, when I used to do it on a cold and lifeless table. I started to improve my relationships, and I feel even more radiant. And when you change that key, you also become available for more good things to happen. Not because of magic, but because you get in tune to make it work, not to whine.
And maybe, in that moment, you do not even recognize yourself anymore. And maybe, in that moment, you find out once again that you learned Kung Fu.
The Disciple of Master Julio Camacho
Thiago Pereira "Moy Fat Lei"
moyfatlei.myvt@gmail.com